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Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares da categoria textos

Os Poetas Do Luso Na Festa De Halloween

 
A noite de Lua Cheia prometia calafrios de medo, quando cheguei ao castelo mal assombrado do TrabisDeMentia, fantasiado de Conde Drácula, com gel no cabelo, e os caninos pra fora, terno preto e uma capa preta de fundo vermelho, com os olhos arregalados (ele tirou o óculos e colocou lente...rs), recepcionando todos os poetas do Luso-Poemas para sua festa de Halloween.....hohohoho!

Mil Demônios! Os poetas do Luso estavam irreconhecíveis com suas fantasias de terror!! O pessoal da administração, Valdevinoxis, Godi, Vera Silva, Paulo Afonso Ramos, Pedra Filosofal chegaram num bloco (tipo de carnaval) fantasiados de preto com a máscara do Pânico na cara e o pedido de demissão na mão, deixando o Conde Drácula Trabis querendo sugar o pescoço de todo mundo na festa!!! Que horror!!

Depois chegou a madrinha da festa, a Luso do mês, a poeta Ibernise fantasiada de Abóbora do Halloween, num vestido laranja luminescente, que se destacava mais que todos, com seu brilho e sorriso, como quem diz: - Cheguei!!!

A música ao fundo era de terror, saída de um imenso orgão de três tubos, dedilhado por José-Ruda fantasiado de Dom Casmurro. Conforme eu ia entrando na sala, cheia de teias de aranhas e morcegos voando, reconhecia mais amigos do Luso. O José Silveira estava de chapéu preto, tipo o “Homem da Capa Preta”, declamando seus poemas em cima de um palco para várias poetisas fantasiadas de bruxas, entre elas a Betha, a Vóny, a Karla Bardanza, a Nanda, a Fatinha Mussato, a LuisaMargarida, a Roque Silveira e a ConceiçãoB, que levantavam sua vassoura em sinal de alegria!!! A Marlise, vestida de Anja de asas negras e vestido vermelho, jogava água benta em volta do palco.

Do outro lado da sala estava o poeta sedutor Alberto da Fonseca, fantasiado de Homem Morcego, com sua língua pra fora, querendo lamber a caçarola que estava em cima da mesa, onde estava toda a comida da festa. De repente, o Antonio Paiva, fantasiado de Diabinho Vermelho, deu um susto nele, cutucando-o com seu tridente afiado. O Alberto olhou pra ele, sorriu e apertaram as mãos. Quando o poeta LuisF, escondendo sua face com um capuz misterioso, se aproximou dos dois e perguntou meio desconfiado: Vocês são meus amigos??

Outras poetisas estavam dançando um rock estilo gótico no meio da sala: a Ledalge, fantasiada de Salamandra vermelha, com asas pra voar até seu amado, a protetora da fogueira da festa:; a Carolina de diabinha num vestido justíssimo de cetim vermelho; a Eliana Alves de Mulher Vamp e sedutora: a Glória Salles de óculos escuro num vestido roxo de cetim, com uma rosa vermelha na mão: a Zélia Nicolodi de Anjo Negro, com asas enormes nas costas; Ângela Lugo de Mulher Aranha e meia de arrastão e bota preta de verniz; ROMMA parecia uma Deusa da Grécia antiga; Vania de vestido de oncinha; todas dançavam no mesmo ritmo numa coreografia sensual.

Os amigos poetas ficavam em volta observando: Alemtagus, estava fantasiado de Príncipe das Trevas, com um cavanhaque misterioso e mostrava suas cartas que nunca enviou para Margarete, fantasiada de Mulher Gato, com um macacão colado no corpo, lambendo suas garras de vez em quando. O caopoeta ficava pelos cantos, com lentes brancas nos olhos, encorporando um fantasma.

De repente, alguém gritou: - O José Torres sumiu!! Ele estava fantasiado de Gasparzinho e ficava voando por cima de nossas cabeças, com a Maria Cura pra lá e pra cá, até que saiu pela janela e não apareceu mais, até o lançamento do seu último livro.

Enquanto isso, na biblioteca do Conde Drácula Trabis, estavam os intelectuais da festa: Henrique Pedro, fantasiado de Homem Esqueleto, mas não fez dieta; Jessé Barbosa de Zé do Caixão com unhas postiças, cartola na cabeça e capa preta; JSL com a bandeira do seu novo Partido, fantasiado de Zorro e sua espada de prata; Amandu de Padre Exorcista e água benta; o Júlio Saraiva fantasiado de Nero e escudo na mão: o Improvável Poeta de Bruxo Druida; Q14 de Cavaleiro do Apocalipse Now; Batista de Corvo; Luis Nunes e Bruno Villar abafaram com sua fantasia de “Tropa de Elite”; o fogomaduro veio a caráter com sua fantasia de Homem-Chama, investigando se tinha alguém plagiando sua fantasia...e a Sandra e a Amora se vestiram de dupla sertaneja, pois foram contratadas pelo Trabis, para cantar na festa. A Alexis estava fantasiada de secretária do Trabis, ficava anotando tudo o que todos falavam.

Quando as doze badaladas “ noturnicas “, começaram a tocar no relógio enorme e antigo de madeira no canto esquerdo da sala, o freudnaomorreu saiu de um sarcófago em pé do lado do relógio, fantasiado de Múmia e com um cheiro horrível de enxofre.

As fadinhas da festa serviam os convidados, todas vestidas de borboletinhas coloridas: Liliana Maciel de rosa; Cléo de laranja, Felicity de azul, MariaSousa de verde-água, Rosa Mel de amarelo; Rosamaria de violeta; Fhatima de dourado; Claudia Guerreiro de prateado; Maria Verde de carmim-cintilante; Fly de lilás; “ci” de vermelho; Sonia Nogueira de azul-marinho; Rosafogo de cobre. AnaCoelha estava de Sininho ao lado do Peter-Pan glp.

Duas convidadas lançaram seu livro na festa: Vanda Paz, fantasiada de Morticia, com uma peruca preta e uma mecha branca, trazendo “as brisas do mar” em suas mãos; Mel de Carvalho fantasiada de Madame Butterfly trazendo “no princípio era o Sol” em suas mãos. Enquanto isso, na porta do banheiro feminino, Avozita fantasiada de Maria Antonieta, "A Louca", estava entregando maçãs vermelhas para as moças sedutoras da festa, entre elas, HorrorisCausa fantasiada de Índia da Amazônia, com o arco e flecha na mão.

Engraçado foi ver o poeta Edilson José chegando na festa, fantasiado de “Elvis Presley” e óculos espelhado, dizendo pra todos: - Elvis não morreu, companheiros!!! A Luta continua!! E o poeta Jaber de Batman voando pra todo lado, tentando pegar o Coringa da festa, que surpreendentemente era a fantasia do poeta Carlos Ricardo. Morethanwords vestida de preto, com uma dália negra em seus cabelos, entregava velas vermelhas para os convidados.

Lá pelas tantas da madrugada a poeta Tânia Camargo, fantasiada de Viúva Negra, surtou de vez, pegou todos os seus pertences e foi acompanhada pra casa pelo poeta Gil de Olive fantasiado de “O Homem da Cobra “, aquele que não para de falar um só segundo. Trigo entregava os sobretudos na porta principal, vestido de Mordomo do Vampiro. Haeremai entrava e saia pela porta do palácio, num vestido esvoaçante azul, como se fosse uma modelo de passarela, tranzendo nas mãos A Intemporalidade dos Sonhos.

E, ainda fizeram uma serenata pra Lua Cheia, acompanhada pelos poetas: Carlos Teixeira Luis fantasiado de Fantasma da Ópera; Gyl de Pirata do Caribe; Flávio Silver de Zombie; Antonio Manuel R. Martins de Darth Vader, o vilão negro do filme Guerra Nas Estrelas; Sterea fantasiada de Joanna D’Arc; Quidam de Highlander; “Mim” de Maga Patalógica; Nitoviana de Romeu de Shakespeare e RosaDSaron de Julieta. Todos cantaram pra lua e ouviram o uivar do Lobisomem, que era a fantasia do Lustato.

Mas, no final, sempre tem que ter uma surpresa para deixar a festa inesquecível. O anfitrião Conde Drácula Trabis chamou a atenção de todos, mandou o DJ, que era a fantasia de Xavier Zarco, colocar um tango “La Comparsita” e chamou uma mulher misteriosa que estava no canto da sala, toda de preto, num vestido de fenda na coxa direita, com uma máscara de lantejoulas vermelhas e seus cabelos soltos cobrindo suas costas nuas. Eles dançaram calientemente, deram um show e quando terminou a música, ele inclinou o corpo da mulher, olhou nos olhos dela, aproximou seus lábios nos lábios dela e mordeu o pescoço da mulher, sugando seu sangue....Enquanto todos queriam saber quem era aquela mulher misteriosa, que estava morrendo nos braços do Conde Drácula Trabis, para virar uma Lady Vampira da Lua Cheia.

- Tire a máscara! Tire a máscara! - Todos pediam num só coro. Concordando, ele revelou a identidade da mulher. Todos ficaram em silêncio até quando a poeta Vóny Ferreira gritou:

- Olhos de Lince!!

*dedicado a TODOS os amigos do Luso-poemas, sem exceções, com carinho, com humor e amizade. Desculpe-me por não lembrar de todos, o Luso está crescendo todos os dias. Se você desejar fazer parte desta festa, mande uma PM pra mim, que incluirei seu nome e fantasia.

DIVIRTAM-SE!!!
 
Os Poetas Do Luso Na Festa De Halloween

Numa cápsula do tempo

 
Numa cápsula do tempo
 
Meti-me numa cápsula do tempo e viajei sem destino. Achei-me no mesmo lugar de sempre, de onde, na verdade, nunca cheguei a partir...
Aquele lugar é refém das minhas memórias e é para lá que fujo em segredo tantas e tantas vezes quando me quero esconder da loucura deste tempo de agora. E vou pelos carreiros que conheço como as minhas próprias mãos. Tanto na ida como na vinda, tenho a companhia sempre pronta e desinteressada dos pardais e dos cucos esquivos, que me seguem lá no alto dos ramos dos pinheiros que me levam pela sombra. Demoro-me com as pequenas coisas que vou encontrando no caminho. Hoje pode ser um formigueiro e eu, sem pressa, a observar as formigas com os carregos maiores do que elas às costas. Ligeiras como se aquilo não lhes pesasse nada!
A velha casa de pedra serve-me de abrigo aquando da trovoada inesperada. Existe lá uma prateleira com livros. São Almanaques Bertrand antigos, já meio desfeitos e aos quais faltam muitas folhas. Arrancaram-se com o uso demasiado. Mas, nas que lhes restam, há sempre qualquer coisa nova que ainda não tinha visto nem lido. Um hieróglifo comprimido por descobrir ou uma anedota que já li uma data de vezes, mas que me volta a fazer sorrir. Uma quadra ou uma simples frase. Qualquer coisa.
Vou até ao algar e entro na mina escura, a ver até onde ela vai dar… nem três metros e um barranco a impedir-me de ir. Mais adiante, á sombra do velho abrunheiro ao fundo da quelhada grande, lá está o meu pai deitado numa saca a dormir a sesta. Há joaninhas que se misturam com morangos selvagens, salpicando de vermelho o ervascal abandonado por onde me entretenho a brincar enquanto a minha mãe trata da rega dos feijoeiros ali ao lado. Pela noitinha, de volta a casa, eu e os cabritos saltitamos contentes pelos muros adiante ou não fossemos todos, crianças!
É dia da matança do porco. Levanto-me mais cedo que o costume e corro para o mais longe que posso. Sento-me numa pedra, meto os dedos nos ouvidos porque não quero ouvir os guinchos do pobre animal. Estou por ali um pedaço... depois volto. E eu a adorar toda aquela azáfama em torno do animal morto e já esquecida do seu sofrimento. Porque é, afinal, normal e sem outro remédio.. E depois havia os torresmos do almoço com batatas cozidas com grelos de nabo e sangue cozido esfarelado por cima. O arroz doce da sobremesa…
Ao serão, um pau aguçado na ponta e pregado a uma tábua onde os pés a segurarem, um pedaço de carne espetada e toca a migar miudinho com a faca bem afiada, para as chouriças.
Duas ou três gamelas cheias de carne migada e os temperos pela mão certeira da mesma que lhe aparou o sangue ao golpe na garganta a mexer, a mexer, a mexer com a colher de pau para não coalhar. De maneira que, ela a deitar duas mãos cheias de sal, umas colheradas de colorau, um pedacito de cominhos...
Um outro serão mais quente e o canto dos grilos a cortar o silêncio. Um petromax na mão alumia-nos o caminho e vamos ali adiante à eira, ajudar a prima Laurinda à debulha do milho na casita. E outro candeeiro pendurado no barrote e as espigas do milho a verem-se tão bem. Eu a ajudar a descasularos grãos que ficavam nos casulos macios.
De tamancos com sola de pau, sobe ligeira a escada encostada aos ramos da oliveira grande do pomar. A mãe, aflita, chama-a. Mas ela, teimosa, finge que não ouve e sobe cada vez mais depressa. Sobe até ao fim, até ao último banço da escada comprida de madeira, armada, porque a azeitona em tempo de se apanhar.
A fogueira crepitava e erguia labaredas altas, tal como ela gostava. Sentadas no bordo, de mãos e pés esticados em direcção ao lume, riamos despreocupadas. Talvez o nosso riso se devesse apenas ao conforto de ver aquele lume a arder ali mesmo à nossa frente, a aquecer-nos por fora e por dentro. Nunca mais comi uma sopa de couves, aferventada, tão saborosa como aquela... Ao lado, num prato poisado no bordo, um naco de broa com toucinho cozido no caldo da sopa e uma malga de vinho para consolar. E eu, pequena, a tomar-lhe o gosto e a fazer: “Ah…!”(e foi um caso sério para te tirar o vício...) a minha mãe a dizer mais tarde e eu a não me lembrar de nada disso já...
Noutro dia, no telhado da mesma casa, sentadas nas lajes aquecidas pelo sol de Março, pedia-me que lhe enfiasse as agulhas com linha preta porque toda sua roupa era negra, de viúva e os seus olhos cor de mar rasavam-se de água e não a deixavam vislumbrar o buraco minúsculo da agulha. Estava sempre a coser qualquer coisa, ou a pregar um colchete ou uma mola que se haviam despregado, enquanto me ia contando histórias de lobos e de crianças no alto da serra, a tomarem conta do rebanho sozinhas.
Cleo
 
