Vem!
Vem,
Mostra-me esses punhos cerrados
Que transpiram a fúria do teu ser.
Vem,
Com esse olhar alucinado,
Que espelham a tua insanidade,
E tenta menosprezar-me.
Vem,
Com a enxurrada de palavras ofensivas
Que a tua boca dispara sem me tombar.
Vem,
Com essa agressividade
Em que me agarras e me manchas de roxo.
Vem…
Mas vem sem medo como sempre vens
Como Senhor da razão
Dono de mim.
Vem, estou à tua espera!
Com um sorriso no canto dos lábios,
Olhos esperançosos,
Numa agitação eufórica,
Segurando nas mãos o fim da tua vida
É só premir o gatilho.
Vem!
Palavras Roubadas...
Na busca do não sei o quê...
Na tentativa de chegar não sei onde..
Encontrei...
A força das palavras que por um tempo
Preencheram o vazio do meu ser.
Palavras que me foram dirigidas
Palavras que calaram a voz lamento
Que eu tranquei em mim.
Bebi cada palavra...
Fiquei embriagada pela força contida.
Dancei em torno da tua prosa,
Das tuas rimas, que em mim as espelhaste.
Adormecida no teu encantamento
Foi despertada pelo grito do afastamento.
O que me deste tiraste.
O que prometeste, quebraste
Palavras ao vento
Que pela força de um momento
Foram tornadas em nada.
Resta-me a memoria de poucas palavras
Que desvanecem com o tempo.
Chamei-te Anjo Poeta
Aquele que permanece ao meu lado.
Aquele que sussurra ao meu ouvido
As palavras que ficam presas.
Mas tu não estás
E as palavras surgem.
Apenas levaste as tuas rimas as tuas prosas.
O Anjo Poeta ficou
Afinal...
Não eras tu.
Fica com as tuas palavras
Aquelas que me deste e tiraste a frio.
Assim foi o que tinha de ser
E as memorias ao fim de um tempo
Acabarão por adormecer.
Peço
Peço sim aos céus
O despertar da máquina desligada!
Peço sim aos céus
que me liberte do tormento
da vida lamento que escolhi
Peço sim aos céus
para cessar as lágrimas
que afogam a minha alma
Peço sim aos céus
que acalme a inquietude do meu ser.
Peço sim aos céus
a magia de mais um momento,
o retorno da tua presença
Ai, é de pedir aos céus
o gosto do beijo, o calor do toque,
o abraçar das palavras
Porque é este o meu viver,
a frustração de ter e não ter.
Já não quero mais esperar
mas não quero desistir.
Será este o meu estranho destino?
Peço no tom de Fado,
O Fado que grita a minha alma,
O Fado que carrego nas costas
Sentindo-me cada vez mais curvada.
Mas se é assim que tem de ser
Não vou parar!!!
Porque parar é morrer...
A Lua e o Lobo...
Esta noite ergo-me
No auge da minha beleza
Grandiosa, intensa, brilhante.
Desnudada inicio a minha busca
Lançando raios de luz,
Iniciando o código que bem conheces.
Silêncio….
Fico quieta e aguardo a tua chegada.
É neste meu silêncio que me encontro.
Ecos fazem ricochete na minha mente
Parecendo balas perdidas prontas
Para matar um inocente.
Lembranças de nada, memórias de nada.
Envio mais Luz nesta noite chamando por ti.
Surge então uma sombra…
Meu corpo estremece, fazendo-me brilhar mais ainda,
Iluminando a encruzilhada dos perdidos.
É lá que te encontro…
Sorrio, já te ouço…
Essa melodia enche a noite de medo,
Sobe nos céus e chega-me como ar,
Como o sangue que corre nas veias,
Como Força vital!
Inspiro cada uivo como se deles me alimentasse,
Chegou a nossa hora,
Esta é hora em que meu Senhor dormiu
Dando-me lugar no Céu.
Desço as escadarias do firmamento,
Agarro a minha forma humana
E corro para ti sedenta dos teus beijos
Carente dos teus Abraços.
De pêlo a pele, de patas mãos e pés
De uivos a palavras…
Chocamos num abraço de eterna saudade
Chega a hora da noite em que duas almas se juntam
E a maldição dá tréguas a um amor eterno,
A Lua e o Lobo, eu e tu juntos todas as madrugadas
Sedentos de um amor amaldiçoado!
Memorias
Presa no Cais das memórias...
Seguro na mão as frágeis lembranças
Coloridas e fascinantes mas
Mais leves que o vento.
Travo uma luta interna
Do querer e não ter
De ter e não poder
Presa na inercia que impus a mim mesma.
Sigo em linha recta
Em movimentos lentos.
Tenho medo de avançar
Mais do que me é permitido.
Sei lidar com as mágoas que me foram infligidas .
Mas não consigo sarar as que posso infligir.
Olho a minha mão tremula
Que há muito segura vigorosamente
As cores da tua presença.
Basta um pequeno gesto
Um inspirar
Um pequeno relaxamento
e tudo o que seguro na mão
Será levado pelo Vento.
