Homenagem a -Transversal-
Uma pessoa que é capaz de juntar as palavras; que, adaptando-as a si (?) ou, talvez, ao sentir que percebe de outro ser, de outra alma; que as ordena na consistência de um suspiro - não um suspiro para fora, mas antes um suspiro para dentro, que se escapa dos pulmões e invade as veias, irriga as células, alimenta a vida íntima da alma de cada um.
Conhecimento, ou desconhecimento, de tal pessoa - quando talvez apenas da sua existência se consiga saber a presença, ao passo que o conhecimento físico é limitado pela circunstância, e a alma tão somente revelada por letras e linhas moldadas pelo sentir - mas ainda assim se mantém a grandiosidade que a simples palavra consegue transmitir, a crença do "quero ser assim" - que eu gosto de substituir por um "quero ser melhor que!".
Quem? Quem é? Quem foi? Quem será? Não sei. Não tenho ideia de saber, por certo. O meu conhecimento, já de si reduzido, não estende os seus "tentáculos" a tais altitudes.
Mas o brilho de um homem - ou mulher, quando o caso - consegue sempre abrir os olhos de quem está preparado para ver - ofuscando e fechando os olhos dos que se fecham na sua única compreensão.
Simplicidade, profundidade...
Acerca do teu suicídio de ontem
Deixa que more em ti
Retira-te esse medo de ser
Estás, a morrer
Como quem se deixa cair
Não há razão que se mantenha quando sabemos ser nosso o tempo que já lá vai
E se as memórias arranham o peito o futuro parece imperfeito mas não há como
Andar p'ra trás
Levavas-te nas cavalitas do teu pensamento mas o teu equilíbrio é fraco em sonhos
Em que a corrida fica cada vez mais lenta e a porta mais longe tu assim
Não vais alcançar
(Não vais alcançar)
Sai! Levanta-te e sai de ti
O tempo passou assim a ser algo p'ra lembrar
Já passou : o tempo foi e o tempo vem para ficar
Para trás (atrás de cada momento outro olhar)
Hm...
Cada gesto é inseguro quando as mãos não sabem agarrar
Se os dedos tremem o medo já venceu e tu caíste
Num chão tão sereno e tão bom de dormir...
Mas relembra que o fim é sempre certo
Tanto quanto o “não” que toda a gente tem para dar
Relembra que o chão parece perto mas a morte ainda está por chegar
E o que vais fazer?
Levantar... levantar..!
Bom dia, tarde, noite;
Hoje inspirei-me e escrevi. Aí está ele.
Tentei fazê-lo cantável. Não sei se o cumpri.
Até já
Porque não penso noutro tema cada vez que entro aqui
Fase I :
Enquanto escrevo
Deposito-me.
Jorro de mim por completo
Cada palavra é minha
o meu ser
o meu pensamento.
Fase II :
As palavras mal fadadas
O peso que corrompe.
O verso que liberta
ATPs que a vida não retorna
o peito cheio aberto
na simplicidade de ser.
Fase III :
O agoirar das palavras alheias
Os olhos de sebo que as lêem.
O interpretar incomum
A frouxidão mental
O vómito fácil e podre
De sílabas não direccionadas.
Fase IV :
Os gritos e calamentos
Os sabões e os jumentos.
Os proclamadores e altruístas
de tigela meia de porcaria
(em que eu não diria porcaria
se pudesse dizer a realidade).
Fase V :
A capa dos que ficam
A máscara de ferro.
Os códigos de conduta injectados
os dedos e a língua cortados.
As palas nos burros,
coitados.
Fase VI :
O desaparecer e a angústia
O chico-espertismo e a incúria.
O perder da arte em si
a condução dos gatafunhos
acaba a arte por ser apenas
aquilo que querem ler os grunhos.
Fase VII :
O esbanjar de palavras finas
Tias de Cascais na esplanada.
As brisas invariáveis
dos mesmos traques humanos
e as senhoras refilando:
são rosas! são rosas, fulano!
Fase VIII :
A total decadência
Dum sítio já sem consistência.
As mesmas paredes pintadas
Pelos mesmos azedos comuns
A colectividade reduzida
Ao nojo de alguns.
Fase IX :
O respeito no desrespeito
A saída por respeitar.
As paredes pintadas de excremento
Os exilados e a sua paixão.
As paredes da casa por dentro
E os que ficam chamam-lhe prisão.
Fase X :
O querer mostrar-se e ser
O querer ser
O pensar poder
O não poder
O nojo hipócrita
Dominando, afinal.
ATP = adenina tri-fosfato. Moeda energética celular.
Enfim. Realmente, é triste o que se passa aqui. Leio o que escrevem os que sempre li e, mesmo que não me lembre sequer de que possam ter alguma vez infringido a nova conduta, percebo-os também a eles, na sua maior parte, revoltados.
Portanto agora não podemos escrever como a poesia é: nós. Não nos podemos escrever. Seja na arte erótica, seja no vocábulo poderoso que é a injúria. Por medo de que pessoas sensíveis leiam? Certamente haverá melhor método para tal.
Tanta coisa e nos anos que aqui passei, nem se lembraram de melhorar, por exemplo, a secção de comentários. Não tenho forma de saber se me respondem aos comentários que faço, porque algo tão simples como um banner indicando comentários respondidos não é implementado. Mas mesquinhices implementam-se. Enfim, típica gerência portuguesa.
