Poemas : 

Encontro comigo no jardim

 
Hoje meu jardim amanheceu de uma beleza que eu jamais imaginei vê-lo um dia. Sonhei durante anos de forçoso estudo, trabalho e cansaço um dia construir minha casa e fazer nela um jardim de inverno simples, espaço verde em minha casa para lembrar a esperança que tenho, mas não fui capaz de imaginar que um dia pudesse vê-lo desabrochado, regado a um orvalho cristalino e gélido, com pássaros sonoros e borboletas esvoaçantes que o pincelava de cores estonteantes. Mas não era só nas pétalas e folhas que havia orvalhos, senti em meu rosto um orvalho quente que escorria sorrateiramente ao queixo trêmulo de pasmo e gratidão ao Divino.
Noto que Deus me tem dado além do que esperava. Queria apenas um jardim e hoje tenho em minha casa um pedaço de céu pra mim. Basta acordar um pouco mais cedo e abrir a porta numa manhã fria de junho para contemplar sem palavras as margaridas amarelas que com amor cultivei há alguns meses, obras de minhas mãos com a instrução do criador, eu as plantei, Ele as desabrochou, eu as reguei, Ele, coloriu-as.
Tomei banho lá mesmo, com a mangueira de regar, sob um céu ainda puro e de nuvens aliviadas por terem chorado durante a noite. Sim, quando choramos há alívio. Brinquei com a água morna que vinha dos canos quentes imensos sob o chão e fingi ser uma estátua de mármore de algum jardim longínquo, ou quem sabe uma linda fonte a jorrar água da boca.
Quando saí finalmente do espaço principal da casa, lugar externo onde só ali me encontrava com meu interior, estava de alma muito limpa, pronto para enfrentar um mundo sujo que desconhece borboletas, pássaros e água morna escorrendo pelo corpo, me senti de uma completude que começava ali mesmo pelo jardim em meio às bouganvilles, gardênias, helicônias, margaridas, antúrios... e inundava também a casa dura de pedra a subir as escadas em direção ao meu quarto.
Para o que há de mais simples no dia eu dedico tudo de mais valioso que há, jóias e pedras preciosas cobiçadas por toda gente não me passariam de pedacinhos de tijolos ante ao que vivi nessa manhã quando me encontrei comigo mesmo em meu jardim, aliás na próxima reforma pretendo instalar, bem no centro da grama, um banquinho de cimento branco pois há muito tempo preciso me dizer umas verdades, preciso desabrochar-me em tom rubro para entender o que levo aqui por dentro.

Raule de Sousa
Iguatu/Ceará/Brasil
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Raule
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