Quero evoluir.
Quero me aproximar dos loucos
Que falam nos muros, nas passarelas,
Nas celas de uma prisão,
Utilizando tintas ou o que tiverem em mãos.
Deixam lá sua expressão,
Seu espírito, seu coração…
Expõem o presente.
Tocam sem moeda de troca.
Tocam no presente,
Tocam o barco, seguem
Sem lançar os olhos para trás ou para frente.
Tocam no presente,
Sem nada saber, mas sabendo que é gente.
Esses loucos desde as cavernas
Sabem que pode se sustentar nas próprias pernas.
Quero me aproximar dos loucos.
Na literatura dessas criaturas a Terra é redonda.
Quero a minha prancha nessa onda,
Não na lama da Terra plana.
Quero me aproximar dos loucos
Que gritam nos muros,
Que veem uma tela em celas invisíveis.
O louco consegue desfrutar do que faz,
Sem precisar de algo mais.
Quero me aproximar dos loucos.
Quero essa vibração.
Isso não é ser indiferente à aprovação, à apreciação…
Não, não é isso não!
É apenas não escravizar o coração.
Encanta-me as vozes dos poetas de banheiro.
Encanta-me os passos do seu João Oleiro,
Que ganhava a vida com telhas e tijolos.
Mas dizia que vivia quando fazia o que não vendia,
Quando tirava do barro pássaros, vaso e pessoas,
Que eram os filhos que ele não teve.
Uma voz me diz que o amor mora longe dessas loucuras.
O amor!
Quem desenhou a face do amor?
Que fantasia deram para ele?
Quem disse que ele precisa de caracterização?
Quem pode duvidar do amor de seu João
Pelo que faz, pela paz
E pelo que lhe satisfaz?
Eu não sei pra onde vai meu coração.
Mas quero estar com os pés no chão,
Quero estar na minha mão,
Quero estar onde eu estiver
E saborear cada gole de café.