Fugi incessantemente da forma cartesiana
Da ceifa alegórica da liberdade
Mas como oprimir o dom e a verdade,
E coibir a palavra nua e urbana?
Atentarei em coisificar a víscera
Em engarrafar e rotular de musicalidade o medo
Para não restringir dos sonolentos o segredo
Da língua de fel e mortífera.
A linguagem que não nega ao pranto o doce
Conduzindo as Boas Novas da insígnia latente
À sua Belle Époque, ao seu Éden precoce.
Castigarei a suavidade da métrica
Pintando de luz seu corpo impávido e doente
Da causticante serenidade da sua infeliz sorte
Preza a sua jaula de amor inconsistente.
"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito." Manoel de Barros
Crítica ao atual cenário da poesia em lingua portuguesa.