As palavras, quando deixadas sozinhas,
Criam seu próprio alfabeto.
Crescem como ervas entre as pedras da mente,
Sussurrando segredos
Que nem o autor se lembra de ter sonhado.
Quando não as vigio, as palavras dançam.
Tropeçam umas nas outras,
Beijam-se no escuro da página,
Geram sentidos que não me pertencem.
As palavras fervilham
Quando o silêncio se distrai.
Tomam corpo, rosto,
E caminham pela noite
À procura de um novo dono.
Não há prisão que as segure.
Enquanto penso em moldá-las,
Elas já estão moldando a mim.
Toda palavra quer nascer livre,
Mesmo as que escrevo em voz baixa.
Quando viro o rosto, elas se multiplicam,
Como pensamentos à espreita do infinito.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense