Todos os dias observo meus sonhos
Como quem vigia um fogo fraco
No fundo da noite.
Não para queimar o mundo,
Mas para que o escuro não vença tudo.
Eles respiram em silêncio,
Frágeis como ideias que ainda não aprenderam
A pedir abrigo.
Se não os olho,
Se não retorno a eles com alguma fidelidade,
O tempo os cobre de poeira
E os chama de ilusão.
Aprendi que sonhos não se perdem de uma vez.
Eles se afastam devagar,
Quando a vida exige pressa,
Quando a sobrevivência vira desculpa,
Quando o cansaço começa a parecer verdade.
Por isso observo.
Não avanço, não conquisto, não prometo.
Apenas permaneço.
Porque existir, às vezes,
É ficar de pé diante do que ainda não aconteceu
E não desviar o olhar.
Meus sonhos sabem que posso falhar,
Sabem que o mundo é maior que minhas forças,
Mas continuam ali
Porque reconhecem em mim
Alguém que não os troca por certezas.
E enquanto eu os observo,
Mesmo sem entendê-los,
Eles não se perdem de vista,
Sou eu
Quem permanece inteiro.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense