Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 027

 
Tags:  Marcos Loures Sonetos  
 
1


Amor tanto se faz quanto declara,
Agora vai caçado feito fera
A boca que eu beijara resta amara
Ao abrir entre nós clara cratera.

O ninho que se fez em pleno amor
Mortiço não resiste e vai sem viço
Entregue à sensação deste bolor,
Por mais que tantas vezes, lenha atiço.

Se um dia inda pudesse ver distantes
Mortalhas deste amor que se fez luto.
Talvez inda pudesse por instantes
Fugir da solidão, um vão tumulto.

Escuto a tua voz toando loas,
Às águas inundando estas canoas...


2

Amor tão delicado nunca vi...
Andávamos felizes, flutuando.
O melhor desta vida estava aqui!
Consigo ser feliz, somente amando...

Mas, tantas tempestades, me perdi.
Com todo esse meu mundo desabando,
Os olhos lacrimejo, só por ti!
As dores retornaram, cruel bando...

Amor é sentimento tão fugaz!
Ao mesmo tempo livre, está cativo.
Se temos ou não temos, cadê paz?

Amar é simplesmente um velho tema
Que por ele remoço, sonho e vivo...
Procuro por teus olhos, Iracema!


3

Amor tão engenhoso em seu ardil,
Embora tantas vezes sou esquivo,
Numa palavra mansa ou mais gentil,
Ao ver-me nos seus braços vou cativo.
A flecha que atirou me descobriu
E dessa seta nunca mais me esquivo.

Quem sempre se pensara estar fadado
À dura solidão do dia a dia,
Sentindo o forte amor aqui, do lado,
Entrega-se aos rumores da alegria,
Mesmo que o tempo esteja mais nublado,
Amor descortinando a fantasia.

Nos sonhos que perdera está reposto
O doce do amargor do amor, seu gosto...


4

Amor tão gigantesco nega o medo,
Que esconde, na verdade, o vero amor.
Saber que nem precisa temer dor,
Amor já recompensa sem segredo.

Transforma a direção, mudando enredo,
Galgando um alto espaço, vencedor,
Servindo com carinho ao servidor,
Às forças deste encanto sempre cedo.

Abrindo cada porta, mansidão,
Aponta com ternura a vocação
De sermos mais felizes, nada além.

Alívios entre farpas e navalhas,
Bebendo a poesia que ora espalhas,
Sabendo quanto o amor já nos convém...



5


Amor tão gostosinho, como é bom
A gente namorar a noite inteira
Debaixo do lençol ou do edredom
Até chegar depois toda a canseira.

Jogarmos com carinho em mesmo tom,
Fazendo em puro amor, a brincadeira
Que é feita com delícia de bombom
E mostra- se divina e sorrateira..

Vem logo, que esta noite não é nada,
Fazer amor em plena madrugada
Prenúncio de manhã em alto astral,

Com toda a sinfonia de pardais
Pedindo: por favor; eu quero mais,
Esqueça a roupa e deixe este quintal...



6

Amor tão pleno e sei jamais cativo
Permitirá que se conheça a vida.
Um sentimento em perfeição, altivo,
Concebe em luz a mansidão perdida.

No teu olhar o meu desejo crivo
Não deixará uma aflição de brida
Do nosso amor, eu nunca mais me privo
Sem ele a sorte se dará vencida.

Não tendo medo, seguirei em frente
E sendo assim, felicidade urgente
Não perderei com baboseiras; tempo.

Contigo sigo a caminhada em paz,
Cada vez mais me sentirei capaz,
Ao suplantarmos, juntos, contratempo



7

Amor tão vigilante, enamorado
Das horas que em insônia já passei
Olhar que em teu olhar vai fascinado
Buscando o teu olhar que procurei.

Amor tão extremoso que eu sentia
Por tantas vezes louco, me tornava,
Quebrando deste amor uma harmonia
Envolto nos desejos me entornava.

Seus modos, gestos, graças e perfume,
Aos pouco me tomando totalmente.
Vivendo tal amor pleno em ciúme
Sabia que perdia, tolamente...

Desejo nosso amor em fantasia,
Amor que tanto ilude, tal magia...


8

Amor tomando tento em minha vida,
Depois de tanto tempo em sofrimento;
A mão de uma esperança distraída
Abriu-se e permitiu este momento.

Na luta por achar uma saída,
Perdido, solto ao gosto pego o vento
E deixo a sorte em tuas mãos. Decida!
Quem sabe findará o meu tormento...

Passei minha existência sem ninguém,
Na espreita deste amor que nunca vinha.
Agora que recebo um manso bem

Eu creio que jamais serei tão só.
Espero que tu sejas, enfim, minha;
Quem sabe renascer,amor, do pó?


9


Amor tomando tudo, inundação
No vale dos meus sonhos. Tantas águas,
Enquanto me dominas já deságuas
Trazendo em minha vida esta monção.

Entregue aos teus caprichos, totalmente
E deixo-me levar por teus carinhos,
Alagação que invade velhos ninhos
Adentra o coração, o corpo e a mente.

Depois de certo tempo eu sei que tudo
Retorna ao seu normal, disto estou certo.
O tempo me trará tranqüilidade,

Nas águas da paixão eu não me iludo,
Porém neste caminho agora aberto,
O amor entornará fertilidade...

10

Amor traduz percalços e tropeços
Embora em atropelos sigo ereto,
Enquanto noutros braços me completo
Os dias muitas vezes vão avessos.

Há tempos que esqueci os endereços
Aonde encontraria amor dileto,
Embora não me veja qual dejeto
Não quero carregar mais adereços.

Sou franco e verdadeiro. Mais ou menos...
O velho menestrel fingindo ou não
Acorda em seus acordes coração

Tentando dias trágicos, amenos
Empresto uma verdade ao sentimento
Qual fosse um diamante que eu invento...


11


Amor transmite paz, felicidade
Deixando o coração bater mais forte,
Recebo todo o dom da liberdade,
Fazendo destes sonhos o meu norte.

Prevendo um novo dia em claridade,
Permita em teu cais, amor aporte,
Vivendo a mais sublime realidade,
A fantasia serve de suporte.

O quanto te desejo e não me canso,
Na procura diuturna pelo brilho,
Cantando tão somente este estribilho,

Adentro aos teus jardins, calmo remanso.
Nos lumes de teus olhos, vejo a lua,
Espalha o teu reflexo pela rua...


12


Amor traz guarda-chuva e nos protege,
Deixando a tempestade enfraquecida,
Bebendo cada gota desta vida
O coração jamais será herege.

Montando num cometo, ou mesmo em sege,
Seguindo o meu caminho, uma saída,
Encontro sem pensar em despedida,
No amor que o peito quer e agora elege.

Se é breve, ou se demora a vida inteira,
A boca desta moça é feiticeira,
Trazendo em seus feitiços, alegria.

