Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 036

 
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3501



Atemporais esgarces da ventura
Esfoliando aos poucos ilusões.
Espoliar os sonhos, direções,
Mergulho a resvalar a sepultura.

O resto do que fui, o tempo apura,
E molda as velhas roupas e porões.
Tomado por anzóis, guinchos e arpões,
A noite que virá; talvez escura.

Olhando para trás quase não vejo
Senão a sombra amarga de um desejo
Comprado nas esquinas e nos becos.

Assolam-me atrozes ventanias
Que em meio às procissões de velharias
Mecônios conspurcando meus jalecos...


2


Atendo ao teu chamado para dança,
Adoro o tango, dengo, mesmo a valsa,
Dançando do meu lado, assim descalça,
A noite sem sentir, depressa avança.

E mostra quanto é boa esta aliança
Que é jóia verdadeira, nunca falsa,
O brilho dos teus olhos se realça
Lembrando o belo olhar de uma criança

Que sabe ser feliz, amada minha,
E faz ser também todos que conhece,
Meu peito no teu rosto já se aninha

E faz de toda dança, a fantasia.
Quem dança com amor, faz uma prece
Que encharca todo o mundo de alegria...


3


Atendo com volúpia ao teu chamado
E vou mais que depressa descobrir
Teu corpo tão cheiroso e delicado
E louco de vontades, impedir

Que faças outro gesto tresloucado,
Pois quero novamente repetir
Amor que a gente fez, louco e safado
A noite inteira até o sol surgir...

Pois sei que estás sedenta e eu também...
Rever tua nudez tão deslumbrante
Bebendo desta fonte delirante

Que em bela inundação, comigo vem...
Vontade de sentir de novo o cheiro
Que vem deste teu corpo, amor trigueiro...


4


Atento a cada gesto e sem perguntas
Eu passo a minha vida, um eremita
Diverso de pessoas que andam juntas
Minha alma, uma presença a mais evita;

Andando pelas ruas, vou sozinho
Nem mesmo a lua vem por companhia
Se quem durante a vida não quis ninho,
Mercê da solidão, não fantasia.

Apenas vaga mundos sem destino,
Bebendo das sarjetas da esperança.
Se às vezes um sorriso; inda declino,
Talvez seja por simples temperança.

Quem sabe, no final da minha história
A lua venha, mesmo merencória...


5

Atento às mais diversas propagandas
Comprando alguma inútil novidade,
A mão que, pela tela, a casa invade
E quando vês, no fim, em nada mandas.

Nem mesmo os teus desejos mais comandas,
Deixando na poltrona a tal vontade,
Programa que de tolo, nos enfade
De novas bugigangas, as quitandas.

Depois de certo tempo nalgum canto
Esquecida, jogada em desencanto
Aquela “divinal” quinquilharia

Que tanto desejavas. Mal nutrida
Carcaça desprezada, concebida
Pra te enganar em fútil serventia...


6


Aterroradamente me perturbas,
As costas vergalhadas, meu presente...
Nas chibatas rosáceas críveis turbas
Não deixam nem espera por semente.

Solitária demente te masturbas,
Na noite mais vazia que pressente.
Mascaras as senzalas velhas tubas.
Distâncias são crepúsculos na lente...

Me castras esses astros que vergasto
Meu ópio se fui sépio, nada fica
O símbolo pedido meu repasto.

Aportes de sutis malabarismos...
Revigoro solventes, pele estica
Estio nos teus trilhos, meus abismos!


7


Atordoado, eu sigo a minha sanha
Querendo ser feliz, mas isso é mito.
Às vezes sem sentido me desdito
E a dor de uma saudade, leda, entranha.

O verso que elaboro, vai aflito
O tempo se passando em noite estranha
Arrasta-se este dia no infinito
E a solidão se mostra então tamanha...

Minha alma sem abrigo; má, bastarda,
Nas ânsias de um encanto que já tarda
Já farta não encontra a claridade.

Quem dera se na boca que cuspia,
Sorriso transparente de alegria
Viesse no formato de amizade...

8

Atormentando amor com versos vários,
Diversos do que sempre me propus,
Recebo destes ventos temerários
O gosto mais amargo que supus.

Fechando o sofrimento em calendários
Passados do que amor que agora pus.
Invado teus desejos, não templários
Bebendo de teu corpo farta luz...

Se faço com meu gesto teu ciúme,
Me esparso e vou disperso no meu canto.
Roubando do jardim, todo o perfume

Matando a sensação de tua ausência,
Amor sentindo em ti, total encanto,
Já sabe e necessita de premência...


9



Atormentado, sigo noite afora,
Encontro na sarjeta um bom abrigo,
Não tendo quem amei aqui comigo
Vontade de partir, e de ir embora...

Até a poesia, agora chora,
Distante da ilusão que ora persigo,
Eu tento prosseguir, mas não consigo
No desabrigo, a sombra me decora.

E aflora esta terrível solidão,
Gerada pela dor da negação;
Já não suportarei ser tão sozinho,

Numa árida paisagem, nada tendo,
O dia que sonhara se perdendo
Nas curvas insolentes do caminho...


10


Atos e relatos, lagos somos,
Bebendo do luar extasiante.
No quanto nos unimos, mesmos gomos
O bem que se propaga ao mesmo instante.

Mesmo em dicotomia vamos juntos.
Semblantes e sentidos confluentes.
Nos átomos atamos tais conjuntos
Na confraria rara convergentes.

A par do que somamos, sendo assim
Vasculho cada ponto de partida
Chegando finalmente vou a mim
Tocando claramente a tua vida.

E vivas eu espalho em louvação
Ao bem que nos traduz nossa união.


11

Atrás da minha porta? Eterno não,
O vento da esperança não me alcança
Enquanto a solidão jamais descansa
Minha alma não encontra solução.

Vontade de sentir em redenção
A vida que sonhei; sincera e mansa.
Voltar a ser de novo uma criança
Que traz dentro do peito uma ilusão...

Brinquedos espalhados nas calçadas
Jardins entre mil flores, primavera...
Os restos de emoção que inda carrego.

Manhãs entre alegrias demonstradas
Nos olhos de quem quis e não me espera,
À falsa fantasia eu já me apego...


12


Atrás desta morena e sua saia
Prossigo sem pensar no que passei,
Agora que o caminho eu encontrei,
Já posso vislumbrar divina praia.

Que a sorte benfazeja nunca traia
Mudando novamente o que tracei,
Não quero ser vassalo nem ser rei
Apenas que a saudade se distraia

E volte pra bem longe e nunca mais
Refaça dos meus braços o seu cais,
Deixando o coração assim miúdo.

Sabendo que meu norte tem teu nome,
Com todo este prazer matando a fome
O rumo desta vida; jamais mudo.


13


Através da janela o minuano
Dizendo deste amor que já não tenho.
Agora se completa mais um ano,
A vida fecha aos poucos o meu cenho.

