Sonetos : 

MEUS SONETOS VOLUME 127

 
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1


Por eu te amar assim sem ter medida,
Amor não me perdoa e me tortura,
Não quero mais saber se tem saída
Apenas vou viver santa loucura

Que, por te amar assim, ‘stá me salvando
Dos erros que cometo, sem sentir.
Nas vezes que declaro estar te amando,
Sem nada que consiga me impedir;

Eu sinto desta brisa o beijo calmo...
Meus versos em louvor ao que mais sinto,
Prometem cada dia um novo salmo,
Palavras me inebriam qual absinto.

És tudo que procuro e tenho enfim,
Sou feliz por te amar. Te amar assim...


2


Por esta estrada límpida e divina
Vieste derramando o teu perfume.
Na senda maviosa e cristalina
Teus passos magistrais são de costume.
Tua beleza rara me fascina
O teu olhar de deusa, um mago lume...

Quem dera se pudesse ter abrigo
Nos passos que desfilas no caminho,
Andando a vida inteira assim, prossigo
Por certo não serei jamais sozinho.
Um sonho tão feliz e tão antigo
Se mostra em cada gesto de carinho...

Meus olhos te buscando vacilavam...
Teus pés longe do solo flutuavam...


3

Por esses doces toques que me embriagam,
Percebi tal distância que deixaste...
As noites que passamos, nos afagam,
As horas que vivemos num contraste...

Os ranços de que fomos não estragam
As vidas que pensamos, forças, haste!
As dores simplesmente já se apagam!
Pois todos os tormentos carregaste...

Não temo teus segredos, cortesã.
Apenas peço nunca mais me deixe.
Não tenho outro temor nem outro afã,

Senão pensar em teu tocar feliz...
Embriagado peço a bela atriz
Que desse doce amor, nunca se queixe!
Marcos Loures


4

Por essa solidão que não consinto
Lavrada em duro amor sem ter descanso.
Não posso mais beber sequer absinto
Senão a madrugada nunca avanço.

Dos olhos tentadores me recordo,
Da boca tão suave que atentara
Deitado do teu lado vou a bordo
Da vida que, sem paz, me premiara.

Nas ilusões trazidas, vivos sonhos;
Nas mãos macias, colo transparente,
Sorrisos tantas vezes tão medonhos,
Tramando uma incerteza, estou carente....

Amiga dos teus olhos sinto o lume
Que invade minha vida em bom perfume...


5

Por decurso de prazo deu-se o fim
Daquele sentimento interminável.
O corpo que de noite era inflamável
Deixou fora da casa um estopim.

Estava em Cochabamba, eu em Pequim
Criou u’a carapaça impenetrável
E embora parecesse tão amável
Não quis saber dos versos nem de mim.

Desbaratando a trama, nada sobra,
O barco que, teimoso inda soçobra
Não pode suportar uma marola,

Voltando cada qual para o seu canto,
O amor não superando tal espanto,
Olhando a liberdade, vê gaiola...
Marcos Loures


6

Por coisas que não fiz e sei, não devo
Jamais eu pagarei a conta e o pato,
Amor que tu me deste, não longevo,
Enquanto me maltrata, já desato.

Teria alguma chance se, no fim,
Ainda resistisse algum carinho.
Quisera ser açu, mas sou mirim
Tumulto se resume em burburinho.

Gerando em contra-senso, a solidão,
Num paradoxo tolo e tão cruel.
Sonega, no sufoco, a atracação
E o barco se perdendo, segue ao léu.

Um sentimento reles, vagabundo,
Não vale mais sequer um só segundo....


7


Por certo uma amizade é pedra rara,
Difícil de encontrar na nossa vida.
Nas quedas que sofremos, nos ampara.
Não deixa nossa nau restar perdida...

Se somos tão iguais, nas diferenças;
Nas crenças e nos medos, antagônicos...
Nos sonhos e desejos, o que pensas;
Diversos; mas de perto, são harmônicos...

Amizade como a tua; nunca mais.
Não cobra e nunca lembra quanto custa.
Amiga... tanto amor assim, demais,
Em qualquer diferença já se ajusta...

Não tema mais sequer os descaminhos,
Pois saiba que jamais vamos sozinhos...


8


Por certo tive noites mais felizes!
As dores nunca foram companheiras...
Dançava pelos bares, meretrizes,
Amantes tão febris e “verdadeiras”!

Mentiras e verdades são atrizes,
Que brincam nestes leitos, nas esteiras.
A vida multiplica-se em matizes.
Joguei a sorte pelas ribanceiras!

