ninguém me fala dentro, senão tu
que ousas ser alguém, quando não és
mas falas tanto, como ser marés
a despir-me de areias, alma a nú
há vezes que me visto de Noés
faço arcas de papel feito de itu
que as tuas vozes de anjo ou belzebu
atiram-me dilúvios ao convés
talvez quisesse apenas ver-te lago
com ondas, só do vento, como afago
a um barco de papel que a mão segura
mas quiseste existir-me em forma abrupta
e eu sem a coragem que amputa
sou esta mão pungente que te atura
14-10-2025