Memória
Saudade veste-me em poesia diariamente
com seus longos versos feitos de memória
vestido assim, vivo no passado constatemente
Viajo pelo presente sem vida e sem glória!
Viver em sonho
Dias vividos em sonho
De águas límpidas de ti,
Afogo-me e transponho
A profunda dor que senti.
Dor feita de mel amargo
De prazer que trespassa,
Os dias que em mim trago
e a memória que me devassa!
O fundo
Coração esfarrapado
desfeito em tiras de dor.
Vives no mar inundado
de um vazio amor.
Coração que já não pulsa
com a vida cheia de cor.
Vives com a alma em repulsa,
no fundo, no nada, sem valor.
Linha da Vida
Na linha finita da minha vida
que contorna o impossível
e pelo simples fica dividida,
vejo o futuro inacessível.
Dentro de mim um ser
Que serei quando sou,
E em estado de contradizer
A minha vida fracassou!
Tempo
Segundo
instante
Vidas,
umas começam, enquanto nesse mesmo
segundo
outras se acabam para o mundo
Segundo
Segundo atrás de segundo,
O tempo implacável, não pensa, não se emociona
Segundo
Amor que vai,
amor que vem,
amor que nunca chega
Segundo
segundo atrás de segundo,
O tempo não se deixa corromper, não volta para trás, não se prende
Queria ter um segundo que durasse uma vida e não uma vida que durou um segundo
Segundo
Segundo atrás de segundo,
O tempo passa, a vida esvai-se e acaba num segundo.
Sou ninguém
Sou ninguém.
Acordei e vi que já não sou o que fui.
Nunca mais serei aquele jovem alegre, descomprometido com a vida, sonhador, idealista.
Em que caminhos da vida o perdi? Onde deixei a esperança de um mundo fraterno? Onde deixei o sonho que partilhava com o "Imagine" de John Lennon ou com o "I have a dream" de Luther King?
Fui desfolhando a pouco e pouco e secando meus ramos feitos de planos não realizados. Sou uma árvore seca que outrora foi corpulenta, frondosa e com as suas ramagens verdes, verdes de esperança
Hoje sou ninguém.
Dor e Doçura
Tanta dor na doçura
Que foi o meu nascer
Sanidade e loucura
Tem sido o meu viver!
As lembranças são como linhos
Que me revestem o pensamento
São penas feitas de espinhos
São brisas calmas feitas de vento!
Lado errado
Ser ou não compreendido
Uma palavra talvez não,
Vem pensamento lido
Por outra compreensão.
E prevalece o que fica
Nas gavetas da mente,
Ainda assim não explica
O que se lê dificilmente.
Não! Não quero ser imaginado
Nem qualquer falsa emoção,
Não quero ser o lado errado
Da página da minha paixão!
Noite
A noite saiu do entardecer
envolta na tela da escuridão.
Chegou com a luz solar a morrer
para encher minha alma de solidão.
No dia
No dia em que fui colhido pela mão do amor, desprendeu-se meu coração e minha mente ficou fechada numa cela onde só cabíamos dois.