Nas noites conheci felicidade,
Tantos copos de rum na minha mesa!
Nos brindes mais ferozes da saudade,

Restou-me pouca coisa ou quase nada!
Morrer não causaria-me tristeza
Se não fosse vazia a madrugada!
Marcos Loures



99

Por certo esperarei pelos teus beijos...
Esperarei refeito da tristeza
Esperarei com força dos desejos
Esperarei das matas tal beleza...

Esperarei a morte nos cortejos
Esperarei gritar a natureza
Esperarei lunares, seus lampejos
Esperarei, do amor, a realeza.

Esperarei teus braços de princesa
Esperarei as cores, azulejos.
Esperarei a flor desta fineza

Esperarei da noite, relampejos
Esperarei comida e sobremesa...
Por fim, esperarei pelos teus beijos...
Marcos Loures


10


Por certo é sempre forte e derradeira,
Paixão que se transforme em amizade
Regada com carinho e liberdade,
Invade mansamente, sorrateira.

Erguendo o meu olhar sobre a viseira
Avisto mais distante a tempestade,
Cerzindo com total tranqüilidade
Dos sonhos e delírios, a bandeira.

Eu perco as minhas garras, mas mantenho
Sereno e bem suave, o rosto e o cenho
Sabendo destas senhas vejo o cais.

E deixo para trás os vendavais
Desta destemperada procissão
De dúvidas compostas na paixão...
Marcos Loures


11

Por anjo sapientíssimo, imantados,
Teus olhos num tropismo fabuloso
Levando o meu olhar ao lado, atado,
Transindo meus sentidos, pleno gozo...

Salvando-me do inferno da saudade,
Conduzem os meus passos, rumo à vida.
Ensinando à minha alma, a liberdade,
Na chama de teus olhos, adormecida...

Celebram tantos dias de ventura;
Recendem aos espaços divinais.
Produzem despertar da noite escura,
Forjando dos meus versos, tais cristais...

Teus olhos eu bendigo e não me canso,
Espelham meu futuro, que esperanço...


12


Por ande tu andaste na cidade
Que em versos te mandei um telegrama
Voando nessas asas da saudade
Ardendo sem temer sequer a chama.

Andaste por acaso tão distante
Que nada me importava nem o mundo...
Em busca do carinho, minha amante,
Meu todo se desaba num segundo...

Vieste por acaso, disso eu sei.
Não posso permitir que não mais voltes,
De todos os caminhos que passei,
As ondas desses mares, não revoltes...

Agora que encontro tão sozinho,
Por onde é que tu andas, qual caminho?


13



Por amor, insensato caminheiro,
Andarilho dos astros, da esperança,
Além do que meu sonho enfim alcança
Navego, se preciso, o mundo inteiro.

Florindo, em primavera, meu canteiro
Perfuma em suas mãos a temperança,
Pois sei que chegará, mesmo em tardança
Em mágicas palavras, feiticeiro.

Por amor, morreria até mil vezes
Se pudesse renascer nos braços seus.
E que nada nos trague, em triste adeus,

A morte verdadeira, sem saída.
Mal sabe quanto espero, amor. Há meses...
Em ânsias, lhe falar de nossa vida..


14




Por amar tanto, além do que podia,
Singrando vários mares tão diversos,
Vivendo a fantasia nos meus versos,
Imerso nos seus braços; poesia.

Amar e desejar, leda agonia
Tornando os meus caminhos mais dispersos;
Herdando os descaminhos que, perversos,
Impedem que se entenda a melodia

Da voz inebriante da mulher.
E quando o novo dia não vier
Apenas reviver o que passou,

Saudando o quanto tive e já perdi,
Retorno num segundo; Amor, a ti,
Cristal que o sentimento lapidou...


15

Por amar assim, sendo verdadeiro,
Jamais conseguirei viver liberto
Amando de tal sorte, por inteiro,
Sem perceber que andei mais incompleto.

Amor sugando, tudo, meu ceifeiro,
Não restando, portanto, nem meu teto,
Sem ter início, sequer paradeiro.
Amor o precipício deste afeto...

Num desejo cruel, sou seu escravo,
Noutro momento cego, sou vazio,
Meus passos, indecisos, logo travo,

Quem me dera pudesse não ser cio,
talvez inda tivesse amor perfeito,
Mas cego sigo estando satisfeito.


