Prosas Poéticas : 

Escrevo ao sol

 
Escrevo ao sol que não nasce, teimosamente permanece ao poente
Ignora a lutas das gentes, que penosamente sobrevivem
Jogadas numa qualquer valeta despida
A que sempre chamaram lida
Escrevo ao sol o meu desagrado.
Em surdina procuras esquecer um punhado de pesado fardo
Em contrapartida
Aqueces aqueles que nasceram de cu virado prá lua, madrasta crua
Encobres os delírios possantes dos que se dizem governantes
Esqueceste os restantes
Porque teimas sol, em não ver, o velho que está a morrer
Num qualquer beco ao abandono, já foi homem de tanto dono
Sugaram-lhe as entranhas, como aranhas, agora agoniza dores medonhas
E tu sol, que devias ser de todos, recusas-te a nascer
Recusas aquecer a criança de olhar sem vida
Porque cedo foi colhida, pela discrepância, incompetência por excelência
Tua… que fechas os olhos e dormes, o sono arrebatado ao suor do condenado
Chamado pobre.
Escrevo ao sol que não nasce, pensando arremessa-lo de encontro ao mundo dorido
Escrevo ao sol pedindo encarecidamente que se vire para nascente
Que seja de todos a candeia
Que resguarde nos seus raios quentes, brilhantes, os mendigos deste mundo,
Os pobres, os sem abrigo, as crianças que por castigo carregam a nossa cruz
Essa mesma cruz, que dizem ser de Jesus.
Diz-me sol, diz-me como tudo isto se traduz
Para uma língua que seja compreensível
A todos aqueles que morrem à mingua.

Poetamaldito


Transeunte na miragem

 
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poetamaldito
 
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