Numa cápsula do tempo

O HOMEM QUE SUMIA COM AS PALAVRAS

 
O HOMEM QUE SUMIA COM AS PALAVRAS

Era um processo sui generis, sem qualquer explicação plausível: Cada vez que ela o acusava de algo que ele não tinha feito, sumia-lhe uma palavra do seu léxico pessoal. Essa palavra perdida, por mais que ele tentasse resgatá-la por dias a fio, jamais ressoaria novamente em sua boca. Isso parecia a ele uma espécie terrível de feitiço maldito... De fato, um efeito devastador para aquele homem calmo e silencioso que possuía uma imensa paciência para compreender a sua mulher, de índole visivelmente histérica. Esse terrível dano colateral ele teve que assumir e suportar em segredo, afinal, tinha lá as suas vergonhas e orgulhos. De início, ela pouco se apercebeu do que estava ocorrendo. Estava muito mais preocupada em vomitar nele seus recalques que, não eram poucos. E ele sempre dava um jeito de substituir as palavras apagadas da sua mente por sinônimos delas, enfim, dava os pulinhos dele para que ela não percebesse, para que pudessem seguir a vida da forma o mais normal possível. Porém, eram tantas e tantas as vezes em que acorriam as acusações que seu vocabulário foi se extinguindo, drasticamente, inexoravelmente... Em uns poucos anos ele, homem de cultura razoável, passou apenas a balbuciar frases entrecortadas. Mas graças ao seu esforço e capacidade de síntese, ainda se fazia por entender. Porém, ainda, e cada vez mais rapidamente, foi perdendo completamente a capacidade de formar qualquer sentido às frases, tal a carência de significado que elas aparentavam a quem ouvia. Mas era em casa onde ocorria o pior: quanto menos se fazia entender, mais sua mulher o acusava e o espezinhava por ele não conseguir nem mais se dar ao "trabalho de se defender", como ela alegava. Era tal fosse um réu confesso para ela. O problema finalmente escancarou-se aos amigos, à família. Tornou-se nítido para todos. Ninguém entendia o porquê dele não dar um basta àquele relacionamento doentio que estava dizimando a sua capacidade de agir como um ser humano que raciocina... Porém, o certo é que tudo foi se sucedendo de forma natural para que culminasse naquele dia fatídico: uma última acusação injusta dela. Pronto. Sumiu-lhe completamente da língua, da mente, dos olhos, o significado e até os sons dos fonemas da última palavra que ainda faltava para ele perder: a palavra amor - e essa foi a primeira vez em todos aqueles anos de convivência juntos que ela percebeu que ele estava mudo.
 
O HOMEM QUE SUMIA COM AS PALAVRAS

Novo dia

 
Serenamente, beijo a madrugada e o perfume que se solta da escuridão.
Esta bonança devolve-me a inteireza de espírito e faz-me acreditar num dia cheio de bem aventurança, paz, amor, alegria e verdade, um dia cheio de luz.
Já sinto o dia chegar cheio de novidades.
Já sinto o frescor da nova aurora a prometer momentos repletos de luz e muitos olhares iluminados, sorrisos serenos, ternura nos gestos, gentileza nas palavras, calor nos corações.
O dia promete esperança no inusitado e um olhar sobre o grande plano das coisas num vislumbre mais elevado. O vislumbre que nos oferece Deus em toda a sua sabedoria e amor.
A calma da noite sossega o meu peito dando-me aconchego e amamento para me recuperar dos dias loucos de outrora. Mas, fundamentalmente, faz-me acreditar numa mais elevada forma de ver a vida e de viver, com mais bondade, mais altruísmo, mais gentileza, mais empatia, mais alegria e mais esperança.
Espero deste dia uma dança com a vida e com toda a sua beleza. Uma dança de carícias, de ternura, de paz, de amor.
 
Novo dia

Antiguia: Dicas infalíveis aos nobres comentadores do Luso-Poetas para melhorar a qualidade dos seus comentários.

 
ANTIGUIA: Dicas infalíveis aos nobres comentadores do Luso-Poetas para melhorar a qualidade dos seus comentários.

Como disse Plubius Syrus (ou teria sido o saudoso Dr. Sócrates, o grande boleiro corintiano em alguma roda de samba? Pouco importa...): "Arrependo-me muitas vezes de ter falado, nunca de me ter calado”. Convenhamos: quem quer saber de qualquer forma de silêncio aqui no Luso-Poemas? Não estamos aqui para isso. Afinal, somos escritores sempre com algo importante a dizer guardado logo aqui, debaixo da manga. O negócio então é publicar e comentar.

Mas, principalmente, comentar - a mais freqüente e numerosa forma de expressão literária deste site. – Foi justamente pensando em melhorar esse importantíssimo passatempo da vida dos Lusuários que, baseado nas minhas experiências como comentador assíduo e bem sucedido deste espaço por um bom tempo, humildemente achei por bem dividir minhas conclusões com os companheiros de escrita. São 10 importantes dicas de como se redigir um comentário com propriedade e decoro sem incorrer no trágico risco de ter a opinião devidamente deletada por algum autor - e, ainda mais - partindo-se do princípio que os comentários são a mola mestra que sustenta a criatividade dos Lusuários neste sítio, seja lendo-os ou propriamente comentando, ser incensado à condição de um grande e respeitado comentador do site. Leiam com toda a atenção e aproveitem essas pérolas:

1 – Da importância da ignorância (ainda que falsa): Mesmo seja o seu português castiço e de muitos recursos léxicos, é de muito bom tom distribuir em seu comentário uns poucos erros gramaticais. O motivo é simples: erros reforçam no autor comentado a idéia de que ele próprio é superior em conhecimentos sobre a língua em relação ao comentador. Isso em si já provoca certa simpatia e tolerância. Dois errinhos tais como justapor “concerteza” (um erro muito em voga aqui no Brasil atualmente), ou grafar azia (pirose) com “h” ou trocando o “z” por um “s”, são daqueles tipos de erros muito bem quistos quando percebidos na escrita dos comentadores cuidadosos que aspiram ao sucesso. Pequenos erros de concordância nominal ou verbal naturalmente são bem-vindos.

2 – Das comparações: Jamais compare um poema ou texto lido com o estilo de um grande poeta ou escritor. Isso é tremenda falta de educação com o autor, motivo sério e justo para biquinhos e birras. Afinal, onde já se viu alguém ter a pachorra de identificar os maravilhosos versos dos nossos Lusuários com os versos de um reles... sei lá, só para citar: Fernando Pessoa ou Drummond, por exemplo? Realmente é situação de magoar o nosso prezado autor e com total razão. Todo autor do Lusos é um universo “incomparável” de criatividade.

3 – Da abrangência do texto: Uma conveniente e bem trabalhada dificuldade para se definir o texto comentado aumentará em muito a sua abrangência e poderá causar uma excelente avaliação do seu comentário. Veja o exemplo: “O seu poema tem um quê de nonsense, um extraordinário ambiente emocional que me tira os pés do chão...” Ou seja, palavras que elevam o texto a uma categoria diferenciada, inexprimível, porém, a rigor, dizem absolutamente nada. O bom comentador deve ser mestre nesses artifícios, pois mecanismos como esse permitirão a ele comentar ‘ad infinitum’, apenas variando e combinando uns poucos desses elementos. Aquele que fizer isso bem, jamais precisará repetir o conteúdo de sequer um único comentário e, ao mesmo tempo, sempre terá algo de diferente e indefinível a dizer. Afinal, queremos ser mais originais do que o tradicional “maravilha”, pois não?

4 – Da importância da inexatidão: Nada mais irritante do que aquele comentador que busca exatidão matemática na escolha das palavras para justificar alguma passagem do texto lido. Para que diabos agir assim? Toda compreensão consistente é totalmente desnecessária e até nociva ao comentário. Pior ainda se for fundamentada e real. Há de se entender que, na grande maioria das vezes, nem o autor sabia direito o que pretendia dizer com o raio do escrito. Como poderia um simples comentador ter a pretensão de o saber? Olhe lá: Evite a prepotência e a arrogância.

5 – Das conjunções adversativas: Nunca diga “interessante, mas...” Conjunções adversativas devem ser totalmente banidas de qualquer texto comentado, sob pena de justíssima deleção.

6 – Das perguntas ao autor: Jamais termine uma opinião sua com “você também não acha”? Ai, ai, ai. Erro fatal. O autor não é obrigado a achar nada do seu próprio texto. O texto já é um achado em si. Não coloque o autor em maus lençóis. Por que defender inutilmente as próprias convicções num comentário e ainda por cima buscar alguma explicação com um provocador “você também não acha?”. Um comentário do Luso não é lugar para se pedir posicionamentos, mesmo de maneira sutil. Onde já se viu? Isso beira à falta de escrúpulos.

7 – Da recreação: Desde os tempos do Império Romano qualquer homem de ardil sabe que não é a verdade que segura uma argumentação, mas a recreação. Diversões e pândegos nunca são questionados. Seja leve e divertido.

8 – Das citações: Evite quaisquer tipos de citações de autores consagrados para alicerçar os seus comentários. Soa demais arrogante. Prefira exemplificar com situações cotidianas, tais como “o cachorro da minha tia”, “o gato amarelo da minha irmã” ou “o papagaio do meu primo”. Eis aqui ótimas citações. Lembre-se, quanto menos seres do gênero humano envolvidos na sua exemplificação, melhor, ou seja: diminui o risco do autor se identificar negativamente com algo ou alguém no seu comentário.

9 – Do desenvolvimento de idéias próprias: Não trace paralelos sobre o texto lido com outros textos ou livros, com filmes de cinema ou peças de teatro vistos ou revistos. Importante: Não compare nada no texto lido com os seus sonhos. Comentário não é divã de psicanalista. Ah: não escreva considerações pessoais de cunho universal ou filosófico sobre o tema em questão: texto de outrem não é lugar para você mostrar conhecimento e idéias pessoais sobre o assunto, mas só para enaltecer as idéias do autor. Francamente, advirto: isso é erro primário.

10 – Da sinceridade e dos questionamentos: Por fim, o mais importante: jamais seja escrupulosamente sincero e detalhista a ponto de questionar cada pormenor do texto ou corrigir qualquer impropriedade lógica ou incongruência textual. Sinceridade é coisa para comentadores amadores. Aquele que preza o comentário como um veículo de interação com o autor, diz apenas o que ele precisa ouvir. Lembre-se da velha premissa: uma mão lava a outra.

Portanto, aqui foram elencadas algumas dicas de ouro para todos se darem muito bem na feitura dos comentários, agradando incrivelmente aos autores. Em pouco tempo colherão excelentes frutos se seguirem as recomendações, quem sabe até, ainda hoje. E agora, o que estão esperando? Mãos à obra! Seus amigos autores os esperam de braços abertos... Bons e felizes comentários a todos.
 
Antiguia: Dicas infalíveis aos nobres comentadores do Luso-Poetas para melhorar a qualidade dos seus comentários.

O Luso Poemas é Grande Pasto

 
O Luso Poemas é Grande Pasto
 
O Luso Poemas é Grande Pasto

Àqueles que gostam que os outros dêem nome aos bois, na sua maioria costuma não agir com propaga.

Uma manada de bois – seguida por algumas vacas – anda a infestar o site com a podridão que tem dentro de si e espalhar como praga suas imundícies bovídeas, que só ampliam a cada instante o Buraco da Camada de Ozônio.

No site-pasto ver-se de tudo. Todos têm direito a livre mugido e expressão, o que não significa livre opressão de algumas manadas sobre outras ou de manadas sobre certo boi ou vaca.

O grupo contra a letra maiúscula e pontuação encolhe-se nas minúsculas, mas tem as mãos prontas para tacar uma vírgula, ponto de exclamação ou interrogação, ante as mínimas reticências de quem ousa (e no geral) escreve melhor que si.

Há quem escreva português e quem escreva brasileiro, por que o tal Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa ainda não chegou (chegará?) a esse pasto dito literário.

Na escrita há gado brasileiro travestido de português e português de brasileiro. Esses enganam a si próprios e as suas raízes para aparecer. Por um naco da atenção - daqueles que se julgam os touros da literatura - mugem até com sotaque diferente. Mas, não se enganem: pela pata se conhece a vaca (ou bovino)!

by Betha M. Costa, vulga Crazy Cow.
 
O Luso Poemas é Grande Pasto

É Errado Tentar Escrever Com Técnica?

 
É Errado Tentar Escrever Com Técnica?
by Betha M. Costa

Livre como o pensamento é a escrita. A não ser que se engarrafe a imaginação e a lance ao mar do esquecimento...

Admiro quem escreve por instinto. O autor (a) joga o que lhe vem à mente em palavras ao papel (ou tela do computador) e ao final apresenta um belo bem escrito texto. Parabéns aos que têm esse dom maravilhoso de escrever apenas com a inspiração e sem transpiração!

Admiro quem se preocupa em saber sobre o que escreve. Quem cuida da ortografia, gramática, procura conhecer os estilos literários. Quem componha por inspiração e transpiração!

Todos estão certos sobre o que querem para si, seus textos e passar aos seus leitores.

Inaceitável é que em um local – que pretende difundir literatura – exista quem exalte a ignorância. Quem ache até bacana desconhecer os estilos literários, por que é "charmoso" mandar às favas essa xaropada toda de "rótulos": prosa (conto, crônica, artigo, ensaio...) ou poema (soneto, rondel, indriso, haicai, poetrix...). Para que toda essa prepotência? Somos todos amadores, não é mesmo?

Ah, bom!... Ser criativo não é ser ignorante. Ser rebelde não é fechar-se ao novo e ao conhecimento, e, de quebra ridicularizar quem sabe aliar com esforço o sentimento e/ou pensamento a técnica.

A liberdade poética, de criação e/ou de expressão é via de muitas mãos. Cada um use seus valores pessoais como lhe aprouver. Que componha como melhor lhe parecer. Contudo, que não seja difundido num “sítio de literatura” que é errado ou careta usar técnica para escrever!Cada qual com seu cada qual!
 
É Errado Tentar Escrever Com Técnica?

SOU MULHER, “Dá licença enquanto masturbo-me...”

 
Aprendi que amores sofríveis não são “carma nem destino”, são escolhas decorrentes de carências, entre elas, as afetivas...
Aprendi a negociar com o amante tempo, ele me oferece fidelidade, em troca permito que me consuma.
Aprendi que a solidão é companhia melancólica, mas não é desamparo.
Aprendi que é preciso entender a diferença entre prestar contas e dá satisfações.
Prestar contas é anulação pessoal, dá satisfação é apenas satisfazer a união.
Aprendi que é preciso sempre lustrar as mascaras de fortalezas, alegrias, e seduções,
Aprendi a reconhecer e lutar contra minha feminina bagagem de imagens caricaturadas de subordinação, inferioridade, passividade, obrigações estabelecidas
Aprendi a entender a diferença entre sensualidade e vulgaridade, sexualidade e pornografia e a importância da igualdade dos orgasmos.
Aprendi que sexo vai alem de uma penetração consagrada, é amor, troca de carinhos e carícias
Aprendi que as mulheres carregam nas costas a eterna pseudomissão de mostrar-se “boas e puras”
Aprendi que a legitimidade da mulher está na sua eterna e constante busca de fazer valer sua identidade.

Lufague
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SOU MULHER, “Dá licença enquanto masturbo-me...”

