Poemas -> Amor : 

despedida

 
paulo monteiro

chegaste na manhã calma
como um pássaro ferido
que a chuva houvesse molhado
tremias e os olhos trêmulos
os olhos tremeluziam
como gotas de sereno
brilhando em terra lavrada
onde cresciam espigas
do trigal dos teus cabelos

plumas e espigas molhadas
frio de ave e cor de trigo
água de chuva no rosto
água de sanga nos lábios
cheiro de terra lavrada
por arados de volúpia
violência de sentimentos
e uma esperança violenta
sob um frio de passarinho
e louro trigo à espera
do afago de um ceifador

aqueci-me no teu corpo
que outras mãos enrijeceram
colhi teu trigo dourado
e ensilei-o no meu peito
e à solidão daquele
que dá o pão que lhe falta
dei de beber nos teus lábios
água de sanga bebi-te

acostumada aos rigores
da chuva a ave fugiu
acostumado à bruteza
o trigo não quis cuidados
aos musgos acostumada
a sanga fugiu-me aos lábios
ou lhe agradei de tal forma
que me julgando maior
do que sou sumiu-me aos pés

terra lavrada ave trêmula
hei de guardar o teu gosto
água de chuva no rosto
água de sanga nos lábios


poeta brasileiro da geração do mimeógrafo pertence a diversas entidades culturais do brasil e do exterior estudioso de história é autor de centenas de artigos e ensaios sobre temas culturais literários e históricos

 
Autor
PAULOMONTEIRO
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 10/02/2009 18:29  Atualizado: 10/02/2009 18:29
 Re: despedida
não gosto de despedidas, mas do teu poema gostei muito. em tempo, agradeço pela lembrança na cerimônia de abertura do ano letivo acadêmico. fiquei lisonjeada. bj


Enviado por Tópico
António MR Martins
Publicado: 10/02/2009 23:19  Atualizado: 10/02/2009 23:19
Colaborador
Usuário desde: 22/09/2008
Localidade: Ansião
Mensagens: 5058
 Re: despedida
Paulo,

Belíssimo poema, onde se ostenta o amor embuído no afago da terra que nos rodeia.

Abraço