Ode ao bom sabor
Da mais alta montanha
Corre um rio de chocolate
Que uma selva de morangos banha
Num planeta semelhante a Marte!
Crescem montes de gelado
E abrem-se vales de amendoim!
Há comida por todo o lado
Neste planeta-pudim!
E esta comida toda que olha
O mais não comida haver
Pensa que nem há alguém que colha
O que tanto sabor tem p'ra oferecer!
E de fantasia e recheio
Como bife assado no forno
Pensando num peixe bem cheio
O meu sonho cozinha morno.
www.umpoema-umdia.blogspot.com
De manhã, observo os tomateiros
Os caules esta manhã estavam mais fortes
Mais viçosos e altos.
As plantas crescem e eu contente a ver.
As plantas são quase como o ser,
Acuso-me de pensar isto.
Cultiva-se um e outro
Tratando-se, crescem, frondosos
Até darem frutos.
Mas os caules humanos são frágeis
Vítimas da constante mudança nas sinapses.
Um vento mais forte faz perder a calma
Vemo-nos bambolear na rajada, perdidos
Sem com que nos agarrar.
As raízes humanas são as únicas que se desfazem
Quando a mente hesita em manter-se enterrada.
derrota humana
inexplicavelmente vemos
o mundo tingindo-se de cores
mais escuras que os pensamentos
dos homens feitos reféns da miséria.
banhos de sangue em ideologias
consagradas armas de destruição total
que erradicam os que prevaricam
segundo aqueles que encontram o mal
na condição de estando vivo pensar-se
não ser morto e igual e fútil
luzes trepidam nas caveiras onde
os olhos se instalavam antes para ver
a última derradeira explosão
os homens comem-se canibais omnipotentes
sobre a vigência omnipresente
de uma religião sempre diferente
o morto estará morto e errado
o vivo será vivo e iluminado
(mas a morte a todos alcança)
de lembrar que as flores na primavera
voltam sempre a florescer
e que desaparecendo da Natureza
depressa ela nos irá esquecer.
As notícias dos refugiados e das guerras e do mundo chocam. Também as notícias escondidas poderiam chocar mais gente se fossem divulgadas mais abertamente. Quem procura encontra.
Um drama humanitário. Uma possível frente de calamidade que começa a engolir o mundo na sua iminente devastação. O Homem embebedou-se de poder de tal forma que a ressaca o vai matar.
Somos bichos esquisitos.
Onze e meia
O relógio pulsa... às onze e meia
As onze e meia da noite. Lua cheia
E também eu cheio. Não da mesma luz
Não do mesmo luar, apenas reflexão...
Se às onze e meia desta noite
Me quisesse comparar com a Lua
Apenas o reflexo que também eu faço...
Mas reflectir luz? Nem um pedaço...
Pulsa o relógio, pulsa o meu peito
Pulsa o que penso, penso sem jeito
E sou todo dúvida, todo sensação
Não penso com a cabeça, sinto com o coração...
(Deitado na cama, cabeça na almofada
Penso em amores passados, vontade renovada
E sou sempre ou feito de tudo, ou feito de nada
Porque são onze e meia, e antes de dormir, vejo a vida parada...)
Apartas-te levando-me, sempre
Aperto-te como se o dia fosse acabar no final desta chávena
E te perdesse no último gole,
O teu corpo apartando-se um pouco mais a cada torrada partilhada
Enquanto a tarde teima em passar constantemente
Suplico quase eternamente naqueles escassos minutos que é a minha vida toda
Por um pouco mais de tempo junto a ti
Beijo-te e cansei-me de esperar por voltar a beijar-te enquanto o beijo não cessa
Não me sei saber sem ti
(Tenho-te em mim como plena parte da minha constituição)
Espero poder dizer: presenteio-vos com um pouco mais da minha escrita. Que aceitem este presente se dele gostarem... especialmente quando não vem enrolado em fitas bonitas. Que baste o presente, assim, nu! Cumprimentos
Árvores crescendo para o vazio
Vamos plantar as árvores
Que ainda faltam no quintal
Vamos ser maiores, capazes
De ver todo bem em todo o mal!
Havemos de dar as mãos contentes...
Os dias serão bem diferentes...
Não acredites em mim
Quando digo que eu sou feliz...
Que eu não acredito em ti tão pouco
Quando mostras esse sorriso louco.
Havemos de dar as mãos, contentes,
E os dias serão bem diferentes..!
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O candeeiro de rua - Ou a simplicidade absurda de fugir a agarrar o que mais nos convém e dá alento
Hoje, o mundo foi nevoeiro.
A névoa envolveu o candeeiro
De rua, que abismado se acendeu,
Dando a luz que a voltagem deu.
Se falasse, perguntaria:
"Porque raio este dia?"
Mas se não é de boca, é tristeza tanta
Por saber que quem quer, não alcança.
Hoje, esse candeeiro sumiu:
Alguns dizem que subiu
Por meio de camião do lixo.
Outros dizem que partiu.
Eu cá não acredito em nada disso:
O candeeiro ganhou pernas, fugiu.
Este poema tem um sentido mais profundo do que aquele que parece surgir à primeira vista.
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