Do amor somente a dor e o desengano,
Por mais que uma esperança faça empenho,
Outono tão terrível quase insano,
E o frio onde sozinho eu já me embrenho.

Saudades de quem foi pra nunca mais,
Apenas a lembrança inda me aquece,
Recordo de teus lábios sensuais

Volúpias e o descanso do depois.
Paisagem invernal, a noite tece,
Fantasmas que me rondam. De nós dois...


14

Através dessas formas, das visões
Que sempre adivinhava meu desejo;
Palpitam sem sentido corações
Num turbilhão divino onde te vejo.

Surgiste neste céu, estrela amada;
Rolando qual cometa, confundindo.
A noite sem te ter, não vale nada,
Aos poucos teu amor me decidindo.

Rasgando este universo, alma infinita,
Queimando nestas sombras, meu mormaço.
De formas delicadas; tão bonita,
Domina certamente cada espaço.

Aspiro teu amor a cada dia,
A cada pensamento e poesia!


15



Atravessamos vales, cordilheiras
Unindo nossos sonhos, força e gozo,
Noturnas travessias, costumeiras
Trazendo um novo canto mavioso.

Esperanças desfraldam as bandeiras
Embora tantas vezes belicoso
O passo deve ser silencioso
Senão pode acordar as feiticeiras.

Vestidas de canhão e de fuzil,
Numa tocaia algoz, nada gentil,
Ou quem sabe atiçando estas hienas

Que atacam sempre em bando e nunca sós,
Disfarçadas em ricos paletós,
Fazendo nos Congressos tristes cenas...


17


Atravessando as ruas da ilusão
Bebendo nos botecos da esperança
A gente vai fingindo enquanto trança
Os pés nas várias tendas da paixão.

Nos becos sem saída da emoção
Perfuram nosso peito, cada lança
Que nada se fazendo em temperança
Permite que se entenda a sedução.

Olhando de soslaio; assim reparo
Na moça que rebola sobre a mesa,
Sentindo o teu perfume apuro o faro

Preparo logo o bote sobre a presa,
Depois de tanto tempo em desamparo,
À boca sequiosa, a sobremesa...


18


Atravessando os ermos do caminho
Na busca sem ter fim pela esperança,
Quantas vezes, sentindo ser sozinho,
Apenas com teu nome na lembrança...

Nos vergéis e nas sendas mais floridas,
Sabia que podia descansar;
De resto, essas tristezas escondidas,
Num momento, queriam aflorar.

O canto que tentara não se ouvia,
Encanto divinal de amor eterno.
Outro verso de amor, amor fingia,
A vida parecendo com inferno.

Achando tão somente dor, quimera.
A rosa me salvou a primavera!


19


Atravessando trevas nebulosas,
Em busca da amplidão do teu carinho.
As mãos que se perfuram, olorosas,
Lancinantes desejos pedem ninho.

Angústia dos jardins que perdem rosas,
Embalde me apeguei ao teu espinho...
Nos mares das volúpias tenebrosas,
Um canto que se cala, passarinho...

Neste atroz pesadelo, latejante,
Mistura das tremendas fantasias.
Represo meus temores, arquejante.

Não posso receber a vida amarga
Como quem saboreia as ambrosias;
Amor que me devora: afaga e larga....


20


Atravessei, inteiro o Ceará
Numa procura insana por aquela
Que um dia imaginei encontrar lá
Guiado por meu sonho feito estrela.

O brilho de seus olhos levará
Pois sei que a lua mostra-se mais bela
Dourando o meu caminho que estará
Aonde amor imenso se revela.

Passando por Sobral e Juazeiro
Depois de ter no Crato uma notícia
Que o amor mais delicado e verdadeiro

Eu acharei, enfim em Fortaleza.
E assim em noite clara e mais propícia
Eu encontrei você, minha princesa...


21

Atravesso no olhar, mares distantes
Do cais que preparou nosso desejo.
Amar não é saber o que foi antes
Nada do que virá, eu sei, prevejo...

Apenas em teus olhos diamantes
Sentindo rebrilhar um azulejo
Viajo dentro em ti, tantos instantes..
Tocado como fosse por um beijo.

Nos precipícios todos da paixão
Invento minhas asas, caio em mar.
Atraído, vencido, uma ilusão?

Apenas sei das asas e dos medos.
Apenas de teus seios que, ao tocar;
Me envolvendo, aumentando teus segredos...


22


Atrelas teus desejos minha estrela,
Avanças tão frenéticas vontades,
Mulher, flor divinal, quero contê-la
No peito que se mostra em firmes grades.

Por mais que dos meus sonhos desagrades,
Um dia ainda penso convencê-la
Que digo nos meus versos as verdades
Sonhando com manhã voraz e bela.

Audaciosamente eu te procuro,
Vasculho nos meus poros, meus sentidos.
Clareias num segundo o céu escuro

Incandescentes lumes já me alcançam,
Em lava teus fulgores convertidos,
Depois das erupções, sempre me amansam...


23



Atrelo-me aos fantásticos domínios,
Aonde tu espalhas tal beleza.
Seguindo com torpor, raros fascínios,
Pretendo ser somente tua presa.

Jamais suportarei uma arrogância
Tampouco esta ganância que se expõe.
O amor quando liberto, em elegância,
Um tempo benfazejo, em paz, compõe.

Seletas companhias, luas nossas,
Rastreio cada passo que tu dás,
Jamais mergulharei em torpes fossas,
Com toda paciência, mesmo audaz,

Escrevo meu futuro com as mãos
Que possam cultivar benignos grãos...



24


Atrozes sensações de desalento
Tomaram minha vida em triste dia,
Uma alma se encontrando tão sombria,
Soluça merencória em um lamento.

Batendo na janela um frio vento,
Trazendo sem ter dó, dura agonia,
Matando pouco a pouco a fantasia,
Um sonho que me salve, eu juro, tento...

Depois de tantas horas doloridas,
Vagando sem destino em noite triste.
As hordas de quimeras redivivas,

Percebo a claridade em nossas vidas,
Lembrando, minha amiga, que inda existe
As mãos de uma amizade, sempre altivas...


25


Audaz, o caranguejo me consome,
E bebe do meu sangue, cada gota.
A vida pouco a pouco já se esgota
O sonho que eu tivera, ledo, some.

O resto de esperança se carcome,
Perdido sem ter rumo, busco a rota,
Entranho uma esperança em fria grota
Porém este crustáceo, tudo come.

Arrancando os meus olhos, sem disfarces,
Enquanto me acarinhas logo esgarces
Os restos que amanhã vão pelo esgoto.

Na boca que eu sonhei, a cusparada,
De tudo o que eu desejo sobra o nada,
O coração vazio, podre e roto...


