A Lua dos Mortos
A Via Láctea
Cintila um funeral
Em cada galáxia
Acende um castiçal
Iluminando os caminhos
Que levam os mortos
Para o Planeta Terra.
A água extinta de cada corpo
Coagula o sangue dos canais
Que solidificam a rede da vida
De modo frio e absorto.
A sede aumenta a dor do mundo
Na mesma proporção que santifica
O entendimento do moribundo
E ensina o desapego para quem fica.
A Lua dos mortos passeia
Nos jazigos abandonados pelas mentes
Por calafrios e ranger de dentes
No despertar de cada ceia.
Da sombra dos seus pecados
Os defuntos acordam machucados
Com sua altivez profunda
Sabendo que não há mais segunda.
No vale das trevas
Ecoa o canto da coruja negra
Anunciando para as brumas
Abrirem ampla passagem
Nas alfombras das veredas
Onde nascem as violetas.
As estrelas caem do céu
Chorando a saudade
Dos que ainda estão vivos
Cobertos por um véu.
Velas acesas, flores de plástico,
Rezam o terço com tristezas
Diante da fotografia.
Sepulcros mistificados
Onde tudo é fantástico
Continuando o fim
Do show da vida.
Caligrafando Dallavecchia
..
Caligrafando Dallavecchia
Um dia
vi a minha morte
podia ser o título
de uma poesia
mas era tão horrível
que chamar-lhe
rodapé de cinzas
seria um elogio
Nesses dias sombrios
vi também, o meu cadáver
mais de cinquenta anos
de ossadas enterradas
num cemitério de sonhos
mas ainda
estou aqui
- é a minha vida!
e...
porque acreditei e acredito
no milagre
tu surgiste e és
a profecia anunciada
no dia em que eu nasci
Amo-te
até que um outro dia
até que uma outra hora
a minha morte liquide todos
os movimentos
e eu abandonado
ao vazio do meu corpo morto
preencha o espaço
(desconhecido?)
dentro do mundo
onde buscarei desesperadamente...
o interior do teu olhar
e então
pela primeira vez deitado
no teu vestido feito de estrelas
a luz da tua divina criação
escreverá nas galáxias
o nome que adoptei
para que
o meu e o teu lado
sejam eternamente
o universo
brindado
no big-bang
do teu ser amado.
Luiz Sommerville Junior(por dupla consoante e dupla vogal recuperado), 23082014,19:59
Obrigado, amor!
Luis Sommerville Junior, Antologia , 1964-2014
Fonte : Barquinho de Letras
SALVA-ME
SALVA-ME
...Salva-me
No meio da noite
Do que ainda não sei
Ou talvez do que sei
Vómito solto de vinho
Amargo na boca
Livra-me do perigo
De todos os inimigos
E por todos aqueles
Que esperam à muito
A minha vã morte
Voo dessa eminência
No espelho do desejo
De compaixão eterna
Nesta dor em agonia
Desta guerra a minha
Que não posso voar
Salva-me ou vive
Para me tentar salvar.
Mia Rimofo
A Vida!
Na incerteza de calçar galochas
Ou incerteza de usar havaianas!
O céu aperalta-se de cantoria,
Até ao recomeço da melodia.
Em qualquer afidalgado instante,
A data poderá ter um travo
Ou a vida poderá ser um cravo?
Por um caminho perto ou distante?
Se a vida é uma flor porque murcha?
Enfim, ela é uma flor que murcha;
Uma bela, que enfraquece e morre!
Pode arrepiar quando entoa, não é?
Eu desejo ouvi-la eternamente;
E ouvir, o que nela é diferente.
Ana Carina Osório Relvas /A.C.O.R
O VOO 447
Infelizmente, mais um acidente de avião veio colher muitas vidas e ensombrar a felicidade de muitas famílias.
Sabendo-se que o transporte aéreo é um dos mais seguros, não está ao abrigo total de muitas incidências, como neste caso perece ter sido o caso.
Vejo as imagens na TV e oiço os responsáveis tentarem por todos os meios, que não sei se são os melhores, darem uma explicação para este acidente.
Vejo e oiço as equipas de psicólogos a tentarem fazer o possível para que o moral dos familiares não fiquem a um nível zero.
Vejo e oiço os familiares chorarem e lamentarem a perda dos seus entes queridos.
E oiço alguns, que por este ou aquele motivo os seus familiares não foram nesse voo e logo salvaram-se de uma morte horrível, carregados de egoísmo dizerem que foi graças a Deus que eles não foram nesse voo!