Enquanto houver a luz, eu sigo em frente,
Não posso nem pensar que atrás vem gente
Senão amor bobeia, e logo esfria...



13


Amor traz, em seguida, entusiasmo
Depois de ter causado convulsões,
Em meio a tais insânias das paixões,
O que eu necessito é de um marasmo...

Viver a plenitude de um orgasmo
Que cause em minha mente turbilhões,
Sob a mira certeira dos arpões
Distante da ironia e do sarcasmo.

Se pasmo ou se não tenho reação
A culpa não será do coração,
Que bate tendo amor ou solidão.

Na sólida presença de um vulcão,
Ao menos vou propenso à explosão
Que alague em lava e fogo cada chão...


14

Amor tudo renova, dia-a-dia
Moldando este cenário fabuloso,
Seguindo cada passo da alegria,
Expressa a divindade em cada gozo.

Por mais que inda resista, não consigo
Vencer a tempestade que me tinge
Bebendo deste vinho eu vou contigo
Nas mãos abençoadas desta esfinge.

Trazendo em cada enigma a solução
Vencendo ao fim de tudo os meus problemas,
Da força deste amor, revolução
Marcando em paz e glória seus emblemas.

Não vejo e nem pretendo o fim do sonho,
Meu barco no teu mar, desejo e ponho...


15


Amor um sentimento solidário
Fazendo da cozinha nosso leito
Não guardo o meu desejo num armário
Prefiro te trazer dentro do peito.

Amada, neste teu aniversário
Entenda que eu pretendo ser aceito
Quem teve este passado solitário
Agora com certeza eu me deleito.

No jogo tão gostoso de jogar,
Acendo toda a chama do fogão,
Queimando com prazer o coração,

Meu verso vem depressa te mostrar
que a vida se permite em sobremesa
no gosto de teus lábios, farta mesa...


16

Amor uma atração fenomenal
Que atravessando o mar nos aproxima,
Envolve o coração em santa estima,
No canto que nos beija, sensual.

Amor traz a esperança como aval.
Jamais permita assim que alguém reprima
Esta emoção sincera que nos prima,
No mar de amor que chega a Portugal.

Nas ondas do oceano, em alva areia,
Encontro a silhueta da sereia
Mais bela que encontrei. Meu cais, meu porto,

Da América, esse barco coração
Aponta tão feliz a direção
Que leve para a praia, aí no Porto...


17



Amor uma caixinha de surpresas,
Despreza qualquer senso, faz das suas,
Um palco tão arguto quando atuas
As feras mal distinguem-se das presas.

As cartas escondidas sob as mesas,
Não sabes discernir; mas continuas,
Agulhas num palheiro, almas nuas
Crisântemos daninhos da tristeza.

Sem eco nada vale, mas persisto,
Besunto o meu olhar com este xisto
E quase libertário, sou cativo,

Num cântico em louvor eu mimetizo
Às vezes sendo lava vou granizo,
E mesmo em tal balbúrdia; sobrevivo...


18


Amor utópico maltrata tanto
Talvez seja melhor nem conhecê-lo.
Envolto pelos fios do novelo
Restando tão somente o desencanto.

Se às vezes, imbecil, ainda canto,
Tentando segurar pelos cabelos
Corcel que galopando, fartos pêlos,
Só resta-me ao final, a dor e o pranto.

Platônica emoção, torpe caminho,
O tempo se perdendo em desalinho,
Vielas esquecidas, simples becos.

Nestas encruzilhadas sem meu Norte,
Cultivo pedregulho, cardo e corte,
Não ouço por resposta senão ecos...


19


Amor vagando estrelas, que visagem!
Fulgura cavaleiro em seu corcel;
Reflete nosso sonho qual miragem
Girando eternamente em carrossel.

Fazendo das estrelas a tiara
Mais bela e colorida pra te dar.
Na noite deste amor, perfeita e rara
Desfilam tantas luas sobre o mar.

Amor sabendo o rumo desejado
Dos sonhos desta bela adormecida
Que espera pelo príncipe encantado
No beijo salvador que traz a vida

A quem tanto esperou e nada vinha...
Princesa nessa noite serás minha!


20


Amor vai dominando esta emoção
Que aflora no meu peito e não tem hora,
Quem sabe ser feliz por certo adora
E vive plenamente uma paixão.

Batendo em descompasso o coração,
Que sabe quando a vida assim decora,
Quem vive mais sozinho, sempre implora
A mão de uma doçura em tentação.

Querendo receber o teu carinho,
Mergulho nos teus olhos, sinto o gozo,
Num beijo delicado e mais fogoso,

Acerto assim de vez, o meu caminho.
Menina; conseguiste me salvar
Mostrando um cais seguro onde aportar...


21
Amor vai dominando esta paisagem
Tornando este cenário magistral,
O vento vem trazendo uma mensagem
Dizendo deste encanto sem igual,

Roçando os teus cabelos, mansamente,
Prenúncios de delícias e delírios
Poder saber da fonte fascinante
Deixando para trás dores, martírios.

Transborda sobre antiga placidez,
Causando inundação maravilhosa,
Distante do juízo, insensatez,
Floresce a delicada e bela rosa,

Imensos turbilhões, num desatino,
Tomando em suas mãos, nosso destino...


22

Amor vai me espreitando atrás da porta,
Parece que deseja me encontrar
E quando, no meu mar, amor aporta;
Causando tempestade... Navegar?

Mas sei que muito espero o tal do amor,
Pois dessas esperanças sobrevivo.
Mesmo que traga medos ou temor,
Me encontrará de pé, decerto altivo.

Eu sei que isso é tolice, amor não poupa;
Invade numa enchente, arrasa tudo...
Não deixa no meu corpo nem a roupa;
Não quer saber de mas, porém, contudo...

Amor alucinante tempestade,
Reveste em tanta dor; felicidade!


23

Amor vai prosseguindo, assim, agônico
Mecânica ilusão não deixa rastros,
Em meio a tal cenário, arquitetônico
Caminho que aproxima vários astros.

Emplastros colocados nas feridas
Estranhas cicatrizes são formadas,
Do medo de sonhar já não duvidas,
Facetas tão diversas tatuadas.

Aladas mocidades, tempo passa.
A cruz que hoje carrego não mais pesa.
Saudades se perdendo na fumaça
Quem ama na verdade não despreza

Apenas ao sentir o fim da farsa
Na morte encontra o seu melhor comparsa...


24


Amor vai se elevando sobre a Terra,
Além do que eu pensara; imaginário
Sonho aonde esta glória assim encerra
Um canto mais audaz e necessário.

No amor a solução pra triste guerra,
Vencendo em calmaria um adversário
Tristeza para longe amor desterra
Trazendo um braço amigo e solidário.

O pobre solitário assim padece
Ao prosseguir distante de um afeto.
O mundo em solidão segue incompleto

O nada se recebe e se oferece
Aquele que não teve um grande amor
Um barco que perdeu seu condutor...