26


Augusta sensação ungindo a vida,
Percebo esta alegria que me trazes,
Escondo sob a manga vários ases,
Quem sabe vai à luta e não duvida

Da força que se estampa desde as bases,
Calcando o meu rincão, terra batida,
Mandingas e feitiços, tu desfazes,
Preparando talvez, uma saída...

Invejo-te deveras; nunca fui
Aquele a quem a paz se fez constante,
Arrebentando tudo num rompante

O tempo vai aos trancos, já não flui.
Mereço alguma chance? Sei que não.
Preparo a cada dia, um alçapão...


27


Augusto; tirando ouro do sepulcro
Tornando assim jazigo uma jazida
Aonde a poesia tem seu fulcro
A morte sobrepõe-se além da vida.

Nas asas dos seus anjos ases vejo,
Funérea maravilha, podridão.
No esgoto da existência, a cada ensejo
Pantera disfarçada, solidão...

Males íntimos da alma de um poeta,
Moldando nos escombros a beleza.
Magia tumular que se completa
Servida como um verme posto à mesa.

O bardo em sua verve traz um odre
De um vinho sem igual, amargo e podre...


28


Augustos, velhos anjos já morriam
Deixando em cada campa uma ironia
Sem asas, tais velhacos já sabiam
Que a noite prostituta não viria.

Sepulcros e mortalhas se faziam
De rendas e cetins, falsa alegria.
Em cada cusparada devolviam
Tudo que um falso beijo inda trazia.

Solilóquio qual louco eu perfumava
Em podres crisantemos, demos, anjos.
Orgasmos se expeliam como lava

Relentos eram simples companhias
Amores se esbaldavam liras, banjos
Mostrando tanto bem que me querias...


29


Auréolas vorazes me devoram...
Nas sacras escrituras são falsárias.
As pétalas felizes me decoram
Nas ilhas que fugi, velhas Canárias

Os bares que embarquei frágeis defloram
As luas que portei de formas várias
Delírios que sorvi, tão cedo auguram...
Nas lutas que ganhei podres sectárias

Arresto e capuccino são meus cordéis
As marcas que deixei são menestréis
A vida que passei, vem de viés

Não sei por que cortei, as mãos e pés.
Nas horas que sorteio peço dez...
Nos navios vou lavando os teus convés!



30


Aurora em tal beleza desfraldada
Em ondas cristalinas, tantos brilhos,
Nos raios deste sol vai estampada
O rumo dos meus sonhos, tantos trilhos...

As plantas, os rochedos, a montanha.
Recebem tal clarão que tanto encanta.
As formas tão suaves, vento assanha
As folhas destas matas. Manso canta.

Ao fundo deste quadro tão sensível,
Os olhos da morena que sonhara.
Aurora se pintando, mais incrível,
Deslumbra a natureza, tela rara...

Em meio a tanta luz, se sobressai
Tua beleza, amada, em sonho, esvai...


31


Aurora se mostrando mais inteira
Em vários brilhos, tantos quanto ofuscam.
Meus versos dediquei-te a vida inteira,
Espaços magistrais, eles te buscam...

Eu quero uma sonata que amor fale,
No cálice divino dos teus braços...
Não deixe que este amor nunca se cale,
E venha descansar, te dou abraços...

Em versos mais sublimes, quero ter,
O gosto de te ver bem junto a mim..
Sabendo que em teus braços vou morrer,
Eu quero teu amor até no fim...

E sinto que serei bem mais feliz
Vivendo em nossa vida o que bem quis...


32


Aurora terminando, a vida passa...
A morte desafia e me persegue...
Quem fora caçador, se encontra caça,
Na fonte que se seca, vou entregue...

A vida se cansando, sangra, lassa...
Não haverá ninguém que me carregue,
Nos templos divinais, já se esfumaça
Qualquer que seja o sonho em que se apegue...

Aurora derradeira, vislumbrada,
Não deixe meus retalhos no caminho...
A vida que passei se fez marcada.

Sem lume vai secando meu jardim...
O tempo cruel fera traz sozinho
O mundo que remando, morre em mim...


33


Auroras que imagino, vagos lumes,
Na vagas que se quebram no meu mar
Trazendo no buquê tantos perfumes;
Das vagas ilusões me fiz amar.

No vinho com buquê encantador,
Inebriado sinto teu aroma,
O cheiro que perfaz este vapor
No mundo sem destino, já se soma.

Patéticos, meus versos te procuram,
Parece que nasceste deste sonho,
No rosto tão suave se emolduram
Formando teu semblante mais risonho.

Auroras que me trazem novo brilho
Indicam que o amor sempre é meu trilho...


34


Ausculto a mansa voz do coração
Batendo em disparada, taquicárdico.
Volúpia se transforma em sedução
Deixando bem um frio antártico.

O meu olhar se encontra, assim, catártico
Ao ver em tal beleza, esta emoção,
Meu peito se mostrando quase enfártico,
Já transborda em divina tentação.

Viver cada momento em plenitude,
Qual fora tolamente um ser lunático.
Revejo junto a ti a juventude,

Meu canto se tornando mais temático,
Exprime em cada verso, em atitude
Amor que é para mim, quase emblemático...


35

Ausência de calor e de carinho,
Somando nossos nadas, não dá nada,
Serpenteando a dor em cada estrada
Aguardo o que talvez entranhe o ninho.

A noite se esvaindo de mansinho,
Esgota logo cedo uma alvorada,
Na força do chicote vai lanhada
A pele de quem vive tão sozinho.

A cada nova farpa deste arame,
Eu sinto a minha vida vesga, infame.
Estrábico desejo em que se apegue

O sonho de um estúpido animal
De ter, em comunhão fenomenal,
Um barco que outro mar inda navegue.


36


Ausência dolorosa e tão sentida,
Se fez nestes momentos mais tristonhos.
Querendo te encontrar em vão, querida,
Restaram-me somente ledos sonhos.
Teu cheiro se espalhando em minha vida
Promessa de outros dias mais risonhos....

Agora que percebo, que chegaste
A cama se aquecendo devagar
Tramando uma vontade em que se gaste
Toda energia em fogo a nos queimar.
Percebo que te tendo, que contraste!
Tua distância pode me matar...

Vem logo e traz depressa em teu calor,
O sol que nos aquece, meu amor...


37




Ausência vai batendo em minha porta,
Eu sei que só terei mais alguns meses,
E neles desejando muitas vezes,
Porém a ilusão se finda, morta.

Não posso me enganar, nem deveria,
O que resta de mim é muito pouco,
E mesmo que estivesse insano, louco,
Jamais conhecerei tanta alegria.

Dedos amarelados por cigarros,
Tomado pelo câncer, sem defesas,
Ainda que me restem fortalezas,

Sinais da doença nos escarros,
Sanguíneas libações saem de mim:
Não resta qualquer dúvida: é meu fim!


38


Ausência vai tomando o coração,
Distante de teus braços, meu amor.
O vento se tornando um furacão,
O céu perdendo brilho, mata a cor.