16



Por amar além do que devia
Ou mesmo poderia imaginar,
Afogo-me distante deste mar
Que à lua em claros raios, quer e guia

Quem dera se eu tivesse a poesia
Que encontro tão somente em teu olhar,
Veria o novo tempo despertar
Na imensa maravilha de outro dia

Imerso nestas tramas traiçoeiras,
Vencido por sobejas armadilhas,
Errante caminheiro segue trilhas

Que há tanto imaginara; verdadeiras.
Mas quando despertar do pesadelo.
Amor; queria tanto revivê-lo...


17


Ponteios da viola enluarada,
Fumaça de neblina sobre os montes,
A lua que se emerge em horizontes
Trazendo uma esperança desfraldada.

Na frágua da ilusão, uma alvorada
Ultrapassando os rios, margens, pontes
Palavras do passado que remontes
Não dizem muitas vezes quase nada.

Da boca dessa noite insaciável
O beijo da manhã se quer amável
Porém a tempestade se anuncia

Distante dos teus braços, meu amor,
O vento revoltoso com vigor
Nublando, mal começa; o novo dia...
Marcos Loures


18

Pomba rola voando vai distante,
Escapando, veloz, da atiradeira.
Por esse tempo todo, galopante,
Meu coração fugindo, vida inteira...

Nas cordas do meu pinho, delirante,
Procuro te encantar; és a primeira
Que me tomou as rédeas, dominante...
Quem dera se dormisse em minha beira!

Traços livres, desenho teu retrato.
Resenho nossos livros sem prefácio.
Estilos contrapostos; insensato,

Difícil entender se fosse fácil.
Mas quero me afogar no teu regato,
No amor que a gente faz, intenso e grácil...
Marcos Loures


19


Pomba branca da saudade
Apascentes meu sofrer
Quem já fora vaidade
Nunca mais vou esquecer

Vivendo sem poder ter
Da lua; luz, claridade.
Quando poderei viver
Minha plena liberdade

Quando me vi tão sozinho,
Lembrei-me que fui feliz
Eu vi perdido meu prumo,

Chegava devagarzinho,
Procurei por meu aprumo,
O que menti, nunca fiz!


20


Polimórfico sonho mortifica
Luares entre trevas e neblinas,
Soturna paisagem em que se explica
Metamorfose vária. Frágeis minas...

Miséria se mistura com fartura,
Na boca do flagelo, dentes de ouro,
Erráticos profetas na procura
Insana pelas ilhas sem tesouro.

As indolentes feras de tocaia,
Os lírios espalhados pelos campos,
Pululam pela noite, pirilampos.

Quasares e pulsares, sol desmaia,
Desaba suas luzes trás os montes,
Estonteantes brilhos. Horizontes...



21



Polimórfica imagem que reflito
De tantas formas, louco e mesmo vão.
Minha alma se envolvendo em tal conflito
Confusa, já nem sabe a direção

Aonde um coração se expondo, aflito
Permita-se às desordens da paixão.
Quem dera se o amor não fosse um mito
Que rega com veneno, a solidão...

Talvez pudesse crer em algo além,
Mas quando a poesia perde o trem
Na ausência de ternuras, sigo só.

O gesto carinhoso nunca vem,
E teimo dia-a-dia sem ninguém
Buscando renascer, espalho o pó...


22


Pois “tem que ser agora ou nunca mais”,
Não deixe mais o tempo te levar...
Distante de teus braços perco a paz
Areia que perdeu braça de mar.

Não quero a liberdade que me traz
A triste solidão sem ter amar..
Não vejo a solução de não ter cais
Prefiro sem juízo, naufragar.

Vivendo simplesmente nosso caso
Me caso e não terei felicidade?
Amor quando é demais morre em ocaso?

O prazo que me deste não findou
O rosto, a boca, o gozo; na verdade
Demonstram que este tempo não passou...


23


Pois tudo que escrevi, a ti pertence,
Em cada verso meu vivo esta história
De amor que a dor medonha já convence
E trama nosso amor em fina glória.

Meu beijo que sonhei depositar
Na boca mais divina que Deus fez,
Roçando em tua pele devagar
Ao mesmo tempo bruto e tão cortês.

Não sei se tu pressentes ou notara
Que sempre mergulhando em tanta luz
Amor que, lapidando, é jóia rara
De gemas preciosas, se produz...

Eu amo teu amor belo e diverso,
Com todas essas forças do universo!


24



Pois tudo é ilusão - vã, passageira...
há tantas armadilhas numa estrada.
Quem dera se esta sorte feiticeira
mostrasse solução que nunca é dada.

A vida se mostrando tão ligeira
se perde em desatino na alvorada.
Quem sabe do valor da companheira
percebe que sem ela a vida é nada.