25






Amor vai se espalhando tela Terra
Em versos e palavras mais serenas,
Andando pelos vales sobe a serra
Nas praias tropicais, em luas plenas.

Amor que tanto amor em si encerra
Já sabe das vontades mais amenas
Amor vai invadindo nas antenas
Entrando em casamatas, mata a guerra.

Amor que nos domina e nos faz par.
Amor de uma amizade mais perfeita,
Amor que por amor se faz amar,

Na mãe que gera a vida, amando inteira,
Amor pela mulher com quem se deita,
Na cama ,numa rede ou numa esteira...


26



Amor vai se esvaindo na fumaça
A barca dos meus sonhos naufragada
Não resta do que fomos quase nada,
Neblina matinal maltrata, embaça.

Vontade de gritar em plena praça
Falar desta alegria anunciada,
Perdida nesta noite demarcada
Por medos. A saudade nunca passa.

Desfraldo o lenço branco, peço paz
Porém o teu sorriso sempre traz
O gosto da ironia e do sarcasmo.

Tocado pelo anseio, sei marasmo.
O telefone chama. Um desengano,
Caminho em noite vaga, tolo, insano...


27

Amor vai sem motivo e nega abrigo
A noite é mais estreita pra quem ama.
Debaixo do luar tento e prossigo
Buscando quando deito além da chama.

Em todo feriado se repete
Festejos em funéreas catedrais.
A língua se fazendo em canivete
Cortante sensação de quero mais.

Atrás de cada sonho, eu não desisto
Insisto e se puder inda repito.
Não quero mais ser Judas nem ser Cristo
Meu verso às vezes bom; noutras maldito.

A dor é sempre igual, ou forte ou fraca,
Amor sem serventia sempre empaca...


28


Amor vai tomando todo espaço
Não penso noutra coisa, vivo rito,
Sabendo do calor de teu abraço,
Não tenho mais na vida sequer conflito,
Querendo novamente teu regaço
que salva um coração que fora aflito.

Dos sonhos que tivera, noutro esboço,
Meus dias não seriam tão felizes...
Porém o teu carinho, meu colosso,
Mudou deste meu céu os seus matizes,
Agora, meu amor sem ter esforço
Não trago nem sequer mais cicatrizes.

Da solidão passada tão agreste,
A força deste amor, forte cipreste...


29


Amor vai transformando a minha vida
O rio que permite a um moinho
Além d’água que escorre em despedida
Uma energia feita de carinho.

Porém quando se encontra a rara pedra,
Ourives feito amor quer lapidar.
Na ausência o peito sofre, alma se medra
E quer mais uma vez recomeçar.

Viver os dias mansos novamente,
Felicidade em forma de emoção,
Contagiante sonho que acorrente
Os passos numa mesma direção.

Tu és; tenha a certeza, este motivo
Mantendo o sentimento sempre vivo...


30


Amor vai tropeçando, estabanado,
Sarcástica ilusão, vil covardia.
Andando o tempo inteiro, baseado
Na antiga sensação de galhardia

Eu vejo em ironia o quanto ris,
Fantasmas de mim mesmo pela sala.
Do todo que pensara ser feliz
Apenas a minha alma, vã vassala.

Na vala da esperança, uma sarjeta
Esgoto toda a sorte num momento.
Quem dera se eu pudesse, qual cometa,
Liberto receber o doce vento

Que morre bem distante desta cena,
A mortandade segue amarga, amena...


31


Amor vai vasculhando cada canto,
Não deixando escapar nem um segundo.
Seduz com suas asas, tanto encanto;
Vai entrando, entranhando, tão profundo...

Embora sobre tábuas inseguras;
Caminho temerário, não descanso...
Rompendo com vacilos, amarguras,
Perfeita comunhão eu penso, alcanço...

Amor que amenizando, tanto ajuda.
A ver os mais caminhos mais serenos.
Nas horas mais difíceis, dor miúda,
Amores com carinhos tão amenos...

Amor é sentimento forte e leve,
Às vezes tão eterno sendo breve...


32


Amor vem derramando poesia
Nas ruas e calçadas, becos bares,
Tocado pelo bem que me queria
Percorro num minuto; os sete mares.

Revigorado pela fonte imensa
Do amor que não descansa e me faz bem.
Nos lábios de quem amo; a recompensa,
Mostrando todo o bom que a vida tem.

Um passageiro alado neste sonho,
Alcança mais depressa o puro céu,
Nas asas deste amor, agora eu ponho,
Pensamento veloz feito um corcel.

Já tendo todo o amor que outrora eu quis
Eu vivo a cada dia mais feliz.


33


Amor vem devagar e me incendeia
Não deixa mais sobrar sequer defesa,
Comendo com vontade a sobremesa,
Aranha decidida faz a teia.

A lua que nos cobre sempre é cheia,
Maré que inunda e cala esta tristeza,
O bem do amor em forte correnteza
Adentra em reboliço minha veia.

Na cheia destes rios piracema,
Deixando para trás qualquer problema
Nas mãos da timoneira poesia,

O barco de meus sonhos se repete
Sabendo navegar já se acomete
De tudo o que mais sinto; o que eu queria


34


Amor vem renovando a mocidade,
Na juventude eterna de minha alma.
Portando tão somente a santa calma,
Estende os braços mansos, liberdade.

O gosto da alegria agora invade,
Reconhecendo o solo como a palma
Da mão que se mostrando em igualdade
Permite todo o sonho que me acalma.

Sem traumas vou seguindo cada passo
Da doce fantasia que busquei,
Dançando mesmo ritmo, no compasso

Das luzes espalhadas no ambiente,
Amor transforma tudo, de repente...
Mudando toda a sorte que encontrei.


35

Amor vence com glória uma batalha
Aonde se persegue a liberdade,
Rompendo da tristeza a firme grade,
Felicidade intensa, logo espalha.

Andando sobre o fio da navalha,
A força de um amor quando me invade
É tanta que jamais eu vi quem há de
Negar o seu poder, que nunca falha.

Atalhos para os Céus, tão luminosos,
Ajudam a saber maravilhosos
Caminhos que permitem que se veja

O brilho do moleque sedutor,
Nas setas tão certeiras deste amor,
Sublime perfeição que se deseja.


36


Amor vencendo a tudo, triunfal
Desvenda tantas lendas no caminho.
O quanto eu te desejo sensual,
Acende em explosão e aquece o ninho.

No canto que se mostra fascinante,
Encantos que eu coleto vida afora,
A lua sorridente neste instante
Com raios prateados nos decora.

Na doce melodia, os madrigais
Convidam para o belo amanhecer.
Desejo e cada vez te quero mais,
Entranhas em perfume, todo o ser.

Servindo ao grande amor, não me interessa
Se a vida corre mansa ou vai depressa...


