Poemas : 

Para o Poeta Xavier Zarco

 
cada um desespera por cobrir as ôcas cavidades de asas
que no seu interior lhes abre voos até perderem a sua última pena.
arrancam das suas sombras o fervor de um pranto
que se transforma em labareda.
e não obstante o acaso avançam sem medo
pois sabem que não podem apoiar-se no cotovelo
nem encubrir.se no jogo falaz das mordomias.

por vezes (uns)
no desespero por cobrir as ôcas cavidades das asas
sentem o estalar entre os dedos
para errar num ideal ou descobrir a morte.

por vezes (uns)
no desespero por cobrir as ôcas cavidades das asas
fumam cohiba à sombra da bananeira
bebem uma qualquer bebida (vinte anos) destilada
untam-se de caviar,
tal como manda a tradição.

e prosseguem amontoados
procuram-se
caiem
e sonham
enquanto o tempo escasso denigra-os,
desembocam sem tréguas na quietude fachada
e de pronto se convertem
na breve mentira de terem voado.


" An ye harm none, do what ye will "

 
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HorrorisCausa
 
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Enviado por Tópico
VónyFerreira
Publicado: 24/01/2010 15:05  Atualizado: 24/01/2010 15:05
Membro de honra
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Mensagens: 10301
 Re: Para o Poema Xavier Zarco
À altura do poema que O Xavier te dedicou.
Bj
Vóny Ferreira



Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/01/2010 17:08  Atualizado: 24/01/2010 17:08
 Re: Para o Poeta Xavier Zarco para MJoão
Fabulosa dedicatória,parabéns.
Continuação dum belo Domingo.

Beijo


Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 24/01/2010 17:33  Atualizado: 24/01/2010 17:33
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Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: Para o Poeta Xavier Zarco
Maria João,
De uma poetisa excepcional para um dos poetas e amigo que mais admiro neste site, pelo seu talento e simplicidade.
Beijos aos dois
Nanda


Enviado por Tópico
Xavier_Zarco
Publicado: 31/01/2010 15:34  Atualizado: 31/01/2010 15:34
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 Re: Para o Poeta Xavier Zarco
Camarada HorrorisCausa,
Sem dúvida que o, não um) poema é a manifestação de uma máscara ou de um rosto. Mas seja o que for, deve ser sempre uma manifestação de arte feita para o usufruto do outro, daquele que lê e interpreta consoante o seu registro, a sua base cultural. Este teu poema é disso reflexo, sobretudo porque "arrancam das suas sombras o fervor de um pranto / que se transforma em labareda". Tudo é mutável, tudo em poesia é o poema outro. Isto é: da sombra, o que é a percepção do outro; sorve-se o pranto, mas recolhe-se de facto o espanto, isto é: a labareda.
Obrigado pela réplica, mas mais do que isso, pelo saber ler o que é um "para", nada mais que um ponto de partida para o diálogo.
Um beijo
Xavier Zarco