Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 013

 
Tags:  Marcos Loures Sonetos  
 
1201


Agosto no meu peito, inverno que se alonga.
Quem dera a primavera... agora é muito tarde...
A espera se mostrou inútil, tola e longa
O frio na janela, a neve que cai, arde.

O gris que vem tomando, aos poucos meus cabelos
Refletem este céu, nublando uma esperança.
Como haverá florada? Intensos são os gelos.
O fim que se aproxima, o meu olhar alcança.

Apenas solidão. Única companhia.
Mergulho no passado e vejo o teu retrato...
Verdugo da ilusão. Arranco a fantasia

E exponho o coração. Ourives às avessas
Destrói assim a perla. A pedra que maltrato,
Negando o meu setembro, estúpidas promessas...



1202


Agraciado em vida pela sorte
De ter o paraíso descoberto
Antes que me beijasse a fria morte
Ficando do teu lado, sempre perto.

O coração deveras vai aberto
Trazendo para a vida tal suporte
Aguando em esperanças um deserto,
Cicatrizando em paz profundo corte.

Risonhos os meus dias ao teu lado,
Na verdadeira luz que sempre guia
Um peito que se entrega, enamorado,

Nos braços desta amada fantasia
Que traz o gosto doce do melado
Bebido em tua boca a cada dia...



1203


Agradecer por toda essa amizade
Que embora se fazendo mais distante
Permite que se entende por constante
Um lume tão suave que me invade.

Não tendo um descaminho que degrade
Os sonhos deste encanto que agigante,
Seguindo sem pensar vou adiante
Na busca da sutil felicidade...

Adornas os meus passos com firmeza,
Realizando em paz e com destreza
O que se permitiu ser permanente.

Na base disto tudo sempre estás
E enquanto tu derramas farta paz,
O coração batendo mais contente...



1204


Agridoce sentimento
Que nos doma enquanto guia
Transportando o pensamento
Beija a boca da alegria

Coração; não apascento,
Nem pretendo calmaria,
“Tua voz na voz do vento”,
Tanto apraz quanto vicia.

Moça bela, venha logo,
Quero ser teu namorado,
A tristeza, em ti afogo,

Quero estar sempre a teu lado,
Tanto amor, querida eu rogo,
Eu estou apaixonado!


1205




Agruras esquecidas num recanto
Deixadas para trás, sigo adiante,
Usando a poesia de teu canto,
Nesta sonoridade que agigante

Uma alma acostumada com quebranto,
Bebendo de uma Angústia: Inferno em Dante,
Na falsa proteção de um amianto,
Jogado enfim às traças numa estante.

Perenidade é fútil fantasia,
E quando tu derramas a alegria
Percebo que talvez eu possa ter

A mão acolhedora e carinhosa,
Tocando esta minha alma pedregosa
Moldando um novo tempo de prazer...




1206


Aguando cada flor dentro de mim
Com gotas de esperança eu passo a crer
Que o tempo tão distante de onde vim
Talvez inda me trague algum prazer.

A boca da ilusão é carmesim,
E nela tanta coisa por dizer
Amor vai gotejando até o fim
Até que uma alegria eu possa ter...

Por mais que uma tristeza inda resista,
Deixando que se aflore uma emoção,
E nessa fantasia tanto insista

Percebo que terei como colheita
Os gozos da sublime perfeição


1207

Aguando em emoções o meu canteiro
Percebo o raro sol que já me toma,
Além do brilho manso e corriqueiro,
A claridade exposta não se doma

Tomando conta agora do jardim,
Trazendo em claridade amor e dor,
Além do que eu pensara traz pra mim
Reflexos de alegria e dissabor.

Outrora em meus veleiros naufragados
A negritude em pleno dia claro;
Meus olhos em tristezas alagados
Deixando-me somente o desamparo.

Porém ao ver o sol tão deslumbrante,
Saudade dos teus olhos... num instante




1208


Aguando em esperanças o deserto
Destino transformado totalmente,
O peito em amor puro vai liberto
Trazendo alvorecer bem mais contente.

No poço em que se fez escuridão,
Amor mostra possível farta luz.
O tempo em que se deu ingratidão
Às mãos de um novo sonho nos conduz.

Na cruz em que se estampa o bom cordeiro,
O amor que assim se deu em sacrifício
Permite que se mostre verdadeiro
O amor como caminho e como ofício.

Nos olhos do judeu, em doce alento,
O fim dessa amargura e sofrimento.



1209


Aguardando notícias de quem amo
Eu tento descansar, mas não consigo,
A sombra do passado, ameno, amigo,
Podada dos meus sonhos, frágil ramo.

Por vezes, solitário inda te chamo,
A solidão responde em desabrigo,
Felicidade; em vão, quero e persigo
Teu corpo do meu lado – amor – reclamo.

Porém somente o frio me responde,
A vida se transforma em pesadelo.
O sonho que apascenta, sem sabê-lo

Procuro e nada encontro nem sei onde
Eu poderia ter um lenitivo.
Sem ter o teu amor, eu sobrevivo...



1210


Aguardo algum desfecho que inda possa
Fazer de um verso tolo, uma alegria.
Enquanto a fantasia me remoça
Realidade agride todo dia.

Agora é depressão a antiga fossa
Que perde na mudança uma magia.
Saudade de você, quando me acossa
Tua presença volta e me agonia.

Encapo o coração com as lembranças
E sei que isso é perfeita estupidez.
O amor quando convida pras festanças

Prepara estas andanças ao passado.
De tudo o que busquei nada se fez,
Mas bebo uma esperança, e de bom grado...



1211


Aguardo algum sinal: felicidade?
Talvez ainda veja os seus caminhos.
Bebendo a solidão meus descaminhos
Encontram tão somente falsidade.

O quanto quero em paz, tranqüilidade,
Sorvendo em taças claras, fartos vinhos,
Meus olhos em temíveis desalinhos
Não sabem discernir mais claridade.

Matizes em mosaicos e arabescos,
Procuram tão somente por afrescos
Que possam traduzir uma esperança.

Mas ledas emoções se dissipando,
O tempo em amargura vai passando,
Somente a fantasia inda me alcança.



1212


Aguardo calmamente este desfecho
Depois de tanto tempo na procura.
As portas quando insano tento e fecho
Trarão após a chuva a desventura.

Nas cinzas do que fomos quando eu mexo
Reparo quanto trago em amargura,
Carrego no meu peito este apetrecho
Que possa ser quem sabe, amor que cura.

Anexo; vão as cartas que mandaste
Durante esta viagem pelo tempo.
Jamais quis ser somente um passatempo

Tampouco suportei qualquer desgaste.
A minha assinatura vai borrada,
E a carta pela dor, amarrotada...


1213


Aguardo em meu jardim, tua presença
A rosa perfumada que trazendo
Beleza sem igual em recompensa
Derramará perfume que estupendo

Permitirá tal viço que decerto
Fará deste canteiro um Paraíso.
Aguando com meiguice este deserto
Trará toda a alegria que eu preciso.

Jardim há tanto tempo abandonado,
Apenas tão somente ervas daninhas
Embora com carinhos cultivado
Sonhava com momento em que tu vinhas

Mudar de minha história, a direção
Causando no meu peito, a floração...



