Contos : 

o principio

 
Tinha acabado de chegar ao vespertino café. Escolheu a melhor mesa, como se não fossem todas iguais. Sentou-se de frente para a porta. Como se esperasse alguém.
Já a Alfama se agitava de gaivotas brilhantes, transportando o Tejo, já as capas negras, vestiam a estreita calçada quando Isabel surge. Do outro lado da rua. Um andar pausado. Lentamente pausado. O coração de Pedro destoava. Desafinava ao ver tal sinfonia. Num turbilhão de sangue e linfa, de acessas hormonas na respiração sustida, Pedro ficara menos moreno.
Era um dia muito importante para Isabel. O lançamento de seu primeiro livro. Uns dias antes Isabel havia lhe perguntado se ele ia. Mas Pedro, como sempre deu uma resposta hesitante. Isabel, apenas lhe disse que gostava que fosse. E ele foi. Mas as pernas, teimavam na cadeira. Quando finalmente se ergeram, subiram ao topo do vetusto edifício, inflamando a escadaria de mármore que parecia interminável. No último dos andares, escolheu o melhor banco sem saber bem para onde ia. Tremia. Horas de sono roubadas, refeições perdidas, um esgar de paixão que o embriagava. Então escreveu como nunca. Compulsivamente. Como um desvairado louco. Como um herói perdido, de princesas esgotado. Escreveu como um poeta, sem ninfas. Naquela noite nem as Tágides ousaram. Bela era a noite. Isabel, a heroína. Só ela o salvaria. Mas o corpo não perdoa. E Pedro, de caderno cheio de esmigalhadas letras, resolve jantar. Desce as escadas, entra na velha tasca e janta como um principe. Olhou as horas, imaginou Isabel, o livro de Isabel, as histórias de Isabel. A cabeça num vendaval, uma tempestade nas veias.
Volta ao edificio, sem saber porquê. Nem para quê. Mas o inesperado acontece. Alguém que não conhecia, pergunta-lhe onde fica a sala onde está Isabel. Aquele homem que ali surgia, não seria por certo um rival. Mas sim um anjo, libertador. Que o guiaria à sua heroína, pricesa, ninfa, qualquer coisa. Queria lá Pedro saber. Agora tinha um motivo, para voltar a subir a escadaria. E ambos os homens começaram percorrendo o labirinto, entre mármore, ferro e madeira. Começaram conversando, Pedro explicou que se perdia sempre dentro do seu próprio palácio. O outro jovem, vinha ter com alguém que ele conhecia, mas não era com Isabel. Pedro num alivio, retoma o passo apressado, pois a sala não se avistava em lugar algum. Já prestes a desistir, vê a seta indicadora, que apontava, salão Nobre. Porra até que enfim, suspiraram de alívio. O outro jovem apressou-se a entrar procurando a amiga. Pedro na porta, deixava partir o anjo e procurava Isabel. Quando já pensava ir, Isabel desviando-se do ser que lhe tapava a visão, pousa o olhar castanho no de Pedro. Sorriu, e ele nuns gestos improvisados, que ela decifrou, pergunta-lhe se está tudo bem. Ela volta a sorrir um sim. Agora sim, Pedro sabia que hoje não escreveria mais, chegaria a casa e dormiria como nunca. Em paz.

 
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mjoao
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