devagar divago
devagar divago
ao ver as flores
lançando polens no ar,
levados pelo vento,
onde irão parar?
germinarão numa colina,
ou se afogarão no azul do mar?
morrerão pelas calçadas ou
descansarão nas asas dos
pássaros
adentrarão pelas janelas
impregnando as cortinas
ou se esconderão entre as copas
de um lindo pomar?
em que lugar vão florescer
ou quais campos irão perfumar?
será que encontrarão chão fértil
ou na estiagem irão perecer?
quem brotará primeiro...
a violeta, a margarida,
a rosa ou o narciso?
a beleza da verbena
d\'amarilis ou da gardênia,
enfeitará os cabelos
de uma linda morena?
os polens seguem dourados
levados pelo vento
e devagar vou divagando
com as flores no pensamento.
\**v**/
inconfundível
na textura
no perfume
e na cor...
perdoe-me
se no jardim
não fui sempre
a mesma flor
afanítica
algures
em declive
rocha vou
em reboliço
rolando
estalo
ralando
calo
basáltica
vou
no tempo
algures
movimento
às vezes
leve
às vezes
levo
às vezes
paro
porque
quebro
esmiúdo-
me
fanico-
me
sentimentos
algures
não me
escondo
mas me
fendam
desencontros
somente
acha-
me
o vento
e sente
meu tempo
rente
desgastando-me
a cútis
de um jeito
indiferente
quando ainda
pulsa no âmago
um magma
quente
Amor...
... árvore que se deve escalar
de cima para baixo,
porque o sentido não
está nas ramas floridas.
ter-se-á que alcançar
a terra fértil que atrai a raiz.
para isso, com coragem,
se deve escalar
e escavar,
escavar,
escavar...
percursos
a subir
o escopo é o pico.
não sentem os pés
a dor dos degraus.
não sentem as mãos
a força dos corrimãos
o ápice é o
alvo
a descer
o olhar percorre
o chão
mãos tateiam
amparos
nem tudo resiste
nem tudo assiste
na queda quase nada
é esquecido
porque tudo
é sentido
Fase
Sabe a lua?
Quando ela se enche
me deixa nua
retos pra uns, desalinhados para outros
quantos gostam
e quantos desgostam
dos teus movimentos
nas estreitas ruas
que respiram e
transpiram todos.
se existem desagrados
por algum teu ato
consumindo espaço,
agradece.
são energias te estimulando
a aperfeiçoar-te a cada dia.
para aqueles que agradas,
das abraços
mas continuas a capacitar
teus passos.
estado de graça
A poesia em mim
entende o que ninguém
compreende
Ao me juntar às palavras
num abstrato me transformo
tomando forma de poema
que pouco ou muito rende.
Em campo aberto é exposto
às vezes não ganha nada
fica passando fome
mas sua pena não vende
Tempest
passa por mim
a borrasca
e o que fica?
poças pro céu sorrindo,
cabelos pingando caminho
sonolencia do
tempo endiabrado
sobre a flor dos lábios
molhados
se há nobreza na gentileza...
às vezes
admiração
se confunde
com adulação
quando admiração
vai à mesa,
com a simples
função de servir
gentileza
quem já conhece
o paladar
dela se serve