Não deixe que se perca, minha amiga,
o rumo que traçamos já faz tempo,
por mais que sempre surja um contratempo.

Pois quem, tão temerário, desabriga,
é como retratasse uma esperança
Qual brinquedo quebrado da criança.


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Pois sempre que te vejo em ti percebo
O sol que nestes olhos se sepulta,
Do brilho desse amor sempre recebo
A lua que em silêncios nada ausculta.

Nos círculos descritos pela teia
Da lua encantadora em alvos brilhos,
Por vezes, santas horas, me incendeia
A chama que me queima, belos trilhos...

Neblina tão suave que se cai,
Por sobre essa macia e calma relva.
Enquanto a tempestade já se esvai,
Tramando sob a lua, imensa selva.

O sol, tão mansamente, vem tomando
A terra; em teu olhar também amando...


26


Pois pode me bater que eu não me entrego,
Eu sei que é teimosia, não importa
Cordato coração vagando cego
Abrindo mansamente cada porta.

Não tenho à poesia mais apego,
Eu sei que ela morreu. Amor exorta
Enquanto a realidade que navego
Demonstra claramente que está morta.

Pisando nas carcaças deste fútil,
Que eu sei ser na verdade sempre inútil,
Não mata nossa fome nem sacia.

Quem sabe noutro tempo, noutro espaço,
Termine em calmaria este cangaço
Dando um significado à poesia?


27


Pois nosso trem do amor nunca se atrasa,
Porém se não cuidarmos, descarrila,
Veneno em ironia se destila
E muda com certeza toda a casa.

E quando o cano entope sempre vaza,
Se o amor foi feito apenas de uma argila,
A solidão furando então a fila
Apaga o que pensei ser chama e brasa.

Por isso não comporta este marasmo,
É necessário a fúria de um espasmo
Num gozo que me deixe aceso e pasmo.

Quem sabe com carinhos, num orgasmo
Vencendo o teu sorriso de sarcasmo
“Te amo” será, talvez, um pleonasmo?


28


Pois Lara se fez morta há muito tempo
Guardada na gaveta das lembranças.
Quem teve um amor em contratempo
Percebe quão difíceis, novas danças.

Tempero minha vida em abandono.
Das marcas que carrego, cicatrizes.
Mas sinto-te rainha deste trono
Nos versos em que embalas e predizes

Futuro que bem sei alvissareiro
De amor e de esperança revestido.
Um sonho delicado onde a ternura,

Promete ser meu canto derradeiro,
Quem teve um descaminho e foi perdido,
Ao ver tua beleza enfim se cura...



29



Pois Deus quando criou Adão e a Eva
Sabia muito bem o que fazia,
Casal quando semeia traz na ceva
Além de uma ventura, esta alegria.

Outrora sem a luz, somente treva,
Agora a claridade enfim nos guia,
E quando o coração sofrido neva,
Na moça se completa uma alquimia.

Decerto, quis o Pai ser mais perfeito,
Porém o homem carrega este defeito
Que traz desde o princípio, a Criação.

Seguindo procurando uma alma gêmea,
O macho cortejando sempre a fêmea,
Pior, fosse ao contrário, Eva e Adão...


30

Poetizando sonhos minhas liras,
Concretizando farpas sem ter lupas.
As novas certidões nunca confiras
As cândidas mortiças servem culpas...

Se tendo a não te termo, temo termitas .
Se não castro astros rastros me permitas,
As pontes levadiças são sagazes,
As contas que me bisas sei vorazes...

Não sei se não senão seria sim
Se sim fosse senão não caberia,
Assim peço perdão por ser vazia

A cuba que não cabe mais em mim...
A culpa de não ter mais serenata,
É do mata... É da mata, é de quem mata!
Marcos Loures



31

Poetas que do amor fizeram suas cevas,
Colhendo o belo fruto em rara profusão,
Forraram com certeza em luzes torpes trevas,
Fazendo da alegria a mais nobre canção.

Gibran Kalil Gibran, Tagore entre outros tantos
Mostrando a maravilha imersa em cada ser.
A poesia vive envolta nestes mantos
Que trazem fantasia, ajudando a viver...

O amor, ensinou Cristo, imensurável dote
Que devemos legar aos que virão depois.
Multiplique-se então, a voz que de nós dois

Aguarda por resposta, e não seja um só lote,
O riso da criança, o beijo de um velhinho.
Pois quem espalha amor, jamais irá sozinho..


32




Poeta tendo a rima por labuta
Não cansa de buscar palavra certa,
E quando a fantasia, ele liberta,
Percebe na ilusão tola permuta.