37


Amor venha correndo aqui, depressa
Que tudo o que fizermos vale a pena.
Quebranto não destrói a bela cena
Acentuando a festa que começa;

O bom é que ao tomar nossa cabeça
Quem sabe esta delícia que envenena
Além do que a vontade concatena
Permite a fantasia que se teça

Com fartas transparências de organdi
Visando o que melhor encontro em ti
A cor de nossos olhos se mistura

E penso na espelhar transmudação
Do amor que quando vem- inundação,
Numa poção fantástica – ternura.


38


Amor venha correndo
Que o tempo não espera
A vida sendo fera
O sonho mais horrendo
Aos poucos me provendo
Do quanto mais pudera
Vencendo esta quimera
O tempo não desvendo.
Ausento do meu sonho
E assim eu me proponho
Apenas ter a paz
E nisto me convenço
Do sonho audaz e imenso
Que a sorte agora traz.


39

Amor verdadeiro
Vontade que chega
Olhar feiticeiro
Beleza se entrega

Mudando caminho
Vivendo contigo
Não sigo sozinho
Encontro um abrigo

Amor sem pudores
De noite um sucesso
Nos nossos suores
Desejos confesso

Te quero pra mim
Meu amor sem fim...


40

Amor voava livre, passarinho...
Em busca de quem fosse mais ligeiro,
O canto que esperava ser sozinho,
Depois de tanto tempo em cativeiro...

Chegaste num momento mais azado,
O vôo desse pássaro, tão lento,
Depois de se sentir de novo asado
Liberto das anilhas do tormento...

Não foi um passatempo que tiveste?
Procura suas asas onde estão?
Da plena fantasia se reveste,
As penas espalhadas pelo chão...

Sem penas não consegue mais voar,
Apenas tantas penas para amar!


41


Amor, por que partiste, diga enfim,
Não quero carregar esta mortalha.
O corte aprofundando da navalha
Adentra o coração, traduz meu fim...

Quem dera se inda houvesse algum jardim,
Porém a noite imensa já se espalha
E enredado nas tramas desta malha
Acendo sem querer um estopim.

Na lava incandescente em que mergulho
Distante do teu mar, ouço o marulho
Que emites, procelária divindade...

E a morte anunciada dos meus sonhos,
Deitando sobre mim braços medonhos
Cegando mesmo em plena claridade...


42


Amor, velho jazigo da esperança,
Ferrenhos inimigos que legaste,
Causando ao coração dor e desgaste,
Negando sem remédio a confiança.

Quisera algum momento em temperança,
Mas logo destruíste e provocaste
A queda dos castelos que criaste,
Enquanto este deserto; vil, avança.

Melíferas colméias são amaras,
Bromélias e crisântemos secaram,
Os braços em falseio desamparam,

E enquanto a sordidez; rude, declaras,
Agrestes as estradas que percorro,
Nas sombras do que fomos; meu socorro...


43


Amor, no coração faz a morada,
Cevando em meu jardim, divinas rosas,
Tomando deste céu a luz dourada
Envolta em luas claras radiosas.

A vida, nos teus braços, renovada,
Reflete fantasias maviosas.
Sabendo transformar em liberdade
O sonho de viver, eternidade.

O tempo que transcorre, calmo e lento,
Em tramas que se querem, se desejam.
Trazendo para amantes, tanto alento,

Que os dias tão pacíficos, pois, sejam.
Rondando nossos sonhos, num momento,
Permite que as saídas se prevejam.


44

Amores, sofrimentos ,risos, gozos...
Em dias tão difíceis, solidão...
Noutros momentos somos andrajosos,
Mendigos que procuram por perdão...

Os dias sempre assim, tempestuosos
Maltratam um faminto coração
Que busca em mil amores belicosos
Caminhos bem distintos, solução.

Na dor da perda eterna sem ter sido,
Na dor de se saber somente resto.
Assim talvez, amor já não empresto

E sinto-me, por isso enfim vencido
Da dor deste desejo que é fatal;
A vida se passando... eu... filial...

45


Amores? Foram tantos que nem sei
Forrando todo o chão de folhas mortas.
Outonos que vivi, tantos passei
Abrindo e mal fechando velhas portas.

Das balas encontradas escapei.
As bocas que beijara; semi-tortas;
Nos mares tão distantes naufraguei,
Nos cais aonde, livre, não aportas.

Mas cortas os meus sonhos mais audazes
Mostrando em cada noite, luas, fases
E fazes deste sonho que eu quisera

Amor que se perdeu há tanto tempo.
Na boca desdentada da pantera,
Amar fora somente passatempo...


46

Amores do passado no presente
Refazem esperanças benfazejas.
Por mais que tanto tempo esteja ausente
A boca ainda a mesma que desejas.

Amar-te, com certeza, novamente,
No céu que em brilho farto inda azulejas.
O bem querer se faz eternamente
Nos gozos onde em festa relampejas.

Assim pensei querida, ao te encontrar,
Porém tu desmentiste as previsões,
Envolta por carinhos, tentações,

Não queres mais me beijo. O que falar?
Pois amor do passado sem prazer,
Não pode; no presente reviver...


47

Amores em cristais rememorados,
Nas ânsias dos desejos mais altivos.
Abraços de casais enamorados,
Mantendo os sentimentos sempre vivos...

Sem nuvens estes céus comemorando,
A noite que se criva em diamantes.
Assim como os casais, vou namorando,
Aquela que sonhei, sonho abrasante.

Deitada no meu colo, tão serena,
Desnuda e tão dolente, minha amada.
A noite de vazia fica plena,
A vida fica lúbrica, encantada;

Amada, como é bom estar contigo,
Amor que é sem juízo e sem castigo...


48


Amores eu guardei num mausoléu
Distante de quem fora antiga fonte
Dos sonhos que buscara, alçando ao céu,
Perdendo de repente um horizonte.

Os dias vão passando, vou ao léu,
Procuro com a vida alguma ponte,
Meu barco naufragado, de papel...
Espero uma manhã que logo aponte

E traga uma esperança que me leve.
Cansado de viver só da saudade,
Algum sorriso esboço, a luz se atreve

E deixa perceber que uma amizade
Trará ao fim de tudo, a claridade
Ao derreter enfim a fria neve...


49

Amores percorrendo belos astros
Num clímax absoluto- fantasia...
À noite procurando por teus rastros
Encontro luminoso e intenso dia.

Vagando pelo espaço em alabastros
Em alva tempestade, esta magia,
Erguendo da ilusão divinos mastros,
Além do que sonhara ou merecia

Invado os teus portais, adentro a sala,
Encontro-te deitada nos lençóis
Percebo então, razão de tantos sóis

E nesta magnitude que avassala
Entrego-me ao desejo sacrossanto,
Cubro-te com meu corpo feito em manto...


50


Amores percorrendo
Em sonhos rituais
E quero sempre mais
Do todo onde me emendo
Invisto neste adendo
Invado os temporais
E bebo em dias tais
Angústias que desvendo.
Esbarro no vazio
E sei do quanto fio
Meu passo em tal momento.
Diverso do que fora
A sorte sonhadora
Expõe quanto inda tento.