Apenas tão somente uma ilusão
Deixando o meu canteiro já sem flor,
Quem teve nesta vida uma paixão
Conhece plenamente gozo e dor.

Angústia dominando toda a cena,
A noite que eu queria tão amena,
Espalha esta tristeza sobre mim.

Quem dera se eu pudesse te tocar,
Ouvir em tua voz, distante mar,
Cevar em alegrias, meu jardim...

39



Ausente de mim mesmo; cismo à toa,
À tona em agonia vêem meus ermos,
Vontade que inda resta diz que sermos
Seria o que; talvez; sonho ressoa.

O barco que à deriva perde a proa,
A mente vaga em busca de outros termos,
Dizendo dos meus versos, ora enfermos,
E ao longe, a fantasia nada ecoa.

Se eu sou a merencória madrugada,
Minha alma, um albatroz procura pouso,
Na cama de um faquir tenho repouso,

Palavra a cada frase degradada,
Arrancando os meus olhos; morte lenta,
Enquanto este naufrágio, em paz, me alenta...


40


Ausente de teus olhos, céu escuro,
Refém do quase tanto que não tive,
Aonde em que planeta vão estive,
Só sei que, tolamente eu te procuro.

Açudes de ilusão em solo duro
Semente mal lavrada já não vive,
Por mais que a vida amarga tanto prive
Insólita vontade; inda perduro.

Palhaço que buscando um picadeiro
Esmera-se em estúpida esperança.
Sabendo ser tal ato, o derradeiro,

A peça chega ao fim sem solução.
O verso que pensara de aliança
Agora encontra rima em solidão...

41


Ausente do calor de teus abraços,
Apenas a esperança do meu lado.
Tristeza que acompanha aqui, meus passos,
O vento feito inverno vem gelado.
Sentir o coração descompassado,
Deitando no teu colo, sonhos lassos...

Saudade de teus lábios, teu sorriso,
Estar junto contigo a cada instante,
Tu foste sem sequer mandar aviso,
A vida se tornou tão vacilante.
Verão tomado em gelos, e granizo.
Deixando a primavera tão distante...

Porém o manso orvalho já anuncia
A terna mansidão de um novo dia.


42








Ausente dos caminhos da ventura,
Distante de teus olhos, sofrimento.
Somente amor profundo traz a cura,
Apascentando assim, todo tormento.

Percebo o quanto Deus faz em ternura,
Mudando a direção de cada vento,
Uma alma que se mostre clara e pura,
Permite ao sofredor, candura e alento.

Não te sinta tão só; amiga minha,
A mão do meu Senhor já te encaminha
Aos mais suaves prados, com certeza.

Louvando o Criador que nos ensina
O Amor em luz tão mansa e cristalina,
Ajuda a conhecer rara beleza...



43


Avalanche de sonhos que governa
O caminho desditoso de um poeta.
Enquanto a fantasia assim hiberna,
Eu perco a direção, o rumo, a meta...

Quem dera a juventude fosse eterna,
A força se mostrando tão dileta,
Na fonte de teus olhos, bela e terna
Minha alma tão sedenta se completa.

Marcos de momentos mais felizes,
Deixando no meu peito as cicatrizes
Que o tempo inexorável, destruiu.

O templo dos meus sonhos, ilusões,
Enferrujando; o tempo, os seus portões,
Aos poucos, entre as trevas, já ruiu...


44

Avalizando os sonhos mais audazes
Palavras e sentidos misturamos,
Querência sem igual, nós desfrutamos
Em meio a tantos versos, rimas, frases

O amor que nos transporta em várias fases
Além do que sentimos ou pensamos
Por vezes em delírios embarcamos,
Mas somos tão felizes quão vorazes.

Erguendo os nossos olhos em conjunto
A vida não permite um outro assunto
Senão farta loucura em riso franco.

Bebendo cada gota deste sonho,
Meu barco nos teus mares; logo ponho,
E o dia nascerá tão terno e branco...


45


Avanço a noite imensa
ao lado de quem amo,
teu nome já reclamo,
e nele a recompensa

do amor mais do que pensa
a quem sonhando eu chamo,
sem ser cativo ou amo,
em noite mansa e densa.

Vibremos nesta dança
que nunca cansará
atando em aliança

o sol que brilhará,
amar, uma esperança
que eu quero agora e já


46

Avanço com meus sonhos, a manhã
Tocado pelos raios deste sol.
Ao ver teu corpo nu, beleza grã
Intensa claridade em arrebol.

Na tua companhia, amor bendito,
Olvido os meus problemas, me liberto,
E de soslaio, os seios belos fito,
E de uma letargia eu já desperto

Atiças com palavras de malícia,
O coração faminto de quem quer
Saber deste manjar, rara delícia
Imerso no teu corpo de mulher.

O amor que a gente sente, não sacia,
Prazeres traduzindo assim: bom dia...

47


Avanço minha mão pelos teus seios
E desço até chegar ao Vênus Monte
Abrindo úmidos lábios, doce fonte
E sugo teu clitóris sem receios.

Estamos dominados por anseios
Que fazem do prazer nosso horizonte,
A boca é tão somente simples ponte
Volúpias e luxúrias, loucos veios.

Na cópula fantástica a promessa
Do orgasmo que virá como um vulcão.
E devagar, querida sem ter pressa,

Cavalgas com vontade o garanhão
Que explode num prazer sensacional
E alaga tua gruta divinal...

48


Avanço sobre as pedras e os espinhos,
Contigo nada temo, vou em frente.
Os olhos que se espalham pelos ninhos
Vislumbram tal momento iridescente

Aonde com certeza eu terei
O gosto desta boca sobre mim,
O amor vem dominando toda a grei,
Cevando com carícias o jardim

Aonde percebi bela roseira
Que assim perfuma todo este canteiro,
Tu és a minha amada companheira,
Certeza de um amor mais verdadeiro.

Que seja sempre assim a nossa vida,
Jamais admitirei a despedida...


49

Avassalador desejo em que arremeto
Meu barco navegando amor profundo.
Por vezes, alguns erros que cometo

Eu tento corrigir em um segundo.
Mas saiba que eu te quero e te prometo
Lutar, se for preciso, contra o mundo...

Aflora esta vontade em cada frase
Um vero sentimento soberano.
Se sei que nesse amor encontro a base,
Jamais cometerei mais outro engano.

Decerto nos teus passos, minha estrada.
Deveras tuas mãos tão carinhosas,
Serão eternamente perfumadas
Trazendo para a vida aroma em rosas...


50


Aventureiro barco em solidão
Nos bárbaros caminhos desta via
Enfrenta desmedido furacão
Com risos e palavras de ironia.

Sem medo e sem fazer u’a previsão
Se atira nos desejos todo dia.
Após novo naufrágio ou explosão
Refaz-se e não aprende, nem procria.

