Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 072

 
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101

Falando destas lágrimas que escorrem
No rosto da mulher que tanto amei.
São gotas orvalhares que socorrem
Aquela a quem, em versos, procurei...

Eu sinto que partiu que ela amara,
Deixando um grande hiato em sua vida.
Por mais que te quisera vida amara,
Não quero desfrutar desta ferida.

Amiga, não me esqueço que outros dias
Tu fostes importante para mim.
Não quero te cobrar as alegrias
Que, um dia, tu levaste; nem assim!

Envolto em tantos traumas, na verdade,
Querida em nós restou uma amizade...


02

Falando deste amor calmo e preciso.
Não quero me perder sem teu carinho,
Aguardo cada gota deste vinho
E bebo em calmaria o paraíso.

Amor que tocou fundo e sem aviso
Fez do meu peito agora, rumo e ninho,
Chegando toda noite de mansinho,
Eu dele quero sempre e até repriso.

Cevando a vida inteira, na colheita
A vida em harmonia quando é feita
Provoca a mais suave convulsão.

Eu quero recolher felicidades
E mesmo que inda venham tempestades,
Jamais em minha vida digo o não.
Marcos Loures


3

Falando deste amor em amizade
Que há muito nos domina e nos conduz.
Trazendo um novo sonho: liberdade,
É feito resplendor em plena luz.

Abrindo meus caminhos, vens comigo
Querida companheira predileta.
Em versos tão simplórios já te digo;
Minha alma vai contigo e se repleta

No sonho de alegria que virá
Depois de tanta dor que assim passamos.
Caminho de esperança, um Xangrilá
Sem cruzes, sem escravos e sem amos;

Num facho, minha amiga, de um farol,
O dia nascerá em pleno sol...


4

Falando deste amor
Que é fogo em pura chama,
Sem medo e sem pudor
Ardendo em nossa cama,

Carinho redentor
De quem cedo reclama
Um mundo encantador,
Que é feito pra quem ama...

Não vejo outra saída
Eu quero estar contigo,
Amor da minha vida,

Um sonho que persigo
Minha alma vai perdida,
Sem ter o teu abrigo..
Marcos Loures


5

Falando deste amor que é solução
E traz uma esperança em cada verso,
Do fogo que nos queima, frente e verso,
Na vida nos entorna uma emoção.

Andar no paraíso, pés no chão,
Um coração que andara tão disperso
Mudando da medalha, seu reverso,
Agora ardendo, cego de paixão...

Falar de nosso amor é ter, decerto,
Um rumo mais airoso para a vida.
Oásis que encontrei neste deserto

Prelúdios de esperança, sonho raro.
Nas duras caminhadas, meu amparo.
Do labirinto imenso é a saída!


6

Falando deste amor que quero tanto
E sempre se despede sem carinhos.
Meus olhos caminheiros que sozinhos
Aos poucos vão perdendo luz e encanto.

Distante dos meus sonhos, inda canto
Lamentos em canções. Ermos caminhos,
Ausência de ternura, burburinhos
Disfarçam sofrimento, calam pranto.

Mas tenho ao fim da vida o lenitivo
Nos passos entre as ruas e calçadas,
Colhendo estas estrelas malfadadas,

Ainda que cansado, eu sobrevivo,
Fazendo do meu céu o lupanar
Aonde tento, insano, o bem de amar...


7

Falando deste amor sem ter critério
Mentindo em cada verso, vero gozo.
No prédio de teu braço, um cemitério
Se mostra mais faminto e andrajoso

Nas roupas e trejeitos de outro império
Amor em marcha lenta é mais gostoso.
Agora, desse amor falando sério
Sou quase o que não veio de teimoso.

Mas tenho amor-perfeito no jardim,
E sempre-viva aguada no canteiro.
Das flores que plantaste dentro em mim,

A seca foi voraz, não sobrou quase.
Se falo deste modo mais certeiro
Amor veio por certo em outra fase.


8


Falando deste amor tão docemente
Em termos mais felizes, namorados.
Andando em liberdade, alcanço os Fados
E deixo que este sonho me avivente

Quem anda tão distante qual demente
Não sabe destes laços bem atados
Tampouco destes sonhos desfraldados
Que invadem seduzindo nossa mente.

Amar é ser feliz e ser honesto,
É ter solicitude, estando presto,
Voar sem ter as asas milagrosas.

Amar é ter engenho, saber arte,
Estar em pensamento em toda parte
Aonde recender olor de rosas...


9


Falando deste amor tão leviano
Que fez das suas tramas, meu degredo.
Achando que podia, soberano
Tomar já em tocaia o meu segredo,

Roubando a sensação de cada plano
Matando um coração deveras cedo,
Levando para a vida, o desengano
Criando em meu caminho o desenredo.

Falando deste amor que não tem senso
Rebenta em corredeira uma esperança
Fingindo ser amor maior, imenso;

Fez desabar o sonho que eu tivera
Levando em arranhão toda a lembrança
Mostrando sua garra, faca e fera.


7110

Falando deste bem, tanta ternura,
Mudando num momento, a minha vida,
O coração sedento já murmura
E encontra a paz que achara assim perdida.
Não temo nem a dor nem noite escura,
Cabeça pelas ruas, vai erguida.

Sabendo deste amor feito loucura,
Percebo, nos teus braços, a saída,
Pra todo o sofrimento, a minha cura.
A luta se mostrando enfim vencida,
Rasgando da tristeza uma moldura,
A sorte e alegria permitida

Vivendo o tempo inteiro do teu lado,
Meu sonho ao deus amor, já consagrado...
Marcos Loures


111


Falando da saudade que deforma
Os sonhos mais audazes que teria,
O tempo do passado sempre informa
Dizendo do que outrora inda cabia.

Tomando num segundo a antiga forma,
Às vezes com tristeza ou alegria
Realidade aos poucos se transforma,
Apenas tão somente fantasia...

Metade do que fui ficou por lá,
Porém outra metade chegará
Mudando a direção de cada vento.

Saudade, uma armadilha dos sentidos
Trazendo pães há tempo adormecidos
Suprema traição do pensamento...


7112

Falando assim baixinho
Do amor que me tomou,
Chegando de mansinho
Buscando aonde vou
Um pouco de carinho
Que a vida nos mostrou

Em cada verso intenso,
Amor que já desfio.
O tempo todo eu penso
Sem temer desafio
Pois sei, me recompenso,
No gozo e no arrepio...

Amada, que delícia
Sentir cada carícia..


7113

Falando tão somente de um amor
Que unindo nossas vidas em dueto,
Na terna sensação doce sabor,
Dançando a noite inteira um minueto

Fazendo da alegria feito um gueto
Aonde a poesia faz louvor,
Felicidade é mais que um amuleto
Um sonho além de tudo, encantador.

Usar cada palavra com esmero,
Vivendo em plenitude amor sincero,
Sem medo do amanhã. Sou teu agora.

A vida nos permite esta emoção,
No incêndio desejado da paixão
Amor feito uma lava explode, aflora...
Marcos Loures


114

Falando sério, nunca mais te quis.
Fugiste pelas vagas tempestades,
Cirandeiro esperei e fui feliz,
Nas pedras que brilhaste traz saudades.

