Poemas : 

Sou cão de raça sem dono.

 
Sou cão sonhador
Viajante de todas eras

(Dentro do mundo)

Qual meu dono - erra
Sou livre de mim
De relampago tenho receio
Mulheres elas me animam

(Faço mil glórias em um dia)

Essa é minha alegria,
de viver correr
Meu território é natural
Vil, és tu o osso que roí ontem
Sou cão de todas raças
Todos becos eu me esgueiro

(Problemas banais)

Sou alegre! Coça peste
De bicho que me incomoda
Sempre isso,
nem com banho sai de mim
Fora sem vagas para pulgas!

(Sei lá se sou adorado)

Senhora legal aquela
Nos dias frios me
da uma carne limpinha

(Problemas do cotidiano)

Esse homem de azul
Vem me pegar, na correria,
não ganha-me, ainda sou astuto
E ele apenas um gordão valentão

(Sou de raça única)

Minha cor ornamentada
Me destaca só eu sou,
tingido mais sem cor,
Sujeira de rua! Háááá
que nada sou limpo
de coração, limpo lindo cão
E assim dias de cão sonhador
Os meus são os melhores...


Beijo de cão só para mulheres. ^^


 
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Beto
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Enviado por Tópico
RoqueSilveira
Publicado: 22/12/2009 21:46  Atualizado: 22/12/2009 21:46
Membro de honra
Usuário desde: 31/03/2008
Localidade: Braga
Mensagens: 8095
 Re: Sou cão de raça sem dono.
Ah cão poeta, bom poema.
Abraço

Enviado por Tópico
Beto
Publicado: 22/12/2009 21:59  Atualizado: 22/12/2009 21:59
Participativo
Usuário desde: 15/12/2009
Localidade: Suzano.SP
Mensagens: 23
 Re: Sou cão de raça sem dono.
Au Au senhorita bonita obrigado, beijo de cão para você...

Enviado por Tópico
AnaCoelho
Publicado: 22/12/2009 22:38  Atualizado: 22/12/2009 22:38
Membro de honra
Usuário desde: 09/05/2008
Localidade: Carregado-Alenquer
Mensagens: 11252
 Re: Sou cão de raça sem dono.
Tenho acompanhado os teus trabalhos e tenho gostado.

Este é um bom exemplo, parabéns

Beijos

Enviado por Tópico
Caopoeta
Publicado: 23/12/2009 00:22  Atualizado: 23/12/2009 00:22
Colaborador
Usuário desde: 12/07/2007
Localidade:
Mensagens: 1988
 Re: Sou cão de raça sem dono.
(deixo-te um poema de um dos melhores poetas contemporaneos,espero que gostes.)

CÃO

Cão passageiro, cão estrito,

cão rasteiro cor de luva amarela,

apara-lápis, fraldiqueiro,

cão liquefeito, cão estafado,

cão de gravata pendente,

cão de orelhas engomadas,

de remexido rabo ausente,

cão ululante, cão coruscante,

cão magro, tétrico, maldito,

a desfazer-se num ganido,

a refazer-se num latido,

cão disparado: cão aqui,

cão além, e sempre cão.

Cão marrado, preso a um fio de cheiro,

cão a esburgar o osso

essencial do dia a dia,

cão estouvado de alegria,

cão formal da poesia,

cão-soneto de ão-ão bem martelado,

cão moído de pancada

e condoído do dono,

cão: esfera do sono,

cão de pura invenção, cão pré-fabricado,

cão-espelho, cão-cinzeiro, cão-botija,

cão de olhos que afligem,

cão-problema...

Sai depressa, ó cão, deste poema!





Alexandre O'Neill
Poesias Completas. 1951-1986
Lisboa, INCM, 1990 (3ª ed.)