Poemas, frases e mensagens de Chiara

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Chiara

Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.


Clarice Lispector

lembranças

 
lembranças
 
um dia,
olhei lá para
baixo.
tinha perdido
as nuvens e a
grande capacidade
de flutuar.

lembro
de passar os dias
nas esquinas da
cama, olhando
o lustre com as
duas luzes queimadas.

heidegger
e sartre não mais
respondiam as minhas
dúvidas insolentes.
minha toda filosofia
tinha morrido naqueles
olhos verdes,naquelas
terras que aprendi
a amar.

um dia,
um dia qualquer,
de um ano qualquer,
cheguei na janela
e abri alguns comprimidos.
tomei todos com tanta
pressa e emoção.

quando acordei
minha mãe segurava
a minha mão.

chiara
 
lembranças

palavra

 
a vida coagulou-se:
nada circula nas veias
além da morte prematura
da palavra.
a filosofia deve explicar
o que já não se entende
na poesia.

chiara
 
palavra

eu sou eu mesma

 
eu sou
eu mesma
e você já
sabia.

que falta de
coração não
prestigiar
a minha pobre
poesia.

tem problema não,
quem sabe
um dia...
né?

chiara
 
eu sou eu mesma

c'est le vent, chiara

 
 
deve ser o vento
que me arrasta
sem minha permissão.
deve ser a força
da correnteza
afogando minhas
palavras na contramão.

ninguém pode fazer
isso parar.
ninguém me ensinou
a rezar.

e já não mais
consigo me proteger
ou correr para
dentro de mim.
isso é quase
um desespero,
é uma cegueira
atroz.

rouca,
sem voz,
quem pode me ouvir?
por quanto tempo
mais vou conseguir
fugir de ti,
de mim,
de tudo que não
escrevi.

alguém
me digar por favor
como posso me livrar
do amor, do amor
não escolhido,
do que é sem
nunca ter sido,
do vento sem perdão.

alguém por favor
explique-me como
peço ao vento para
que ele cuspa
o meu coração.

chiara
 
c'est le vent, chiara

a atriz

 
tuas armas
afiadas,
tua adaga
na minha mão
é a verdade
estendida
no meu ego.
mas, se perguntares,
eu nego,
eu cego,
eu alego
que o sangue
não é meu,
não é teu
e que foi você
quem primeiro
meteu.

Chiara
 
a atriz

eu sou a minha própria lei

 
eu sou a minha própria lei
 
a minha lei
sou quem faço
com o meu ar
peregrino e
a minha alma
de aço.

beijos
e abraços
não me comovem
muito.
palavras bonitas
não me movem,
nem me falam
de segurança.

conheço os passos
dessa pseudo confiança.
conheço e nem sei se gosto
de ver as motivações.

pouco me importa
algumas (in)verdades
ou mentiras gloriosas.
as palavras não podem
conter todo os nomes
das rosas, tudo
que tranquei em/de
mim.

não preciso de juiz:
sei me julgar.
não preciso de coisas
que ainda fazem tanto
sentido.

fale-me ao ouvido
o que preciso saber:
nem mais, nem menos,
nem isso ou aquilo.

eu sempre sou
o meu próprio veneno,
dinamite e explosão.
eu sou um deslumbramento
sereno sem muita emoção.

quando me dispo,
continuo vestida.
quando cheguei,
já estou de saída.
o que parece me engaiolar
e me tornar tão bela
é apenas ilusão.
nunca dou muito de mim,
nem mesmo a mão.

a minha cobra
está embaixo da pedra.
está dormindo como a tua
também.
mas, não pise nela.
(não pise não...)
porque ela sabe atacar
muito bem.
(com muita classe, sempre)

chiara
 
eu sou a minha própria lei

amor clandestino

 
rastejam sombras
deste livro
sem explicação.

páginas mortas
ou poemas
angustiados?

- acaricio o livro -

e quando amo mais,
hiberno, morrendo,
morrendo
de ler.

Chiara
 
amor clandestino

sugestão

 
fale com os meus olhos,
amarre as minhas mãos,
toda a coragem
é apenas submissão.

palavras mentem,
escuto
tua pele
nos livros
empoeirados.

em minha boca
amordaçada
a noite
sugere.

agora
somos.