Não sendo nem querendo ser da puta,
Sou filho que o caminho já deserta
Na muda, um passarinho estando alerta
Invade sem saber errônea gruta.

Terreno acidentado, terremoto,
A fonte; mal construo; logo esgoto
Mais cedo que devia, morro à míngua

Não sendo melindroso, não sou místico,
O dote que recebo não artístico
Só serve neste beijo se é de língua...


33


Poeta se disfarça em qualquer fato,
O beijo amordaçado, o riso franco,
Cavalo galopando; em trote, ou manco,
A velha alegoria paga o pato.

E quando nas palavras eu desato
Ou mesmo se decerto assim desanco,
O céu jamais será escuro ou branco,
Adoro qualquer quebra de contrato.

O chato é ser careta ou idiota,
Além do que me cabe em qualquer cota
Arroto os meus versejos por aí.

Que tudo permaneça diferente,
O vento muda a rota de repente
E chego sem saber de novo a ti...


34


Poeta que se preze não despreza
A presa que se mostre mais audaz.
Surpresa nos meus olhos a beleza
Que em versos poesia sempre traz

Vivendo atrás dos sonhos, ponho a mesa
E nela a maravilha satisfaz
Destreza que compõe, molda em leveza
Deixando uma avareza para trás.

Eu admiro os poetas, pois não tenho
A verve necessária para sê-lo
Embora não precise deste selo

Queria ter quem sabe o raro engenho,
No qual bordar estrelas e cerzi-las
Compondo em ilusões, suas argilas...
Marcos Loures


35


Poeta quando faz seus devaneios,
Apreende com buris, as esculturas,
E mesmo nas palavras mais escuras,
Estampa; libertário, mil anseios.

Não quero mais saber se existem meios,
Nem mesmo o que desejas ou procuras;
Cansado de viver as amarguras,
As máscaras; escondo sem receios.

Versando sobre o que bem me apetece
Fazendo do puteiro o meu altar,
Vendendo falsidades na quermesse

Viajo sem querer velhas algemas,
Não sei de outra maneira de sonhar
Seguindo ou enfrentando as piracemas...


36



Poeta pantaneiro; um grande orgulho
Poder estar contigo e te abraçar,
A vida nos prepara o pedregulho,
Porém a poesia faz voar,

Quem tem a liberdade do mergulho
Domina as maravilhas do luar;
Neste país imerso em tanto entulho,
As estrelas são feitas pra brilhar.

Eu tenho; sábio amigo, esta vontade
De ver o amanhecer em liberdade,
Vencendo os dissabores e tempestas,

Estando pareado com teus passos,
Estreitando com força; firmes laços,
As Musas se encontrando agora em festas.

37

Poeta é um sujeito muito chato,
Normalmente um babaca disfarçado
Usando da palavra, o seu recado
É sempre malcriado ou mesmo ingrato.

Cuspir sem ter vergonha neste prato
Aonde já comera; o debochado,
Melhor que faço então, ficar calado,
Senão irei pagar, bem caro, o pato.

É dor de cotovelo, uma fofoca,
Riacho vai virando pororoca
E a rima necessária, no sufoco.

Fazendo da alegria uma breguice,
O amor então é pura pieguice,
Moldura sem igual, um simples toco...


38


Poesia perene companheira,
Portas, porteiras, partos procissões...
A parte principal, sempre primeira,
Primazia potência nas paixões..

Pó, pólen, precisão... Na companhia
Perfaz a perdição. Minha promessa.
Perpétua companheira, a poesia,
Pregando por mil vezes, pronta peça...

Trapo, tropo, tempesta e temporal.
Termo, trama temor e tempestade...
Parto, pronto, perola pantanal...

Às vezes me reveste ventania...
Serena solidão, sinceridade...
Pó, poeira pomar e poesia...


39


Poentes da alegria, quem perdeu
Durante as tempestades do caminho.
Areias e desertos, concebeu
Aquele que pensara estar sozinho.

O canto esvaecido trouxe o breu
Negando qualquer forma de carinho,
O dia da esperança anoiteceu
E o mundo adormeceu bem de mansinho...

Porém uma amizade enaltecendo
O quanto fomos ricos, não sabíamos.
O tempo de bonança em que vivíamos

Aos poucos novamente percebendo.
E assim uma alvorada ressurgida
Demonstra nova luz em nossa vida...


