Duetos : 

actos contínuos

 


com a mar




é noite fora da porta, o quarto está escuro e não é seguro falar agora, o silêncio toma-me por louca e é da minha tristeza que se riem, a noite e o silêncio juntos. eu caio porque cair não dói quando se não sente o corpo e espero que me venhas buscar esta noite, me pegues ao colo, me apertes contra o teu peito e pintes algum sentido nesta vida. estar longe de tudo, de ti, da vida, do mundo, tremer os dias em que já estive perto e desejar abandonar-me e partir para o teu lado. é a madrugada que me come a esperança, devagar, pela manhã já pouco dela restará em mim e chorar serão os meus dias próximos ou longínquos.
urge o amanhecer dentro do teu sorriso e o verde dos teus olhos, em silêncio, a dizer-me bom dia, amor. nessa amanhã já não haverá frio aos ossos e as lágrimas serão raios de sol a deitar-se sobre o branco dos lençóis.
para existires talvez esta noite durma na minha varanda ou talvez a minha casa não tenha varanda, talvez eu queira inventar-lhe uma varanda para me ser possível ver as estrelas mas, ainda assim, ter uma casa. talvez.
será aos meus braços a tua casa, sim, aos meus braços. não haverá um anoitecer sequer em que as estrelas te faltem e a lua beije o teu olhar. à varanda, o mar.
mas olha lá, o problema é que hoje não estou. ontem talvez me encontrasses porque ontem os caminhos eram os mesmos e havia ainda o tempo de se cruzarem, hoje já não estou, já me fui, hoje não. hoje sempre foi tempo para ampliar por mais de duas vezes a falta que me fazes, por isso sento-me à borda do que somos e respiro, talvez respire devagar para não chorar, talvez respire e chore porque afinal respirar e chorar são sinónimos quando lágrimas são fios de vida.
há dores que não passam, que se atravessam nos caminhos e nos impedem de ir, há dores primeiras, vagarosas, não passam, não se acanham, não se lançam, são dores que ficam sempre dentro do peito, tão dentro, tão fundo emaranhadas que o ontem cai sobre elas e o hoje não sai delas. tudo o que desfaço é porque hoje não estou, hoje não.
não te espero hoje, como alguém que na estação espera o comboio das sete e cinco para mais um dia de trabalho. um dia hás-de vir alada no vento, eu estarei à tua espera.


 
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Moreno
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Enviado por Tópico
Margarete
Publicado: 20/05/2010 15:15  Atualizado: 20/05/2010 15:15
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 actos contínuos ao moreno
gosto destas fugas. sentar-me na cauda de um cometa e seguir a recta até ao mini mercado, pedir um mini e sair com uma caixa delas debaixo do braço. bem sabia que eramos loucos. eu e os outros como o sr.fernando que me deu uma caixa de minis. gosto destas fugas. comer rejões com batatas fritas e chamar-te helder, depois sentar-me no trono e adormecer sobre a cal. há coisas fantásticas não há? uma delas chama-se escrita.


um beijo
mar.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 20/05/2010 17:40  Atualizado: 20/05/2010 17:40
 Re: actos contínuos
Pois continuem com esta linda acção poética, da varanda ou de outros lugares, que importa? Importante mesmo é que não percam o combóio!
Mas se o perderem agarrem-se às asas da vossa poesia: o voo será delirante, tenho a certeza.
bjs e abraços
nuno


Enviado por Tópico
Alexis
Publicado: 20/05/2010 21:47  Atualizado: 20/05/2010 21:49
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Usuário desde: 29/10/2008
Localidade: guimarães
Mensagens: 7238
 Re: actos contínuos para moreno e mar
ui.amei.sem mais.

abraço os dois.apertadinho.lindos.

alex