1214


Aguardo esta chamada que não vem
Telefone em silêncio maltratando
Procuro inutilmente por alguém,
Solitária, outra noite vai passando.

Queria simplesmente ter um bem,
O sonho num vazio se tornando.
O vento da esperança sem ninguém
A fantasia aos poucos desabando.

Espero que tu ouças o meu canto,
E venhas pelo menos para ver
O quanto te desejo em cada pranto

O tempo vai passando, a dor aumenta,
Uma ilusão domina e me faz crer
Que é ela quem acalmando me alimenta...



1215



Aguardo esta chegada ansiosamente;
Soubeste dominar os meus receios,
E tudo que minha alma agora sente
Mergulha na beleza de teus seios.

O amor que se tornou assim urgente,
Conhece os meus caminhos, sabe os meios
Tomando já de assalto a minha mente
Permite os mais sublimes devaneios.

Esqueço os sofrimentos, abro o peito,
E assim, vou finalmente satisfeito
Mudando a direção do meu destino.

Aos píncaros dos sonhos, chego enfim,
No gozo deste encanto que, sem fim,
Sossega o coração de um peregrino...



1216


Aguardo esta presença no meu quarto
Deitado sob os sonhos; quero mais.
Até que eu me perceba imenso e farto
Bebendo destas fontes sensuais.

A lua se declina sobre nós
Trazendo em sua prata, um raro brilho,
Duma esperança clara, ouvindo a voz
Estampo em teus desejos, estribilho.

De teu perfume entranho o meu prazer
Ardentes emoções, calor supremo.
Do gozo alucinante; me embeber
Do amor que nos domina, nada temo.

E sigo sem pudores pelas noites,
Os lábios de quem amo; meus açoites



1217


Aguardo esta resposta prometida
Aos versos que te fiz, apaixonados...
Eu quero teu amor por toda a vida
Embora tantas vezes, enganados...

Aguardo em tal resposta; dura verdade,
Que traga uma alegria, uma esperança.
De termos, finalmente, liberdade;
No sonho que carrego, de criança...

Aguardo teu amor com tanta sede
Qual fora um peregrino no deserto.
Deitar tão calmamente numa rede
Sabendo que terei amor por perto,

Manda-me uma resposta, qualquer uma;
Senão em versos tristes, vida esfuma...



1218


Aguardo o teu carinho e sou feliz,
Meus olhos são teus olhos, simplesmente.
Do amor que me ensinaste, um aprendiz;
Que quer dançar contigo, novamente...

Numa ciranda eterna sem fronteiras
Montanhas, horizontes, nosso fado.
Palavras tão sinceras, verdadeiras
Não deixamos de dar nosso recado.

Eu sinto o teu perfume neste vento
Que fala em liberdade e da justiça
Numa harmonia imensa, o pensamento
Já não suporta mais qualquer cobiça

Que não seja por paz e por carinho,
Forrar de amor amigo o nosso ninho...



1219


Aguardo para o fim, rebelião;
O amor em tempestade dentro em mim,
Provoca nos desejos um motim,
Causando assim total sublevação.

A lua vendo tudo da amplidão
Demarca com seus raios de onde eu vim,
O porto se afastando até que ao fim
Só restem os resquícios da ilusão.

Apenas teu sorriso inda me guia,
Talvez desta esperança, a fantasia
Não deixe que eu perceba a realidade.

O mar que se fizera quase morto,
Negando ao navegante agora o porto,
Adentre os campos vagos da saudade...



1220


Aguardo que inda tenha uma guinada,
Que possa me fazer bem mais feliz.
O tempo vai passando, isso me diz
Que é curta, porém firme minha estrada.

A lua sobre os montes debruçada
Clareia este tapete onde eu me fiz
Eterno sonhador, um aprendiz
Da vida que em momentos foi sonhada.

Minha alma se espelhando no cenário
Invade num extremo temerário
E a liberdade utópica se alcança.

Aos poucos um retrato puro e lindo
Permite que eu prossiga me esvaindo;
Fumando meu cigarro, na fumaça.


1221

Aguardo tão somente a chegada do fim
Que ao se aproximar, demonstra o quão vazio
E inútil totalmente o cevar de um jardim
Que estúpido, sem nexo ainda fantasio...

Tendo numa sarjeta o abrigo corriqueiro,
Após a bebedeira, uma fuga usual,
A flor apodrecida entregue ao meu canteiro,
Rito costumeiro espúrio e sensual...

Amor custa dinheiro; a roda nunca pára
Circula eternamente, a mente ronda a sorte,
A boca que me beija em risos se escancara
Aguardo fielmente a redenção da morte...

Sozinho neste quarto, as letras se misturam...
Confusões de cetins e absintos me torturam.



1222


Aguardo teu amor, minha andorinha
E peço que não faças migração
Minha alma sem te ter, morre sozinha,
E com asa quebrada cai ao chão.

Não deixo no jardim, erva daninha
Nem mesmo me esqueci da adubação
Cevando com amor cada plantinha
Aguardo o mais depressa, a floração.

E quero o teu perfume para mim,
A rosa preferida do jardim
Rosa vermelha diz meu bem querer

Exala a sedução do puro amor,
Vermelho sempre diz total ardor
Vermelho e branco? Amar até morrer!



1223


Aguardo um telegrama, carta, e-mail,
Mas nada de notícias, vou à luta.
Apenas carregando este receio
Da vida que se deu em massa bruta.

Da brita da esperança faço a casa,
Porém ela não quer viver comigo,
Às vezes incendeia intensa brasa
Depois, virando o rosto: nem te ligo!

Amigo o quê fazer se eu gosto dela?
Perfuma mesmo longe, o meu jardim,
É filha com certeza da costela
Quebrada há tanto tempo dentro em mim.

Parece que é vingança desta moça,
Destino preparando cada troça!


1224


Aguardo uma notícia que não vem
Daquela que se fez mulher e santa,
Minha alma a cada dia mais se encanta
Na espera pela noite do meu bem.

O vento bate à porta, mais ninguém...
O grito se entalando na garganta,
Enquanto a solidão já se agiganta
Ilusão se apequena e perde o trem.

Fantasmas do que fomos fazem ronda,
Enquanto a fantasia busca e sonda
Depois de certo tempo enfim se cansa...

O frio que se abate é tão constante,
Delírio se mostrando provocante
Matando a sua sede na lembrança...


1225


Aguardo uma resposta que não vem,
Meu grito vai sem eco pelo espaço.
Tomado pela dor, pelo cansaço,
Espero aqui, sozinho, sem ninguém...

Quisera num segundo ter meu bem
Deitada, aqui quietinha no meu braço;
Não posso, não consigo e nem disfarço,
Só saudade; meu peito, triste, tem...

Silêncio me matando assim, aos poucos,
Distância, uma feroz vicissitude,
Procuro, então, tomar uma atitude

Antes que os dias fiquem todos loucos,
Lidar com tua ausência? Não consigo.
Quem dera ter-te aqui, junto comigo..