40


Poeira no meu peito toma assento
O vendaval agora se faz brisa
Bisando eternamente o sentimento
Que em plena sintonia já me avisa

Do quanto se faz caro este querer,
Mudando totalmente este cenário.
Vazios no meu peito; vem preencher
Amor muito maior que imaginário.

Aquários multicores da alegria,
Dourando o dia a dia em raro sol.
O quanto te desejo em harmonia
Estende a fantasia em arrebol.

Cometa irradiante da esperança,
O peito de quem ama é só festança!
Marcos Loures


41

Poeira levantando, vou inteiro,
Atrás de uma alegria, vã, falsária.
Uma alma que pretende ser corsária
Trazendo um paraíso corriqueiro.

O gesto de carinho é lisonjeiro,
Mas manifestação só temporária
No quanto uma ilusão é temerária
Não posso ser mais franco e verdadeiro.

Jogando pra vencer, eu reconheço
A cada novo passo outro tropeço,
Amor não condizendo com verdade.

Depois do diamante que me deste
Do vidro que se quebra, simples teste
Mostrando ao fim de tudo, falsidade...


42


Poeira levantando no salão
As noites sertanejas; inda guardo,
Depois da meia noite, o gato é pardo,
E a dança pega fogo no bailão...

Se o amor da minha vida; eu não aguardo,
A moça mais gostosa do salão
Delito cometido: outra paixão
E o coração carrega mais um fardo...

O forró invadindo a madrugada
Mistura de aguardente e de suor,
A música tocada; sei de cor,

Segunda feira; volto para a enxada,
No sábado que vem, eu quero bis,
Garanto: do meu jeito eu sou feliz...


43


Poeira em calmaria toma assento,
Enquanto a chuva cai tão mansamente.
Ouvindo a tua voz, decerto eu tento
Mudar este destino totalmente.

A mente te buscando já percebe
O quanto que lagrimas nesta tarde.
De lágrimas o chão em dor se embebe,
Pedindo que o amor não mais retarde.

Eu gostaria agora de poder,
Estar do lado teu, te consolar,
Não sabes quanto é grande o bem querer,
Tampouco quanto eu quero, enfim te amar...

Das lágrimas que, inúteis, tu derramas,
Quem dera se eu pudesse arder em chamas...
Marcos Loures


44


Podridão emanada dos teus versos,
Nas versões inauditas, podre aspecto.
Mostrarei meus caminhos mais diversos,
Te cobrirei, inteira, puro afeto...

Por mais que pareçam mais dispersos,
Meus desejos formaram ser completo.
A rainha de todos universos,
O meu sonho feliz e predileto.

Mas tais bocas febris purificantes,
Esgueiraram-se enfim, deixando chagas.
As angústias outrora delirantes,

Indefinem perfil de minha amada
Teus caminhos venais, distantes plagas.
Dos teus versos a dor surge, emanada...
Marcos Loures


45

Podia te dizer destas estrelas
Quais pirilampos livres lá no céu.
Prazer de perceber e de contê-las
Forjando no infinito um raro véu.

Podia te dizer que ao percebê-las
Eu lembro-me, querida, de teu mel,
Dizer das alegrias ao revê-las,
Montado por desejo, o seu corcel...

Podia te dizer do mar imenso
Aonde em profusão, belas sereia,
De um sonho divinal, pra sempre intenso

Que não permitirá cativo ou amo,
Mas só devo dizer em frase cheia
Somente que eu te adoro, enfim, que eu te amo!
Marcos Loures


46


Podes guardar as sobras do que fomos...
Se nada mais me resta o que fazer?
A vida se reparte, tantos tomos...
Onde e porque tentar sobreviver?

Das delícias passadas, sequer gomos,
Nunca mais poderemos reviver!
Totais desconhecidos, hoje somos...
Nada posso falar, senão sofrer....

Nãos se tornaram todas as palavras
Que, teimosos, fizemos um refrão...
Então, como podemos, nossas lavras

Desérticas... Jamais te esquecerei...
Me dê, por fim, teu último perdão.
Nossas portas fechadas, tua lei...
Marcos Loures



47

Poderes dos canhões sobre crianças
Cadáveres e flores tomam praças,
Nos corpos destroçados, fogo e lanças
Milhares se misturam, formam massas.

E quando distraído; ao longe passas
Estendes tua oferta e das bonanças
A roupa tão puída traz as traças,
Mendigas e canalhas esperanças...

As cenas se repetem vez em quando,
Enquanto o velho lobo devorando
Passeia entre as esquinas e destroços...

E o moleque que um dia quis sorrir,
Num porre sem presente e sem porvir
Expõe na carne aberta, expostos ossos...



