Tá chegando meus vinte e seis,
e eu confesso — tô com medo outra vez.
Não do tempo que passa ligeiro,
mas do peso que eu mesma ponho no espelho inteiro.
Cobro demais o que ainda não fiz,
me exijo ser forte, ser feliz,
como se a vida tivesse prazo,
como se existir fosse um atraso.
Tenho medo de escolher errado,
de olhar pra trás e ver um fardo.
De querer empreender, voar,
e, com isso, não poder amar.
Medo de achar que sucesso e família
são mundos que não se concilia.
De ser forte demais pra alguém ficar,
de ser livre demais pra alguém amar.
Carrego no peito uma confusão,
um misto de coragem e de solidão.
Quero um amor que me veja inteira,
mas o coração anda na beira.
Às vezes sinto um bloqueio profundo,
como se casar fosse perder o mundo.
Como se o sonho de ter uma filha
ficasse preso nessa ilha
entre o que quero e o que temo,
entre o que sinto e o que escondo em silêncio.
Tenho medo de ir e não ter alguém,
de andar longe e não saber de quem
será o abraço no fim do dia,
a voz que acalma, a companhia.
Quero ter uma casa com risada,
com cheiro de bolo e alma leve.
Mas às vezes, o medo é uma estrada
que parece longa, que nunca cede.
Quero amar, mas sem me perder,
ter uma vida que me faça crescer.
Mas será que dá pra ser tudo?
Ou é preciso escolher um mundo?
Talvez os vinte e seis sejam isso:
um susto, um passo, um compromisso.
De seguir com medo mesmo assim,
de confiar mais no que há em mim.
Porque, no fundo, eu sei — a vida é feita
de atrasos que chegam na hora perfeita.
E o amor, por mais que demore,
sempre encontra quem o acolhe. 💙