Rogativa
ROGATIVA
Oh! Pai, criador do criminoso e do justo...
Fazei dessa terra, esfera incandescente
Sob os influxos do amor, eternamente
Morada da paz, aconchegante arbusto;
Teu é o ilimitado poder, eterno, augusto
Esmeraldina estrela de luz clemente,
Dissipando os negrumes, inda pungente,
Dos corações que buscam o mal vetusto!
Porquanto, confiante, aqui me vejo abrindo
Meu coração, das agruras emergindo,
Em meio à prece fervorosa e compassiva
Pelo lar terreno, pelos bilhões de irmãos...
Entregarei, humildemente, em vossas mãos
As espinhosas flores dessa rogativa.
Álvaro Silva
Mata-borrão do Amor
Mata-borrão do Amor
by Betha Mendonça
Vem calado, achega-te e me beija!
Apazigua a chama que me incendeia,
Para que com olhos de amor te veja,
E caia como tola presa em tua teia...
Carente e licenciosa prisioneira,
Além do limite dos teus abraços,
Seja eu maga ou malvada feiticeira,
Para deixar no teu corpo os meus traços.
Livre da teia, mágicos poemas em penhor,
Que eu escrevi na tua mui amada presença,
Queimaram-se e perderam o valor...
Estrelas decadentes e sem cor,
Caíram ao solo da tua indiferença,
Como mata-borrão do nosso amor.
Lua Branca
Lua Branca
by Betha M. Costa
Eis que navega no céu a lua nova!
Sua beleza até as nuvens cativa,
Altiva a face que do amor é prova,
Trova, poesia divina e introspectiva.
Tão bela, amiga, antiga e ativa,
Dona do cavaleiro e sua espada,
Que enlaçado ao coração da sua diva,
Zela a eterna e etérea namorada.
A cada noite clara enluarada,
Em que beija o céu com sua visita,
A Terra banha com luz orvalhada.
Ah, lua branca tão encantada,
Tua presença cria a expectativa,
Da gente nessa vida ser amada!...
Experimentações
Não... Não quero inventar...
Colocar o poema
de pernas pro ar,
não vai adiantar...
Assim não consigo passar
minha emoção...
O poema não é uma construção... (ou é?)
O poema é um sentimento. (ou não?)
O mais certo é: cada poeta
que faça o poema
como quiser...
Eu sigo minha linha,
você segue a sua...
E a poesia continua.
A.J. Cardiais
06.09.2015
Fome de poetar
Estou deitado na cama
lendo um livro de Waly Salomão,
enquanto o sol me queima
sem comiseração.
O sol invade a janela,
invade meu coração,
invade eu, invade ela...
Comete o fenômeno da invasão.
Então eu asso um soneto,
enfiado num espeto,
pra saciar a fome de "poetar"...
Se Waly me deu assunto,
pego as palavras e junto,
tentando me comunicar.
A.J. Cardiais
28.07.2015
Soneto d'alma
A minha fortuna
são meus poemas.
Eles são pequenas
pepitas de inspiração.
Para algumas pessoas,
poemas não valem nada.
Mas para mim são estradas
pontilhadas de emoções.
Disse Fernando Pessoa,
que tudo vale a pena,
se a alma não é pequena...
Então não é à toa
que eu escrevo poema:
a minha alma voa.
A.J. Cardiais
19.08.2018
Invasão Poética
Espero sempre escrever
com amor e com vontade.
Não quero que a vaidade
invada meu sentimento.
Espero sempre escrever
como quem toca um instrumento:
curtindo todo momento,
sentindo muito prazer.
De nada vai me adiantar
saber demais,
e perder o paladar.
Eu quero é deitar e rolar...
Quero habitar na poesia,
sem os “acabamentos finais”.
A.J. Cardiais
imagem: google
Tempestade
O tempo me castiga em seu deserto paradoxal
Me fazendo olhar teus olhos tristonhos
Refletidos nos relâmpagos de uma tempestade infernal
De longe vejo a chuva levar os teus sonhos
Procuro ficar em silêncio, parecer normal
É difícil aceitar a derrota desde castigo sem igual
Mas o grito que habita meu peito liberta meus temores
Me faz ouvir teus apelos e sentir tuas dores
Que te domina por inteira cruelmente
Como uma faca, uma lança, um punhal estridente
Que te atravessa a alma dolorosamente
Preciso livrar-me dessas amarras urgentemente
Para puder salvá-la de toda essa angustia, de todo esse mal
E saber que foram minhas mãos que lançaram este punhal.
Sandro Kretus
CINZA
Tão pouca é a esperança que me sobra,
a cinzas me reduzo, culpa minha,
nem a mágoa do sino que me dobra
me serve a pouca força que me anima.
Jejuo há tanto tempo de vontade
de ser vela enfunada ao vento acesa,
que morre a chama débil que me arde
e só me sobram cinzas sobre a mesa...
Espalhem-mas aos mares e às mãos cheias,
aos ventos que se deitam sobre lírios
tingidos pelo sangue destas veias!
Espalhem-mas nos rios que cantei!
Não me façam libelo de concílios
-sou tão pouco, só cinza que restei...
.
A sensação de estar vivo
A sensação de estar vivo
é assistir o voo do urubu,
degustando um pedaço de sol
recheado de brisa.
A sensação de estar vivo
é estar amando
e observando
o desenrolar de tudo...
Viver é um estudo
muito delicado
e cheio de conteúdo.
Para a sensação ficar completa,
é só manter os sentidos
em estado de alerta.
A.J. Cardiais
08.08.2015