48


Poder transformador, o da amizade,
Trazendo ao andarilho um manso cais.
Um canto em que se mostre a liberdade,
Grilhões de outros momentos, nunca mais!

Por mais que surja intensa tempestade,
Na força da amizade que é demais,
Bonança com certeza nos invade,
Vencendo em calmaria os vendavais.

Assim, querida amiga, vou em frente,
Sem ter o que temer, sempre a teu lado,
Encanto deste amor glorificado

No qual a mansidão tomando a gente
Permite-nos dizer desta alegria,
Que torna mais suave o dia-a-dia...
Marcos Loures


49


Poder tocar teu corpo e te sentir,
Estar enfeitiçado pelo canto
Que agora, aqui bem perto, posso ouvir
Levando-me à loucura. Teu encanto.

Tocar-te e te beijar... Em ti fugir
De tudo o que passei; tristeza e pranto.
E nada neste mundo há de impedir
O meu desejo imenso. Quero tanto!

Serei o que quiseres; minha amada.
Enlouquecido sigo cada passo
Na areia, nesta praia tão molhada

Por ondas de prazer que nos devoram.
Descubro em teu olhar; paixão e laço:
São os materiais que nos decoram...


12650


Poder ter, num momento, o beijo ardente
Daquela que se deu, imaculada,
Percorro em ilusões, a mesma estrada
Que há tempos, vislumbrei, iridescente.

Estrela do meus sonhos, fluorescente
Derrama cada raio sobre a estrada
Minha alma na tua alma emoldurada,
De duos somos unos de repente

Seguimos geminares vida afora,
Nessa eugenia rara de um amor
Que enquanto nos domina, estende à flora

Perfeita sincronia. Do jardim,
Marcando com sorrisos, trama a flor
Suprema, da esperança dentro em mim...
Marcos Loures


51




Poder te namorar sem ter segredos,
Vencer as tempestades com sorriso,
O amor jamais respeita qualquer siso
Mudando com certeza, estes enredos.

Deixando solitários dias ledos
Receba sem temor o doce aviso,
No toque mais sutil, farto e conciso
Dos corpos que se entregam, bocas, dedos...

Eu quero estar contigo a cada instante
Sabendo quão divino e fascinante
O fato de poder ter teu carinho

Não deixe que este sonho, assim se perca,
O amor já não respeita grade ou cerca,
Forrando em fantasia cada ninho...
Marcos Loures


52

Poder te desejar a cada instante
Ardentes, as palavras que me dizes,
Tocando o teu prazer inebriante
Qual fossemos crianças, aprendizes...

Na fome que me torna um navegante,
Buscado a proteção, velhas marquises,
Mergulho no teu corpo, delirante,
E somos como nunca, tão felizes...

Abrindo tua blusa, à luz da lua,
Beijando cada seio, devagar,
Aos poucos vais ficando toda nua...

No fogo do desejo, de repente,
Consigo num segundo desculpar
Àquela seduzida p’la serpente...


53


Poder te dar um beijo, prenda amada,
Sedento, carinhoso e lambuzado
Sentindo na manhã toda orvalhada
O bom da vida estando do teu lado.

O frio que chegou da madrugada,
O gosto de teu beijo serenado,
A manta que nos cobre temperada
Pelo calor benquisto e desejado.

A vida que lá fora recomeça,
Aqui, em nosso canto, continua.
Que o mundo em seus tormentos não impeça

Que o dia recomece uma rotina.
Esqueça que lá fora existe a rua,
Se achegue. Venha aqui, minha menina..


54


Poder te amar, querida, em noite fria;
No outono deste amor que a vida trouxe.
Não sabe há quanto tempo eu te queria
Num sonho tão fantástico, tão doce...

Amor que foi crescendo dia-a-dia
Distante da tristeza como fosse
Um poço de alegria e fantasia.
As dores já se foram. Acabou-se

O canto mais atroz que me tocara.
Agora estou feliz, além de tudo.
A vida se passando... Coisa rara:

O nosso amor aumenta e, em disfarce,
Não liga pro talvez, porém, contudo.
Não há nada no mundo que o embace...


55


Poder te amar o tempo que quiseres,
Sem nada que contenha essa vontade.
Tomados por volúpia em mil ampéres,
Vibrando até chegar saciedade.

Mais bela e desejada entre as mulheres,
Amor já nos mostrou felicidade.
Banquete que desfruto, seus talheres,
Além do que concebe a realidade...

Poder estar contigo o tempo inteiro,
Numa manhã, na tarde ou madrugada.
Teu corpo, o meu eterno companheiro...