Serena a namorada que me diz,
Carrega doce vento sem maldades.
No bosque onde moravas, por um triz,
A vida não me deixa novidades...

Dentro dele tem bosque tem um anjo.
Nas pedrinhas mandei já ladrilhar,
Nos desejos do andor, um novo arranjo...

Rua que, fosse minha era mais bela...
Nas estrelas que dei, tanto brilhar...
E todos meus amores foram dela...
Marcos Loures


115

Falando em solilóquio noite afora,
Eu teimo pelas ruas sem ninguém,
Apenas solidão me revigora
Trazendo o que se foi, e não mais vem.

É hora de partir, eu vou embora,
Vazio o coração, sem ser de outrem,
Teimando inda em bater, serve de escora,
Mas sabe maltratar, ele também...

Olhando num espelho, cada ruga,
Enquanto a vida amarga vem e suga
O que restou de um tempo... que não tive...

A par deste fantasma que caminha,
Uma esperança migra, esta andorinha
Distante dos meus olhos, sobrevive...
Marcos Loures


116

Falando em pensamento meu amigo
Por tantas vezes, fugirei de ti...
Acumulando sem querer, comigo;
As horas tristes que sequer vivi...

Pensei poder, te revelar o abrigo,
Onde procuro me esconder, mas vi
Teus olhos tomam toda a casa aqui.
Me perseguindo mas, audaz, prossigo...

Meu pensamento, tal quimera viva,
És, no meu porto mais seguro, estiva
E cais, jamais eu poderei fugir...

Pensando assim, já procurei meu mundo,
Mas, vens depressa, machucando fundo;
A paz espero, não consigo agir...



7117

Falando em amizade chego a Ti
Senhor dos meus caminhos, Deus amado.
Com alegria enorme eu percebi
Que estavas, companheiro do meu lado,

Na luz de uma esperança, eu vim aqui
Dizer do sentimento mais sagrado
Trazendo esta esperança que vivi
No encanto a cada dia abençoado

Deixado pelo Pai pra quem quisesse,
Um ato de real, divina prece
Trazendo à nossa vida com louvor

O encanto mais sublime em liberdade
Mostrando um novo mundo em amizade
Exemplo mais perfeito feito amor
Marcos Loures


18

Fugindo deste caos no coração
Depois de me perder em desamor,
Criando, novamente uma ilusão
Que refaça meu canto sonhador,

Na mata tão cerrada da saudade,
Imiscui-me inteiro sem saber,
Que a fonte do desejo e da vontade
Se encontra neste bosque do querer...

E dentro dele mora um anjo amigo
Que veio ao meu encontro e me salvou,
Amada, nos teus braços meu abrigo,
Minha alma, teu querer azulejou...

E agora que tenho, minha amada,
A estrada em minha vida, ladrilhada...


19



Fugindo deste amor que nego tanto
Embora sempre cante desolado,
Vivendo do que fora desencanto
As horas mais difíceis do passado.

Não sei se mais terei o que pretendo
Como se a tempestade me tomasse
A noite na minha alma escurecendo,
Tampouco me importando quem amasse.

Amor quando interesses superpostos
Invadem sem temer, o sentimento,
Os âmagos do amor ficando expostos,
Terminam brevemente em sofrimento...

Eu amo quem portanto não me chama
Nem clama pelo amor, ardente chama...


20

Fugindo desta treva que em passado
Tão próximo se ergueu em nosso caso,
Eu vejo que inda sigo deslumbrado
Mesmo tendo sentido, perto, o ocaso

De nosso sentimento que, marcado,
Por essas rachaduras, como um vaso,
Que jamais poderia ser colado
Se não fosse essa sorte, num acaso.

Bem sei que os erros todos foram meus
Ao dar mais importância ao que não tinha,
Beirando, uma loucura, um triste adeus,

Sentindo toda a fria solidão
Que perto, percebia que já vinha;
As garras entranhando o coração...
21

Futuro mais brilhante
Encontro na rainha
Que se fez importante,
Já sendo toda minha,

Não sou mais arrogante
Amor quando se aninha,
Te quer, dócil amante,
A mão que me acarinha.

Eu quero te encontrar,
Querida, bem amada,
Bebendo este luar,

Tomando a madrugada
É bom demais te amar,
Não quero, enfim, mais nada...


22

Futuro destemido, embora brando
Tristeza, bem distante não me humilha
Ao ver-te, num relance aqui passando,
Vestida para a festa, em maravilha,

O meu olhar faminto acompanhando
Os passos que tu davas- estrela brilha-
Sozinho, sem ninguém, imaginando,
Pudesse eternamente, em tua trilha

Seguir e ter teu corpo junto a mim,
Felicidade então; teria enfim
Traçando em perfeição glória e prazer.

Bebendo em tua boca tal magia,
Um tempo abençoado já se cria,
Tramando um belo e raro amanhecer.
Marcos Loures


23

Fustigo te provoco mas nem moves...
Os panos desta manga são chineses.
Nas trovas que te fiz, pena não troves...
Amores e prazeres são às vezes...

Nas noites que te beijo peço engovs.
Teclando essas saudades não desprezes...
Me sinto indefinido mas não choves...
Os campos sem as flores olhos neves...

Me decifro em teu par sem ser pacífico.
Não cabe testemunha em nosso caso...
Amores epidêmicos são tíficos.

Os cactus espinhosos minhas cruzes.
A vida se encaminha para o ocaso.
Sorrisos sem ser risos sem as luzes...
Marcos Loures


24

Fungada no cangote da morena
É coisa tão gostosa, sim senhor.
Se a gente toda noite faz amor,
A vida com certeza já se engrena.

Porém quando a saudade vem e acena
Mudando a direção, quero compor,
Um velho seresteiro e trovador
A música sincera e, em paz, serena...

Lugar qualquer jamais será comum,
No quarto, no motel ou no capim,
Não posso desprezar de jeito algum

A moça que desejo a cada dia,
Diabo disfarçado em querubim,
Não quero nem saber se isso vicia.
Marcos Loures


25

Funéreas tempestades vão embora
O quanto desejei e nada tinha,
Felicidade eu sei jamais foi minha,
Dos sonhos e quimeras, leda espora.

O quanto uma saudade rememora
O dia que em verdade nunca vinha,
Deitando sob o sol e sem sombrinha
O sol do meio dia me devora.

Do bronze que queria; queimadura,
Mas mesmo assim saudade cura,
Valendo cada dor que propicia.

Sem tempo de temer os temporais,
Se outrora desvendei segredo e cais.
Ao menos tive um pouco de alegria...
Marcos Loures

26



Funâmbulo palhaço, equilibrista
Preâmbulos esquece e logo insiste,
Quem dera fosse arguto, mas vai triste
E morre sem remédio e sem conquista.

A vida em estertores, nega a pista
Aonde este infeliz sempre persiste
Amor não é somente um velho chiste,
Não há contra esta força quem resista.

Num frêmito palpita e descompassa,
Em solilóquio perde toda a graça
E mata num instante de emoção.

Que faço deste louco passageiro,
Mergulha num momento e vai inteiro,
Estúpido fantasma: coração!


27

Fumando o meu cachimbo eu percebi
Quanto anti-social é o tabaco,
Na terra do vintém o currupaco
Descreve o que decerto nunca vi.

Tomando uma cachaça por aí,
Ninguém eu te garanto, enche o meu saco,
O velho sinuqueiro sabe o taco;
Depois o porre sai pelo xixi.

Fumar um baseado eu te garanto,
Causa menor tragédia; pois num canto
Ninguém perturba a paz do maconheiro.

Porém se eu fumo o meu, que é um careta,
Parece que fiz parte com o capeta;
E fumo escondidinho no banheiro...



28

Fumando meu cigarro, na fumaça
Espalho o que melhor eu sei de mim,
O tempo vai passando e sempre assim
A fome de viver não se rechaça.

Enquanto o vendaval vem e não passa
Expresso em cada flor de meu jardim
O aroma que encontrei na paz, enfim,
Num gesto mais amigo, amor me laça.

Quem dera se tivéssemos pelo ar
Caminhos estercados pra plantar
Trazendo bem mais puro o nosso céu.

Porém ao ver a fome se espalhando,
Os homens outros homens explorando,
Recebo o gosto amargo deste fel.
Marcos Loures


29



Fulguras em raríssimo esplendor
Esgueiras pelo quarto abrindo a porta.
Fartura em opulência, fina flor,
Ao mesmo tempo cura enquanto aborta.
Bebendo da esperança um bom licor
Noutro momento, lépida, recorta.

A solidão, aos poucos vem chegando
Na angústia a sensação de plenitude.
Pergunto; sem respostas, até quando
Não mudarás, querida, de atitude.
O vento da ilusão que fora brando,
Permite esta tempesta que me ilude.

Espreito uma alegria duradoura,
Apenas incerteza dura,e doura...


7130

Fulgurantes luzes que em abismo
Demonstram quão profundo é o sentimento.
Se à noite tantas vezes só, eu cismo,
Na espera de sentir um manso vento,

Percebo meu amor, que necessito
De todos os carinhos que me trazes.
Soltando minha voz pelo infinito,
Louvando o sentimento em tantas frases.

Palavras que tocando o coração,
São como redentoras, me aliviam.
Altares, catedrais da sedução
Que em doce sensação já principiam

Em vida escadaria para o céu.
Alçando, galopante qual corcel...
Marcos Loures


31

Fúlgidas presenças, opulência,
As tuas carnes tépidas conduzem
Aos templos fascinantes que seduzem,
Cenário se tomando em florescência.

Tetânicos tormentos da demência,
As horas que delírios reproduzem,
Torturas entre flamas que reluzem,
Insana e sedutora incoerência.

Serpenteias loucuras e fascínios,
Adentro teus recônditos domínios
E vibro em tentações trêmulo ardor.

Fatídicas manhãs testemunhando,
A convulsão que toma o vento brando,
Fomento insuperável deste Amor...
Marcos Loures


32

Fujo de mim, me encontro nos teus braços,
Que sabes, são meus portos, são meus cais.
Atados por potentes, fortes laços,
Distante dos teus braços, sou jamais...

Vagueio o pensamento por espaços
Vazios, sem saber se virás mais,
Mas quando te pressinto, e sigo os passos,
Percebo que viver é bom demais...

Amada não me deixe sem notícias,
Não posso mais seguir sem ti, sozinho,
Derrame uma avalanche de carícias,
Me afogue me cercando de carinho,

E vamos sempre avante sem perguntas,
Levando as nossas vidas, sempre juntas!


33

Fui zoilo deste amor que triste morre.
As portas se fecharam por detrás.
As horas que passei tudo socorre.
Quem quis amar, perdeu ternura e paz...

Perdoe este imbecil; que a noite forre
De pétalas teu mundo, fui falaz..
As flores que me deste, eu, num porre,
Despetalei ,cruel, vazio, audaz...

Não me desculpe pelas vãs traições,
Nem me escuse sofríveis brincadeiras.
As horas que zombei das ilusões,

Não voltam, nem refazem as bandeiras
Rotas que deixei, fétidas e impuras.
Só me deseje, então, noites escuras...


34 Fui feliz e não sabia
Se eu soubesse então, meu bem
Eu cantava todo dia
Este encanto que só tem
Quem descobre a poesia
Nos desejos de outro alguém

Mas agora uma saudade
Vai doendo devagar,
Tanto amor, felicidade
Que perdi, quero encontrar
Quando o frio, a noite invade,
Sigo os rastros do luar

Procurando a minha estrela,
Onde posso Deus, revê-la?


35

Fugiste... Nem deixaste tuas marcas...
Quando me ensolaravas, foste lépida...
Minha alma bronzeada quis as barcas.
A tarde que negavas, forte, tépida.

As horas de prazeres alçam vôo,
Fugiste... Me roubaste, Messalina!
Messianicamente te perdôo
Não quero me lembrar dessa menina!

Mas, quando a noite chega, velha chaga.
Reflexos desta sobre o mar...
Depressa o pensamento vem e estraga...

Os olhos recomeçam procurar...
Fugiste... Teus caminhos já não sei!
Meu Deus, onde se encontra quem amei?
Marcos Loures


36

Fugiste num cometa em noite escura,
Deixando a solidão por triste herança
Minha alma te procura e não te alcança,
Bebendo tão somente esta amargura.

Saudade maltratando me tortura,
Teu rosto emoldurado na lembrança
Quem dera se eu tivesse uma esperança,
Da doce temperança uma ternura.

Regresse! Tantas vezes te pedi,
Mas nunca me escutaste preferiste
Seguir outro cometa. Estou aqui,

Quem sabe refazendo antigo trilho
Ao ver meu coração deveras triste
Cometa espalhe enfim, o seu polvilho...
Marcos Loures


37

Fugindo duma noite tão sombria,
Deitado no teu corpo, salvador.
Lá fora, uma cortante ventania,
Aqui dentro sentindo o teu calor...

Quando os anjos aos quais tanto pedi
Remansos e descansos mais que acalentem,
Respostas encontrei estando aqui,
Nos seios e nos braços que me esquentem...

Amada, no teu colo, meu caminho.
Num turbilhão de sonhos e desejos.
Não quero sensação de torvelinho,
Eu quero mergulhar em tantos beijos...

Delírios que, implacáveis, não descansam.
Prazeres que meus olhos sempre alcançam...


38

Fugindo do que fora sem ter sido
Embora se quisesse tanto ter.
Amor que não vivi vai dividido
Espera qualquer dia vir a ser;

Não temo tais melindres e frescuras
De quem não quer amar se amor já tem.
Saltando meus amores das alturas
No fundo deste poço, sou ninguém.

Embora tanto te ame não te temo,
E tremo só de ver quando tu passas.
Me irrito e tantas vezes eu blasfemo
Se vejo teu amor e não me caças.

Embora saiba nunca me quiseras,
O meu amor por ti, entregue às feras...