51

Amores que engalano? Uns arremedos
Jogados sem destino contra o vento.
O fogo da tristeza queima lento
E trama com certeza outros enredos...

Meus olhos vão vagando em mares ledos
Tentando disfarçar o sofrimento.
Em falsas emoções por vezes tento
Negar os meus temores, tantos medos...

Esvaído em fumaças de cigarros
Tomado tão somente por escarros
Meu dia não trará felicidade.

O drama interminável que me invade,
Roubando toda a cena não se esgota.
Alegria? Distante e tão remota...


52





Amores que me trazem seus segredos
São rios que caminham sem mistério.
A vida se tornou um refrigério
Á volta destes belos arvoredos...

Não guarde em teu peito tantos medos,
Apenas não se entregue sem critério,
Amor quando pretende ser mais sério,
Não teme nem a morte nem degredos...

Aceita as tempestades e mudanças
Depois de tudo certo das bonanças
Refaz os velhos ritos sem temor.

Depois de tantas lutas e disfarces
O mundo te permite ter mil faces.
O mundo te permite, não o amor!


53

Amores que não pesem feito cruzes
Durante a nossa andança pela Terra,
Enquanto a fantasia se descerra
Eu tento mergulhar em tuas luzes.
O olhar que em esperanças, amor cerra
Ao sonho mais sublime, tu conduzes.

Viver a plenitude de um momento
Sentir a ronda mansa da alegria.
Além do que pressinto ou mesmo invento,
O tempo de sonhar, vem e irradia,
Tomando em tanto brilho o pensamento,
Tornando a nossa vida menos fria.

E assim dois caminheiros da ventura,
Percorrem a amplidão feita em brandura...


54

Amores que se vão são folhas mortas,
Esquecidas no pátio, triste outono...
As luas que procuro morrem tortas,
A noite que me invade me traz sono...

Os sonhos que me destes, logo abortas,
Não resta-me senão esse abandono...
Venenos que produzes, cedo exportas,
As urzes do caminho, já detono...

As horas que se passam vou aquém
Dos muros dos lamentos que eu herdei.
Nos montes da esperança sem ninguém.

Tristezas retornando, ficarei...
Lá longe não escuto apito e trem.
És luz que esparramaste nesta grei.



55



Amores que semeias já granaram
No peito de quem sonha ser feliz.
As horas, nossos dias, já ganharam
O brilho que sonhara e sempre quis...

Amada não se cale, estou aqui.
Espero teu amor, fico na espreita.
De tantos sentimentos que vivi,
Apenas nosso amor, vida endireita.

Eu quero a primavera do sorriso
Que sabes quanto encanta o peito meu.
A volta dos teus pés ao paraíso,
Que em tua ausência, aos poucos, se perdeu...

Mas sei que não demoram meus desejos,
Eu sinto a primavera dos teus beijos...



56

Amores que solares nos dominam,
Mergulhos em nós mesmos, paz e glória
Palavras tão sensíveis alucinam
E mudam num momento nossa história

Nas horas mais gostosas desatinam
E bebem desta fonte que em vanglória
Decerto em maravilha descortinam
Trazendo em sonhos livres a vitória

Não deixe que se acabe a fantasia
Na orquestra dos problemas desta vida.
Vagando noite afora em alegria,

Ouvindo a sinfonia sensual
Achando de uma vez, nossa saída
No amor que revigora, sem igual...


57



Amores régios, sonhos desfiguro,
Mergulho no teu cárcere, marujo...
Marulhos me profanam, transfiguro.
Procuro minha cura, sou sabujo...

Rígidas cútis, mármore, Carrara.
Tertúlias e assembléias que freqüento;
Decidem olvidar a vida cara.
Feridas conferindo meu ungüento...

Repúdios lançarei lanças, adagas...
Distantes dos amores outras plagas...
Castiços olhos, ledos meus enganos...

Cobiço os óleos, medos e mortalhas,
As naves que navego são navalhas.
As travas que retiro, negam planos...


58


Amores são procuras tão intensas,
Na busca de repousos encontrar,
Precisam de coragens mais imensas,
São sedas que não podem se amassar.

Amores como véus que são rasgados
Vivendo nesta pura fantasia
Olhares com destinos bem tramados
Em todas as delícias dia a dia.

Amores explosivos em batalhas
Nas guerras divinais em tais embates
Acordam nunca param negam falhas
No fim mansas tréguas nos combates.

Já fazem tanto cio se encontrar,
Dos bichos, em plena arca a esperar!


59

Amores são tão raros quais bromélias
São poucas as floragens, mas viçosas...
Na durabilidade das camélias,
No fresco aroma, lembro-me de rosas...

Nos brilhos e belezas que te espelhas,
Encontro essas canções voluptuosas.
Nas dores que me trazes, tristes, velhas,
As noites-pesadelos, horrorosas...

Amor que traz beleza duma orquídea
Ao mesmo tempo dói, e me envenena...
No bote que prepara a dor ofídia,

Tantas vezes solidão, minha quimera...
Mesmo com suas tramas vale a pena,
Enfim, domesticar a doce fera!


60
Amores se mostrando sempre sábios
Não deixam que os sorrisos já se percam,
No rumo necessário em astrolábios
De toda a garantia sempre acercam,

Secando quaisquer mágoas que vierem,
Encanto sem igual se prometendo.
Do jeito e da maneira que quiserem
Em sonhos, solidões se convertendo.

Minha alma que em amor se desfalece
Encontra nos teus braços, seu abrigo,
Divina catedral entregue à prece
Estampa todo o amor que inda persigo.

Não vejo nossos rumos mais perdidos,
No amor que roça assim nossos sentidos...


61



Amores sem amores são terríveis,
São bárbaros destinos, mal secreto.
Os olhos sem amor são impassíveis.
O tempo vai passando tão discreto.

As horas solitárias são bizarras,
O sol vai escondido, tão nublado.
Quimeras demonstrando fortes garras,
O tempo de viver, acorrentado...

Eu sinto dilaceram-se meus sonhos,
Depredam meu futuro, velhas chagas.
Quem dera se tivessem mais risonhos,
Os mares que se encrespam, fortes vagas...

Amiga, pois eu sinto a mão mais forte,
Apoio com o qual encaro a morte!

62



Amores sem pecado e sem juízo
Depressa consumindo feito fogo
Transporta de repente ao paraíso
E nos mostra a delícia deste jogo....

Cada vez mais paixão já nos consome
E boca contra boca nos delira...
De tudo que tu tens eu tenho fome,
És fogo e com certeza sou a pira....

Eu quero me queimar em tua brasa
Sou chama e tu és o meu pavio...
Teu corpo desfrutando, estou em casa.
Não perco um só segundo de teu cio...

