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a outra

 
Nenhuma cantiga de emoções fortes e reais é fácil.
Se a dedicação a essa realidade for igual ou superior a total, é algo que custa o suor, o sono, até o sangue.

Joana era uma mulher doce, louca, atraente, mas longe de bela. De trato fácil, tinha o calo de alguns anos numa relação conturbada. Tinha feito filhos que amava mais que a vida e por quem se venderia, com um sorriso infeliz.
António era um míudo, que tinha saido de casa dos pais há pouco, com uma namorada linda, mas fútil. Já conhecera o sabor da desilusão e perdera a ilusão de finais felizes. Esta era uma boa relação, como qualquer rapazote gosta: és minha, porque sim!
António e Joana acharam-se na praia.
Fazia Sol. Às seis da tarde de um dia de Agosto pareciam ser duas.
Nenhum dos dois se lembra quem começou a conversa. Mas a água do Atlântico estava fresca e António molhou Joana ao entrar na onda suave. Ela de tanga azul e pneu, ele de calção preto justo ao corpo.
Ela gritou e ele riu-se. Provocante, doce e juvenil...
Ela chegou perto, viu-lhe o olhar verde e calou-se despeitada.
O silêncio magoou-o profundamente.
Depois de outra troca de olhares ela disse-lhe:
- A gente vê-se...


Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.

Eugénio de Andrade

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Por regra, não respondo.

 
Autor
Rogério Beça
 
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Enviado por Tópico
flavio silver
Publicado: 02/09/2009 22:01  Atualizado: 02/09/2009 22:01
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Usuário desde: 24/09/2007
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 Re: a outra
viva rogério!

uma escrita fluente e com umas nuances ao jeito que eu gosto, dentro de um populismo de fácil aparência, mas não, este texto, bem urdido, tem uma classe natural de chegar ao fim. bem escrito
abraço