39

Fugindo deste caso, a desventura
De não poder plantar novas sementes.
Florestas se misturam, meus repentes,
A mata que embrenhamos mais escura...

Procuro em cada porto, a dor futura,
Meus gritos dilaceram, são dementes...
Em cada dia, sombras diferentes,
Distanciam meus olhos desta cura...

Futuro preconiza podres ramos,
Nas árvores queimadas, sofrimento...
Por quanto tempo, lúbricos, amamos,

Amores são desejos reunidos...
Esperanças se perdem, soltas, vento...
Os quartos que dormimos, divididos...




7140

Forrando a minha noite em ironia
Estendo pelas ruas qual mendigo
Em súplica imbecil, caço um amigo
Que possa amenizar a tão sombria

Caminhada que faço em noite fria
Na busca quase inútil por abrigo.
Se eu tento e na verdade, eu não consigo,
Entendo o que ilusão já me dizia.

No cálice partida dos meus sonhos,
Os líquidos amargos e bisonhos
Perfazem com total satisfação

Retrato de quem segue insanamente
Vagante vagabundo, vil demente
Vencido pela força do tufão.
Marcos Loures



41

Fornalhas entreabertas, coxas pernas,
Tocando com meus lábios as virilhas,
Paixões que nos devoram, são eternas,
Promessas de loucuras, maravilhas.

Carícias fulgurantes e tão ternas,
Entrando em cada loca, tuas ilhas.
Distante dos teus olhos quando hibernas
A vida sem destino, noutras trilhas

Sentindo o meu prazer já latejando
Enquanto o teu em mim, se derramando.
No escambo que me deixa satisfeito.

A soma em que se dá já multiplica
E o gozo desfrutado agora explica:
Amar e ser feliz: sonho perfeito.
Marcos Loures


42

Formosos olhos buscam outros olhos
Que em sonhos se permitem espelhar,
Impedem que tragamos nos antolhos
Limites que me impeçam de te olhar...

Te vendo, nunca esqueço de dizer
Que o brilho destes olhos me domina.
Olhando o teu caminho posso ver
A luz que me irradia e me ilumina...

Nas cores que este céu já me irradia,
O véu das cachoeiras se rebrilha,
Descendo em cristalina sintonia,
Aos olhos representam maravilha...

Assim como teus olhos, meu amor,
Beleza irradiante, refletor...

43

Formiga no meu peito esta vontade
De dar um beijo audaz na moça bela.
Que enquanto seu desejo não revela
Esconde em lusco fusco a claridade.

Romper de seus pudores qualquer grade
Permite que navegue em solta vela,
Porém alguma algema inda se atrela
Negando o que se sonha em liberdade.

Sussurros e gemidos, arrepios.
Dos pássaros dos sonhos simples pios,
Momentos do passado, puros, pios

Não podem disfarçar carinhos, cios.
Os lábios da morena tão macios
Lascivos os requebros e assovios...
Marcos Loures


44

Formidável cenário atroz e lindo,
Numa expressão talvez contraditória
Moldando com certeza a minha história
Enquanto em pesadelos vou caindo.

No quanto em fantasia, amor eu brindo,
Já não suporto assim tanta vanglória
A lua avermelhada e merencória
Aos poucos no horizonte vem surgindo.

Medonhas formações anunciando
A chuva que virá e não mais tarda,
Meu passo vendo o zênite retarda

No quanto em amor cego, desabando
Da vida outrora um pálido histrião,
Ressurge como um tolo falastrão...
Marcos Loures


45

Formato em nosso sonho, um novo enredo
Na luta inesgotável, dia a dia,
A sorte não adia o seu segredo
O vento vem beijando em alegria.

Ferido passarinho sem ter asas,
Não sabe mais voar, restando aqui.
Amor reacendendo tantas brasas
Permite que eu me cure assim, em ti.

Concebo a cantoria em liberdade,
Espelho o teu sorriso em minha face,
Amor que sendo forte é de verdade,
No colo que se quer e que se abrace.

Cheirinho de café pela manhã,
A vida recomeça a cada afã...
Marcos Loures



46

Formata a solidão depois de tudo
Uma alma que se fez melancolia,
O peito que se hiberna e nunca estia
Rasgando este cetim, nega o veludo.

O grito lancinante e mais agudo
Percorre a madrugada, ausente e fria.
Uma ilusão ao sonho já se alia
Resulta no amanhã, vazio e mudo.

Assim tal qual a noite em pesadelo,
Embrenho o sentimento num novelo
Criado pela luz que desampara.

Expresso com vigor em cada verso
O gosto tão sutil, mesmo disperso,
Da boca que beijei em noite clara.
Marcos Loures


47

Formas originais, diversas fantasias.
Antigas expressões, refém do antigo.
Enquanto vastidões ainda crias,
O verso sem destino, desabrigo.

Ouvir do coração, as melodias,
Saber a cada curva, do perigo,
Espelhas quando espalhas alegrias,
Coletas cada lume que persigo.

Estranhas tempestades. Róseos céus.
Nos olhos de quem amo; fogaréus,
Afrontas e carícias, medo e riso.

Diluis tuas palavras, sentimento,
No fundo tenho um bom pressentimento,
Quem sabe da discórdia, o paraíso?





48

Formas do amor, longínquas esperanças!
Nas longilíneas mãos, tanto carinho.
Dolências delicadas, longas tranças
Descendo sobre um colo de alvo linho.

Visões de uma alegria sem igual,
Incensos que inebriam vaporosos,
As formas do prazer tão sensual
Promessas de delírios e de gozos...

Infinitos caminhos que percorro
Em cada nova noite radiante
Conheço cada vale, cada morro,
E vejo em ti destino deslumbrante...

Réquiem maravilhoso na alma pura
Embarco nestas formas, com ternura...

49

formando muito mais que dois inteiros;
amor nos multiplica em mais de cem.
Da força que decerto ele contém,
A proliferação toma os canteiros.

Desaguando oceanos nos ribeiros
Amor nos conduzindo sempre tem
Certeza de tramar no querer bem
Desejos entre furnas, bons mineiros.

Realces entre tons maravilhosos,
Verões nestes olhares invernosos
Transforma todo o gozo que se sente

Em bela catedral, divino altar
A cada novo sonho quero estar,
Entregue ao teu amor, completamente.
Marcos Loures


7150

Formada pelas chagas da saudade
Mortalha que me cobre em noite escura,
A mão de quem se deu em falsidade
Durante a vida inteira me procura

E rasga, num momento, uma esperança
Vendendo seus pedaços numa esquina.
O medo de sonhar, quando me alcança
Um pouco do que resta inda extermina.

Minando uma existência outrora em paz,
Fadando a minha senda ao desengano,
Farrapos do que fui; saudade traz,
Num ato em desvario, desumano.

A morte da alegria assim tecida,
Tomando todo o céu de minha vida.
Marcos Loures


51

Forjamos nossos sonhos benfazejos
A cada claridade que bebemos.
Forramos nossos corpos dos desejos
Que em segredos, guardamos e sabemos.