Portanto minha amada, por favor,
Vivamos os delírios deste amor!


63

Amores tão distantes do passado,
Em sonhos esquecidos, melodias...
Vivendo esta emoção de estar ao lado
Desta mulher, delícias, fantasias.

Percebo o quanto estou apaixonado
E quanto me envolvi, tuas magias...
Nas dores e tristezas, velhos Fados,
Ressurjo nos seus passos, alegrias...

Sentir suave toque, tua boca,
As mãos que se percorrem, maciez.
A voz enamorada fica rouca

E sinto-me feliz por ser só teu.
Amar-te é renascer toda vez
Que o teu amor reflete-se no meu...

64


Amores tão silvestres quão vorazes
Vivazes me transformam totalmente
Se mente não remete ao que me trazes
Nas fases mais difíceis sem serpente...

Não quero pantomima quero mimo,
Não quero a solidão, sim solidez.
Desejo tanto amor que em ti estimo
E rimo meu amor por sua vez...

Nos astros constelares calafrios
Vadios os sentidos perdem ar
Amar demais desvia nossos rios
Que esquecem de correr para outro mar...

Não quero teus amores mais serenos,
Recheie nosso caso com venenos...


65

Amores trazem mansos, loucos cios,
Cascatas cristalinas, lenços brancos,
Nas ancas os desejos mais vadios,
Sacanas, os sorrisos quase francos.

Remansos; vou alçando em pensamento
Momentos em delícia, seios fartos.
Tramamos delicado sentimento
Promessa renascendo em novos partos.

À parte dos meus erros, sigo em frente,
Caçando estas pegadas que encontrei,
O mundo vai mudando e, de repente,
Nos sonhos- teu castelo – eu viro rei.

Rastelos, constelares, lumes, cores,
Aramos os canteiros, colho flores...


66


Amores vagabundos, periféricos,
Unindo os frios braços já se aquecem
Os carros buzinando são histéricos
Instintos comandantes se obedecem.
Distantes dos amores mais homéricos,
Mas ricos em desejos vão e tecem

Diamantina opereta feita em gozo,
Bebendo das sarjetas, aguardentes,
Emanam no querer fantasioso
As pedras das calçadas, quais dementes
As pedras de crack, mundo caprichoso
Cravando nos cadáveres seus dentes.

Vagando sem destino, tantas ruas,
Premeditam viagens, vão às luas...


67





Amores vagabundos
São párias sentimentos
Tomando os pensamentos
Em dias nauseabundos
Os olhos mais profundos
Vagando alheamentos
Seguindo contra os ventos
Invisto em novos mundos.
Acasos entre quedas
E quando assim me enredas
A noite se aproxima
Regendo a tempestade
Aonde o nada brade
Moldando atroz o clima.



68

Amores vagos, cegos cavernosos...
Desértica miragem, num oásis...
Serpenteiam venais, vis, venenosos...
Destroem minhas tolas, frágeis bases.

Segredos que abortei, miraculosos,
A lua se transmuda em tantas fases...
Amores violentos, belicosos...
Sem nada do que pedes, nada fazes,

Que pretendes com tantas falsidades?
Emblemaste vertigens e polêmicas.
Não demonstraste tuas qualidades...

Virtudes escondeste, eram anêmicas.
Amores que me deste, restam trapos...
Das camas que dormimos, nem fiapos...


69


Amores vêm e vão; em piracemas,
Subindo as cachoeiras da esperança.
Felicidade e dor a vida alcança
Resolve enquanto cria mais problemas.

Enquanto tudo vives, nada temas,
Apenas se entregar à contradança;
Por mais que a noite chegue calma e mansa,
Amor em luz diversa muda os temas.

Enquanto o quanto tenho for mais forte,
Participemos logo desta festa.
Depois, a vida chega e traz o corte

Do todo que vivemos, pouco resta.
Mergulhe então sabendo disso tudo.
Ao mesmo tempo sonho e desiludo..


70






Amores? Quando os levo
Ainda dentro em mim,
As flores do jardim
Nesta ilusão eu cevo
E sei do quanto é sevo
E nisto desde o fim
Marcando o medo enfim,
Ao longe não me atrevo.
E sinto as desventuras
Aonde me asseguras
Do medo que virá.
Num virtual engano
Aos poucos se me dano
Percebo-o desde já.



71


Amortalhado amor, pregando peça
Num mambo o meu molambo coração
Às vezes devagar, noutra se apressa
E traz por resultado a negação.

Do mar que outrora fora serenado,
Apenas tempestade, o que restou.
Vibrando o sonho um dia desfraldado,
Marcado por insânia ainda estou,

Da lua se esmerando em raios claros,
A maresia faz-se mais presente.
Momentos mais felizes são tão raros,
Tristeza normalmente é o que se sente.

Assim, entre retalhos e cetins,
Eu tento ainda crer nos teus jardins.


72


Amortalhado sonho que carrego,
Vestindo a falsa luz de um vaga-lume,
Em meio à escuridão, qual fora um cego,
A solidão retorna, por costume.

Aos sonhos e delírios, eu me entrego,
Canteiro se perdendo sem perfume,
Por mares tão distantes, se navego,
A morte num naufrágio, num queixume...

Areia sob os pés é movediça,
Apenas um abrolho, a vida viça,
Palhaço em picadeiros infinitos...

Serpentes vão lambendo as minhas pernas,
As dores se tornando, assim, eternas,
Ninguém ouve os lamentos, ledos gritos...


73

Anárquicas carícias, fogo e lava,
Presença delicada e tão fugaz
Molejo sedutor quando se faz
Minha alma se tornando tua escrava.

Há tempos que teu corpo me excitava
Formando um maremoto enquanto traz
A chama inebriante que; voraz,
Aos poucos toda a cena assim tomava.

E o verbo se fez luz em nossa cama,
E quando este desejo se proclama
O tanto que me dás; sagra infinitos.

Apaixonadamente; sou tão teu
Que a vida sem te ter já se perdeu
Em meio a tempestades, ecos, gritos...



74


Ancoro o coração no atracadouro
Que é feito nos teus braços tão serenos,
Teus olhos, dois faróis, claros morenos,
Promessa de um carinho duradouro.

Enquanto nos teus sóis eu já me douro
Percebo da alegria seus acenos,
Encontro estes momentos belos, plenos,
Certeza de saber raro tesouro.

Teu canto, uma sirena que extasia,
Tramando a perfeição na poesia
Divina, sensual e soberana.

As ondas deste mar, sertão em flor,
Doces ritos magníficos de um amor
Que, intenso nos domina e me engalana...


75


Andamos passo a passo, vida afora,
Compasso de emoções harmonioso.
A sorte tão benquista não demora
E traz em nossa noite imenso gozo.

Dançando em minha cama, revigora
O gosto de viver, corpo fogoso,
Se chove ou se não chove mais lá fora,
Importa que este clima é mais gostoso..

