a voz de r.

chegou ao 36 com o mundo aos olhos. estava cheio. do lado esquerdo a bagagem de dias e dias seguidos de dias para sempre. queria chorar com as mãos, meteu-as à boca e tirou-lhe o céu. não o queria. que lhe doía no lugar das palavras, acocorado ao canto, à espera que os dentes o enchessem de estrelas. sabia por onde ia, que vento o levava, que terra o chamava. cabeça dentro da terra para não escutar a voz do coração. estava imóvel. o termómetro do corpo abrandava os movimentos, era tarde e estava calor e ele tão só. abriu as gavetas do peito para organizar as memórias. queria morrer feliz. de pernas para o ar falou a língua do corpo que longe ama.