Chiara
 
sugestão

remorso

 
recebo a manhã
sem muitas histórias
ou perspectivas.

abro os olhos
mecanicamente
sou apenas
eu
e minha mente
nesse jogo
sem espaços
para perda
ou para a vida.

preciso de uma
passagem de ida.
a volta
é apenas revolta.
e eu não quero
o mesmo remorso
todo dia.

Chiara
 
remorso

poema igual

 
se eu me repetir
que seja.
todas as minhas
palavras já foram
escritas e
pronunciadas.
cheguei de novo
atrasada.
resta apenas
a semântica
intraduzível
dos meus olhos
sempre iguais.

Chiara
 
poema igual

voyeur

 
este fluxo que te leva
para lugar nenhum
e que te castiga,
sobe as paredes
do teu corpo,
anuncia
a morte
do que
está fadado
a morrer.

e você
fecha os olhos,
querendo o
vício barato
e pequeno,
querendo
morrer
tão sereno,
antes que
não possa
mais
sequer
ver.

Chiara
 
voyeur

Para Gê Muniz

 
Posso
morrer
bem agora
quase na hora
do chá das seis.
Posso morrer
com tanta gratidão,
com tanta alegria,
enquanto leio a tua
bela poesia.
Posso morrer de prazer,
ouvindo apenas você,
ouvindo o teu manso
coração nas linhas
das tuas belas mãos.

Chiara
Seus poemas fazem falta meu querido amigo.
 
Para Gê Muniz

isso

 
isso é apenas isso
e não passa disso.
Isso é nada.
nada
nada

o príncipe e
um sapo.
a bela continua
adormecida
e eu...
eu estou de partida.

pra onde?
p
r
a

v
i
d
a

chiara
 
isso

assim é

 
daqui leva-se as palavras
calcadas na imaginação,
o recado velado,
eros atirando na
terceira
dimensão.

todo o resto
é sintaxe
ou será contra-mão?

chiara
 
assim é

fonte

 
absorvo a gota ácida:
corrosão dos sentidos.
tempos vãos, tempos idos.

insolente dissolução
que não se pode descrever.

pergunto onde é a fonte,
onde posso beber.
a sede não é jovem
e nem apreende as imagens
no espelho quebrado.

não há perdão:
o líquido foi desperdiçado.

a travessia continua
e a pele já me deixa
seca e nua.

Chiara
 
fonte

acordo de cavalheiros

 
sejamos camaradas
:uma mão lava a outra.
você diz umas palavrinhas bonitinhas
aqui, puxa o meu saco,
fala que está tudo lindo
e eu vou me enganar
e achar que sou poeta.
 
acordo de cavalheiros

mal

 
os números
causam-me
algum
mal.

nenhum deles
sabe como
avaliar.

deito-me
no zero
e descanso
no infinito.

Chiara
 
mal

como eu, como você

 
todas
as vezes
são sempre
como devem ser
como eu
como você

todas
as vezes
são sempre
como devem ser
morro eu
morre você

todas
as vezes
contamos
até quatro
e não sabemos
mais quem
somos quando
estamos no
quarto.

na amplidão
do sentir,
temos todas
as faces,
todo o prazer
como eu
como você.

Chiara
 
como eu, como você

favoritismo

 
para ser lido
o que precisa?
um pouco de sorte?

meu talento dorme
no sofá da sala.
devo acorda-lo?

é, não consigo
ser a amante
preferida da
poesia.

Chiara.
 
favoritismo

casamento

 
a culpa
bebe as mãos
doces dela
com devoção
quando ela
olha para ele
e não vê mais
a paixão.

dele,
ela tem o
passado inerte
e a cama fria,
a comida
sem gosto
e poesia.

deitados,
não caçam
mais delírios,
não tocam
mais o que
deveriam tocar.
deitados,
desaprederam
as obrigações.

a culpa somente
ela carrega.
mas ela nega,
sempre nega
o desvario,
o cio
que tantos
outros entendem.

ele é um
sofá, um pedaço
de bolo.
ele nem serve
mais como
consolo.

Chiara
 
casamento

ainda não aprendi como assinar... as letras ainda me assustam...