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Rude labor

 
Socalcos partilhados
por humildes
camponeses...
caminhos ignorados
por outros
transeuntes,
rodados noutras
paragens.
Embrenharam
pelas terras
desse país
profundo...
enquanto uns,
de outros,
misturados
nesse mundo,
de outra forma,
são retratados.
Caminhos
do infortúnio para uns,
(de uns outros...)
da esperança
para ainda outros.
Terra desbravada
por aqueles
que, ternamente,
partilharam
os socalcos do planeta.
Num tornear,
num laborar,
num obedecer
(sem antever...)...
num criar
e recriar!...
Ao encontro
da necessidade premente,
de quem percorre
trilhos diferentes,
noutras paragens...
Uns mandam fazer
e outros (uns) fazem (obedecem)!...





António MR Martins
Tem 12 livros editados. O último título "Juízos na noite", colecção Entre Versos, coordenada por Maria Antonieta Oliveira, In-Finita, 2019.
Membro do GPA-Grupo Poético de Aveiro
Sócio n.º 1227 da APE - Associação Portugues...

 
Autor
António MR Martins
 
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Enviado por Tópico
Ibernise
Publicado: 22/12/2008 00:45  Atualizado: 22/12/2008 00:45
Colaborador
Usuário desde: 04/10/2007
Localidade: Indiara(GO)
Mensagens: 1460
 Re: Rude labor
Belas observações da verdae no cotidiano.E como todos nós temos patrões, esta escala não se afina no fim. Adorei.

Bjs AntónioM.R.Martins querido amigo e ilustre poeta.

Feliz Natal e um próspero Ano Novo p vc e os seus.

Ibernise


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/12/2008 01:35  Atualizado: 22/12/2008 01:35
 Re: Rude labor
Muito bom texto, refletindo o cotidiano Antonio!
Abraço e boas festas!
Edilson


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/12/2008 08:03  Atualizado: 22/12/2008 08:06
 Re: Rude labor
Muitas vezes, quando deambulo pelos campos, me interrogo sobre o esforço hercúleo realizado por aqueles que humildemente, ao longo de séculos, levantaram tantas paredes e socalcos, que bordejam os caminhos ou afeiçoam os declives. Escrevi mesmo um soneto (Poema de pedra) que se centra na região do Douro, aonda a obra ganha dimensão faraónica.
António M.R. Martins agarra no tema de uma forma justa e adequada: com versos corridos, de comprimentos aleatório e rima solta, com se de um verdadeiro muro de pedra solta se tratasse.
O poema resulta numa brilhante homenagem aos obreiras de tal obra, gente anónima e sofrida.
Parabéns.
Abraço e reiterados votos de Boas Festa


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/12/2008 09:21  Atualizado: 22/12/2008 09:21
 Re: Rude labor
FÁCIL DE SE FAZER NÃO É. DE SE MANDAR OU OBEDECER TAMBÉM NÃO. EXISTE A ESPERANÇA NO VER NO SEU POEMA
E UM DOS GRANDES DE DIZER DO POVO.
UM ABRAÇO
AMANDU


Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 22/12/2008 14:16  Atualizado: 22/12/2008 15:44
Membro de honra
Usuário desde: 14/05/2008
Localidade: Leiria
Mensagens: 10301
 Re: Rude labor
Meu caro poeta!
O seu excelente poema fala de homens
que labutam.Também se depreende desse
grito que sai das palavras a revolta do
egoísmo instalado!
E há tanto... por aí, tanto, meu caro!!!!!!!!!!!!
Disfarçado, manipulado...
Um bom Natal para si e familiares!
Até sempre!
Vóny Ferreira


Enviado por Tópico
Antónia Ruivo
Publicado: 22/12/2008 14:48  Atualizado: 22/12/2008 14:48
Membro de honra
Usuário desde: 08/12/2008
Localidade: Vila Viçosa
Mensagens: 3855
 Re: Rude labor
excelente retrato da luta do dia a dia das gentes deste país, beijinho


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/12/2008 15:15  Atualizado: 22/12/2008 15:15
 Re: Rude labor
é sempre assim poeta uns fazem outros mandam.

"Uns mandam fazer
e outros (uns) fazem (obedecem)!..."

gostei muito. bj


Enviado por Tópico
AnaCoelho
Publicado: 22/12/2008 19:34  Atualizado: 22/12/2008 19:34
Membro de honra
Usuário desde: 09/05/2008
Localidade: Carregado-Alenquer
Mensagens: 11253
 Re: Rude labor
Um poema muito bom como uma corrida comparada com os que labutam...excelente reflexão.

Beijos e Feliz Natal


Enviado por Tópico
AmáliaDias
Publicado: 22/12/2008 20:14  Atualizado: 22/12/2008 20:15
Da casa!
Usuário desde: 17/10/2008
Localidade: Curitiba (PR) - Brasil
Mensagens: 248
 Re: Rude labor
Retrastaste muito bem o labor do camponês
"humildes
camponeses..."

Muito bem construido!
Parabéms!!!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 22/12/2008 23:11  Atualizado: 22/12/2008 23:11
 Re: Rude labor
(simília similibus)

Quem deita sal na carne crua deixa
a lua entrar pela oficina e encher o barro forte:
vasos redondos, os quadris
das fêmeas - e logo o meu dedo se poe a luzir
ao fôlego da boca: onde
o gargalo se estrangula e entre as coxas a fenda
é uma queimadura
vizinha
do coração - toda a minha mão se assusta,
transmuda,
se torna transparente e viva, por essa força que a traga
até dentro,
onde o sangue mulheril queimado
a arrasta pelos rins e aloja, brilhando
como um coração,
na garganta - o sal que se deita cresce sempre
ao enredo dos planetas: com unhas
frias e nuas
retrato as lunações, talho a carne límpida
- porque eu sou o teu nome quando
te chamas a toda a altura
dos espelhos e até ao fundo, se teus dedos abertos tocam
a estrela
como uma pedra fechada no seu jardim selvagem
entre a água: tu tocas
onde te toco, e os remoinhos da luz e do sal se tocam
na carne profunda: como em toda a olaria o movimento
toca a argila e a torna
atenta
à translação da casa pela paisagem rodando sobre si
mesma - a teia sensível,
que se fabrica no mundo entre a mão no sal
e a potência
múltipla de que esta escrita é a simetria,
une
tudo boca a boca: o verbo que estás a ser cada
tua morte
ao que ouço, quando a luz se empina e a noite inteira
se despenha
para dentro do dia: ou a mão que lanço sobre
esse cabelo animal
que respira no sono, que transpira
como barro ou madeira ou carne salgada
exposta
a toda a largura da lua: o que é grave, amargo, sangrento.



Herberto Helder
PHOTOMATON & VOX
Assírio & Alvim
1995



Este comentário é simplesmente a minha oferta de Natal.

Beijos

Feliz Natal