Poemas : 

O Ato das Palavras

 
Ergueis os gládios de irradiação intensa
Vertendo fogo nos lábios ardentes:
A flor que conta.
É tempo de regalias! Tempo de fenecer e acadêmicos neoliberais!
Tempo de câmaras de tortura!
O velho fogo cruzado no estandarte!
A máquina de repressão!
Prepotência a ciclo hediondo – Poesia e Vida.

Fardas unidas com reúna na mão,
Que constroem o Império com engenho,
Arma! Minha fé de palavra...
Arma, repentina, do desengano.

Eu falo de a partir de agora.
Pra o agora ou nunca?
Dirijo-me a Santa Inquisição:
A Palavra e o Tempo.

Dá-se o truz para a vida.
Ai, palavras, convolais o vosso arquétipo transado
Irrefutado, prematuro demais!
Palavras? Que estranha estratégia,
Deferem, transmudam e diferem idéias.

Ai, palavras, onde vos busco?
Ai, palavras, onde vos escondeis?
Vossa composição camoniana atingiu a explosão
Criadora para a liberdade da alma
E destruidora dos sentidos humanos.

Ai, palavras, escorreis em meus pensamentos,
Permeavelmente e ocultais vossa face.
Ai, palavras, para quem ris?

Alheias, escabrosas, semânticas, as palavras transformam-se
E doem-se nas veias poéticas como um espaço aberto na mente,
No coração, gota a gota, desmanchando-se.
[Palavras que rimos
Sem saber compreendê-las.]
Mas, nelas existe a verdade!

Onde se cabem as palavras? Por toda parte,
Na realidade e nos sonhos, interroga-se.
Talvez, calando-vos, acabais-vos...
Talvez, calando-vos, começai-vos.
E sentireis em vós o sentido das coisas
Na imaginação de um homem órfão,
Prematuramente da literatura:
Vida e morte – som, choro, canto,
Sussurro tocando o infinito
Ou palavras embebecidas de amor?

Um mar transbordando sobre as areias –
Matéria calcária do pensamento:
Ferida de Morta Beleza!
Reis, homens, magos das ciências investem
Contras as feras do irreal
Pelo vosso império – tempos templais!

Ai, palavras, morfossintáticas, morfológicas,
Ideológicas, fonéticas, dialéticas, metalingüísticas,
Intelectuais, frágeis como um vaso,
Libertadoras, poderosas como um punho de ferro,
Epidérmicas da alma literária.

Ai, palavras desta arquitetura ascendente
Da alma, enigmais claramente tanto do dia quanto da noite.
Digeridas e vomitadas do intimo do ser até a putrefação
Dos sentidos e das almas sibilinas,
Sacras e ateias, existenciais ou mitológicas
Derramando sua grande potencia
Sobre mortais servos...

Ai, palavras, sabor docemente amargo,
Sois de confusa dança no vento contra o vento,
Caindo na terra contra a terra,
Caindo no fogo contra o fogo,
Caindo no mar contra o mar,
Despindo-se na sombra da cruz – o sinal.

[Davys Rodrigues de Sousa]



Davys Sousa
(Caine)

 
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caine
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