Contos : 

FATUM

 
2

Vestia uma saia banca longa, com folhas e flores estilizadas num verde escuro, camiseta branca regata, boina num verde militar e uma sandália de couro que deixava os seus pés desnudos. Vez ou outra sorria e quando isso acontecia estremecia, suavam as minhas mãos como rios.

- Ela virá? [ela tensa]
- Não para os curtas só para o filme. [eu explicativo]
- Voltaram? [ela abaixa a cabeça]
- Seria a primeira, a saber. [eu desconverso]

Seus cabelos estavam maiores, quase azuis para ser mais exato. Quando ela me olha desse jeito faz com que eu pareça o pior homem do mundo. Desde quarta ela tem notado o meu comportamento nada peculiar, disse que voltei a ser aquele homem indeciso e cheio de medo que era antes.

- Leu as poesias? [quebro o gelo]
- Rapidamente mais li. [ela indiferente]
- O que você acho? [insisto]
- Escreveu para mim ou para ela?
- Para você é claro. [digo a verdade]

Ela sorriu. Talvez nunca tenha dito isso a ela, mas quando sorri perco todo o medo que tenho, de tudo.

- A música ficou pronta?
- Que horas ela chega. [ela corta]
- Acho que 7 e 10.
- Vai ficar com ela? [brava]
- Talvez.

Eu sei que ela não entende toda essa situação, nem eu mesmo entendo, faz uma semana que não sai nenhuma poesia, ela sabe disso e por isso me beija antes que a outra chegue.

- Posso almoçar contigo?
- Pode dormir comigo o dia todo.[respondo]
- Se é um convite eu aceito. [ela me abraça]
- O filme é bom, é de ação, coisa de gringo.
- Ela sabe que você também está comigo? [ela me solta]
- Não. [sem graça]
- Mais você não sabe mentir, se ela perguntar vai acabar se entregando. [ela sorri]
- Eu sei. [desisto]
Eu não sei o que sinto por ela, mas daria dois dedos para estar nesse exato momento debaixo dessa saia banca. Ela sabe olhar através dos meus olhos, medo, alegria, tristeza, mentira, felicidade. Tudo ela vê num único olhar.

- O filme começa agora às 4.
- Gostou do livro? [ela se aproxima]
- Adorei. [agradeço com um beijo com volúpia]
- Ela não vai chegar mais cedo?
- Não, ela chega em casa depois das seis.
- De quem você gosta de verdade. [ela me olha nos olhos]
- De mim. [e tiro a mão dela da minha cintura]

Se ela soubesse o tanto que me faz feliz quando me olha apaixonada, como faz com que eu volte a pensar em amar novamente. A delicadeza com que ela toca o meu rosto, como desliza as pontas dos seus dedos sobre o meu rosto cansado, me sinto indefeso e protegido ao mesmo tempo.

- Que dia a gente se vê?
- Quarta está ótimo.
- Amanhã?
- Sim, fique comigo o dia todo.[com olhar de criança]
- Claro que fico. [ela sorrindo]
- Até o feriado acabo com tudo.
- Eu sei.


M.Cardoso

 
Autor
Mário Cardoso
 
Texto
Data
Leituras
824
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.