Incandescentes luzes, relampejos,
Mais que tudo na sede em que bebemos
Toda a maravilha em fartos beijos
O prêmio: ser feliz; receberemos...

Embora em aquarela, mil matizes,
A tela da existência foi borrada.
Agora que esquecemos cicatrizes,

Beleza se mostrando renovada,
Com tal suavidade em raro encanto.
Os sonhos nos trazendo um belo manto...


52

Forjada em tal riqueza, finas pratas,
Quem sabe de seus passos demonstrava
Prazeres de quem sabe serenatas,
E em plenitude intensa decorava,

Embora a placidez gere cascatas,
A força que ela sempre emoldurava
Sanava as sensações duras ingratas
Ao abortar vulcões, secando a lava.

Sabendo de seus laços, vida em ondas
Perfaz com segurança tantas rondas,
Atada com firmeza, uma amizade

Permite que se faça com afeto
O mundo mais sensato e assim dileto
Prenunciando então felicidade...


53

Foram tantos caminhos, coração,
Que perdi o meu rumo nessas trilhas...
Onde foram invernos, quis verão,
Quebraste tantas salas e mobílias...

Das noites que se passam sem perdão,
Perfumes olorosos, dama e tílias...
Acordes dissonantes, violão...
Amores me impediram armadilhas...

Valete que queria nova lei,
Nas cartas dos amores penso ás...
Nas damas que me entregas não sou rei.

Nas copas dos amores sou curinga...
Dos ouros, das espadas, peço paz...
Com paus armado meu amor se vinga...
Marcos Loures


54

Fomentos de emoção, as poesias
Expressam toda a dor/felicidade.
Diversos universos que tu crias
Inestimável sonho: liberdade.

O tempo é nosso algoz. As fantasias
Irrompem e arrebentam qualquer grade,
Verso em beleza imensa; propicias
A quem te lê; suprema claridade.

Ao longe, um trovador extasiado,
Espectro que, oriundo do passado
Recebe as maravilhas que geraste,

E tenta, inutilmente, te alcançar,
Seguindo cada raio do luar
Percebe, humildemente, este contraste...





55

Fomento da esperança, amor que empresta
À sorte de viver, valor fecundo.
Ao ter a sensação por um segundo
Bem sei que amar, querida, é o que nos resta.

Alçando esta vontade em nossa festa
Querendo conhecer um novo mundo,
Mergulho o sentimento mais profundo
E tudo leva a crer que a vida gesta

Em nossas emoções um novo trilho
De fartas alegrias e de encanto.
Tu sabes que eu te adoro e tanto, tanto,

Prevendo o teu carinho maravilho
Um gosto que jamais tive na vida,
Da sorte enfim, moldada e decidida.
Marcos Loures


56

Fugindo desta sombra eu te encontrei,
Andando pelas ruas sem aprumo...
Depressa para a luz, quando levei,
Achei que te daria novo rumo...

Contigo muitas vezes caminhei
Te dando da esperança todo o sumo,
Um canto mais feliz imaginei,
Até te dei minha alma... Não perfumo

As mãos mais em teu corpo, minha amada.
Pois foste como estrela decadente
No final da tarde, sobrou nada

Senão uma saudade negra, escura...
Pensei fazer-te assim, bem mais contente.
A tua ausência agora me tortura...



57

Fugidios, os teus passos
Não consigo acompanhar,
Se o amor estreita os laços,
Onde posso te encontrar?

Vou colhendo os meus pedaços
Que deixaste ao caminhar,
Se os sorrisos são escassos,
Que fazer, senão sonhar?

Há nos olhos de quem ama
A loucura feita em chama
Que incendeia toda a sebe.

Se esta sanha me maltrata,
A paixão cruel, ingrata
Da ilusão, teimosa bebe...
Marcos Loures



58


Fugias deste canto que te fiz
Com todos os encantos que me davas,
Falar que vou fazer-te mais feliz
Trazendo uma erupção ardendo em lavas...

Lentamente seguias sem saber
Que tudo que mais quero é te encontrar
Nos laços destes braços poder ter,
Certeza de sentir que é bom amar...

Mas presa te carrego e não te deixo,
Guardando meu amor em teu amor,
De tanto que te quero já me queixo
Do jogo que jogamos, tentador...

Brincamos escondidos, o segredo,
Também esconde-esconde é um brinquedo!!!!!!



59


Fuder tua buceta todo dia
Cheirosa, rapadinha, arregaçada,
Adoro nosso amor em putaria,
Mulher deliciosa e tão safada.

Teu cu, maravilhoso, apertadinho,
Aberto e tão sedento quer bem mais,
Coloco devagar e de mansinho,
Adoro te comer, meu bem, por trás.

Depois paga um boquete, assim tão puta,
Vadia, uma sacana, uma cachorra.
Depois de te comer gruta pós gruta
Encharco tua boca, minha porra.

E nessa fudelança que vicia,
Delícias de nós dois, divina orgia...

7160

Fuder a noite inteira. Maravilhas
Colhidas em momentos divinais.
As tramas mais ousadas, sensuais
Bebendo da umidade destas trilhas.

Comer o teu cuzinho, tua xana,
Metendo com vigor sem ter descanso,
Orgasmos sem igual, quando os alcanço
Eu vejo o teu sorriso tão sacana,

Da doce cortesã que sabe dar
Carinhos e delírios sem limites.
No amor que tanto quero que acredites

Eu vejo farta luz a derramar,
Vibrando de tesão, porras e méis
Estrelas vão rondando em carrosséis...
Marcos Loures


61


Fudendo tua boca devagar
Lambendo o teu grelinho bem tesudo
Entrando em tua xana e te provar,
Abrindo o teu cuzinho vou com tudo.

Na foda que tiramos, minha puta,
Eu quero que tu venhas bem safada,
Coloco dedo e língua em tua gruta
Sentindo tua pele arrepiada.

O rabo tão faminto, quer bem mais
Meu caralho não se cansa de fuder
Sabendo que tu gostas, dar atrás,
Desejo a noite inteira te comer.

Depois gozar querida em tua boca,
Lambuzar-te de porra, em cada toca.


62

Fuçando o meu nariz nos sonhos teus,
Eu vejo o meu retrato; o que fazer?
Se há tempos me disseste num adeus
Que o amor morreu sem lutos nem prazer.

Cupido este moleque feito deus
Espalha suas setas. Posso ver,
Dos versos mais audazes, quase ateus
No fim do túnel luz se esmorecer.

Parece que esta história se repete,
Por mais que no futuro se projete
O encanto que busquei e me negaste.

Audácia deste tolo, simplesmente?
Nababo coração teimoso mente
Tentando o teu amor, derradeira haste...
Marcos Loures


63

Fruteira repartida é vida mansa
Na dança não dançou mais minha gente
Meu verso vai surgindo num repente
E a morte se vier, já nem balança.

Convido-te querida, à contradança
Não trago no meu peito uma serpente,
Não tranço nem sequer cabelo e pente,
Maior que a cabeça, é sempre a pança.