Acende o coração que, sensual,
Batendo em descompasso faz loucura,
Calores num desejo tropical

De ter a tua boca junto a minha,
Quem sabe a solidão então se cura,
E a chuva venha sempre bem mansinha...



76


Andamos pelas ruas, espantalhos,
Tão rotos quanto imundos nossos trajes.
Nos passos dois cadáveres mais falhos
Qual fossemos a todos mil ultrajes.

Esgotos ambulantes, imbecis,
Amigos tão leais e vagabundos.
Horrendos, bestiais, canalhas, vis.
Partícipes de sonhos mais imundos.

Rasgamos nossas peles, nos expomos.
Mulheres que encontramos, meretrizes,
Da vida em podridão que agora somos,
Deixando para trás as cicatrizes

Jogados pelas ruas, simples párias,
Nas pontas das navalhas temerárias..

77

Andamos solitários pela vida...
Nos nossos pensamentos, sem ninguém
Que possa acompanhar nossa partida
Ao mundo que talvez ou mal ou bem

Traga-nos toda sorte decidida.
Depois da velha curva, o quê que tem?
Será porta de entrada ou despedida?
Só sei que a solidão, decerto, vem...

Quando esse sentimento é solidário,
Encontra noutro ser um companheiro
O que sempre se fora temerário

Passa a ser bem mais fácil. Na verdade
Juntando dois espelhos num inteiro,
Amigo; já veremos claridade...


78


Andamos solitários
Vencendo os temporais
E nestes outros tais
Ditames de corsários
E tanto necessários
Momentos descontrais
Vagando e sei que trais
Os sonhos solidários
Marcando em tom venal
A sorte noutro astral
Pudesse caminhar
E sei que nada disso
Traduz onde eu cobiço
Além de algum luar.


79

Andamos sem saber
Aonde poderia
Haver um novo dia
Ou claro amanhecer
A sorte a se perder
Gerando esta agonia
Invés desta alegria,
Eu bebo o desprazer
E o canto se presume
Além do vago ardume
Da sorte enclausurada
Depois de certo impasse
O todo que se trace
Somente dita o nada.



80


Andando em branca areia, beijo o mar
Persigo uma sereia encantadora
Um canto extasiante a me encontrar
Palavra que se faz reveladora.
Nadando imensa praia devagar
Preciso te encontrar, sereia, agora,

Vestida de euforia em raro tom
Cantando a mais sonora melodia
Sereia de encantar conhece o dom
E doma o coração com tal magia
Que a vida, reconhece que isto é bom
E mais do que pensei que merecia...

Mergulho sem pensar atrás de ti,
Eternidade, então, eu descobri...


81


Andando lado a lado se pressente
Sabores preciosos dia-a-dia
Olhando para a lua, de repente,
Percebo imensa força em alegria
O quanto que se tem frequentemente
Traduz em nossa vida a fantasia.

Porém a solidão devora tudo,
Não deixa restar nada do que somos,
Calando o coração, eu fico mudo,
A fruta que não nega os doces gomos
Mostrando este caminho em que me iludo
Esconde na verdade o que já fomos.

Mas quando uma amizade se faz plena,
A vida vai em paz, segue serena...


82

Andando o tempo inteiro aqui, comigo,
Aquele que é cordeiro e salvador,
Não tenho mais temor, venço o perigo,
Pois sinto o derradeiro e santo amor.

É bom poder dizer: divino amigo,
Estou contigo, inteiro ao teu dispor
Felicidade plena que eu persigo
Eu canto tão somente em teu louvor.

Quem veio pra ser Rei, se deu aos pobres,
Vendido por alguns, míseros cobres,
Sofreu e padeceu terror cruel,

Depois de ser entregue e torturado,
Em um momento místico e sagrado
Ergueu-se, se elevando, alçou o Céu...



83


Andando par a par com a emoção
Almejo um canto livre que permita
À vida a glória plena na canção
Ao lapidar amor, rara pepita.

Acordes de insensato coração
Em som que uma alegria já repita
Causando a tão sublime sensação
Do brilho que um olhar manso reflita.

Caminho libertário feito em glória
Nos louros benfazejos da vitória
Um rastro de beleza e claridade.

Pois Deus, em Sua imagem soberana
Ao vir aqui, conosco em forma humana
Ensinou-nos amar em amizade...


84

Andando passo a passo, estou contigo
E venço um medo arcaico, envelhecido.
Toando a fantasia num sentido
Diverso do que fora o que persigo,

Dizendo o que deveras nunca digo
Eu vejo o meu futuro descabido.
Sorriso por ventura desabrido
Não mostra o quanto eu quero, tão antigo.

Partimos para o nada, o tempo inteiro,
Apenas não vou ser mais corriqueiro,
Querendo a tão sublime variedade

Não sentes o que eu sinto e nem percebes,
No jeito como miras estas sebes,
Recebo deste olhar, felicidade.


85


Andando pelas ruas da cidade
Encontro um descaminho a cada esquina,
Nos bêbados alguma sanidade
Bem mais do que este amor que me domina,

A par do que buscara na verdade
O medo de viver cedo alucina,
Sarjetas espelhando a falsidade
Formada nos olhares da menina.

Nas danças, contradanças, contra-sensos,
Em conta-gotas bebo este prazer.
Morrendo em dias frios, tristes, tensos,

Retalhos; aprendi a recolher.
Quem sabe alguma amiga dê a mão
Mudando, de repente, este refrão...

86


Andando pelas ruas e bordéis
Bordando mil estrelas neste chão,
Ao mesmo tempo bebo os carrosséis
De nuvens passeando na amplidão.

Querendo com certeza doces méis
Eu vejo tão somente a solidão,
Meus olhos ao passado são fiéis
Fiando com tristeza a negação.

Apenas o regalo de poder
Sentir algum perfume que persiste,
Do quanto te adorei, agora triste

Não vejo mais motivos pra viver.
Do jeito que se quer a fantasia,
Sonego, temerário, a poesia...



87


Andando pelas ruas sem ninguém,
Os pés já bem cansados do caminho.
Vivendo sem ter rumo e tão sozinho,
Espero ao fim da vida um novo bem...

Bem sei que talvez nunca mais alguém
Chegará numa noite, de mansinho,
Trazendo com seus braços, um carinho.
Mostrando quanto bem que a vida tem...

As lágrimas que choro, nunca secam,
As mãos amaldiçoam tanto e pecam
Ofendendo o Senhor e meu destino...

Decerto nada tenho em minha vida,
A não ser tão somente despedida
E os versos, onde sempre me alucino...


88


Andando pelas ruas, vilarejos,
Encontro com teus olhos dispersivos...
Asfáltica saudade, dos teus beijos,
Delícias que se foram... Corrosivos,

Mortais e virulentos... Nos lampejos
Mais brilhantes, cortavam... Decisivos
Momentos onde tinhas meus desejos
Embutidos nos passos teus... Passivos,

Meus olhos que te viram prosseguir
Jamais conseguirão te esquecer, Lara...
A fera que explodia não se cala...