Diz-me
Diz-me
Com que mascara te escondes
Qual a personagem queres interpretar?
O Lobo mau? O Príncipe encantado?
Para mim não existem mais promessas
Que me façam acreditar.
O homem das mil caras
De sorriso luminoso
Olhos brilhantes.
O Ilusionista nas palavras nos gestos,
O charlatão da sedução.
Não quero saber.
Um pedido…
Sorri!
Foi o que me disseste
Eu sorri
E segui um caminho sem volta
O que era não sou mais,
Agora sou mais forte!
Grito Mudo...
Grito neste mundo louco
Por alguém que fui
Sinto-me um monstro
Por dar e tirar
Pela proeza de encantar
E logo de seguida pisar
Grito sem ser ouvida
Numa angustia que me sufoca
Para quê tantas palavras?
Para quê tanto encantamento
Se eu nao me deixo encantar
se aquilo que escrevo
fecho em mim a sete chaves
E nunca o liberto
Para quê esta farsa
Se aquilo que sou, ninguem compreende
Para quê ficar onde ninguem
Me dá a mão
Ou talvez não seja assim
Para quê Ficar onde eu
Não permito ninguém se aproximar
O que faço aqui?
O que busco aqui?
Palavras...
As palavras acabam no fim do poema
E o que fica?
Um vazio,
Um abismo infernal sem fim.
Grito
Grito
Um grito mudo
Um grito em mim
Que não deixo sair
Que não permito ninguem ouvir
O que vai restar?
O nada,
Mas isso ja tenho,
O vazio de mim...
Muda
Confusa,
Vazia,
Triste,
Perdida,
Sem rumo, sem direcção.
Perdi o tino
Algures na casa dos Sonhos,
Não encontro o meu destino.
Sem forças para me erguer,
Sem ter o que escrever,
Sem vontade de Sonhar.
Confusa, pelo sentimento.
Vazia, de palavras.
Triste, sem lágrimas.
Perdida, num momento.
Sinto um abismo dentro do meu ser.
Um buraco negro a preencher.
O ruído dos passos,
Cortam a dor do silêncio,
O único som que me diz,
- Estás Viva.
Sem vontade de despertar,
Sem vontade de respirar.
Cada entrada de ar são lámidas
Lançadas em mim.
Uma angústia,
Um desalento...
Quem de mim permite isto?
Qual dos meus Eus aceita este tormento?
Não grito,
Não chamo,
A minha voz ficou presa,
Não a liberto mais!
Tranquei-a na Caixa de Pandora
Para que nunca mais
Se atreva a fazer-se ouvir.
O Choro da Harpa
Voei sobre montanhas e mares
Presa nas tuas assas,
Pousamos num reino imaginário
Que o declarámos como nosso!
Fomos Rei e Rainha de um amor imaginado
Senti-me viva, feliz...
Libertei de mim o mais nobre dos sentimentos
E entreguei-te o que mais prezo em mim,
As minhas emoções, as minhas alegrias,
Os meus medos, o meu Amor.
Partiste em Batalha para terras longínquas.
A tua Batalha interna,
Fiquei sozinha...
Fechei-me na torre mais alta
e cortei a minha trança
Para que ninguém me salvasse.
Ninguém a não seres tu...
Houve um dia que voltaste
Subiste à torre, tocaste na minha face
E disseste, - estou aqui.
Senti-te no fundo do meu ser
Comecei a sentir-me livre,
Dancei ao som da melodia
Que a minha aura cantarolava.
Mas as trevas invadiram o reino
Como se, o que prometi a mim mesma
Tivesse sido ouvido como maldição.
Da torre não me salvaste
A tua presença começou a ficar translucida
Observava-te imóvel de olhos postos em mim.
A tua imagem foi ficando pequena
A minha dor enorme.
Assim recuei para junto da minha harpa
Ela saberá chorar por mim.
Irá chorar pela melodia que liberta
E a lança pela pequena janela
Da minha pequena Torre.
O Exorcismo.
A bruma dispersa-se ao cair a primeira gota de orvalho
O chilrear das aves anuncia os primeiros raios de sol
E o mundo acorda sobre os braços do vento que o embala.
Para trás ficou o medo e as sombras da noite
O sono pesado não justo que mereço
A consciência do que fiz, a consciência do que deixei por fazer.
Sento-me sobre a terra húmida
Deixo a sua energia entrar em mim,
Peço purificação, peço redenção.
Os Sons do mundo segredam-me palavras de conforto
O vento abraça-me protegendo-me,
As árvores balançam, esticam os ramos para me acalmarem.
Junto-me a elas neste bailado
O sangue corre mais rápido nas minhas veias,
A respiração aumenta,
Sobre os meus pés, o meu corpo liberta-se nesta dança,
O rodopiar da vida.
Imagens surgem na minha mente,
Um rosto, um olhar, um sorriso
Caio no chão por exaustão
Vejo o céu como um peão rodando por cima de mim.
Lágrimas, não de tristeza…
Vazio…
Acabei de te exorcizar de mim.