Acrósticos : 

Folhetins de Sol & Lua

 
FOLHETINS DE SOL & LUA
Maria José Limeira

O santo do meu altar
tinha um sexo-petisco.
Ouvia pássaro cantar.
O seu nome era Francisco.
Filho do latifúndio,
despojou-se dos seus bens.
Fez discursos no gerúndio.
Mudou de roupa e de gens.

Ao invés de ódio infindo,
tomou amor para si.
Do feio fez tudo lindo.
Cantou música em mi.
Chamou o sol de irmão,
e a lua, de doce dama.
O bater do coração
dá as horas de quem ama.


E a comunhão foi tanta,
com a terra e o ser vivente,
que hoje quando se canta
sua oração comovente,
a Natureza em respeito
levanta as mãos para o céu,
e o que não tem mais jeito
muda o amargo em mel.

Soldado, diz a soldado:
baixa as armas, vem cantar.
Todo ser espoliado
um dia vai se juntar.
A bala que atinge cega.
Dor que esmaga vai passar.
Todo sofrimento é brega.
Toda música tem luar.

Enquanto se abrirem flores,
houver pássaro no infinito,
e alguém morrer de amores,
o meu santo vai ser mito.
Pois quem tem sol por amigo
e lua, por ser amado,
não ficará sem abrigo,
se esquentará do meu lado.

Soldado, diz ao comparsa:
transforma em rosa agora
a bala que mata e caça.
Joga indumentária fora.
O que Francisco falou
sobre esquecer e perdoar
já foi Outro quem ensinou.
E é tão fácil voar!...


 
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MariaJoséLimeira
 
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Enviado por Tópico
Amora
Publicado: 15/06/2008 19:35  Atualizado: 15/06/2008 19:35
Colaborador
Usuário desde: 08/02/2008
Localidade: Brasil
Mensagens: 4705
 Re: Folhetins de Sol & Lua
Maria José, que magnífico poema, como uma oração,
emocionante!

Irmão do sol, amigo de todo o vivente, Francisco levou luz onde não havia.

Um momento especial esse que a leitura de seu folhetim me proporcionou, obrigada.

Amora


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/06/2008 19:06  Atualizado: 16/06/2008 19:06
 Re: Folhetins de Sol & Lua
Belíssimo. Na aparência simples das plavras, a grande ternura, o mito de um "Francisco".
Beijo.