Poemas : 

Viagem incontida

 
Venho do imo da carne,
subterrânea alma
imóvel nos dias longínquos,
onde os mares cavam rios
abrem em sulcos
o acordar do céu,
por ninhos inconfessos
de gaivota sem garganta!
Venho da vertente
dum poema,
escrito por meninos de sede
na distância do meu corpo!

Corri os mares mais adversos
E os eflúvios da terra,
Que na desordem do sono
Descem à memória
E debruçam naufrágios
Em sombras do olhar.
Deslizei por brumas oblíquas
Entre homens que uivavam
Os crimes dos homens…

Venho do além longe
da outra margem
-dum ponto infixo
na distância,
mas perto da alma!...
Venho do poente nocturno,
para lá da náusea,
num leito trocado pelas horas,
ou em sonos de uma criança
sem espessura,
que a distância não alcança!
 
Autor
José António Antunes
 
Texto
Data
Leituras
807
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
3 pontos
3
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
antóniocasado
Publicado: 30/12/2009 13:25  Atualizado: 30/12/2009 13:25
Colaborador
Usuário desde: 29/11/2009
Localidade:
Mensagens: 1656
 Re: Viagem incontida
Ola

Esse mundo é de onde viemos. Só espero que o ponto de chegada, se é que ele existe, seja diferente. Será?
Até lá vamos revezando a intenção com a imaginação e pensar que sim é já animo.

antóniocasado

Enviado por Tópico
Maria Verde
Publicado: 30/12/2009 13:57  Atualizado: 30/12/2009 13:57
Colaborador
Usuário desde: 20/01/2008
Localidade: SP
Mensagens: 3489
 Re: Viagem incontida
um poema vôo!! onde o ponto de chegada é o encontro consigo mesmo! maravilhoso!
abraço.

Maria verde

Enviado por Tópico
AnaCoelho
Publicado: 30/12/2009 14:28  Atualizado: 30/12/2009 14:28
Membro de honra
Usuário desde: 09/05/2008
Localidade: Carregado-Alenquer
Mensagens: 11252
 Re: Viagem incontida
Viagens do intímo que sente e vê para além do que a distância apaga...encontros da outra margem que nem todos conseguem ver...

Beijos