O meu Luso do mês de Agosto é António Paiva

 
O meu Luso do mês de Agosto é António Paiva
 
“António Paiva, nasceu a 21 de Março, de 1959, em Santo André, Vila Nova de Poiares, uma vila situada entre a Serra da Lousã e o Rio Mondego. Cresceu na aldeia do Travasso, concelho de Penacova. Uma aldeia isolada na época, a estrada que a servia terminava na própria aldeia, sem ligação à sede do concelho.
Por lá estudou e pastoreou até à idade de 18 anos, a partir daí foi para a cidade de Coimbra, onde prosseguiu os estudos e iniciou a sua vida profissional. No ano de 2000 decidiu rumar à bela ilha da Madeira, onde reside actualmente.
Apesar de a escrita o acompanhar desde muito cedo, só em finais de Agosto de 2006, surge a publicação do seu primeiro livro de poemas, “Juntando as Letras”. Em Maio de 2007, é editado o seu segundo livro, “Janela do Pensamento”, uma compilação de poemas e prosa poética. Quase a terminar o ano, em Outubro de 2007, nasce mais um livro de poemas e prosa poética, intitulado “Navegando nas Palavras”. No ano de 2008 fez parte de um grupo de onze autores, que lavraram e assinaram as páginas do livro, “Leituras Soltas”, uma edição conjunta da Fnac e da editora “O Liberal”, lançado a 13 de Dezembro, tendo o total da receita das vendas revertido a favor da AMI e do Rotary Clube do Funchal. Em Dezembro de 2007, O Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais, confere-lhe o Diploma de Honra e Mérito ao Escritor. Os livros “Juntando as Letras”, “Janela do Pensamento” e “Navegando nas Palavras”, para além da poesia e da prosa poética, têm um outro denominador comum, que muito orgulha o autor. Angariam fundos para instituições, que apoiam e acolhem crianças carenciadas e em risco. Aldeias de Crianças SOS de Portugal, Acreditar – Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro, Núcleo Regional da Madeira e Ajuda de Berço, instituição que acolhe crianças em risco dos 0 aos 3 anos de idade.
Em Abril de 2009 é editado o seu primeiro livro exclusivamente em prosa "Pedaços de Vida e Fantasia".
António Paiva conta já com um considerável número de escolas visitadas, no Continente e na Ilha da Madeira. Fomentar o gosto pela leitura e pela escrita, junto dos mais jovens, têm-lhe proporcionado dos mais gratificantes momentos na sua vida, quer como homem, quer como escritor. Sendo por isso, uma actividade que procurará intensificar, e tudo fará para responder afirmativamente, a todas as solicitações que lhe forem endereçadas nesse sentido.”

" Tenho as minhas hesitações, passo a vida pendurado no instinto, passo tempos infinitos ansioso e febril, outros completamente desligado, reconheço que sou portador de algum egoísmo, gosto de pentear luares e recordações.”

"Uma vida não se justifica pela justificação dos actos, tão pouco dos factos. Um processo de aprendizagem permanente, onde as palavras se defendem do orgulho. Nos extremos, a dor coabita com elas e com a vida. Às vezes nada as distingue do silêncio, são apenas uma forma de o suavizar. Nelas respiro e me abrigo; as minhas mãos movem-se obedecendo ao meu pensamento, pela força das palavras. Convém lembrar que um coração tem duas faces, é a morada perfeita para a inspiração de um caçador de palavras".

António Paiva revela-se ao leitor como um escritor multifacetado que vive fascinado pela magia das palavras, ávido de conhecimento, introvertido, altruísta e modesto. Posto este manancial de talento e sensibilidade, a minha escolha para o Luso-Poeta do mês de Agosto recaiu, conscientemente, num escritor de inegável e reconhecido valor literário ao mesmo tempo que num homem solidário e detentor de uma rara grandeza humana.

- A fim de te podermos conhecer um pouco melhor talvez nos possas falar um pouco da tua profissão e de como habitualmente decorre o teu dia-a-dia.

- A minha actividade profissional tem sido enriquecedora e variada, aos 18 anos de idade entrei para a Portugal Telecom, ao mesmo tempo que prosseguia os estudos, aos 22 anos já liderava um grupo de vinte pessoas, todas elas mais velhas do que eu. Depois de 14 anos na Portugal Telecom, saí para exercer funções de director comercial na ASP Telecomunicações. A vontade de querer conhecer outros ramos de negócio, levou-me até à Vila Azul Propriedades, uma empresa do norte onde fui director comercial. E, porque novos desafios são para mim um estímulo, entrei para o Grupo Jerónimo Martins como director de lojas. Voltando a exercer a função de director comercial no Grupo Machados, empresa da Região Autónoma da Madeira. A minha actividade profissional sempre me deixou pouca, ou quase nenhuma disponibilidade, para me dedicar aos sonhos e à minha paixão – a escrita. Daí que, há cerca de 3 anos decidi mudar o rumo das coisas, passando apenas a colaborar em regime de prestador de serviços com algumas empresas, o que me permite ter mais tempo disponível para a escrita, e para actividades a ela ligadas. O que faz de mim uma pessoa mais feliz e realizada.

- Com qual dos géneros literários te identificas mais, poesia ou prosa?

- Esta é uma questão que me tem sido colocada diversas vezes, ao que eu invariavelmente respondo; identifico-me com a escrita. É que, ambas as formas de criar me seduzem de igual modo, ao ponto de; lhes dedicar um amor despudoradamente sério. Ou ainda; às palavras tudo darei, até a minha vida, a minha morte não serve a ninguém, por isso a guardo para mim.

- Na tua biografia sobressai o teu lado humanitário. Cresce em ti a vontade de aliares a tua escrita às necessidades daqueles que são mais vulneráveis. Em que é que o teu contributo a determinadas causas sociais contribui para o teu crescimento como escritor e ser humano?

- O meio onde cresci foi uma escola que me preparou para a vida, tratando-se de um meio rural onde a grande maioria das pessoas eram pobres ou remediadas. Havia um grande espírito de entreajuda até nas lides do campo. Quem tinha alguma coisa partilhava com quem tinha menos ou nada. Isso marcou a minha personalidade sem dúvida.
Exercer a Cidadania na sua plenitude, entendo-o como um dever de cada um de nós. E irrita-me observar que tanta gente escreve e fala sobre as misérias e dificuldades do seu semelhante, mas na prática nada fazem. Têm muita pena dizem – como eu tenho tanta pena da pena deles – melhor fariam se estivessem quietos e calados. Ninguém precisa de pena, muitos necessitam isso sim, da nossa solidariedade activa e efectiva. Sobretudo os que não se podem defender por si mesmos – as crianças. E, tudo o que eu possa fazer ou faça nesse sentido, será sempre muito pouco e, para além disso não faço mais do que o meu dever. A verdade é que têm sido as crianças me mais têm ensinado a crescer como ser humano, e ao mesmo tempo me ajudam a corporizar o meu sonho de escrita.

- Conta-nos como te surgiu a ideia de lançares o repto aos empresários para que associassem as suas marcas aos livros e à cultura e como a “Vinícola Castelar” resolveu acatar a sugestão e transformar em rótulo do novo vinho Regional das Beiras a capa do teu livro “ Pedaços de vida e fantasia”?

- Isso é algo em que acredito convictamente, aliás; os países mais desenvolvidos, os países onde se registam os índices mais elevados de produtividade e criação de riqueza, são aqueles onde os governos e as empresas investem a sério na cultura e nas artes. E, entendo que em momentos como os que agora vivemos, são a melhor altura para dar passos decididos nesse sentido. No final de 2008 lancei esse desafio em Anadia, a Vinícola Castelar decidiu aceitá-lo, na minha opinião foi uma decisão extremamente inteligente, não tardará por certo a colher frutos dessa decisão. Espero sinceramente que outros lhe sigam o exemplo.

- Um menino da serra que conhece o mar aos 12 anos. Esse fascínio e deslumbramento pelo mar em que medida esteve mais tarde na base da tua escolha por residir na Ilha da Madeira?

- Não tenho consciência formada sobre isso, no entanto o mais certo, é que esse fascínio e deslumbramento que continua em crescendo dentro de mim, esteja na base dessa decisão, a Madeira é uma ilha que conheço há cerca de 30 anos, tenho assistido à sua evolução e transformação, no entanto a sua beleza e essência continuam vivas e apaixonantes. Desde a primeira vez que pisei este chão rodeado de mar, que senti o desejo de o habitar a tempo inteiro. Até que no ano de 2000, tomei a decisão de fazer as malas e cá estou até hoje, plenamente satisfeito e feliz com a minha decisão.

- O teu próximo livro “ 70 poemas por um sorriso” foi concebido a pensar numa causa que apadrinhaste com muito carinho e sensibilidade. Podes falar-nos desse livro e o porquê da escolha da APPACDM de Setúbal, enquanto Instituição que apoia crianças e jovens portadores de deficiência mental?

- A causa é muito mais importante que o livro, e do que eu. Sobre o conteúdo do livro não adiantarei nada, isso é uma tarefa que caberá aos possíveis leitores. A ideia e a escolha da APPACDM de Setúbal, nasceu de alguns contactos que tivemos a propósito de outras iniciativas de escrita. Poder alcançar mais este objectivo, é extremamente gratificante para mim. Claro que, este projecto só foi possível, graças à extrema generosidade de algumas pessoas e empresas. Refiro-me Ao Sr. José Paiva, que não sendo meu familiar, fui carinhosamente adoptado como amigo pela sua família. A Helena Paz, que emprestou o seu talento e arte na pintura, criando numa tela a óleo a pintura que será o rosto do livro. A empresa Lusis, Lda., a Editora Reditep, Lda. e a Gráfica Linkprint, Lda.
Posso assegurar que o resultado final é um trabalho gráfico e editorial de excelente qualidade. O livro será comercializado a um preço extremamente acessível, o que permitirá alargar o leque de pessoas que o poderão adquirir, podendo desse modo ajudar a APPACDM de Setúbal, a ultrapassar as dificuldades quotidianas vividas por instituições que se entregam a ajudar a sociedade atenuando dramas e carências.

- Se te perguntassem qual o teu livro, filme e música favorita, conseguirias eleger entre muitos?

- Livro favorito, é quase uma violência para mim, escolher um livro como favorito, no entanto deixo como uma referência incontornável das minhas leituras, o Livro do Desassossego, de Bernardo Soares.
- Filme Favorito, de novo, de tantos e bons filmes com que já me deliciei, sonhei e cresci, atrevo-me a colocar em evidência Fuga Para a Vitória, se já o viram compreenderão porquê, se não, vejam e estou certo que compreenderão.
- Música favorita, a música sempre me acompanha, sobretudo nos momentos de escrita, destaco no entanto As Quatro Estações, de Vivaldi.

- Qual o papel da Luso-Poemas na divulgação do teu trabalho?

- Curiosamente esta nomeação coincide com o mês em que faço 2 anos como utilizador deste site. Como já disse em tempos, em determinados momentos este espaço funciona para mim como um “laboratório”, um veículo para chegar a pessoas que possivelmente não chegaria. Por aqui tenho criado alguns laços fortes, tenho consolidado as minhas opções sobre o que quero ser, e também definitivamente, sobre aquilo que não quero mesmo ser.

- Quem sugeres para poeta do mês de Setembro?

- Como a regra que me foi transmitida diz que o homem escolhe mulher, e a mulher escolhe homem.
Eu escolho Maria Verde, e se ela aceitar a minha escolha, ficarão a saber porquê.

A ti, fico-te grato pela oportunidade e pela tua coragem.
Um abraço de estima a todos os que sabem estimar e cultivam a estima.

Maria Fernanda Reis Esteves
49 anos
Natural: Setúbal
 
O meu Luso do mês de Agosto é António Paiva

Já te disse hoje que gosto de ti?

 
Um café! Acordou-me devagar, ainda não refeito de uma noite dormida à pressa. Dei os primeiros passos cruzando-me com pessoas conhecidas, que, alegremente, me davam um inusitado “Bom – Dia”. Respondi a todas com um gémeo cumprimento. Ficou-me a energia, revigorante, das pessoas com que me cruzei!
Meditei… antes nunca tinha pensado nesses pormenores, levava a vida a correr, num contra relógio contra o tempo, o meu tempo, em suma, contra mim.
Deixava passar os minutos, sem reparar neles, apenas reparava em algumas horas porque a sociedade me habituara aos horários preestabelecidos…
Não era eu! Não o verdadeiro eu…
Mas naquele dia, tudo seria diferente, mesmo que o meu exterior não o revelasse, mesmo que o meu rosto não o expressasse, era um dia diferente.
O dia da consciência! O dia que quebrava a barreira das oposições e conseguia entrar na essência do meu Ser, concedido pelos meus semelhantes que comigo conviviam diariamente.
Um café, mais um, para competir com tamanha alegria que sentia. Tinha-me revelado. Finalmente tinha entendido o sinal…o simples sinal de que podes ser tu mesmo se assim quiseres!
De alegria incontida, procurei-te, sim a ti que lês as minhas singelas palavras, a ti e a ele, e a ela, pela mensagem que não cheguei a mandar e pelo telefonema que pensei fazer, pelo e-mail que ficou por escrever, pelas várias possibilidades… mas acredita que te procurei, sei que sentiste essa energia e não ligaste, um arrepio, um vento suave ou um calor passageiro, era eu a tentar abrir a linha da nossa comunicação para te questionar, livre e abertamente, sem malícias ou secretos desejos, sem que fosse preciso uma resposta pronta e composta… e no tempo livre que gastei a viajar pelas pessoas, uma a uma, adornando as suas qualidades, deixei-me ficar aqui, sentado neste banco de jardim, etéreo, de lápis na mão a escrever no meu caderno dos desejos… vezes sem conta a frase repetida na minha mente…
Já?
Já te?
Já te disse?
Já te disse hoje?
Já te disse hoje que?
Já te disse hoje que gosto?
Já te disse hoje que gosto de?
Já te disse hoje que gosto de ti?
Já te disse hoje que gosto de ti? Já te disse hoje que gosto de ti? Já te disse hoje que gosto de ti?
E o meu pensamento, afectuoso, sussurrou ao teu ouvido…
 
Já te disse hoje que gosto de ti?

Nada De Nós

 
Odeio o lado vazio da cama onde me deito. Durmo de braços atados para que não transponham os limites do encaixe silencioso que o meu corpo moldou no colchão. Preciso de tréguas da dor da tua ausência que envenena cada inspirar expirado.
Porém, mal adormeço, o meu coração implora aos braços que se estiquem e te procurem na infinitude do vazio, na esperança inútil de te sentir. Acordo cada dia com o sabor caústico da saudade no peito e os braços debulhados em lágrimas. Nesse árido instante a realidade castra-me os sentidos. Não há mais beijos. Não há mais sorrisos suados. Não há mais frémitos de emoções, nem palavras exaladas em murmúrios. Nada de nós.
A inútil existência de mim remeteu-me a um vácuo mórbido que dilata a cada hora que passo sem ti.
E o vazio do outro lado da cama olha-me pétreo e inabalável.
 
