Papagaio de papel em crise
Quero escrever o que ninguém escreve por ti
na correria e ilusão desse voo ser o primeiro,
no limite a proibição era falta de vento e jeito
nesse papagaio de papel que eu nunca esqueci.
Neste mundo de papeis de consumo em crise
estimulante é a mudança nesta história virtual,
reaprender com as inúmeras quedas em pique
e controlar esse fio por um papel de vida real.
Pétala
Uma pétala caiu desse canto de água
como folha de Outono que desmaia,
Uma pétala percorreu tez de frágua
ficou pendente dessa concha catraia.
Uma pétala gelou o frio do sentimento
como moinho de vento sem a semente,
Uma pétala ecoou todo o pensamento
sobrou palavra da gota que não mente.
A tira linhas
É a alegria de sorridentes joelhos rotos
por lágrima de crocodilo a conta-gotas,
É a maravilha das histórias dos contos
a tabuada entendida no bicho de contas.
É sorte vivida nos dois dedos cruzados
que lança o pé na bola e a mão no pião
É segredo sonhar os dois beijos jurados
um compasso em tira linhas do coração.
Praia de Maragogi
Noutro gume de laranja perdida
só a fresca sombra do coqueiral,
Na cama de chá verde estendida
esse mergulho nas galés de coral.
No mar fugidio é tesouro de prata
ao sol espirituoso coco no abacaxi,
Da banana ideia filé para arte rara
da gamela uma praia de Maragogi.
O maior medo de um poeta
O maior medo de um poeta não é fechar os olhos para sempre num momento, é num simples espirro perder um segundo de inspirado pensamento !
Sou como Zêzere
Na berra ao nascer privado do calor
o primeiro prazer foi cântaro magro,
Na descoberta da forma e pela cor
foi por amor o meu primeiro passo.
Apontei canoa mas deixei-me levar
por traçados dos vividos influentes,
Estudei muitas artes de bem remar
mas cresci só em amores afluentes.
Sou como Zêzere moldando pedra
na natura da minha marca nesta era,
Para trás só o meu tempo de chegar
na frente por me atrever a contemplar !
Corpo au Sal
Assentar pelas oito e arejar ao marcar onze
dispo corpo até à medida desse preconceito,
Na cama de areia de vista azul no horizonte
aqueço corpo protegido de rubor por defeito.
Demolhando e flutuando na bandeja de mar
refresco corpo onde aí a lua é o sol do areal,
No tabuleiro d’oiro tempero é maresia no ar
e evaporar frescas gotas é vestir corpo au sal.
Ternura
Quando adormecer no gesto da tua ternura
leva-me o corpo com armadura até ao leito,
Quando escutares o teu nome com candura
abraça-me e murmura para o sonho perfeito.
Quando abrir a tua flor no prado flamejante
deixa-me florir também e servir o meu peito,
Quando atear a tua lareira de fogo crepitante
acolhe-me com a ternura de sonho por eleito.
Nada tinha para escrever
Nada tinha para escrever e pintei com a minha mão
nessa tela de pessegueiro e elevando sopé o monte,
Encontrei rosada flor fresca e compasso do coração
o salvo conduto onde nasceu riacho e serviu a fonte.
O cavalete de incenso e que pagina de aroma denso
neste traço de luxúria e rasgo de luz que me ofusca,
Não tinha letras para ver e abri o teu mundo intenso
o som a palavra que me guiou e pintura de uma lua.
Eram pedras...
Era um corpo de pedras vítreas refrescantes
nesse teu olhar onde sede ficava só comigo,
Era uma catapulta de pedras toscas errantes
nessas palavras que não acertavam contigo.
Era o espelho de pedras indelével esculpido
nesse teu rio que fugia sempre para o mar,
Era um colar de pedras invisível esquecido
nessas contas acordei sem o fio para amar.