Não pensa que me engana quem não ama
Amores são sensatas tempestades.
De tudo que já tive amor que vale

Subindo para o céu encara o vale
Nas taperas, sertões ou nas cidades?
De lenha ou gás; fogões? A mesma chama...


64

Fria noite, invernoso amanhecer.
As brumas dentro da alma me perseguem,
Se as névoas do que fomos, ermas, seguem,
Na pálida manhã eu custo a crer.

Obrigatoriedade de vencer
Por mais que as soluções já se soneguem,
Nem lágrimas que flores torpes reguem
Permitem meu canteiro florescer.

Errantes pensamentos alçam trevas,
E enquanto as urzes tantas cevas; nevas.
Angústias formatando este cenário

E ao longe o canto doce de um canário,
Latina cotovia traz a luz,
Que um sol mesmo que pálido, produz...


65

Freqüento as tempestades; disto gosto,
Não nego quanto é bom ser improvável;
Desnudo meus desejos, vou exposto
A cada novo verso mais palpável.

Embora tantas vezes com desgosto
Não seja, com certeza palatável,
O quanto que se mostra no meu rosto
Nem sempre é o que se canta, demonstrável.

Vagando entre as estrelas mais amigas,
Ronronas pela casa em liberdade,
Da vida derrubamos várias vigas.

Apenas por querer e nada mais,
Em alvoroço almoço a santidade
E traço em podridão um velho cais...
Marcos Loures


66

Frenéticos desejos nos tomando
Em tanta sedução, impetuoso,
Loucura assim querendo e desejando
Amor que a gente fez tão prazeroso.

Eu quero e nem pergunto onde e nem quando,
Apenas debruçar em cada gozo,
Depois sentir meu corpo se inundando
Do mel que tu me trazes, mais gostoso...

Unidos em total felicidade,
Marcados pelo fogo da paixão.
Descubro em cada porto, uma umidade

Nas ondas deste mar em tentação.
Na chama que nos queima e tudo invade,
Acendo noite e dia, o teu vulcão...
Marcos Loures


67

Foste minha sedenta companheira,
Cruzamos as estrelas e desertos...
Amar seria nossa audaz bandeira.
Caminhos que seguimos mais incertos...

Estás tão longe, amiga verdadeira,
Os nossos corações estão despertos,
Te busco nos altares, altaneira,
No fundo não seremos céus abertos...

Marcadas nossas cartas dão derrota,
Canoros canarinhos já não cantam,
A roupa que vestimos se amarrota.

Não podes ser rainha, nem princesa.
As ondas, nossos mares, se levantam,
Levitas nos meus sonhos, incerteza...



68

Foste esculpida em Carrara.
Estátua de maior brilho.
Teu mármore, pedra rara,
Decora todo esse trilho...

Quem me foi bela, foi cara,
Em teus olhos maravilho...
A vida não antepara
Prepara meu estribilho!

Quero-te flamenca dança
Na guitarra que solei
Nas mãos a breve criança...

Nos caminhos que criei.
Não te tiro da lembrança
Rainha aonde fui rei!
Marcos Loures


69


Fosse um fóssil seria imorredouro,
E, cáspite! Quem sabe mais feliz.
O peito se devora em sangradouro
Capaz de outro nascer pedindo bis.

Nos gizes espalhados, mau tesouro,
Ascetas entre as setas, cicatriz,
Ouvindo esta canção, chapéu e couro,
Retorno à juventude, diz Bee Gees.

O velho coração de um comunista
Que agora se percebe sem saída,
Demônio que matou; capitalista,

Quebrando o antigo muro de Berlim,
Também ao ver a rota assim perdida,
Plantou rosa vermelha em meu jardim..


7170

Fosforescente lume nega as trevas
Fulgura constelar sobre os lençóis,
Com brilho similar a vários sóis
Desejos sem igual, decerto cevas.

Nas ânsias da procura por atóis,
Nas glebas infindáveis já não nevas
Deixando bem distantes outras levas,
Brilhando intensamente quais faróis.

Redimes os meus medos ancestrais
Em fontes, sendas, rotas sensuais
Até que se permita um gozo pleno.

No orgástico furor, delito e fúria
Tomado pelo anseio, em tal luxúria
Destilas mel em forma de veneno...
Marcos Loures


71

Fortuitos sentimentos são ferozes
São facas que machucam com dois gumes.
As mãos que acariciam são velozes,
Amor que não se cuida, sem costumes...

Os cantos que não trazes perdem vozes
Meus dedos não procuram por estrumes
As ruas dos silêncios são atrozes
Nas noites dos meus sonhos cadê lumes?

Singelos meus defeitos são completos
Completam-se nos erros que não fiz.
Amores são meus pratos prediletos,

Embalde nesta vida sou feliz
Violas quando plangem serenata
De amores Elisângela é a nata!


72

Fortalecendo assim, os nossos remos,
Vencemos correntezas agressivas.
O quanto que decerto nós sabemos
Mantém as nossas luzes sempre vivas.

A sorte já lançada em novos dados,
Abarca estes destinos confluentes,
Os gozos destes sonhos desfraldados
Ensinam o que queres e pressentes.

Além da metafísica e dos anjos,
Arcanjos, querubins se transformando,
Cuidando dos antigos desarranjos,
Antídotos decerto inoculando.

Eu quero o sentimento mais perene,
Que a sorte de viver não me envenene...
Marcos Loures


73

Forrando minha estrada em paraíso
Florescem multicores esperanças.
Nos passos da amizade eu me matizo
E solto meus temores nestas danças

A vida não precisa mais de aviso
Portando nos olhares alianças,
Nos lábios mais sinceros os sorrisos,
Pureza que se encontra nas crianças.

Quem tem uma alma pura em transparência
Consegue perdoar e ter clemência
E encontra no perdão felicidade.

Assim ao se livrar do fardo triste
Concebe amor intenso que resiste
Nos seios divinais de uma amizade.



74

Forrando em alegria os meus bornais
Em plena sintonia nada temo.
Do quanto na amizade eu vejo mais
Distante manteremos medo e demo.

Na plenitude imensa deste sonho,
Meu canto não descansa e tanto busca
A luz que me ilumina em céu risonho
Nem mesmo uma ilusão ainda ofusca.

Jamais irei carpir desesperança
Tampouco irei sofrer inutilmente.
Quem sabe, quer, deseja sempre alcança
E o gozo da vitória assim pressente.

Ao ter; junto comigo, os passos teus
Não temo mais trevas, bebo os breus...
Marcos Loures



75

Flutuo em cada verso
Que fazes para mim.
Vagando no universo

Num canto que é sem fim
Outrora tão disperso
Agora segue assim,

Em asas, mais liberto
Sem medo, asas abertas,
Estando sempre perto
Mesmo em horas desertas,

Seguindo cada passo
Em flóreas caminhadas,
Teu corpo eu já devasso
Nas noites bem amadas...
Marcos Loures


76





Flutuas feito um anjo; um querubim,
A deusa desta rua, nua e bela,
Esqueço qualquer dor, qualquer mazela
E posso ser feliz, creio que sim...

Distante da tristeza de onde vim,
A fonte dos desejos se revela,
E quando em teu caminho, alma se atrela
Consigo imaginar o amor em mim...