Vivendo corações já se renega
E mata em cada cais, o comandante.
Do nada que ganhou o nada lega

Apenas os resquícios do naufrágio
Tomando o coração a cada instante.
No fundo se defende, de tão frágil...


51


Avesso aos delicados rapa-pés,
As sedas; não rasguei nem rasgarei,
Fazendo da verdade quase lei
Eu vejo a vida sempre de viés.

Respeito diferenças, crenças, fés,
Não suportando império, mato o rei,
Liberto, o Paraíso que criei,
Jamais se prenderá; torpes galés.

A porta que cerraste; enfim eu abro,
Vislumbro o teu olhar em descalabro,
E acendo o candelabro da esperança.

Enquanto estás ao fútil, amarrada,
Eu subo destemido; a nova escada,
E a chave do futuro,a mão alcança...


52


Avinagrando, enfim, suaves vinhos
Desesperança chega e num momento,
Por falta de emoções, ledos carinhos
Permite um maremoto violento

Causando esta total devastação
Secando os meus canteiros, vou desértico.
As nuvens retornando, um furacão,
Cataclismo que traz fim apoplético.

Estrelas se perdendo, turbilhões,
Restando tão somente este vazio,
O vento prometido nos tufões
Imensos pesadelos hoje eu crio

Desfilo minha angústia pelos ares,
Adentro em fantasia, os lupanares...


53

Azar! Durante tanto tempo estive
Sob o jugo terrível dos maus fados.
A sorte tão ingrata sobrevive
Distante dos meus dias já sonhados.

Por mais que já pensara noutros dias
O vento nunca veio benfazejo.
Tentando transformar em fantasias
As coisas bem mais simples que desejo.

Sorriso de mulher por mim amada,
Amigos que perdi, sem perceber...
As curvas tão fechadas desta estrada
Por mais que são difíceis, quero crer

Que levam no futuro a uma mudança.
E a cura de um azar? Uma esperança!


54


Azulejar a sorte de quem ama,
Abiscoitar o gozo deste coito
O velho pescador jamais afoito,
Prepara na tocaia a sua trama.

Detendo em suas mãos constelação
Afaga com suprema serventia,
O vício só é bom quando vicia
Amor não necessita de facão...

O resto é ter decerto sempre calma.
A palmatória nunca me ensinou,
Apenas o carinho traz colheita.

Acobertando os erros de minha alma
O velho sentimento não poupou,
A noite entre dois corpos nus se deita...


55

Babando tanta baba, um babador
Queria ser além de simples arca,
Quem sabe se sonhasse com amor,
Seria babador menos babaca.

Faria ao mundo, assim grande favor,
Na lama em que se esgota, finca estaca
E faz de todo pobre sonhador
A carne que devora, achando fraca.

Mal sabe este panaca sem juízo,
Que o bom da nossa vida é ser feliz.
Apedrejando assim o paraíso

Maltrata quem não sabe ser servil
Ao mundo que deseja, e sempre quis,
Distante de quem ama. Porco vil...


56



Bacantes caminheiros desta noite,
Desnudos sobre a cama, temporais.
A língua se fazendo como açoite,
Vontade de prazer cada vez mais.

Teu cheiro que se entranha em minha pele
Desnudos e suados, sem pudores.
Ao fogo desta orgia nos compele,
E nus, sacramentamos os amores.

Derramo sobre ti, minhas vontades,
Tu abres os caminhos do infinito
Sentindo os dedos, lábios, liberdades.

Latejo meu desejo dentro em ti,
Até que em explosão de gozo e grito
O céu derrama estrelas bem aqui...


57


Back-up que nós fizemos permitiu
Lograr um exitoso resultado.
Do joio, diferença tão sutil
Fazendo deste trigo, abençoado.

As desavenças queimo em algum grill
O amor que nós vivemos, ilibado
Ouvindo da alegria, canto e brado,
Tornado que se entorna em paz, gentil.

Olhando o meu passado, aumento o zoom
E vejo que de dois somos só um
E tendo esta certeza dentro em mim,

Depois de tudo aquilo que busquei,
A vida finalmente diz okay
E o céu se torna agora, belo e clean...


58


Bagunça o meu coreto e faz a festa
Não deixa mais sobrar nenhum detalhe,
Na boca que procura cada entalhe,
Promessa de invasão em doce fresta.

De todo o meu juízo nada resta
Senão esta vontade que se espalhe
O corte tão gostoso que avacalhe
O siso que não cabe nem se empresta.

No sal, suor, sangria desatada
Fornalha inesquecível, gozo franco.
Contigo o fogo pleno não estanco.

Sozinho na verdade não sou nada.
Apenas reviver o que senti,
Deitando o meu prazer bem junto a ti...


59


Bagunça o meu coreto esta vadia
Que quando beija, cospe e vai sorrindo,
Se eu peço que me esquente, ela me esfria
Se eu quebro a minha cara; diz: - Que lindo!

Um espinho cravado na garganta,
Um tapa que estalou na minha face,
A sorte quando chega, a vada espanta,
E vive se escondendo num disfarce

De meiga donzelinha, moça pura.
Quem vê a sua cara de menina,
Não imagina a sina que tortura,
Que lambe, faz amor, e me domina.

No sim e não disfarço a dura luta,
Rainha da sandice, deusa e puta...


60


Bagunce o meu coreto, faça a festa.
Seja o que quiser mas não se canse.,
Da vida sem promessa nada festa
Premissa é ser feliz, se quiser dance.

O bom não veio? Dane-se querida!
O risco corta? Corra mais depressa
Senão a morte alcança e sem saída
Não deixa nem motivos para a pressa.

Perceba o dom de estar onde sonhaste
Com braços estendidos, cai a noite.
Na queda não resolve nem guindaste,
A dor de uma saudade vira açoite

Mas tenha uma certeza minha amiga,
O mundo vale a festa e vale a briga!


61


Bailando a noite inteira já me perco
No corpo da morena mais tinhosa.
De todos os prazeres eu me cerco
E a noite vai sem fim, maravilhosa...

No cálice da boca tão molhada,
Teus lábios sequiosos e carnudos.
A gente penetrando em madrugada
Brindando nossos corpos já desnudos...

A lua na janela nos espia
E manda nos seus raios, brilho intenso
Contrastes com a tez bela e trigueira.

Num quadro onde esbanjando fantasia
Eu guardo na lembrança e sempre penso
Na alegria de amar, mais verdadeira...


62


Bailando a noite inteira num desejo
Que faça nossos corpos se entranharem.
No quanto descobrimos tal traquejo
Os gozos e os prazeres provocarem

O fogo da paixão que nos consome
Deitando em alegria a noite imensa.
Matamos da vontade toda a fome
Sabendo quanto amor sempre compensa.

Pois somos, do banquete, comensais
Que se fartam, deveras em delírios.
Os jogos que fazemos, sensuais,
Deixando no passado alguns martírios

O teu corpo, um colírio magistral
Do amor o meu altar e catedral.


