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Amor sem métrica

 
Amor sem métrica
 
 



Não sei que métrica é essa.
Que formula se usa.
Que números se juntam;
Ou que conta se faz...
Não sei como se dança,
Ou se de uma dança se trata.
Nem isso eu sei sequer!
Essa música sem instrumentos.
Esse vigorar em tudo
Sem saber porquê.
Não sei que é esse estar acordado
A apreciar os minutos da vida,
Como se fossem sempre o primeiro
E o suposto último.

Não sei como ela faz.
Como ela se deixa a sorrir
Assim simplesmente por sorrir...
Não sei como ela consegue!
No meio do jardim.
No meio do barulho da cidade.
No meio de tudo isto que se passa!...
Há coisas que talvez eu não entenda;
Ou talvez não seja suposto eu entender...
O dia está cinzento,
Por toda a cidade faz frio.
Todos passam tão cheios de roupa;
Eu que os vejo tão vazios...
Fico sentado no banco,
Só a vê-la rodopiar pelo jardim...
De certo modo eu rodopio também;
Deixo-me rodopiar na sua graça,
No azul dos seus olhos,
E deixo-me levar...
Por esse pequeno pedaço de céu;
Esse breve tempo de eternidade...
Ela tropeça mas não cai;
Ela tomba mas não se aleija...
Não sei como ela consegue.
Mas não deixou de me sorrir!

Não sei que cálculos posso inventar...
Que teses e filosofias posso encontrar...
Para tentar descrever numa só linha
Tudo o que ela faz;
Tudo o que ela representa p'ra mim;
Ou o que ela verdadeiramente é.
Não sei mesmo como se faz.
Não sei como posso tentar.
Será mesmo suposto eu não saber?
Será suposto esse mistério?
Como pode ela cair e não se aleijar?
Como pode ela rodopiar pelo meio do alcatrão.
Que fica no meio do jardim.
No meio da cidade.
No meio do barulho do mundo?
Como pode ela não deixar de me sorrir
E de mostrar os seus olhos azuis?
Como pode ela tornar esse minuto
Eternamente o primeiro e o suposto último?
Como pode ela amar-me e sorrir-me?
Que poema posso eu escrever;
Que cálculo posso eu fazer?
Talvez não entenda mesmo.
Talvez não seja preciso entender...

Levanto-me.
Dou-lhe a minha mão;
E envolvemo-nos o meio de um abraço.
No meio do alcatrão;
No meio do jardim
Que fica no meio da cidade;
No meio do barulho;
No meio do mundo...
Não quero entender...
Não é preciso entender nem perceber;
Assim é o amor;
Sem códigos e sem métricas...
Conjunção astral talvez...
Não interessa...
Rodopio com ela
No meio de nós mesmos.
 
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Blackbird
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Enviado por Tópico
Nanda
Publicado: 03/10/2010 13:06  Atualizado: 03/10/2010 13:06
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Usuário desde: 14/08/2007
Localidade: Setúbal
Mensagens: 11076
 Re: Amor sem métrica
Blackbird,
A poesia não carece de métrica quando se fala de sentimento.
Bj
Nanda