1226

Aguardo uma resposta simplesmente,
Falando do luar e do sertão
Da moça que vestida de emoção
Se entrega sem juízo, corpo e mente.

Na louca serventia de um vivente
Que crê sem conhecer toda a amplidão,
Apascentando a fúria de um tufão
No olhar plácido e calmo. Mansamente.

Aguardo o que reguei e não sabia
Que um dia colheria em tarde bela,
Bebendo a fantasia que revela

O rosto feito em paz, doce harmonia,
Eu teimo em perseguir cada cometa
Aonde a poesia se arremeta...


1227


Águas e rios; sonho em busca do meu mar
Este oceano infinito aonde eu me encontrei
Na caça sem limite o canto feito amar
Cicatriz inerente é quase que uma lei.

Tatuo que sou teu na tez a se mostrar
Rasgando o velho véu em luas procurei
O verso em que pudesse alvíssaras tramar;
Só sei, depois de tudo o quanto eu nada sei.

O mar se fez em lago – a total placidez.
Reféns de nosso sonho; adentramos a noite.
Quieto da madrugada um canto que se fez

Distante da ilusão. Lençóis – seda e cetim,
Não quero tempestade e nem sequer açoite
Apenas este lago adormecendo em mim...


1228


Águas, corredeiras, rio e mar,
Vontade de te ter aqui comigo,
A tarde inteira, à noite namorar
Além desta esperança, assim prossigo

Querendo te sentir, poder tocar
Fazendo de teu corpo o meu abrigo,
Na teia de teus braços me afogar,
Vivendo o que sonhei- amor- contigo...

Suor, salinidade, mar e pele.
Sou presa dos desejos e loucuras.
A ti, minha vontade assim compele

Queremos desfrutar cada momento,
De todas as maneiras. Branduras
Dos beijos delicados como o vento...


1229


Aguças meus sentidos, provocante
Vestida de suave transparência,
Percorro com completa paciência
A rota que traduz-se fascinante.

Num átimo me encontro assim diante
De uma beleza rara em eloqüência,
E sem nenhuma pena ou indulgência
Convidas ao banquete, radiante.

Olhar esta nudez maravilhosa,
Deitada nos lençóis, seda e cetim,
Eu sinto efervescendo dentro em mim

Fogueira me deixando em polvorosa,
Queimando-me na ardente fantasia,
Insânia que transbordas, inebria...



1230


Agüento qualquer tranco. Uma porrada
Se mostra assim por certo, costumeira.
Preparo então com fé a barricada,
Mas logo estendo, branca, uma bandeira.

Não quero que me reste quase nada,
Senão a paz divina e companheira.
Matei há muito tempo, diva e fada,
Cadáver estendido numa esteira.

Seria proveitoso se eu tivesse
Alguma companhia feminina.
Rogando em reza brava, tanta prece

Em vão. Não sei sequer se resta alguma
Chance. A sorte então já determina
Que o céu só trague, enfim, grisalha bruma..



1231


Ah! Quanto tempo temos antes de
Descobrimos a chave deste cofre
Que entranhado nos toma a claridade
E ataca-nos querida, assim de chofre?
Quem não sabe de amor ou amizade
É só não reclamar depois do enxofre.

Vassalos destes deuses poderosos
Amamos numa entrega indivisível.
Caminhos percorridos, olorosos,
Permitem novo sonho ser possível
Meus passos dos teus passos amistosos
Num canto que se mostra coercível.

Amar é com certeza dar abrigo
Além de ser teu par, sou teu amigo...


1232


Ah! Quem se ri do amor deve sofrer
Amor nos santifica enquanto cura.
Distante de um amor, melhor morrer,
Pois nele eu encontrei toda ternura.

Vivendo nosso amor, puro prazer,
Estrela que irradia não tortura,
Apenas a cadente, podes crer,
Se perde sem desejo e sem candura...

Contigo par a par, a vida inteira,
No céu tão infinito da alegria,
Avio teu sorriso companheira,

Recebo toda a glória deste amor.
No canto que nos toma em euforia,
Nas marcas deste canto sonhador...



1233


Ah! Quem me dera fosses meu amor!
Como a vida seria mais completa.
A poesia, amiga predileta,
Companheira, por onde quer que eu for;

Teria enfim, parceira mais dileta.
E nunca mais seria um sofredor,
Quem sempre teve espinhos nunca flor,
No sonho audaz, tentando ser poeta...

Se fosses meu amor, que bela a vida!
Andar buscando glória, sorridente.
Não conceber sequer a despedida...

Sentir o teu perfume que, envolvente,
Penetra nas narinas. Na sofrida
Luta por viver; sentir-me gente!

1234


Ah! Tuas mãos... Promessas de carinho
Em viagens divinas por nós dois.
Buscamos desejosos, nossos ninhos,
Nos cálidos abrigos do depois.

Eu quero te sentir mansa e dolente,
As mãos cariciosas percorrendo
Num toque tão sublime, tenramente
Aos nossos desejos, ir cedendo...

Sentindo no fluir desta manhã
O tato perfumado e sendo audaz
Saber que nos queremos com afã
De quem já sabe o quanto que é capaz

De ser amado, amar além, bem mais,
Encontro em tuas mãos, meu barco e cais...



1235



Ah! Como é bom lembrar de nosso amor!
Não foi somente um caso que acabou,
É mais do que um encanto sonhador,
Gosto maravilhoso aqui ficou...

Não deixaste senão este sabor
Delicado lembrando a quem amou
Que a vida se renova com vigor
Mas não deixa prá trás o que sonhou.

Toda a felicidade de saber
Que foste minha amada, e minha sorte,
Vivendo na alegria do prazer

Ter tido o teu amor junto comigo
Tornando uma esperança bem mais forte.
Amor que sobrevive eterno, amigo...



1236



Ah! Quando dispersei essa esperança
Em nome da certeza do futuro;
Não sabia que a vida não se cansa,
De fingir-se leal, porto seguro.

Ao tentar destruir esta aliança,
O claro sentimento fez-se escuro.
Tempestade abortando uma bonança,
A sorte se escondeu detrás do muro...

O mar que fora meu, virou deserto,
O frio de minha alma congelou.
A solidão feroz, ronda por perto,

A paz se fez distante, na batalha.
O nada simplesmente me sobrou,
No corte tão profundo da navalha!



1237


Ah! Como vais negar que foste minha
Se a boca está marcada pelo beijo.
Se a vida te desfez e vai sozinha,
Te quero com a força de um desejo.

Se a sorte no meu peito inda me espinha,
Se o tempo se perdeu, e nada vejo,
Se a morte deste amor já se avizinha,
Se nada mais percebo, e o fim prevejo.

Estás em cada verso que proponho,
Estás na fantasia que alimento.
Tu vives na verdade em cada sonho.

Embora noutros corpos me esquecesse,
Tu és o que me resta, o meu alento,
O beijo que me deste, a minha prece...


1238


Ah! Se soubessem, moços, o que eu sei...
Jamais se deixariam mais levar
Por todos estes sonhos que sonhei
Além desta esperança, naufragar...

