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As minhas memórias

 

Memórias da minha juventude em Paris

As trinta adolescentes belgas, hospedadas no “Excelsior Hotel”, estavam autorizadas, no dia seguinte à sua chegada, a passear livremente na cidade de Paris.
Eu era, em parceria com o meu colega Alfredo, o recepcionista daquele Hotel. Por coincidência, nesse dia, ambos estávamos de folga. Assim sendo, tudo se proporcionava para sermos os guias das jovens que previamente foram escolhidas, para serem nossas supostas namoradas. A minha chamava-se Anne Marie, era a loura de olhos azuis e a do meu colega que se chamava Bernardette, era a morena de olhos castanhos. Não foi preciso recorrer a muitos artifícios a fim de que elas aceitassem o nosso convite para um passeio nas margens do rio Sena.
Era uma tarde primaveril de Abril, e o dia estava amorosamente acolhedor. Nossa viagem de metro foi, durante o percurso até à estação de Saint Michel, alegre e animada. À chegada, como uma janela que se abre, deparávamos com a claridade do dia paradisíaco das margens do rio Sena; eu e Anne Marie, como noivos, tínhamos a bênção do céu azul e o verde das árvores, à nossa espera!... Senti correr-me pelas veias um arrepio, da mão fria da minha companheira que me iria inflamar meu coração palpitante, ao transportar orgulhosamente o meu troféu. Eu comecei a respirar fundo e ter sensações de estar fora de mim, num terno êxtase, de estar fora deste mundo!?…
Eis-me nas margens do rio Sena, onde já passeavam namorados que neste dia, certamente, não me iriam fazer inveja.
Toda a natureza envolvente estava a verdejar, florir, e o sol brilhava!... Estávamos na primavera e os pássaros, chilrando, cuidavam de seus ninhos. No rio corria veias de água viva que interpenetravam na que já estava morta; algures, os peixes emergiam e mergulhavam como alegres golfinhos. O dia irradiava e eu começava a ter a emoção de estar a entrar num maravilhoso renascimento.
De súbito ficamos imóveis, vidrados, olhos nos olhos. Tinha defronte uma Eva e eu era o Adão. Sua cara era de lua cheia; seu cabelo curto e loiro era de uma claridade de sol-posto; seus olhos mais me pareciam dois faróis cor de céu azul que me encandeavam o rosto; seu corpo era um pedaço de um tronco de forma ondulada, uma obra-prima, cheia de formosura, uma surpreendente tentação!... De seus lábios cor de fogo, brilhava uma frescura, como pétalas de rosa húmida, cujo movimento dos seus sedosos dentes brancos deixavam antever o desejo de morder a maçã proibida.
Os nossos olhares intersectavam-se e provocam um enlaço de ardente de paixão. Toda a natureza envolvente girava à nossa volta, eu imaginava-me no centro do mundo; estranhas, estavam a ser as emoções de meu coração que batia inflamado, fazendo com que o meu pobre cérebro entrasse em órbita e eu sentisse a leveza do meu corpo.
Que maravilha é esta dádiva de Deus, a da união de dois seres de sexo oposto que experimentam sensações divinas pela eterna continuidade da vida que é um verdadeiro elogio ao Amor!...
Esta foi uma deliciosa experiencia que nos proporcionou no vigor da nossa juventude para nos dar a compreender que a vida é bela para quem a faz bela.

 
Autor
Manuel Lucas
 
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