Para mim, isto é o egoísmo .dos crentes. Então e os que morreram? Foi ou não graças a Deus? Porquê Deus, salvou alguns de morrer e deixou que os outros morressem?
Não, não sou crente... também graças a Deus!
A. da fonseca
O Inverno da Vida
O INVERNO DA VIDA
Hoje não vou à fonte
Deixo-me ficar neste entretém
Fico a olhar o horizonte
No silêncio eu e ele, mais ninguém.
Mais logo as estrelas vão surgir
Vou agarrar uma se puder
Para quando a solidão vier
Iluminar o meu existir.
Escondo-a num abrigo do coração
Bem ao pôr-do-sol da minha Vida
Ao anoitecer deste meu céu escuro!?
E assim a Vida não terei ainda perdida.
Pode o Mundo parecer-me duro.
Ser até meu caminho feito pó
Colherei ainda o que semeei
E assim não me sentirei,
Nunca só.
Deixo a fonte lá bem distante
Ouço-lhe apenas o rumor!
Que a Vida é um só instante
Nesta hora, como o sol, perde calor.
A Vida é uma migalha
Não penso que é eterna!?
A morte chega não falha.
A noite é fria, e a vida já inverna.
rosafogo
Quando eu morrer
Quando eu morrer
Me pesará a terra
E não serei
Qualquer coisa
Diferente
De seixos e pedras.
Quando eu morrer
Não sentirei mais
Qualquer carência
E ainda serei matéria,
Vida
A segregar
Purulenta.
Quando eu morrer
Não sentirei
Qualquer necessidade,
Serei apenas
A verdade plena
Da caveira.
Quando eu morrer
Deixarei de ser
O que sou:
Eu, indivíduo,
Ser fechado
E descontínuo
Para me tornar
Inorgânico
Ao todo reunido.
Quando eu morrer
Nada importará,
Quem sou,
Quem fui,
Se vivi entre amigos
Ou feras,
Se fui luz
Ou se fui treva.
Quando eu morrer
Ninguém me pesará
Para saber
Se pesei
Ou se fui leve,
Se cri
Ou se sofri,
Se neguei
E fui feliz,
Se fui algo
Além
Desse ser
Que vela,
Espera
E diz amém.
Quando eu morrer,
Certo torpor
Sentirei,
Nuvens minha vista
Nublarão
E, enfim,
Irromperei
Na escuridão.
Quando eu morrer
Nada verei,
E de tanta vida e beleza.
Não conservarei
Qualquer promessa,
O rosto vão das certezas,
O fogo da juventude
Que nos inflama
E ilude,
O gozo e a chama
Desse corpo
De vicissitudes
Que chora e ama.
Quando eu morrer,
Nada verei,
Nenhum senhor ou rei,
Prato, juiz
Que pesa e condena,
Serei defunto, matéria
Que não revela
Se vivi parco
Ou deveras,
Se fui fraco
Ou se fui forte,
Mas apenas
Que, efeméride,
Ensaiei breve ato
Para a morte.
Quando eu morrer
Qualquer coisa serei
Que não se pesa,
Algo mudo, inerte
Para alguém que reza
E acende uma vela.
Um lobo solitário
Um toque, a posse...
E um nome que adormece.
A dor - o sentimento e o louvor,
A morte e seu mestre.
Na noite infinda
Fez-se claro o seu desejo:
O mestre, a obra e a lira,
O amor, o seu amor, e seu segredo.
Vida
São gastas as lágrimas escorridas
nas asas aladas do lamento
cores sombrias de vendavais
que se perdem ao longo do tempo
São símbolos das raízes pintadas
no corpo perdido de esquecimento
são as dubiedades do amanhecer
nas mãos abertas ao vento
em suspiros que se soltam
nas sombras ainda vigentes
Traçam-se metas invisíveis
nos rasgos acutilantes de dor
e a vida torna-se esvaída …
nos braços aconchegantes
do teu amor
Escrito a 15/08/11
Entre Aspas "Navigare necesse est"
.
Entre Aspas "Navigare necesse est"
Na origem…
“Navegar é preciso”
Não creio, neste momento,
Que para mudar o mundo
Uma qualquer Sonata ao Luar
Cubra a carência
Do teu sangue de absoluta paixão pelo cosmos
No desenlace…
Uma imagem:
-A transparência das lágrimas
Em matrimónio com a atmosfera
(Súplica que não mobilizou
Um qualquer deus ou santo)
Coloca uma das mais breves e trágicas
Sentenças poéticas em destaque
- Quem morre terá razão?
Luíz Sommerville Junior, 070720140102, RJ - In Barquinho de Letras