Acordo e espanto os corvos
Do meu canteiro de flores.
Antes eram poucos,
Mas agora vêm em bando
Todas as manhãs.
Depois, bebo o café
E recomeço.
O que é dos dias infantes?
O que é das brisas primeiras,
Do sol que ronronava manso?
O que é de mim mesmo?
Sinto falta das cores cores,
Dos olhos olhos,
Das mãos mãos.
Sinto falta das faltas breves
E dos abismos imberbes.
Mas deixo disso tudo
E sorrio pro espelho.
Orei cedo
E preparo agora o melhor que posso.
Liberto a noite
Que insistente dormirta ainda.
Saio.
Que passado é passado eu sei.
E é exatamente por isso
Que sigo espantando corvos.
fsalvo