Amores são farsantes, eu provei
Do gosto da saudade a me amargar.
Depois de tanto tempo, me entreguei
E somente essa mágoa a me tocar...

Amores mentirosos... Pobres moços...
Afastam-se do sol, buscam infernos.
Acreditam viver raros colossos,

Depois, somente a dor por herança;
Quem quiser se aquecer em pleno inverno,
Esqueça estes amores da lembrança...


1239


Ah! Tire o teu sorriso do caminho
Que eu quero desfilar a minha dor,
Se nesta vida, amada eu sou espinho,
Jamais vou maltratar a bela flor...

Agora se meu canto é tão sozinho
Distante de teus olhos, meu amor,
Percebo como a vida sem carinho
Maltrata um coração que é sonhador.

Nos espelhos meus olhos rasos d’água
Refletem toda a dor e a triste mágoa
Da vida, que sem força continua...

Não quero ser espinho em tua vida,
Mesmo que a sorte/flor se vá perdida.
O sol não viverá perto da lua...

HOMENAGEM AO GRANDE NELSON CAVAQUINHO


1240

Ah! Quem me dera estar sempre a teu lado,
Na lua tropical , boleros e canções,
Bandoleons, violas, noites, fado..
Rodando nas loucuras das paixões...

Não me canso jamais, apaixonado,
Entregue a tais desejos seduções...
A noite vem e traz o teu recado,
Na boca, doces lábios, tentações...

Ah! Quem me dera o gosto do veneno
Bebido em tua boca, nos teus seios...
Delírio me tomando, vivo e pleno,

Tremendo todo o chão sob os meus pés...
A vida se entregando aos meus anseios,
Na dama que convida... os cabarés...


1241



AH! COMO EU PODERIA TE DIZER
DA SENSAÇÃO CRUEL DESSA SAUDADE
DIZER-TE QUE, SEM TI , MELHOR MORRER!
VOU PROCURAR-TE, SONHO EM LIBERDADE..

JAMAIS EU SABERIA QUEM HÁ DE
INFORMAR A ESSE LOUCO SEM POR QUE
EM QUE CANTO, EM QUE RUA NA CIDADE
EM QUE MUNDO ELE SOUBE TE PERDER?

AGORA QUE AS PALAVRAS SÃO NEFASTAS.
AGORA QUE MEU MUNDO JÁ PERDI
QUANTO MAIS ME APROXIMO, MAIS T'AFASTAS

MAIS SINTO A ANGÚSTIA MAIS CRUEL, SORRIR.
SE, QUANTO MAIS DE DOR, MEU PEITO, ABASTAS;
SUPLICO, POR FAVOR, O AMOR EM TI


1242

Ah! Se eu pudesse... amor... não deixaria
Jamais a noite fria te levar,
E voltaria sempre em alegria
Colado no teu corpo, a procurar...

Buscando o teu amor a cada dia,
Nos raios deste sol e no luar,
Nos versos que dedico, em poesia,
No canto que te faço a cultivar.

Eu sinto que tu andas tão distante,
Mas vejo uma promessa nessa dança,
De ter o teu amor a todo instante,

Na festa em que louvamos nosso amor,
Vivendo sem deixar esta esperança,
Que é minha e me acompanha aonde eu for...


1243


Ah! Meu amigo, como dói perder
A mulher que sonhamos toda a vida.
A dor vem destruindo todo o ser
Invadindo a nossa alma distraída...

Bem sei como é custoso de se crer
Que uma pessoa amada e tão querida
Se vai. E nem sequer quer mais saber
Da nossa vida, triste e destruída...

Assim também alguém foi meu carrasco,
Deixando quase nada para mim.
Entorna a fantasia e quebra o frasco

Jogando pelo chão, um sentimento.
Vontade de morrer, chegar ao fim...
Creia: nossa amizade é bom alento...



1244

AH! COMO EU PODERIA
Falar de cada verso
Aonde me disperso
E tento novo dia

A sorte não traria
Sequer este universo
E sei que desconverso
E evito esta agonia

Matando uma esperança
A vida ora se cansa
Da luta incomparável

Vestindo a ingratidão
Os dias me trarão
Somente o degradável.

1245



“Ah! Se eu pudesse te abraçar, agora!”
Te juro, não soltava nunca mais!
Se a chuva vai caindo bem lá fora,
Saudade, no meu peito inda é demais!

Meu peito, desejoso, só te implora,
Não deixe-me sozinho, amor, jamais!
Vem cá, moça bonita. Tá na hora!
Meu barco precisando do teu cais!

Tu és a manga rosa do pomar
Que Deus celestial me preparou.
Jamais de amar demais, irei deixar,

Te quero noite e dia sem parar,
De noite balançando a rede. É gol!
Beijar, fazer amor? Só começar!


1246

Ah! Meu amor... Eu sempre lembro, sim,
Desta primeira noite que tivemos,
Um mundo em convulsão dentro de mim,
De todos os carinhos que tecemos

A noite parecia não ter fim,
O dia amanheceu, nem percebemos,
Tu eras minha... Quanto quis... Enfim...
E nunca mais, depois disto, nos perdemos...

Eu te amo e cada vez te quero mais,
Naquela camisola transparente,
Guardada na memória feito um cais

Que sempre quando estou mais vacilante
Ressurge na lembrança novamente,
E traz de novo o amor, a cada instante...


1247


Ah! Quem contigo vive é mais feliz,
Tu trazes esperança em cada verso,
Ensina que, de amor, um aprendiz,
Recebe tantas bênçãos do universo!

Tu és este meu guia pela vida...
Não deixo me enganar se tenho a ti,
Aprendo que se tenho dividida
A sorte; ganho mais do que perdi.

Aprendo a consolar quem me consola,
Aprendo tanto amar a quem não ama,
Amor não se prepara numa escola,
É fogo que nos queima em viva chama.

Tu és de minha vida, toda a verdade,
Por isso é que me encanto na amizade...


1248

Ah! Meu Deus, como é bom saber que existes!
Tu és toda a certeza que preciso
De que se findarão os dias tristes
E de que viverei no paraíso!

No rio que caminha para o mar
Levando uma esperança: ser feliz!
Contigo conheci o que é amar,
Tu és, na vida, tudo o que mais quis...

Ah! Meus Deus, eu sonhei com teu amor;
Nas noites mais geladas, solitárias.
Porquanto necessito teu calor,
Findam-se minhas dores, temerárias...

Por isso, meu amor; ao mundo clamo:
Ah! Meu Deus, eu te quero, como eu te amo


1249


Ah! Mulher do sol, como te quero;
Sem rumo sem sentido sem ter nexo...
Vencido pelo ardor que sempre espero
Vertido num desejo mais complexo...

Mulher que me irradia sem saber
Sangrando em cada poro, uma esperança;
Receba de meus braços, tal prazer;
Que aos poucos, calmamente sempre avança;

Nascidos sob a luz que não se acaba,
No brilho que sugamos deste céu.
Aos poucos um disfarce se desaba
Montamos sem sentir, mesmo corcel;

E a noite nos convida a passear
Entregues num eclipse, te encontrar...

1250


Ah! Nos teus lábios quentes, tanto amor...
Amor que procurei a vida inteira.
Sabendo que busquei a vida inteira
Em todos os caminhos, tanto amor...

Quero meu descanso nos teus braços
Deitando em nossa cama, meu prazer.
De tudo que queria, meu prazer;
Encontro aqui deitado, nos teus braços...

Eu quero tanto amor, e meu prazer,
Na busca a vida inteira, por teus braços...
O meu prazer deitado nos teus braços,
Eu quero tanto amor a vida inteira.

Ah! Nos teus lábios quentes, meu prazer,
Eu quero o meu descanso em tanto amor


1251


Ah! Como é bom poder te amar assim...
Vieste deste modo manso, breve...
Aos poucos foi chegando até que, enfim,
Minha alma se sentiu tão calma e leve.

Quem fora despertado pelo vento
Feroz e tão intenso da paixão,
Vivendo amor sem rumo, em sofrimento,
Rompendo, destruindo o coração;

Ao ter, neste momento, a calmaria;
Percebe como é belo o grande amor.
Trazendo, sem loucuras, a alegria;
Disposta a vir comigo aonde eu for...

Deitado do teu lado, tanto afago.
Na doce placidez dum lindo lago...


1252


Ah! Como é bom poder falar teu nome...
Solto por sobre as pedras, vales, rios...
Ao longe quando falo, no eco some
Percorrendo distantes, os vazios...

Teu nome, minha amada companheira,
Traduzindo as belezas mais gentis.
Dando essa sensação tão verdadeira,
A de que poderei ser mais feliz.

Amada, como adoro ter chamar,
Nas horas mais doídas desta vida.
Distante dos meus portos, do meu mar.
Nessa ausência de mim mesmo, querida...

Teu nome não me sai do pensamento,
Percorre todo o mundo, solto ao vento...



1253


Ah! Como eu te queria agora, amor...
Poder estar contigo junto a mim,
Sentir o teu prazer, o teu calor...
E tudo o que mereço, creio, enfim...

Poder cariciar teu corpo todo,
Beijar tão mansamente a tua boca...
Depois de tanta dor, de tanto engodo,
A vida se promete livre e louca...

Delírios e desejos se completam
Em cada movimento novo brilho...
Amores em prazeres se repletam
E formam nossos sonhos, nosso trilho...

Ah! Como eu te queria aqui, amada...
Entregue, se sabendo desejada...


1254



Ainda quando pude
Vencer a tempestade
E o dia ainda brade
Decerto atroz e rude,
Alheia a juventude
Marcando o que degrade
Rompante toma a grade
E ocaso ainda ilude.
Meu mundo se desenha
No todo sem sentido
E o quanto mais duvido
Traduz esta resenha
Audácia não se impõe
E a vida decompõe


1255

Ah! Como dói o amor quando distante...
As horas não se passam, vida voa...
O mundo se desaba num instante
Quem dera ser feliz... Rei e coroa...

Nos olhos derramados deste amante
As lágrimas se secam. São à toa,
Jamais renascerá o radiante
Sol... Mas um girassol louro destoa...

Floresce mais teimoso neste prado.
As cores e os brilhos são farol...
Promete ressurgir vital delícia...

Quebranto e solidão meu triste fado,
Mas, entretanto a vida, um girassol;
Promete renascer, loura Fabrícia!


1256


Ah! Se ainda tivesse alguma força,
Quem sabe, eu poderia, então lutar,
A vida se esgueirando, frágil corça
Não deixa sequer rastros no lugar.

Matando o que restou das ilusões,
Esboço num sorriso de ironia,
Depois das tempestades e vulcões
Tempesta disfarçada em calmaria.

Só resta, então seguir o meu caminho,
Distante das estrelas e dos céus.
Lavrando com tristezas cada espinho,

Dos cardos e das urzes, minha herança
Escondo o meu olhar sob estes véus
Estúpidos forjados da esperança...



1257


Ainda ecoa, ao longe, a tua voz...
Saudade exorbitando qualquer senso,
E quando em teu carinho, amada, penso
Revejo o que existiu de bom em nós.

Só sei que não deixaste nada após,
Este ar que hoje respiro é sempre denso,
Qual rio que se perde de uma foz,
Do quanto fui tão fútil me convenço.

Seria muito bom poder sonhar,
Mas como se só tenho pesadelos,
Quem dera se eu pudesse convertê-los

E ver depois de tudo, clarear
O sol de uma total felicidade
Deixando no passado esta saudade.



1258


Ainda não havia o sol se posto
E percebi teus passos nesta escada,
Sanando em mansidão cada desgosto
A tempestade em mim, apascentada.

Amiga ao conhecer teu belo rosto
A vida, num momento, deu guinada
Agora em calmaria, recomposto
Almejo percorrer em nova estrada

As flóreas sensações de primavera;
Rascunhos esquecidos do passado
Jogados na lixeira de minha alma.

Agora a placidez que me tempera
Permite que eu vislumbre um belo prado
Seguindo o meu caminho em paz, com calma...


1259


Ainda nos demonstra seus faróis
Amor alumiando toda a costa.
A força em claridade sendo exposta
Invade transformando os arrebóis.

A vida preparando seus anzóis
Na boa pescaria sempre aposta.
Ao sol de uma esperança amor se tosta,
Na noite destes sonhos, rouxinóis.

Alquímicas vontades pressupondo
Panacéias diversas, luzes fartas.
Da fonte dos desejos não te apartas

O mundo em harmonia se compondo
Nos braços entremeios e carícias.
Paixões não são somente assim, fictícias...



1260


Ajoelhado aos pés de minha amada,
Pedindo que ficasse mais um dia.
A noite que chegava, enluarada,
Montada num corcel, plena magia.

Trilhando pelos céus a bela estrada,
Num fulgor todo pleno em fantasia.
Estrelas constelares, mãos de fada,
Além de sonho que podia...

Distantes dos teus olhos, sem carinho...
Espero tua volta, estrela/lua.
Perdendo a noite clara, vou sozinho

O teu colo, os teus seios, um veludo...
Tua presença amada, bela e nua,
Agora sem amor, morrendo mudo...


1261


Alaga em fantasia, o ledo prado,
A forte correnteza deste sonho,
Audácia se mostrando lado a lado,
No barco em que esperança; cedo, eu ponho.

Futuro num momento anunciado
Mostrado mais feliz, calmo e risonho.
Do outrora tão distante e duro Fado,
Marcado por um rumo mais bisonho

Eu vejo ressurgir em mansa paz,
O quanto que jamais pude pensar.
No bem que nosso amor, em lumes, traz,

Sementes de alegria vão brotando,
O riso em farta glória se granando
Amor que não se cansa de brilhar...



1262


Alagação no peito de quem ama
Não deixam quase nada no caminho,
Dilúvio vem tomando o velho ninho
E molha com meu sangue, o chão e a cama.

Marcando o meu destino, sinto o drama
Deixando em mais completo desalinho
A vida de quem quis acesa a chama
E morre quase louco assim sozinho.

O quanto quis da vida e nada tive,
Lugares onde nunca mais estive,
Demonstram que o vazio sempre vem.

Causando no meu peito calafrios,
Meus olhos vão decerto assim vazios,
Depois de tanto tempo sem ninguém.



1263


Alago com as lágrimas teu mar,
E vejo ser possível novo sonho,
Embora tão distante, inda proponho
Quem sabe, noutro dia a preamar...

Ouvindo em burburinho, o marulhar,
Decifro cada cais aonde eu ponho
O barco que teimoso, vai risonho,
Por mais que a solidão teime em ficar.

Não quero mais apenas os resquícios
Preciso mergulhar nos precipícios
Dos braços de quem amo e quero bem...

Enaltecendo a luz que inda resiste,
O amor se derramando, e mesmo triste,
Prenunciando a glória que não vem...



1264


Alago-me nessa água que percorre
As pernas bronzeadas da morena,
Ao mesmo tempo afoga e me socorre,
Ao mesmo tempo sana e me envenena;

Riscando por um triz o mar inteiro,
Lavando a cicatriz com água benta,
No gosto deste sal um derradeiro
Desejo de paixão tão violenta...

Na proa deste barco eu sempre embarco
O mastro que quer vela e se revela
Deixando em todo porto o gozo, o marco,
Pintando no teu corpo a louca tela

Formada em aquarela, num lampejo,
Marcada ao fero fogo do desejo!



1265



Alamedas, estradas e caminhos...
Nos pinheiros e cedros, tal beleza...
Lá perdi nossos beijos e carinhos...
A mansidão perfaz a sutileza...

Nossos olhos são tristes passarinhos,
Nasceram para a dor, tenho certeza...
Buscando por sossego, querem ninhos,
A vida proibiu tal fortaleza...

Nas mansidões dos rios sem cascatas,
A corredeira leva nossa paz...
Quem dera conhecer as nossas matas,

Nas mãos que se acarinham, ser capaz
De ter a calmaria que retratas,
Brisa fresca que a nossa noite traz...


1266

Falar do nosso amor é repetir
Os versos que procuro pela vida.
A noite sem te ter cai dolorida
Estrela sem te ver não quer mais vir...

Então eu venho em preces te pedir
Que nunca mais me fale em despedida.
A morte sempre atenta e desmedida
Quem sabe, de repente, vai surgir?

Me deixas cada noite, vais aos céus
Levando em tuas mãos os alvos véus.
Em prantos minha noite continua...

Mas Shirley, minha deusa por que esfumas?
As noites tão distantes perdem plumas
Mas ganham no teu brilho, minha lua!

1267


Alastram-se daninhas ervas, urzes,
E tomam totalmente o meu canteiro,
Pesando desde sempre tolas cruzes,
O céu jamais se fez alvissareiro...

Distante dos teus olhos, um braseiro,
Meu céu já não comporta tantas luzes,
Outrora me entreguei, fui verdadeiro,
Porém ao precipício me conduzes...

Agônico; vergastas me lanhando,
As esperanças fogem, tosco bando,
Deixando aqui somente este amargor.

Mas ébrio de ilusões, sigo tentando,
Ao menos este fogo calmo e brando
Que um dia imaginei ao meu dispor...



1268


Alavancando a vida, me agiganta
Esta certeza imensa em que se dá
O amor que deseja e desde já
Domina cada passo enquanto encanta.

Tristeza, uma canalha sacripanta
Sacrílega vilã não voltará
Se eu trago amor que manso brilhará
Na solidez que cura e nos imanta.

Sou presa sem surpresas do que prezo,
Amor que não conhece um vão desprezo
Expressa a magnitude deste sonho.

Vivenciando a glória sigo assim,
Mostrando o que melhor existe em mim,
Com dias bem melhores, sempre sonho...


1269


Alcanço a liberdade num segundo;
Enquanto o coração for timoneiro
Percorro nos teus olhos todo mundo,
O amor tão libertário, um guerrilheiro.

Rompendo estes grilhões, um giramundo
Inquieto sempre audaz e verdadeiro,
De toda esta magia eu já me inundo
Mergulho no teu corpo e vou inteiro.

Cativo deste amor; rompo as algemas
Esqueço num momento os meus problemas
Vislumbro este horizonte ilimitado,

Esqueço das masmorras do passado,
Não tendo mais atada em mim, corrente
Encontro a liberdade, finalmente!



1270

Alcanço a plenitude em raios mágicos
Que emanas, radiosa, em tom profético.
Meus dias sem te ter, díspares, trágicos,
Olhares com certeza, vãos, patéticos.

Meus dias morrerão, antropofágicos
Distantes dos meus sonhos, que poéticos
Adentram a manhã, fogos tabágicos
Tramando meus delírios anti-estéticos.

Não posso prescindir do sonho vívido,
Meu rosto se tornando duro e lívido
Distante de quem amo; nada sobra,

Quem dera se pudesse em himeneu
Ter finalmente amor que assim se deu,
Porém meu barco, insano, vão, soçobra...



1271


Alcanço em pensamento uma alvorada,
Após a mais difícil caminhada,
Seguindo a cada dia nova estrada
Não tenho em minha vida quase nada.

A sorte que se mostra abandonada,
A par da mais temível derrocada
Permite que adentrando a madrugada
Recolha sem saber cada florada.

Não creio mais em anjo, gnomo ou fada.
Um grito tão audaz, o peito brada
Recebo da esperança uma lufada.

A boca não quer ser amordaçada,
Na tua fortaleza, faço escada
Chegando à perfeição imaginada.


1272


Alcanço plenitude em fortes gozos
Embora saiba ser fútil momento.
Não guardo as procissões nem bebo o vento,
Os corpos carregados, andrajosos.

Alíquotas cumpridas, são jocosos
Os rastros que não valem o lamento,
Um pária sem destino, me atormento
Com ritos delicados e fogosos...

Conspurcar os altares, sacrilégios
Que fartam-me em farnéis outrora régios,
Arregimento o resto que inda trago

Dos vastos pantanais fátua figura
Sem mantra, prece ou reza, a cada agrura
Inóspita senzala em duro afago.



1273


Alçando ao infinito em fluorescências
Qual fora um fogo fátuo, uma esperança
Buscando da alegria providências,
Deveras persistente, não alcança.

Dos ais colecionados, luta e guerra,
Encontra os mais cruéis desfiladeiros.
O pensamento algoz cedo descerra
A seca que se deu neste ribeiro.

O mar que ensandecido não sossega,
Fazendo intempestiva, a natureza.
Uma alma desfilando quase cega
Impede que vislumbre-se beleza.

Distante da alegria se aborrece,
Nas mãos da solidão já se oferece...



1274

Alçando ao infinito em fluorescências
Estendo em nosso quarto; mil estrelas,
Sentindo a raridade das essências,
Aromas sensuais que me revelas.

Delícia que se faz; doces ardências,
Culminam no prazer de assim contê-las
Dos raios do luar, calmas dolências
Permitem que se possa conhecê-las.

Assim caminha a terna madrugada
Na espera de um sublime amanhecer.
A lua tão serena, enamorada

Abraça a tua tez; prata morena,
E em meio a tantas ondas de prazer
Felicidade imensa, enfim se acena...