63


Bailando nos teus braços,
Na noite/ madrugada,
Atamos nossos laços
Em carta já marcada,

Ocupando os espaços,
Não deixamos mais nada,
Apenas nossos passos,
Na rua, na calçada.

Depois no nosso quarto,
Em contraluz, aceso,
Mergulho até que farto,

Amor que sei mais teso,
Fazendo tal folia
Que eu quero, todo dia..


64

Bailando nossa sorte em aguardentes
Em poços defumados da incerteza.
Rasgando minha sina perco os dentes,
E sinto que perdi minha leveza.

Mas vejo outros caminhos decadentes
Por onde trilharei tua beleza
Amada sensação de penitentes
Em busca da verdade e da pureza

Negada por quem tem o cadeado
Guardando neste cofre uma esperança.
Tomando para si destino e fado,

Na velha apologia do pecado.
Distante deste AMOR, o velho avança
E matando a alegria, nega a dança.


65


Bailando sobre mim, a colombina
Entorna poesia em fortes gozos,
Momentos delirantes, fabulosos,
Nos quais a fantasia nos domina...

Um velho pierrô que se fascina
Com teus delírios fartos, maviosos,
E os bailes desfilando prazerosos
Não deixam que se seque a farta mina.

Viagem mal termina e já repetes,
Espalhas serpentinas e confetes
Tomando este salão velhas marchinhas,

Quem dera mestre sala, a noite inteira
Dançando com gentil porta bandeira
As festas compartilho, tuas, minhas...


66


Bailarina que grácil me alucina
Nas curvas generosas se balança;
A boca que se mostra me domina,
Nos requebros gentis, sensual dança.

A fome dos desejos descortina
A noite que tateio nunca avança.
A mão que me promete nova sina.
Nos cabelos castanhos, laço e trança...

Os dedos já cobertos, finas luvas,
Atalhos esquecidos descobertos...
Meus olhos derrapando belas curvas.

Os sonhos erotizo e me agasalhas...
Nos botões da camisa que, entreabertos,
Penetram meus olhares qual navalhas...

67


Bailemos sem limite, a noite inteira
Que a vida nos permite tal festim.
Vencendo esta saudade matadeira,
Encontro o que melhor resiste em mim.

Não deixe que esta tarde tão faceira
Se perca sem destino sem um fim,
Nem mesmo que se perca esta roseira
Plantado com carinho no jardim

Dos sonhos onde fomos lavradores,
Unindo nossas mãos em bom arado
Amor matando o medo do passado,

Refaz em vida belos refletores
Deixando a solidão, assim de lado,
Trazendo em nosso céu risonhas cores...


68


Baladas embaladas para entrega,
Nas noites tão charmosas lá de Sampa
Nas Raves, nas boates, quem navega
Diverte-se querida, assim às pampa.

Enquanto um caipira aqui da roça,
Olhando para a moça da janela
Prepara o coração, sobe à palhoça
E num beijinho doce se revela.

No fundo é tudo igual, amor, gatinha,
O jogo só é bom quando bem feito.
Amor que em tanto amor, amor aninha
Começa num beijinho e vai pro leito,

No mato ou no motel, a estrela brilha,
Garanto que é a mesma maravilha...


69

Balança esta roseira
Põe fogo no quintal,
Amiga e companheira,
A vida sem igual

Se mostra verdadeira
Enfim fenomenal,
Na força feiticeira
Que faz um carnaval

Em festas e bailados,
Em risos e traquejos,
Olhando para os lados,

Pressinto tais desejos,
Juntando nossos fados,
Tomando nossos beijos...


70


Balança este coqueiro, morenaça.
A gente não se cansa de saber
Que o gosto adocicado da cachaça
Rodando sem parar me dá prazer.

Dançando assim pelado em plena praça
Platéia se masturba, eu posso ver
Por mais que teimosia não nos caça
Atrás do trio elétrico o poder.

Perigas nesta estrada se sozinha,
Te quero sem juízo, toda minha,
Fogoso quero sempre esta caçada

A presa estando presa, que delícia
Depois é só carinho e com malícia
Tocaia se mostrou abençoada.

71


Balança o coreto
Na dança dileta
Dizia o poeta
Aqui não me meto!

Ser franca e direta
Eu não me intrometo,
Na luz predileta
Que invade meu gueto.

Eu sou teu amigo,
Por certo, querida,
O resto? Nem ligo,

Encontro a saída
Se corro perigo?
Quem sabe duvida...



72


Balançando a roseira
Quebrando a sapucaia,
Amada verdadeira
Na solidão não caia,

Que a vida é feiticeira
Mas corta qual navalha,
Contigo a vida inteira,
No amor que já se espalha

No campo e na cidade,
Que faz a gente crer
Na tal felicidade,

Vontade de viver,
Saber da claridade
Que traz um bem querer...



73


Balançando na rede com meu bem,
Vontade preguiçosa de ficar,
Gostoso, nosso amor no vai e vem,
Chegando, de mansinho, devagar...

Como é bom, nessa vida ter alguém,
Que a gente sempre possa confiar
Depois de tanto tempo sem ninguém
Só quero, meu amor, te namorar...

A rede, de repente, se rasgou
Na queda, tua saia levantou,
Mostrando este lugar belo e preciso,

Desculpe meu amor, vou te dizer,
Quando a rede rasgou eu pude ter
A mais bela visão do paraíso!

74



Balançando o coqueiro, eu peço a Deus
Que me dê um restinho de alegria.
Os dias que passei só foram teus,
Brincando no regaço de Maria.
Quem sabe claridade vê os breus
E conhece também manhas do dia.

Meus versos vão dizendo da paixão
Que é sempre tão traquinas e moleca.
Devora num segundo o coração,
Depois já sai sorrindo, esta sapeca.
Só restando o luar e o violão
Fazendo a gente logo de peteca.

Mas guardo disto tudo uma esperança
Vivaz como brinquedos de criança...

75


Balangas tanto beiço, mas no fundo
Não gostas do que escrevo nem um pouco,
Fingindo ter ouvidos feito um mouco,
Meu verso te parece nauseabundo.

Se tanto quanto quero não abundo
Cansado de gritar, jamais fui louco,
Sem nada que me fale nem tampouco
O muito prometido é vagabundo.

Se tudo o que apetece é ser feliz,
Desculpe, mas o sonho contradiz
O que a verdade mostra a cada instante.

Amor jamais se fez só por osmose,
Coceira de desejo? Escabiose.
Paixão é pneumonia galopante...


76


Balbucio seu nome, estremecido.
Da vida que eu bebia em cada gota
Os tempos em que havia me esquecido
Andando com minha alma quase rota,

Não resta mais sequer algum vestígio.
Vieste e me salvaste da tormenta.
Pressinto que, em teu peito, algum prestígio
Já tenho. Amor no peito que se assenta

Trazendo uma esperança iluminada;
Permite que eu consiga vislumbrar
A vida como porta de chegada
Depois de tanto tempo a naufragar...