Nada De Nós

o resto são passarinhos

 
por vezes imagino o quão inútil é o meu conhecimento e meu desejo de conhecimento, e o conhecimento dos outros e o desejo de conhecimento dos outros. e imagino que não há nada entre a vida e a morte além disso mesmo, vida e morte, morte e vida, todos os dias e em todas as eras o mundo se resume nessas três palavras, vida e morte, e que me tornam quem sou até que eu parta e reste de mim apenas o que se souber de mim. não o que penso, mas o que pensam que penso, não o que sou, mas o que pensam que sou. e o que sou, de fato, além do que pensam que sou?

mas depois de idos os pensamentos sobre mim, não restará nada além de um corpo se putrefazendo, um bando de ossos baldios num saco de lona junto com outros ossos baldios, que muito provavelmente pertenceram a ditos parentes meus que serão esquecidos antes de mim, ou assim espero.

e pensar que tudo o que eu quis dizer ao começar a escrever era que você estava linda naquela tarde em que passeamos de mãos dadas rumo ao nada mais que passear de mãos dadas. e pensar que eu tinha tanto medo que o tempo chegasse, e agora só peço que passe, mesmo que eu morra antes de ver o sol nascer em seus olhos, e ver morrer a última flor da noite todas as noites quando você dorme e põe em mim todos os meus medos de anos atrás.

e pensar que poderia resumir tudo isto num poema insípido e completamente equivocado daqui a uma semana, mas que sempre traria nas vírgulas uma marca em cera abrasoando o quanto te amo, e a saudade que tenho do dia em que passeamos de mãos dadas e você acaba de dormir com a cabeça em meu colo, sabendo que mais tarde te levarei nos braços com todo o cuidado para que você não acorde num presente em que outro te segura nos braços e que o meu maior medo é que este não saiba te manter segura. mas isso já passou. o resto são passarinhos.
 
o resto são passarinhos

África, um continente esquecido

 
África, um continente esquecido
 
 
Peço encarecidamente aos colegas que "percam" alguns minutos com essa
verdade..................................

Assista ao mundo que existe além dos muros de sua casa!

Texto Reflexão

FOME é o monstro interno que devora o estômago da criança!
Criança que chora a miséria do mundo desigual, onde o rico joga no lixo o que julga ser nada:
a ESPERANÇA do futuro de milhares de vidas semi-mortas pela descrença em lideres de governos falidos.
Quais sentimentos esses futuros adultos (se chegarem a ser) terão dentro de si?
Poderemos achar a fé em peitos apedrejados pela desigualdade humana?
Vejo a dor latente nos olhos da mãe com seu filho pele e osso, franzino pela fome que o corrói, vejo nos olhos uma pergunta sem resposta:
Será que Deus se esconde nessa hora?
Inúmeros corações questionadores sem saber ao certo a razão da vida ser cruel para uns e “humana” para outros...
Vejo também o homem-bicho aquele que joga resto de vida no lixo!
Tão egoísta, serve em seu prato bem mais do que o corpo precisa.
Dai luz à criança que chora de fome, que treme de frio, que NÃO SONHA!
Sim, a morte dos sonhos é verdadeira morte em vida, ver olhos pequeninos sem o brilho da esperança. Acreditem: São mesmo olhos de criança!
Olhos que gritam: MUNDO EU EXISTO! Não pedi para nascer...
E clamam: dê-me o berço, o colo, o sapato, a comida, dê-me o AMOR!
Aqui no peito de HUMANA e mãe, a revolta grita de mãos atadas...
Em meus olhos uma lágrima gélida em súplica:
-Senhor dá-me motivos para ser poeta!




Caros amigos,
sei que não poderei mudar o mundo com esse "manifesto", mas se conseguir com que as pessoas
que por aqui passarem conscientizem-se ou apenas
parem por alguns instantes para refletir na vida
que levam e às vezes queixam-se sem saber -ou sem lembrar- que de sua porta para fora há um mundo esquecido e sem esperança. Se conseguir fazer com que ACORDEM para esse "mundo" sentirei que cumpri parte da minha missão na vida.
E pode ser que você pergunte a si mesmo:
-O que posso fazer?
Te respondo: Pode orar com fé e ainda dentro de sua casa iniciar a mudança.
Pois se todos nós fizermos um pouquinho, esse pouco somado à tantos outros pouquinhos já será muito.
E agora te pergunto:
Vai sobrar comida em seu prato hoje ou servirá apenas o que seu corpo precisa?
 
África, um continente esquecido

Prelúdio de uma Sinfonia

 
Prelúdio de uma Sinfonia

Como um maestro com o dom e elevação que Deus lhe concedeu, ao dar-lhe a vida, vai vivê-la e arquitecta-la como um bom profissional todo o seu tempo terrestre. De pequenino, quantas vezes já mostra todas as virtualidades.
As notas soltam-se ao vento que as vai harmonizando conforme chegam sonantes ao ouvido. O martelo na bigorna tira sons graves, agudos, também os melodiosos que atraem os sentidos. Tanto por imaginar! São as claves de sol, fá, mi, de todas as notas e elas são sete é só contá-las. O número de Deus. Talvez tenha algo a ver! A sinfonia vai evoluindo e o prelúdio já harmonizado está perfeito.
Este um princípio de tudo.
Vem outra parte julgo a mais enérgica em que se valorizam
grande parte todos os instrumentos em conjunto, assim desde cordas, sopro, teclas e percursão que compõem a verdadeira fase da composição. A força hábil e subtil a que mais marca pelo entusiasmo vibrátil da obra. Imaginemos como uma traição e vingança essa prosaica energia.
Este, o outro segundo passo!
Agora vai abrandar. Os instrumentos tornam-se suaves mais tolerantes, harmoniosos, querem amor, disciplina á batuta que os rege, os sensíveis apegos que o Compositor lhe pede.
Interstício ultimo e conclusão. Terceiro tempo.
Recapitulando um pouco toda a metodologia empregada, vive-se uma serenidade de quem acorda de um sonho belo.
Lembrando aquele maravilhoso tempo que passamos ouvindo a musicalidade que hoje nos embala a vida e se revela como um balsamo! Os quatro andamentos.
Final da pauta.
Eis, a Sinfonia da vida!

Helena
 
Prelúdio de uma Sinfonia

O vestido

 
Já viste os cavalos a correr nas planícies alentejanas ao anoitecer?
O sol a bater na pele deles dá uma tonalidade igual ao teu vestido…

Recuou… como era possível aquela pergunta/resposta?
Retrocedeu no tempo. Aos momentos que ele não conhecia…

Era Verão. Um Verão daqueles que só acontecem nas planícies. Só ali existe a magia própria do dourado ondulante contra o azul insinuante do céu. E quando o sol se põe tudo fica rasgado de vários tons de laranja. Fabuloso. Não… é muito mais do que isso! É tanto que não se sabe dizer…
Ao longe ainda corriam cavalos felizes e brincalhões. Não eram todos iguais. Haviam uns maiores que outros e de cores distintas. A luz do fim da tarde, povoava de raios e sombras a paisagem, qual quadro célebre exposto no melhor dos museus. E os cavalos tinham cores misteriosas e brilhantes que iam escurecendo ao passar de cada minuto.
O silêncio da tarde calma, cantava hinos à paz que sentia na alma. Sentia-se tão frágil e tão forte ao mesmo tempo. Perante a grandeza do espaço aberto e livre, era tão pequena; mas era a sua grande força que lhe dava a paz naquele momento, tão eterno (em quantas tardes de quantos Verões vira o mesmo quadro? Em quantas delas se ouviram as suas gargalhadas? Em quantas delas as lágrimas escorreram indomadas pelas saudades dos que partiram?).

Voltou ao presente.
Que cor é essa? Os cavalos têm diferentes cores que, ainda se transformam noutras, consoante o sol que bate neles.

Que lhe interessava a cor do vestido?! Sabia que para ele, a cor desse vestido era mágica. Tão mágica como os quadros reais que, para ela, eram os mais belos. Isso sim!
 
O vestido

Ainda na Fila...

 
Ainda na Fila...
 
Uma fila pode demorar, temos até a

impressão que ela estacionou à nossa

frente, mas inegável é a capacidade que

ela tem de crescer às nossas costas.

Quando somos o último da fila ficamos

apreensivos, mas com meia hora já

estamos no meio dela ou estamos perto

de sermos chamados e podemos tranquilizar o

derradeiro da fila, dizendo

simplesmente que já estivemos em seu

lugar e sua hora vai chegar, essa frase

também pode servir como alerta para a

arrogância, pois do mesmo modo que

podemos alcançar nosso objetivo na

fila, a nossa hora pode chegar no

sentido da doença, do envelhecimento,

da morte e aí não vai adiantar se

vangloriar da sua posição na fila, pois

seja que situação for, a sua vez vai

chegar. Então vamos ser amáveis e

aproveitar a estadia na fila!
 