1275


Alçando em liberdade um novo mundo,
Um pássaro jamais se prenderá,
Tal qual o sentimento mais fecundo,
Aos poucos com certeza brilhará

E novas esperanças, tão profundo,
Nos braços deste sonho aqui ou lá
Virão nos povoando num segundo,
E a paz em nosso ninho moldará

O quanto de desejos e prazeres,
Descendo uma vereda de esperanças,
Vagando em amplitude, belas danças,

A festa prometida, mil talheres,
O riso da menina demonstrando
A sorte deste amor se desfraldando...


1276


Alçando em minha vida tal jornada
Que possa permitir mais fabulosa,
A sorte que pensara desolada,
Ao mesmo tempo emerge gloriosa,
Decerto se fará maravilhosa,
Ao recolher do amor, divina rosa,

Distante dos espinhos, na verdade,
Pois nela tenho sempre reparado
A vida em que brotou felicidade,
Deixando o medo enfim abandonado,
Futuro se moldando em liberdade,
As dores esquecidas no passado.

Amor que meus sentidos já tomara,
Da paz feita esperança me cercara...


1277


Alçando em pensamento outro universo
Diverso do que outrora imaginei,
Passando por caminhos que encontrei
Prefiro seguir só, mesmo disperso.

Tirando os meus engodos – foram tantos,
Eu tenho dentro em mim uma esperança,
Depois da tempestade uma bonança
Trará para os viventes mais encantos.

Estudantes, corsários, guerrilheiros,
No fundo fomos todos sonhadores.
Os céus que imaginamos; multicores.

Ingênuos, mas decerto verdadeiros,
Burgueses, o que somos; nada além
A história descarrila o velho trem...



1278


Alçando em teus carinhos, o infinito,
Bendigo a vida em plena sintonia,
Do amor que há tanto tempo estava escrito,
Dourando a minha vida em alegria,

De tudo o que disser ou que foi dito,
Jamais uma palavra me traria
Um sentimento caro e sei bendito
Que se renova sempre a cada dia.

A tradução perfeita que persigo,
Falando deste amor, audaz e amigo.
Permite festejar com emoção

No teu aniversário a lua é clara
E o amor com toda força se declara
Invadindo feliz, meu coração.



1279


Alçando imensidão eu te proponho
Vivermos nosso amor sem ter limites,
Além do que pudesse ser um sonho,
No qual espero sempre que acredites.

Amar e ter assim santa ternura
deixando uma tristeza já de lado,
Um sonho mavioso se procura
Num coração que vai apaixonado.

Não temo mais as dores que virão
Nem mesmo a tempestade que não veio.
Batendo bem mais forte o coração,
Esqueço qualquer tipo de receio

E busco em cada gesto, uma alegria
Do amor que a gente canta em sintonia...


1280


Alçando imensidão eu te proponho
viver o que pudesse em fantasia
E toda a sorte assim já se faria
Tramando a cada dia um novo sonho

Destarte o paraíso em ti componho
E sei deste desejo em utopia.
Mas quando a vida dita esta alegria
O manto com ternura além eu ponho.

E vejo o vicejar da rara flor
E neste desenhar ao te propor
A eterna sensação do amor sincero

Deixando no passado o vão cenário
De um dia tantas vezes solitário
Apenas redenção em ti, espero.


1281


Alçando o pensamento, vem veloz
Erguendo o seu olhar sobre montanhas,
O tempo toma conta atando os nós
Transforma num segundo velhas manhas,

Manias que cultivo dia a dia,
Algumas; reconheço, são bisonhas,
Poeta que disfarça enquanto cria
As marcas que carrega; bem tristonhas.

Brincando com palavras, trovador
Não sabe discernir o que inda quer,
Cantando o mesmo mote, diz amor,
Pensando o tempo inteiro na mulher

Que é deusa, musa, ninfa e companheira,
Embora idealizada; verdadeira...



1282

Alçar a liberdade em cada verso,
Riscando com meu brado os infinitos,
Liberto, vasculhando os universos,
Mais fortes ecoando nossos gritos.

Matando os cães vadios e perversos,
Fazendo da amizade novos ritos,
Apascentando mesmo os mais dispersos,
Amenizando as dores dos aflitos.

O verso que se mostre com pujança
Vencendo com vigor toda trapaça,
Moldado nos buris de uma esperança.

Ganhando as mais sublimes cordilheiras,
Um novo amanhecer não se disfarça
Nas faces das manhãs alvissareiras...



1283


Alçar meu pensamento ao infinito,
Fazendo bem mais livre cada verso,
Um dia em alvorada, mais bonito,
Deixando assim distante um mar perverso.

Ecoa bem mais alto cada grito,
Agora estou na sorte, enfim, imerso,
Fazendo deste sonho um mote; um rito
Já não prossigo só, nem mais disperso

E canto essa alegria de poder,
Ver, novamente o dia amanhecer
Trazendo uma alegria que em torrente

Espalha a fantasia sobre nós
Tramando em claro amor sinceros nós
No sol de uma alvorada reluzente.



1284


Alegra do começo até o fim
O sonho que me trouxe para ti.
Se o São Francisco eu trago dentro em mim,
Descendo para o Sul eu descobri

Nas margens do Guaíba uma sereia
Embora fluvial, seu canto atrai,
Do sertanejo mote em lua cheia
Na busca deste encanto o peito vai.

Nas águas azuladas deste rio,
O coração que em secas se criou,
Aos poucos sem domínio eu me vicio,
Bebendo deste amor que me tocou.

Descendo estas montanhas das Gerais
Encontro nas coxilhas o meu cais...

1285


Alegre, o coração deveras fica
Ao ter tua presença mesmo em verso.
O mundo sem te ter queda perverso,
A noite em solidão já se complica.

Amor que não precisa de pelica,
Pois sabe transgredir todo o universo
Sentindo este desejo mais disperso,
Não quer e nem precisa, ele se explica.

Curtido com palavras mais audazes
Em frases, fases faça o que quiser.
Os lábios tão sedentos e vorazes

Procuram toda a fonte de prazer,
Tu és, mesmo distante, uma mulher,
Que é sempre tão gostosa de se ter...


1286


Alegria é companheira
De quem quer ser feliz,
A paz tão costumeira
Felicidade diz,
Mostrando esta bandeira
Do céu, raro matiz.

Tanta alegria eu sinto
Por poder ver o brilho,
A vida, que é um absinto,
Na qual me maravilho,
Nas cores que me tinto,
Nos olhos do meu filho.

Lutar pela alegria,
Batalha dia a dia...

1287


Alegria e esperança se irmanadas
Trazendo um bem imenso para quem
Encarou tempestades, trovoadas,
Fazendo para a gente tanto bem;

Eu falo por que sempre procurei
A paz nestas palavras, sentimentos,
Por vezes, sem notar me deparei
Com estranhas rajadas doutros ventos.

No fundo uma esperança se frustrada
Transforma uma alegria em canto triste.
Depois de uma esperança abandonada
Na vida, quase nada mais existe.

Por isso uma alegria cura o tédio;
Um coração alegre é um remédio...