Andando pelas ruas, tua sala,
Pergunto-me: Por que me foste cara?
Se nunca foste minha, te perdi?


89

Andando pelas sendas arenosas
A cada novo passo me acenando,
Embora em cada curva perigosa,
Em loucas sensações, já me incitando,

Amor numa alma pura e generosa,
Aos poucos vai mais forte rebrilhando,
A natureza segue caprichosa
Na chama de um amor vai nos guiando.

No passo deste amor, ando ligeiro,
De todos os meus sonhos, o primeiro.
Mudando logo o rumo desta história.

Nas lutas mais cruéis o amor não falha,
E vence as intempéries, na batalha
Apenas num amor se encontra a glória

90

Andando pelas sendas
Diversas da ilusão
Os dias sei que vão
Aquém do que desvendas
E quando a luz acendas
Marcando imprecisão
Nos olhos desde então
As sortes ditam lendas
Matando a fantasia
Em pura hipocrisia
Já não percebo a paz,
E o quanto poderia
Viver esta alegria
Agora tanto faz.



91


Andando pelas sendas em ais convulsos
Discursos são vazios nada dizem,
Vibrando em sentimentos mais avulsos
Não temos mais amores que divisem.

Meus olhos tão vazios entristecem
E tecem esperanças desse nada
Aos poucos, tanta dor os desmerecem
E a vida vai passando abalroada.

Deitado em minha cama sem ninguém
Vadio coração vive em tocaia.
Mas sabe que morrendo sem ter bem,
Afoga sem sereia em plena praia.

Depois de tantos anos aprendi.
Amiga como é bom te ter aqui!


92



Andando pelos bares outra vez
Dormindo em plena praça, embriagado.
Sorrindo da total insensatez
Apenas o vazio andando ao lado.

Às vezes me acordando em bofetões
Quem sabe solavancos impropérios,
Que danem-se, liberto e sem patrões
Não faço sequer parte dos impérios

Daqueles que me olhando de viés
Ou nojo, viram logo os limpos rostos.
As marcas dos grilhões presos aos pés,
Os medos se mostrando mais expostos.

Mal sabem estes donos da cidade
Que assim eu conheci felicidade...


93



Andando pelos cais em portos, praias.
Nas praças e nos bares, pobres putas.
Levantam e demonstram sob as saias
Em sensações vazias, tensas lutas.

Viver desta desdita dita amor
Rolar em noites, álcool, cocaína.
Vendida a carne em pútrido vigor
Nos olhos estampado: uma menina.

Resgates necessários, caos, michês,
Travecos, quengas, models, companhia
Envoltas em mistérios e clichês

A faca, o riso, o gozo disfarçado.
Depois, ao gargalhar falsa alegria,
O gosto deste beijo ensangüentado...


94


Andando sem destino mar e lua.
Bebendo em cada fonte de ilusão
Salgando uma esperança bem mais crua
Envolto em loucas asas da paixão,

Minha alma te procura e assim flutua,
Batendo sem juízo, o coração,
Querendo tua pele, exposta e nua
Amando em nossa cama, rede ou chão.

Portos que encontrei; felicidade.
Nos meus sonhos vermelhos de prazer
A busca manifesta em claridade

Vestido de luar, amor e mar.
Do corpo emoldurado quero ter
O sorriso e a alegria: te encontrar...


95


Andando por estrada pedregosa
E dura, onde encontrara as tuas marcas
Deixadas num caminho, olor de rosa
Mostrando que, na vida, há flores parcas.

Bem sabes quanto é muito dolorosa
A sorte de quem perde vez nas arcas
Diluvianas sempre tenebrosas.
Quero ser timoneiro destas barcas.

Seguindo o teu caminho com cuidado
De quem, na vida, encontra tal tesouro
E sabe como deve ser guardado.

Tu és a raridade esmeraldina
Esculpida em cinzel banhado em ouro,
Por Deus, em carne humana, bela e fina...


96

Andando por caminhos mais desertos,
Meus olhos tão cansados nem olhavam,
Dos passos que seguiam; bem incertos,
Romeiros da esperança nem paravam.
Dos medos que são sonhos descobertos,
Nem mesmo um só segundo; perguntavam

Por onde caminhavam mais fagueiras
Além de todo a serra, monte e prado,
As brisas que bem sei são forasteiras,
Passando pelo amor, monte elevado
Nas selvas de carvalhos e palmeiras,
O céu que não querias estrelado...

Falavas deste canto em amizade,
Resíduo que matou felicidade...



97


Andando pelos campos mais marcados
Por passos que me dão ansiedade,
Vivendo nossos sonhos malfadados,
Aguardo essas agruras da saudade...

O canto da quimera em meu receio,
Às vezes se mostrando bem mais belo.
Amor que esconde amores em seu seio
Os Amores que amor por ti, revelo.

Não sinto mais o medo nem a mágoa
Sabendo que te tenho mais por perto,
Os olhos não derramam pingo d’água
Parecem que se secam, num deserto...

Nos campos dos amores, velhas dores,
Morrendo nos jardins, em nossas flores...


98


Andando pelos reinos já faz tempo,
Ao lado de mulher maravilhosa.
Achando no caminho um contratempo,
Ofereceu irmã, bela e formosa,
Ao rei que com perícia, em passatempo,
Desfruta da mulher enquanto goza.

Depois de ter passado mais uns dias,
Em outro reino mostra a mesma sanha
Sabendo que teria em regalias
Outra viagem feita onde só ganha.
Porém um anjo vendo estas folias,
Ao rei anunciou esta artimanha...

Mentira? Não senhor! Meia verdade.
Somente têm igual paternidade...


99

Andando sem teus braços, me perdendo...
As noites se transformam em suplícios...
O tempo vai passando e, nada tendo,
Os dias, verdadeiros precipícios...

Não vejo nada além duma ilusão
Marcada dentro d’alma a ferro e fogo.
Arrebenta sem demora o coração!
E tudo se perdendo... Volta logo!

Quem dera se soubesses como estou,
Vasculho teu sorriso em cada canto.
Se fomos, quase nada me restou...
Procuro ter na vida, um novo encanto!

À noite, tanto tempo, sem revê-la
Vou como quem perdeu a sua estrela..


2700


Andando sem destino por aí
Aberto o coração, sem documento.
O sonho como guia, num momento
Percebo que cheguei, enfim a ti.

Loucuras e prazeres; conheci
Também colecionei tanto tormento,
Poeira finalmente toma assento
E encontro, nos sonhos, concebi.

Vivendo tão somente um grande amor,
Não quero, num repente, novo rumo,
Os erros cometidos, eu assumo,

Mas sei que sou, enfim, um vencedor,
Sem tréguas nem descanso hoje eu sei
Que tenho em ti aquilo que sonhei...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
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