Poemas : 

Nova Retórica para Rafeiros

 

Um homem,de silhueta amarelada
fulgura pelos candeeiros públicos
da rua deserta,olha para o alto.

Do cimo há uma janela escura aberta
perscrutadora da rua e da silhueta
amarelada dos candeeiros públicos.

A figura aurinegra sobe a fachada
do edifício (não sabemos se o seu),
rumo à penumbra questionante,
e já no interior da janela,

senta-se do lado de fora
do parapeito a perscrutar a lua

depois grita como quem pergunta.

De seguida desce as escadas a correr
sem se segurar ao corrimão ou às paredes
com pressa de sair à rua
da iluminação pública
de amarelo esbatido,
para ouvir a sua saudade.

Estranho o latido do rafeiro
que passava naquele momento,
como que a censura do coração
à mnemónica dos ecos.
 
Autor
Bruno Sousa Villar
 
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Enviado por Tópico
Julio Saraiva
Publicado: 14/09/2008 12:54  Atualizado: 14/09/2008 12:54
Colaborador
Usuário desde: 13/10/2007
Localidade: São Paulo- Brasil
Mensagens: 4206
 Re: Nova Retórica para Rafeiros p/Bruno Sousa Villar
Bruno,

este seu poema me levou ao dicionário do português de portugal - eu não sabia o que era rafeiro. particularmente, gosto muito dos onze últimos versos do poema, que na verdade mais me parece um conto - "para ouvir a sua saudade" é muito bonito, assim como "Estranho o latido do rafeiro/que passava naquele momento/como que a censura do coração/à mnemónica dos ecos." o todo do poema, desculpe-me se estiver errado, parece-me muito descritivo, talvez daí a minha comparação com um conto. não é um comentário, é uma pergunta: o excesso de descrições é proposital? - se assim for, eu talvez esteja certo ao dizer que as descrições são, de fato, sonolentas porque o poema brinca com o cansaço da personagem também sonolenta. é isto?

abraço,

júlio



Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 14/09/2008 13:00  Atualizado: 14/09/2008 13:00
 Re: Nova Retórica para Rafeiros
Pura poesia, de antologia. Na classe da poesia vadia,daquela que não precisa de gravatas de erudição para se fazer ouvir no salão da burguesia.
Parabéns. Abraço.