1288


Alegria me tomando
Já faz festa meu amor,
Tanto bem comemorando,
Nosso mundo sonhador,

Coração vai decorando
Encontrando a bela flor,
Não pergunto nem mais quando,
Nunca mais um sofredor.

Meu amor, nosso desejo,
Que vontade de dançar!
Tanto quero este festejo

Gostoso poder amar
Venha cá me dê um beijo,
Hoje eu quero namorar!


1289

Alegria nascendo a cada dia
Trazendo um vento calmo de esperança
Na luta sem final contra a lembrança
De toda dor que mata a fantasia.

A cada novo tempo, a poesia
Inunda-se sem quer sombras da vingança
Rondando nosso amor em aliança
E trama contra a noite negra e fria...

Crisântemos florescem no jardim,
Eu guardo belas flores dentro em mim
Pedindo que este canto nunca engane.

Por mais que seja triste a madrugada
A vida se refaz nesta alvorada
Que trouxe o manso amor de Viviane...



1290


Alegria nascendo aos borbotões,
Formando com o sol, a claridade.
Espalha pelas ruas emoções,
Trazendo um novo canto de verdade....

As mãos que fecundaram nosso chão
Depois desta carícia milagrosa,
Também acariciam coração,
Fazendo uma canção maravilhosa...

Amor que não me deixa mais distante,
É verso que me envolve totalmente;
Versejo meu poema mais vibrante
Na busca de te amar complemente.

Tu és o meu Princípio e meu caminho.
Contigo nunca mais irei sozinho...



1291

Alegria perene eu percebo
Nestes versos que fazes, querida
Tanto amor de teus braços recebo
Bênçãos raras que encontro na vida.

Descrevendo meu sonho de paz,
Cavaleiro montado em corcel
Que esperança feliz já me traz
Navegando liberto em teu céu.

Naus, jangadas, saveiros e barcos,
Oceanos longínquos passei.
Estrelares desejos em arcos
Que nos sonhos, amor eu trarei

Os meus olhos de ti tão sedentos,
Expressando reais pensamentos...

1292


Alegria se omite e não se alcança
Depois de tanto tempo sem ninguém,
Buscando tão somente por alguém
Sabendo quem espera já se cansa.

Ferrenhas ilusões, dura lembrança,
Perdi faz tanto tempo, antigo trem,
Agora tão vazia a noite vem,
Mexendo com meus sonhos de criança...

Tartamudo, prossigo até que chegue
Um barco que outro mar inda navegue
E mude, num momento, o velho Fado.

No enfado de buscar e nada ter,
Olhando para espelho sem prazer,
Seguindo maltrapilho e maltratado.


1293


Alegria? Distante e tão remota
Imagem que perdi pra nunca mais...
Uma esperança aos poucos se desbota
O barco em desvario. Cadê cais?

Tristezas vão tomando toda a frota
Prazeres encontrados são boçais
Por companhia párias tão iguais
Apenas urze, erica, ainda brota

Legando ao meu canteiro a seca eterna
A boca que, febril, não reconheço;
Seu beijo na verdade eu não mereço.

A mão se que se apresenta assim fraterna
Espinhos encontrando se retira
A luz inutilmente em ronda gira...


1294


Alegrias me tomam ao rever
Menina delicada, moça bela.
Amor que tão sublime se revela
Embala minhas noites ao saber

Da volta de quem fora meu prazer,
Meu barco recupera a sua vela
A noite se pintando com estrela
Que vejo em meu caminho esplandecer.

Jardim se refazendo em verso e sonho
Florindo novamente para mim.
Belezas de crisântemo e jasmim

Trazendo um raro dia onde proponho
Que sempre, minha amada, seja assim,
Um mundo deslumbrante e tão risonho..



1295


Alegro-me em te ver amiga, andei perdido,
Na procura da estrela, esqueci que sou humano.
O céu está distante, aqui é outro plano.
Acho até que tive sorte, eu podia ter caído.

Mergulhado no abismo após ter derretido
O sonho de voar. Cometo tanto engano
Porque sou sonhador. Depois disso me ufano.
Fechando os olhos, vou. Perco todo o sentido!

Amiga, teu amigo aguarda um triste fado,
Depois da dura queda, o sonho sepultado.
Mas, teimoso, não paro, aguardo outra viagem.

Que vou fazer da vida, espero uma resposta.
De milagre em milagre, um dia viro posta.


1296



Alegro-me em te ver amiga, andei perdido,
buscando a calmaria noutro rumo
E o quanto dos meus erros eu assumo
Enquanto um novo passo enfim lapido

O mundo se mostrara no esquecido
Caminho sem certeza aonde o prumo
Esgota cada sonho e se me esfumo
O tempo noutro caos vejo vencido.

Esbanjo fantasias, mas sei bem
Que ao fim de certo tempo nada vem
Somente a solidão reinando aonde

O todo se pudera e não persiste
O mundo se aproxima e sinto triste
Cenário enquanto o vago não responde


1297


Alegro-me ao saber que tu voltaste,
Rendido a tanto amor, nada mais quero.
Por vezes eu cheguei ao desespero,
A vida sonegando a muda uma haste.

Cambaleante passo; provocaste,
Tornando o dia-a-dia amargo e fero,
O sentimento muito além de mero
-Saudade- faz com gozo um vão contraste.

Porém ao te saber aqui comigo,
Depois de tanto tempo em desabrigo,
Meu verso já não fala de tristeza.

O quanto desejei a cada instante,
Um tempo mais feliz e fascinante,
Banquete de alegrias sobre a mesa...



1298


Além da ventania que tocava
Teu corpo em total intimidade,
Minha alma na tua alma se encontrava
Alçando a plenitude em liberdade.

Olhar que mansamente se entornava
Trazendo para nós tranqüilidade,
Vencendo este ciúme quebro a trava
E sinto esta paixão que agora invade.

Não temo mais procelas, furacões
Nem mesmo esta terrível ventania
Que encontro bem mais forte nas paixões.

Pois sinto que este vento feito em brisa
Transporta tão somente uma alegria
E a vinda da bonança, agora avisa...



1299


Além de simplesmente fantasia,
Da sensação deste dever cumprido,
Recebo a luz em tua companhia,
De toda uma esperança, convencido,

Do quanto desejava e bendizia
O passo bem mais firme e decidido,
Moldado em santa paz e em harmonia,
Trazendo o meu destino resolvido,

Aprazo em noite clara o sentimento
Que molda a plenitude, num momento
Negando em paz perfeita o desengano.

Levando dentro em mim esta esperança
A mansidão em glória amor alcança,
O sentimento nobre e mais humano...



1300


Além de todo amor, de toda a vida,
Eu quero eternamente, ser só teu...
Tu és assim, a sorte recebida
Por quem durante a vida se perdeu.

Um dia, ao perceber-te distraída,
Olhando para o longe...O canto meu
Vibrou nos teus ouvidos. Sem saída,
Meu amor no teu peito se escondeu...

E desde então não faço quase nada
Senão viver amor tão desejado,
A voz que te chamava, enamorada

Agora te sussurra bem baixinho,
No verso que dedico, apaixonado;
Somente uma palavra de carinho...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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