Trouxeste no teu braço salvador
Certezas de viver em pleno amor...


77


Bandeira que amizade assim desfralde
Erguida como um lenço branco, em paz.
Beleza que se espalha no arrabalde
Certeza de alegria e encanto traz.

Uma amizade imensa nega a fraude
E vence sendo intensa e mais capaz.
Sem ter a mão cruel que nos escalde
Fartura sem igual nos satisfaz.

Moldando nosso tempo sem ter gládio
Certeza neste campo que ora invade-o
Forrando cada palmo deste chão

Com toda a maravilha que se encerra
Nos âmagos benditos desta Terra
Cevada com carinho e compaixão...


78


Bandeira tremulando em rijo mastro
Chamado para a paz e para a guerra,
Seguindo cada passo encontro o rastro
Daquela que em desejo, amor encerra.

Do céu em maravilhas, como um astro
Olhar enamorado não mais erra
E vendo a branca alvura em alabastro
A resistência tola cai por terra.

Não posso mais negar quanto eu te quero,
Se é tudo o que eu preciso para ser
Feliz, é neste sonho que eu tempero

A vida em busca insana e fascinante.
Além do que eu pudera perceber,
Desejo o teu amor a cada instante...


79


Bandeirante ditoso na clareira
Correndo sem cristais ou esmeraldas,
Enquanto a poesia tu desfraldas
Esqueço o que dizia esta bandeira.

O amor jamais seria bandalheira
Não fosse em tuas coxas méis e caldas,
Depois de certo tempo troco as fraldas
E faço toda noite a mamadeira.

Rasgaste a camisinha de propósito!
Olhaste para mim como um depósito,
Mas saiba, meu amor, eu ando duro.

Do tiro que tu deste num escuro
Invés de garantires teu futuro
Fizeste no final, um despropósito!


80


Bandeiras da esperança desfraldadas
Tremulam incessantes, sem descanso.
Ao caminharmos juntos, de mãos dadas
Decerto alcançaremos tal remanso.

Emoções nos dominam quando alçadas
Ao infinito plano aonde alcanço
Alegrias em ondas delicadas,
Encanto assim sublime em mar tão manso.

Enamorado, bebo eternamente
Dos lábios da mulher raros licores.
Um grande amor que enfim já nos contente

Desnuda nossa pele, estampa a sorte
De ter a cada noite teus fulgores,
De altares da esperança, um bom suporte...


81


Bandeiras desfraldadas nesta torre
Onde avisto chegarem galopantes
Corcéis em belo céu que agora morre
Nas colinas em cores deslumbrantes.

Bandeiras desfraldadas nesta cama
Misturas de perfumes e de sonhos,
A voz aveludada não reclama
Os mantos descobertos e risonhos.

Bandeiras desfraldadas nesta busca
Do corpo pela pele que sonhara.
A mão que acaricia, nunca brusca,
Encontra em quente lago uma água clara.

No visgo deste lago me perdi,
Bandeiras desfraldadas, ‘stou aqui!


82


Bandido tão silente enquanto agia
Roubando dos pequenos, sempre mais.
Fazendo nos congressos sua orgia
Os chifres denunciam Satanás

Vestido com perfeita galhardia
Galhada sobre a testa sempre traz.
Fazendo nos ingênuos tal sangria
Matando em nascedouro é bem capaz

De se forjar amigo de quem sangra,
Depois nos feriados ir para Angra
Iates e banquetes sem ter fim.

Amigos do demônio, com certeza,
Só peço ao Salvador que, por fineza
Afaste esta canalha aqui de mim...


83


Banhado no desejo de te ter
Dormindo no aconchego dos teus braços
Molhando minha vida em teu prazer
Recebo teus afagos, velhos laços...

E sinto que esta noite será nossa
Em tantas fantasias que pretendo
Gosto que tua boca já me adoça
Em festas e folias convertendo.

Eu quero te saber bem mais tranqüila
Nas vezes e nas tramas bem urdidas
Amor que tanto amor já se destila
Vivendo em pleno gozo nossas vidas...

Suando, nossos corpos se procuram
Em meio a tantos sonhos se torturam...


84


Banhando o lindo seio em minhas águas,
A bela criatura não sabia
Que em braços destas braças minhas rias
As lágrimas corriam, minhas mágoas...

Vertido neste rio que, em cascatas,
Amor não permitiu felicidade,
Ao ver a triste chama da saudade
Em meio às minhas dores fluo em matas.

Depois desses milênios; solitário,
Revejo uma esperança na nudez
Nos carinhos que faço, insensatez;

Nos beijos que transbordo temerário
Enchentes perfilando maravilhas,
Unindo em poesia, antigas ilhas...


85


Banquete da alegria em mar sereno,
Promessa bem sutil quase em desarme,
No sonho em que preciso concentrar-me
Um dia com certeza mais ameno.

Sabendo reviver amor mais pleno,
Na sorte de poder banquetear-me,
Não posso prescindir de tal alarme
Do mundo em que sonhei, sem ter veneno

A sorte- ser feliz- já não retarda
Encontro o fantasia em dia augusto
De um passo mais audaz e mais robusto

Mostrando na certeza, ser capaz
De ter uma manhã ensolarada
Num mundo mais perfeito em plena paz...


86



Banquetes que pensei; simples fiasco,
Orgíacos momentos desejados,
Se agora do meu corpo restou asco
Os pés do caminheiro, calejados.

De quem se fez poeta, nem o casco,
Palavras me servindo de cajados,
O alívio que eu encontro em cada frasco
Sofrimentos enfim remediados.

A perna diabética lateja,
A amputação se mostra a solução,
O cheiro que me invade, podridão,

A angústia se tornando enfim sobeja.
Distante dos antigos refletores,
Contorno com meus versos, tantas dores...


87


Barata desbarata o meu barato
Num ato que insensato não repito.
O beijo da morena é desacato
Preciso de outro verso, senão: pito.

O gato que; fugindo, vira rato
O quanto em desencanto não palpito.
Velhice feita em verso que retrato
Não vale neste jogo mais que apito.

Das velhas picuinhas, estou fora
Ariscas as palavras saltam muros,
Depuro o que em tortura trouxe apuros

Voz em modernidade já deplora
A rima que me arrima é simples soma
Embrulha e me embaralha enquanto embroma...


88


Barata na cintura da baiana
Fazendo reboliço e remelexo,
Eu quero em nosso amor um bom desfecho,
Assim a gente sabe e não se engana,

No gosto desta boca, pura cana,
Abrindo toda noite, calça e fecho,
O resto mal servindo de apetrecho,
Sorriso de soslaio, tão sacana...

