Poemas : 

VERSOS EM SANGUE AZUL

 
VERSOS EM SANGUE AZUL
 
Fogem-me das mãos
versos que me são alheios...
subreptícios,
insuspeitos,
escapam, permanentes,
pelas fendas de tinta
que me rasga margens...

Fogem-me das mãos versos que nem sei
que sei dizer...

e me espantam de sangue
o papel virgem,
sangue azul,
sangue nobre,
vertido em símbolos
pela prosaica caneta que me serve
e que, sei,
tem alma própria,
índole livre,
vontade dela...

às vezes ela é a força que me impulsiona,
não eu a ela...

e os meus olhos,
de distraídos,
espantam-se em velas
de moinho, acesas
pelo vento
que passa por elas...


Teresa Teixeira


 
Autor
Sterea
Autor
 
Texto
Data
Leituras
3442
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
2
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
EDCOE
Publicado: 13/06/2009 11:26  Atualizado: 13/06/2009 11:26
Muito Participativo
Usuário desde: 24/04/2009
Localidade:
Mensagens: 79
 Re: VERSOS EM SANGUE AZUL
"...e os meus olhos,
de distraídos,
espantam-se em velas
de moinho, acesas
pelo vento
que passa por elas..."

Quanta beleza nestas palavras!
Comento com o sentimento,
... Distraido...
Olhando as velas de moinho,
Acesas pelo vento!

Seu amigo
Édison

Enviado por Tópico
AlvaroGiesta
Publicado: 13/06/2009 20:03  Atualizado: 13/06/2009 20:05
Participativo
Usuário desde: 03/03/2009
Localidade: Entre Barreiro e Vila Nova de Foz Côa
Mensagens: 36
 Re: VERSOS EM SANGUE AZUL
Excelente poesia a sua.
Parece brincar com as palavras e depois os versos curtos de palavras simples dizem muito do sujeito poético.

Ora aqui está a poesia como força dinamizadora que impulsiona para a descoberta da palavra:

"tem alma própria,
...
às vezes ela é a força que me impulsiona,
...
e os meus olhos,
de distraídos,
espantam-se ..."


O sujeito poético descobre-se à medida que lhe "fogem das mãos versos" que nem sabe dizer.
A poesia nasce-lhe com a mesma delicadeza e facilidade com que as borboletas rompem o casulo.

Este poema é uma gradação crescente.
- a poesia que "foge" das mãos e
- subrepticiamente nasce da fenda do aparo da caneta que tem "vida própria"
- e se transforma em "símbolos" (letras/palavra nova) no papel branco e virgem onde se verte o "sangue azul e nobre" da palavra
- que depois aparece "aos olhos distraídos" e de "espanto do sujeito poético como que numa interrogação exclamativa.

Mais uma vez excelente poema e desculpe a forma como o interpretei.