Uma dor de dente tem remédio.
Uma dor de cabeça também.
Pra cólica, basta o tempo,
um chá, um descanso,
e logo passa.
Mas e a dor do amor?
Qual remédio cura o que o coração sente?
Será o tempo?
Será a rotina que empurra a gente pra frente,
ou as novas pessoas que surgem,
como distrações bonitas,
tentando costurar o rasgo que ficou?
Dizem que passa.
Mas ninguém conta o tempo exato.
Dias, meses…
Ou talvez nunca.
Porque no meio do nada,
a gente sente.
No meio do nada,
a lembrança vem —
sem pedir licença,
sem hora marcada.
É um perfume que atravessa a rua,
uma música antiga tocando ao acaso,
uma risada que parece aquela.
E o peito aperta.
Não é mais amor,
mas também não é ausência.
É o eco de algo que foi,
e que ainda mora quietinho dentro da gente.
A dor do amor é diferente.
Não tem cura, tem ciclo.
Primeiro fere,
depois ensina,
e por fim, transforma.
É dor que faz a gente se olhar por dentro,
reaprender o próprio nome,
reconhecer que o amor também acaba —
mas o sentir, não.
O sentir continua,
em outro tom,
em outra forma,
em outro corpo que um dia chega e acalma.
Porque o amor é raiz,
e raiz não morre,
mesmo quando o jardim seca.
Ela fica ali, escondida,
esperando o tempo certo pra florir de novo.
E quando floresce,
já não é mais o mesmo amor,
nem a mesma dor.
É um amor que nasceu da cicatriz,
mais calmo, mais maduro,
mais meu.
Então, sim…
a dor do amor tem remédio.
O nome dele é renascimento.
E eu renasço —
toda vez que escolho continuar,
mesmo sentindo.