Ainda na Fila...

DUETO BEIJA- FLOR76 & ANA MARTINS

 
Poupa-me aos teus joguinhos de palavras e aos teus clichés de algibeira rota. Preserva-me do teu ser excessivamente pensado que não se equilibra. Deixa que o teu corpo esferográfico me desenhe na pele os poemas de raiva que não escreves, e que de uma desgraçada vez deflagre em nós este desejo ferino que nos une e nos separa na intermitência fervorosa da nossa pele.
Sente-me folha de papel e silencia no meu corpo as tuas inquietações, planta no meu ventre a raiz dos teus medos e verte em mim teu raciocínio liquefeito. Se calares esses pensamentos histéricos, verás que no eco da tua insatisfação sombria resta apenas o respirar de dois corpos. Exaustos.
Este é o grito que não sabia ser capaz de rasgar. Irrompe-me pelas artérias sangue pulsante em ânsias de ti. Não me remetas à fragilidade de um vidrinho de Murano susceptível de quebrar a cada gesto teu. Sente-me. Olha-me com o enlevo a que debalde renuncias. Deixa que as tuas palavras brotem em êxtase por entre as ervas daninhas do teu desassossego.
O marasmo incipiente dos inexpressivos dias cinzentos, fenece a cada frémito de desejo que desabrocha na minha pele, e com aliviosas nuances, este torpor inesperado liberta-me das amarras do azedume que exangue vai dando tréguas aos dias que me atravessam. Não deixes que retorne à concha onde me fiz cinza e acre, e dos meus dias noites de savana sem luar.
Encara a mais premente realidade que se desnuda perante o teu olhar fugidio e inquieto: há uma mulher que acorda em mim. E com implacável disposição para pagar o preço da desilusão, para sofrer as lástimas e as penas dos sentimentos vindouros, deponho o meu escudo de indiferença e, rasgados os véus do pudor e da descrença, assumo e enfrento este querer desejoso de ti.

Não me condenes numa mecânica encravada e lancinante, emanada pela fervura vinhesca e agre das percepções, sabias-me reticente nos minados campos do douto amor, derramando em gorjeios de insegurança, toda a seiva envenenada do meu pródigo passado.
Queria tatuar-te as noites da solidão, encharcar-te os dias das incertezas, deitar-me nu e entorpecer quieto no leito morno do teu coração, apesar da dose exacerbada de passado, que me amarrava sem lamento.
Ainda sinto em mim, o eviterno desejo de me ser em ti, cruzando-te os mares da tez rosada, atracando-me de cansaço, em teu porto seguro. Este desejo exequível, irrompe impertinente, me esgaça as dúvidas sombrias do teu olhar, e pede-me que busque no teu corpo a perfeição.
Só hoje senti veemência em tua voz paulatina, abrindo portas e janelas, escancarando o meu mundo de muralhas e defesas, tombando as ameias indisciplinadas do meu casto orgulho, só hoje saboreei o brilho mais cadente e pueril do teu olhar...
Quero-te folha de papel, sim, no silêncio auspicioso de dois mundos, na consumação secreta das palavras mudas, deixa ressoar em mim o vibrar garrido do teu fértil solo, terramoto de loucura exausta na junção elementar da consumação final.
Silenciados os gritos da revolta, resta apenas o respirar isento de dúvidas entre dois corpos acabados de nascer.

Meu querido Amigo, agradeço-te este momento único de partilha. Um beijo enorme!
 
DUETO BEIJA- FLOR76 & ANA MARTINS

mais um ano

 
a minha juventude foi muito agitada. desajeitada e rebelde – gosto de culpar o 25 de abril por todos os males de que padeço. mas não é verdade – o que seria das minhas palavras sem abril? não trocava abril por nada. crescer com a revolução é um daqueles momentos únicos que a vida não repete – sem abril estaria vazio. talvez até vazio de erro – faço parte do erro. agarrei a liberdade sem defesas e acabei por sucumbir ao seu encanto – por ali fiquei a trovar. sem métrica. sem rima e a um compasso que nunca soube acompanhar – agora que envelheci escrevo prosa para sobreviver – estou triste. escrevo – quero desabafar. escrevo – quero respirar. escrevo – quero dar uma sova. escrevo – quero dizer amo. escrevo – quero odiar. escrevo – escrevo para tudo e para mim – escrevo porque quero continuar a envelhecer com as palavras que ainda não escrevi – escrevo para não morrer no meio de um amor não correspondido: a vida – a vida nunca me amou. talvez por não ser poeta. talvez por nunca ter dito que gosto muito de todos aqueles que fazem parte da minha vida – amo-vos. amo-vos. amo-vos. a todos – escrevo para falar – bem hajam
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sampaio rego - 17 de abrli de 2014
 
mais um ano

Alinhando as estrelas

 
Saiu da sala de jantar. Ninguém reparou.
Desceu alguns degraus e baixou-se para tirar os sapatos de salto alto. Então, desceu o último degrau e sentiu a areia seca tomando-lhe os pés.
Deu alguns passos seguindo o chamamento das ondas.
Sentou-se, pousou os sapatos e abraçou os joelhos.
A noite estava quente e húmida. O vestido branco agarrava-se à pele, do mesmo modo que, a espuma branca das pequenas ondas, se vinha agarrar à areia.
Ainda conseguia ouvir a música tropical vinda da sala e as vozes sem palavras definidas. Tinha sido um jantar muito agradável. Tudo era bom e bonito. Perfeito, se não fosse a sua fome de silêncio e de solidão.
Sentia-se bonita naquela noite, Sentia-se em paz. Mais ainda, ali sentada sozinha. Num ímpeto deixou-se cair para trás e ficou deitada. Olhou o céu azul escuro e viu milhões de estrelas. Definiu algumas constelações.
Tentou definir caminhos de estelas. Complexos caminhos que lhe fizeram lembrar as estradas da vida. Viu as estrelas desalinhadas e iniciou um árduo trabalho de tentar alinhá-las. Pareceu-lhe possível. Mas, nessa noite sentia-se cheia de força. Uma força interior que nem sempre conseguia ter. Com a ajuda do mar, conseguiu mesmo alinhar alguns caminhos. Caminhos seus. Caminhos irreais.
Talvez tenha adormecido. Decerto que sonhou e, só acordou, quando sentiu a presença de alguém perguntando o que fazia ali, tão só.
Não era uma voz conhecida. Não era alguém que a procurava mas sim, alguém que a encontrou. Simplesmente respondeu que estava a alinhar estrelas. Ele sorriu e sentou-se ao seu lado. E só perguntou se podia ajudar…

Por vezes, também gosto de escrever em prosa.
 
Alinhando as estrelas

estado totémico

 
nunca sei de onde me chega esta coragem de vos dizer como sou – louquice – retalho-me pelo que sinto – se soubesse não era louco. não me retalhava. não me temia – louco pode ser um qualquer. ou não – por uma coisa pessoal. ou não – com coisa do demónio. ou não – ou simplesmente um raio de uma porta emperrada. ou não – ou então. talvez o mais certo. é esta loucura acontecer numa luta contra o destino – uma questão de sobrevivência. coisa da alma – mas o cérebro sabe que a morte é inevitável – é necessário ser louco quanto antes – a morte só é silêncio para quem parte – quando partimos levamos tudo – este tudo para mim que gosto de me dar são as palavras que ficam por dizer – a morte só não cala a escrita
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[resposta ao colega transversal no meu texto ressacado]
 
estado totémico