Poemas : 

Feriado Nacional

 

E então os namorados citadinos
usufruem o fim
de semana prolongado
fazendo ponte para
o exílio das
éclogas e dos madrigais
sob a sombra dos pinheiros
e as picadinhas dos insectos
minúsculos de sangue

E há sempre um repelente nisto

E então como estes declara-se
oficialmente feriado nacional
das feridas da cidade de
cartolina colorida descartável

E há sempre um repelente nisto

E então como os namorados citadinos
as palavras do poeta
partem para o exílio político
levam-no em êxodo para o lado
dentro das cantigas de amigo e
das trovas da brisa amena
que passa pelos pinheiros
em dias de estio em dias de brio
em dias de cio

E há sempre um repelente nisto

E então de cigarros entre os dedos
os namorados citadinos em escapadela
amorosa migram a morte para o campo
vão para o lado dentro e pisam
as folhas de erva mais verde
que a que há encostados ao remanso
ruminante dos pinheiros

E há sempre um repelente nisto

O efeito imediato do contacto
com a nossa natureza
é sempre destrutivo

E há sempre um repelente nisto

enquanto pisavam o verde
sob as folhas houve
um holocausto num
formigueiro



 
Autor
Bruno Sousa Villar
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/09/2008 22:14  Atualizado: 15/09/2008 22:14
 Re: Feriado Nacional
poema cortante, com sabor a metal, banhado em ironia.

beijo.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 16/09/2008 07:25  Atualizado: 16/09/2008 07:25
 Re: Feriado Nacional
O Bruno é um perfeccionista, e ainda bem. Os seus textos trazem a marca de qualidade (não será nunca a ASAE a carimbar).Mais uma peça literária e ideológica a valorizar este espaço do Luso. Abraço.


Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 16/09/2008 12:59  Atualizado: 16/09/2008 12:59
Usuário desde: 06/11/2007
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Mensagens: 1940
 Re: Feriado Nacional
O poema é cortante, o comentário é para a última estrofe:
Esmagador...

Abraço.