Embalas meus desejos em quadris,
Balanças os cabelos num convite,
Por mais que a sensatez amor evite

Dos medos resta alguma cicatriz,
Mas sei que venceremos preconceitos
Vivendo em pleno amor, todos direitos...


89


Barbáries encontrei em minha vida
Assim como mentira e falsidade,
Às vezes já fechada uma saída
O amor veio arrombando qualquer grade.

Se eu trago a cicatriz, sei da ferida
E tento disfarçar tranqüilidade,
Porém se a porta eu vejo destruída
Adentro sem temor nem vaidade.

E assim eu vou seguindo o meu destino
De ser quase um corsário da ilusão,
Prefiro ter meus pés sempre no chão

Senão bem mais depressa eu me alucino,
Se tudo o que vivemos foi em vão,
Eu permaneço sendo um peregrino...


90

Barcaças parindo sonhos
Medonhas embarcações
Os fardos são tão bisonhos
Nas carnes, putrefações.

O barco que nunca tive,
O vento que nunca veio.
Lugares por onde estive,
Arcando com meu receio.

Mulheres que não beijei
Os seios que não vislumbro
Amores que eu estraguei
Nos chumbos já me deslumbro

E bebo desta fornalha
E escarro em podre canalha..


91


Bares, becos, bocas, ritos, rumos, onde?
A vida não permite mais enganos.
De todos os momentos, velhos planos,
Vazio dentro da alma, já se esconde.

Quem dera se eu tivesse barco ou bonde,
Talvez não fossem frios, desumanos,
Os olhos que eu pensara, soberanos
Adelgaçando o sonho outrora fronde.

Restante do viver, desilusão,
Recolho os meus pedaços, negação
E tento numa colcha de retalhos

Abrigo, mas que faço se não vem
Nem mesmo estrela guia, bonde ou trem.
Deixando o coração já em frangalhos...


92


Barganhas que fazemos com o mundo
Determinando os rumos, ódio/amor
Mudanças tão velozes, num segundo
Em glória ou morte a vida a recompor.

Histórias tão diversas, rua escura
Batidas arrastadas, tempo passa.
Na determinação, ação e cura
Depois o que viera se esfumaça.

Crianças espancadas pela vida,
A sorte se levando em plena brisa.
De tudo se repete na batida
Do relógio que nada mais avisa

Senão da morte certa que virá
Na glória deste amor que odiará...

93


Barquinhos de papel pela enxurrada,
Numa festa sutil, criança pobre.
O medo dos fantasmas, vida cobre
O que foi quase tudo, resta nada...

A não ser os barquinhos... Em cada
Novo almoço, torcer para que sobre
Uma rapa de angu; nisso descobre
Que a tal felicidade vai cansada...

Nas janelas, bolinhas de sabão,
Pelos ares, fugiu tanto balão;
Nos papagaios, cerol não havia...

Brincadeiras; queimada, corda, pique.
Amarelinha do tempo, no repique
Dos sonhos, vai reinando a fantasia...


94


Bases frondosas: árvore esperança...
Grinaldas buquês, festas, despedidas...
Alabastrinamente vão vestidas
O que restará dessa contradança?

O que tenho melhor- amor - avança;
As tardes que deixei estão perdidas...
Nos meus dedos, meus medos são feridas.
Nas bodas, tuas bodas, a criança

Morta, ressurge, tímida, reclama...
Perco-me, cego, morde a dor que inflama
Te perder foi atroz, mal tumular...

Escadarias, luzes, enlutado...
Tais esperas, festejos, triste fado...
Quem me dera jamais poder amar!


95


Bastam-me mais uns poucos sentimentos,
Não quero transformar tristeza em ouro.
A dor preconizada nos tormentos
Qual faca penetrando no meu couro

Esquartejando tudo. Sofrimentos,
Meus cruéis guias, sabem desse agouro.
E sempre recebendo os duros ventos
Deixando bem distante ancoradouro.

Amor não quer saber de tais partilhas
Da minha sina, apenas traz veneno.
Quem dera se pudesse um sonho ameno

Aonde desfrutasse maravilhas.
Mas nada me sobrou senão saudade.
Daquilo que jurei : felicidade...


96


Bastando que se entregue ao raro encanto
Por vezes eu me ausento, mas retorno.
Aqui minha morada templo e canto
Amor saiu tostado do teu forno.

Embornal em que trago a liberdade,
Tristeza vai deixando a gente em paz.
Capaz de tempestade e claridade
Amor emoldurado não compraz.

Atrás do que se foi e não mais volta
À solta pelas ruas e calçadas.
A pele da morena, plena escolta
Cantantes esperanças, madrugadas.

Às vezes posso ser até pernóstico
Do amor que nós tivemos, nem acróstico...


97

Bastardas sensações de medos crus,
Ensimesmando sempre a mesma história
Voando sobre nós os urubus
Querendo o que sobrar da merencória

Fornalha em que vivemos quase nus,
Sem rumo e sem troféus sem ter vitória
Na mão do vencedor qualquer obus,
No corpo derrubado, riso e glória.

Eu bebo do teu sangue e te escarrando
Demonstro quanto amei cada mentira.
Depois de ter fugido não sei quando

A vida em precipício já se atira.
Sei lá se estou querendo ou vou te amando,
A mando do que fomos; nada gira...


98


Batendo nessa porta e nos batentes,
Não posso penetrar na tua sala.
A vida me rangendo podres dentes
A solidão disfarça e não se fala.

Os sonhos se parecem inocentes,
Na sedução da carne, a dor resvala...
As mãos que acariciam são tementes,
Os olhos fugidios qual impala...

Já posso traduzir em desventura
Haréns que me deixaste, perfumados,
A mão desfia em atos de brandura.

Os dias não serão mais ocupados.
Amor que me deixaste, sem ternura.
Amêndoas os olhares preocupados...


99

Batendo nesta tecla o tempo inteiro
Fugindo da verdade em falsas tramas,
Se logo em desafio tu reclamas,
Apago num instante o fogareiro.

Vagando por teu corpo qual veleiro,
Dos ventos desejosos sobre as ramas
Não posso suportar lamentos, dramas,
O gozo se mostrou meu companheiro.

A mão que te dedilha mais precisa,
Vencendo o que já fora uma ojeriza
Estúpida ao amor, alço degraus

Chegando ao campanário dos prazeres,
Deslindo catedrais onde puderes
Trazer um calmo cais pras minhas naus...


3600


Bateu na porta, abri depressa... Amor,
Fazendo estripulia, veio vindo
Devagar invadindo sem pudor,
E quase que zombando, estava rindo...

Naquele instante sinto que perdi
O rumo planejado há tanto tempo.
Aos poucos me tomou; me convenci
Que desta vez não era passatempo...

A mais bonita moça do cerrado
Morena com sorriso mais gostoso,
Domou meu ar, meu céu, beijo melado
Que tanto desejei, amor fogoso...

Agora que este amor é minha lei,
A porta, de uma vez, eu arrombei!
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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