Erguendo o meu olhar vejo que o sol
Tomando num instante este arrebol
Derrama suas luzes sobre nós.

Estás junto comigo e isto me traz
Um mundo renovado, em plena paz,
Matando o meu passado, duro e atroz...


77

Flutuas como um anjo quando sonhas
Deitada nos meus braços, noite clara.
Tornando as nossas tramas mais risonhas
Ao mesmo tempo apóia-se e me ampara.

Estrelas quais pequenos vaga-lumes
Cercando nossos corpos, teu sorriso,
Distante das tristezas e queixumes,
Um anjo que me leva ao Paraíso.

A vida do teu lado, um sonho imenso,
Deixando para trás quaisquer problemas,
Por sobre as tempestades e dilemas

Temores e rancores; logo venço;
Elevo-me aos espaços, vou liberto,
E deste sonho, amada, não desperto...


78

Flutua um sentimento em plena bruma,
Vagando pelas noites astro raro.
Nos mares se explodindo em branca espuma
Viver estando aberto ao céu mais claro.

Nesta evaporação dos fumos leves
Nas místicas lembranças doutras vidas.
Amores revividos morrem breves
Encontro minhas dores esquecidas.

Não posso mais pensar nas inclemências
Que portam as quimeras mais cruéis
Amar não é somar coincidências
Nem menos ver a vida de viés...

Eu sinto tanta urgência em te querer
Poder revigorar amor, prazer...


79

Florindo, no teu corpo, tal jardim
De flores ideais, tão aromáticas.
Sementes deste amor, as guardo em mim,
São todas por si mesmas, emblemáticas;

As mãos tão imortais das fantasias,
Nos sonhos resplandecem de verdade.
E dão um tal sentido às alegrias
Nos inundando enfim, felicidade...

Espaços que circundam o infinito
Dos braços da mulher que tanto almejo.
Vivendo a perfeição deste meu rito,
Sabendo quanto enfim eu te desejo.

Amada, como é bom poder sonhar,
Em tua plenitude, naufragar...
Marcos Loures


80

Florindo o meu caminho em raros molhos
Dourando em fantasias cada pleito
O bem do amor procuro nos teus olhos
E sinto abrir a porta do meu peito,

Janela sem tramela nem ferrolhos
O mundo que eu queria satisfeito
Matando no canteiro maus abrolhos,
Percebo uma esperança que em meu leito

Virá qual fosse estrela bela e guia,
Com toda a mansidão da poesia
Que a ti, minha querida, eu dediquei.

Sentindo a mais sublime sensação
Vivendo com delírio essa paixão
Decerto todo medo eu vencerei...
Marcos Loures


81

Florindo no teu corpo tal desejo
Que flamba meu amor em força e luz.
Errantes, os meus lábios, tanto beijo,
Em meio a tantos rumos me conduz.

Sem travas eu liberto as fantasias
E caço em alvas asas liberdade.
Velando pelas velhas noites frias
Alvejo em teu sonhar, serenidade...

Espaços antes turvos, cristalinos.
Teu corpo nos meus braços vai envolto.
Permite tais loucuras, desatinos,
O grito do prazer quase que solto.

Estrelas e desejos procurando
Nos cios, luas sóis se fecundando...


82

Florindo a primavera dentro em nós,
Jasmins, rosas vermelhas, buganvílias,
Entranham meus olhares, ouço a voz
Das áureas emoções em que tu trilhas

Por entre este canteiro feito em tílias.
Perfume que tu deixas logo após,
Envolvem meu jardim em maravilhas.
Quem dera se estivéssemos a sós.

Vertendo iridescências nos lençóis
Milhares de matizes destes sóis
Que tramam este amor primaveril;

Nas íris, nas retinas, nas pupilas,
Entranham tantas cores que destilas
No véu em que o desejo se vestiu...
Marcos Loures


83

Floriam os jardins sob o luar.
Reflexos prateados em nossa cama.
Em todos os carinhos navegar,
Em todas as vontades, viva chama...

Nas asas da paixão, eternidade,
Nos olhos da ilusão, amores claros.
Nas pernas, nossas danças, claridade,
Desejos tão complexos e tão raros...

Envolto por teus braços, vejo a lua;
Estrelas salpicando nosso chão,
Desenham tua pele bela e nua,
Transportam para o quarto uma amplidão.

Viajo com os lábios, as estrelas,
Abrindo o coração, irei contê-las!



84

Florestas e fanfarras, gozos extremados
Olhos mais servis, querências e mortalhas,
Os dedos em tortura destroçados,
As mãos numa oração são quais navalhas.

A sorte vai lançada em outros dados,
Apenas sobrarão estas batalhas
Aonde os cortes foram malfadados
E os dias determinam velhas falhas.

Parturiente algoz, amor insano,
Fartura de tramóias, desengano,
Ruptura do que fomos, novo cisma.

Amanhã nada serei e quero assim,
Amor cortando fundo dentro em mim,
Certeza absoluta: cataclisma!
Marcos Loures


85

Florescendo este jardim,
Que adubei com a esperança
Este amor chegando enfim,
Prometendo esta festança

A minha alma segue assim,
De alegrias ela dança,
Meu amor, meu querubim,
Dos espaços já me alcança

E promete viração
Corrigindo os meus pecados,
Pouco a pouca uma explosão

Nos teus braços deflagrada
Coração guarda os recados,
Mas não ouve quase nada...
Marcos Loures


86

Florescem sob a lua, teus encantos,
No teu corpo as marcas do prazer,
Cobrindo tua pele como mantos
Entranham cada parte do teu ser.

As loucas, transtornantes fantasias,
São tuas cicatrizes favoritas,
Espelham nossas doces sinfonias
Tocada pelas bocas tão benditas...

Os astros te observando tecem lumes
Nos céus qual pirilampos fluorescentes,
As flores se encharcando de perfume,
Se abrindo e se mostrando enlanguescentes...

Florescem novamente meus desejos,
E rendo-me aos teus sábios lábios, beijos...


87

Floresce no perfume que senti,
A lua que acendi enamorado,
Teu corpo de meus sonhos bem amado
Demonstra todo o gozo que previ

Vivendo toda a glória vejo em ti
O tempo em ouro pleno emoldurado,
O gozo de ser teu; nega o passado,
Desejos que pensara encontro aqui.

E tendo em meu caminho a rara estrela
A vida se tornando assim tão bela,
Jamais eu poderia me esquecer

De cada beijo dado em plenitude
Trazendo eternidade e juventude
Bradando com certeza o bem querer...


88

Flores no meu jardim esquecidas...
Jasmins e brancos lírios derradeiros,
Crisântemos e rosas ressequidas
Amores se perdendo, corriqueiros...

As rosas, violetas, dálias, lírios;
Não sabem quanto tempo eu procurei,
Passando meus amores nos martírios
Achando que podia, mergulhei...

Agora que o jardim, tão sem cuidado,
Em urzes, nos espinhos sequer flor,
Eu lembro desse amor novo, encantado,
Quem sabe possa ser o salvador?

Porém, ao ver distante o teu abraço,
Deitado em meu jardim, vem o cansaço...


89

Flores desabrochadas, primavera...
Nos jardins que cultivo belas rosas;
Esqueço meus tormentos. Quem me dera!
O canto desses pássaros... Formosas

Manhãs... Meu coração sossega a fera
Que sempre me mostrou as horrorosas
Garras. No meu recanto, essa quimera
Arranca pobres flores mais vistosas...

Persigo meus desejos, nada encontro...
Não deixo de tentar um novo dia...
Fina arte de viver, o desencontro...

As gotas deste orvalho, são cristais.
Quem sabe viverei esta utopia?
As flores no jardim, amor e paz...
Marcos Loures


7190

Flores desabrochadas com ternura
São flores mais macias, perfumadas,
Não temem enfrentar a noite escura
Pois sabem que as manhãs vêm orvalhadas...

Flores desabrochadas com carinho
São flores perfumadas sem temor.
Pois sabem que esse amor não vem sozinho
Trazendo o seu desejo sedutor...

Flores desabrochadas sem segredos
São flores tão bonitas bem cuidadas,
Não guardam na memória tantos medos,
Pois sabem que são flores bem amadas...

Por isso meu amor sou verdadeiro;
Quem dera se eu te fosse o jardineiro!


91


Florada num outono, temporã,
Trazendo à tarde cinza, a claridade.
Iridescente brilho da manhã
Que, sorrateiramente a noite invade.

Depois desta jornada tão malsã
Percebo, no final, felicidade.
Pensara a minha vida tola e vã,
E agora ao fim do túnel, liberdade...

Ouvir teu acalanto em voz macia,
Qual fora algum encanto. Em tal magia
Adormecer, pensando noutras eras

Aonde enfim pudesse desfrutar,
A rara fantasia, a me entornar
Estas inesperadas primaveras...


92

Flor do meu sonho, bela mensageira,
Aberta nas noturnas fantasias...
Acorda tanto amor, és verdadeira
Fada! No teu perfume me extasias!

Mergulho em teu prazer qual cachoeira,
Mudando num segundo duros dias,
Segredos que me contas, companheira,
São mágicas ternuras, alegrias...

Meu sonho quis conter esse jardim,
Das rosas, monsenhores e camélias...
Quem dera nunca mais tivesse fim...

As flores que mergulhas no meu sonho,
Estrelitzas, begônias e bromélias,
O jardim dos amores que componho...
Marcos Loures


93

Flor bela que espancada não sabia
Que toda flor tem sempre o seu espinho,
Às vezes maltratada, outra sombria,
Fugia toda noite de mansinho.

Deixando um coração em água fria
Amortalhado o sonho, bebo o vinho.
O quanto que não quero e nem queria,
Agora vou somente passarinho.

Teu corpo, minha amada, é meu alpiste
Com ele com certeza, cadê triste?
Pulando este alambrado faço o gol

Mergulho na metade que inda sou,
Fazendo do teu porto ancoradouro
Encontro a flor mais bela, meu tesouro...


94

Flechado por Cupido e sua seta,
Não tenho mais escolha, sou teu par.
Colheita que se faz sempre completa
Desfruto toda a glória do pomar
Cevado pelo amor que se completa
Nos olhos que se emprenham de luar.

Persigo a cada noite a estrela guia,
Deixando o sofrimento em outra esfera.
O mundo se fartando de alegria
Permite reviver a primavera
Matando com suave fantasia
A dor da solidão, temível fera.

Somando nossos sonhos, infinitos
Invadem em momentos mais bonitos...
Marcos Loures


95

Flechado pelas setas de Cupido,
Envolto na esperança mais sutil.
De tanto que sofrera, já me olvido,
Te sinto novamente, tão gentil...

Eu sei que degeneras numa fera
Se tantas regas nunca forem dadas,
Padeces das complexas quimeras,
As asas, muitas vezes, amputadas...

Mas quero me embrenhar nos teus cabelos,
Vivendo novamente tuas matas.
Talvez inda me venham pesadelos,
Com mãos suaves, sempre me arrebatas...

E morro, novamente em teu destino,
Amor que me domina, sou menino...

96

Flameja esta vontade de poder
Estar contigo, amada, a vida inteira.
Rainha sertaneja a companheira
Aonde encontro o sol que quero ter.

Refém deste desejo, passo a crer
Que a lua dos poetas, conselheira,
Deitou sobre teus braços, a fogueira
Que eterna e ternamente vem arder

Por sobre nossos corpos, noite e dia,
Forjando da esperança esta alquimia
Telúrica expressão de crença e gozo.

Esteio, doce arrimo de ilusões,
Abrindo com ternura os tais portões
Que levam ao futuro mavioso...
Marcos Loures


97

Flameja dentro em mim o teu encanto,
Espero a cada verso conduzir
A vida ao que desejo no porvir,
Roubando a fantasia em doce canto.

Se eu te amo, e na verdade eu sei que é tanto
O jeito é do teu lado prosseguir,
Deixando a poesia nos sentir
Vencendo em mansidão qualquer quebranto.

E trago finalmente o meu sorriso
Patético de quem se enamorando
Aguarda um tempo calmo, suave e brando,

Que trazes num poema, como aviso
Dizendo do futuro benfazejo
Que é tudo, meu amor, o que desejo!


98

Flagelas essa mão que não consolas...
As vivas mãos suaves, aves plenas...
Nas pássaras alvíssaras esmolas...
As vivas mãos nas naves sorvem penas...

Retornas de teus tornos, traz estolas...
As mãos consagradoras, não acenas.
As pistas, teus alpistes são pistolas,
Nos solos tuas solas tudo assolas...

Flagelas essa mão que acaricia,
Cospes no prato sujo que comeste...
Não temo tuas noites... És vazia...

Morreste desde o dia em que nasceste!
Meu mundo, num segundo tudo muda...
Não quero teu conselho nem ajuda!
Marcos Loures


99


Fizeste do meu peito uma peneira
Mentiras disparadas, setas tantas
Quem fez de uma esperança uma bandeira
Perdeu-se por debaixo destas mantas

Que usaste por disfarce, guerrilheira
Que ao mesmo tempo adula até me encantas;
Mas mal percebo foges tão ligeira
E o nobre sentimento, cedo espantas.

Queria ser teu par, ter alegrias,
A vida me negou tais regalias
Deixando este silêncio, este vazio.

E assim, ao perceber que foste embora,
Estúpido, meu peito ainda chora,
E um belo amanhecer, eu fantasio...


7200

Fiz uma casa branca lá na serra
Prá móde nóis podê ansim morar,
Distante da cidade, tanta terra
É percizo com força caminhar.

Porém o bom cabrito nunca berra
Pensei, aqui comigo, vai voltar
Mas quando uma vontade já se emperra
Ninguém vai conseguir modificar.

Esta casinha branca, abandonada
Depressa começou, em tanta teia
Ficar como uma marca nesta estrada

Da terra e da poeira, tão vermeia
De branco não tem nada mais, senhor,
Matando de anemia, o meu amor...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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