Sozinhos, isolados deste mundo,
Sem perguntas, sem medos ou mais nada,
Apenas nosso amor, cada segundo...

56

M ágico com as palavras
A s mais belas poesias
R asgam nossa alma
C oisas assim, que passam energia
O stentam a beleza do poeta
S ob a profundidade da sua cria

L ar onde habita a percepção
O ndas que afogam o coração
U na-se a isso toda habilidade
R uindo emoções que brotam de verdades
E is nosso querido poeta
S alve mais um ano que completa

(que de felicidade sua vida seja repleta!)

Parabéns Marcos Loures!!!

Um grande abraço pela data festiva.

Taciana Valença.

Poder te agradecer tanta ternura
Fazendo dos meus versos um buquê
A vida sem carinho é sem porquê;
Somente na emoção encontro a cura.

O tempo vai trazendo marcas grises,
A neve se espalhando em meus cabelos,
Os dias se confundem quais novelos,
Modificando velhas cicatrizes.

O velho coração apascentado,
Resiste às tempestades do passado
E crê num novo dia, mais feliz.

Festejando amizades me liberto,
E o peito se mantendo assim aberto
Da luz do fim do túnel já me diz...


57



Poder ser livre é tudo o que desejo,
Fazendo deste anseio a minha luta.
A sorte desdenhosa e tão astuta
Transforma a minha vida sem ter pejo.

E quando a poesia faz do ensejo
O riso pela dor, louca permuta,
A voz do meu Senhor, meu peito escuta
E a luz após as trevas, logo vejo.

Ó Pai que tanto dá sem cobrar nada,
Seguindo cada passo desta estrada
Que leva aos Teus caminhos: redenção.

Permita a adoração de um velho insano,
Que tanto errou na vida, pois humano,
E agora vem pedir o Teu perdão...



58


Poder ser frágil e ter a fortaleza
Que expressa uma amizade soberana
Enquanto a solidão nos desengana
O rio segue contra a correnteza

No quanto é ser possível com certeza
Entrego o coração que inda se ufana
De crer que a natureza dita humana
Permite que se creia na beleza.

Aonde procurar uma leveza
E nada além do quanto a vida insana
Aguarda por algum fim de semana

No quadro que expressa tal fineza.
Seria o quanto posso sem grandeza
Pensar na tempestade mais temprana...



59


Poder sentir querida, o teu respiro
Roçando minha pele, um arrepio.
Tu sabes o carinho que prefiro
Eu sei quanto te alago num estio.

Pulsando bem mais forte cada artéria
Fazendo o coração destrambelhar
A boca que te busca, brusca e séria
Não deixa de querer te lambuzar.

As pernas que se enroscam noite afora,
Num ato extasiante; uma loucura,
Sentindo-te explodir, e quero agora

Num gozo violento em convulsão.
Depois de tanto tempo de procura
Achei o que procuro: esta paixão...
Marcos Loures


60


Poder sair correndo sob o sol
Criança retomando os pensamentos
Olhando para um belo girassol
Correndo desfraldando cata-ventos

Brincando livremente no quintal
Sem medos sem pecado e sem juízo
A roupa vai secando no varal
Tão perto do que penso paraíso...

Menina vai descalça, pés no chão,
O vento levantando a micro saia
Batendo bem mais forte o coração,

É pena que esta tarde um dia acabe,
Que estrela da esperança nunca caia,
Pois a vida, de bela já não cabe...


61


Poder saber que existe tanto amor
No coração sereno e tão bonito
É crer que para o mundo há solução,
Na voz que corre solta no infinito.

O peito bate forte e sonhador,
Na força tão eterna deste grito
Percorrendo todo espaço, com ardor,
Promessa de chegar num novo rito

O dia em que alegria vencerá
As dores tão profusas que nos tomam.
No olhar que com tal força brilhará,

Espero te encontrar, tanta alegria...
Amores que pra sempre já se somam,
Tornando realidade, a fantasia...



62


Poder saber de todos os caminhos
Que levam para a fonte do desejo.
Cumprindo meu destino em belos ninhos,
Na umidade sedenta de teu beijo.

Na festa de luxúrias, tantos vinhos,
Bacantes tempestades, eu prevejo.
Nesta lubricidade, mil carinhos
Em formas variadas relampejo.

Nos rumos, rotas, grutas, minas boas.
Afogo-me nos lagos da paixão.
Comigo, asas abertas, também voas

Na múltipla e uníssona explosão
Que faz de nossos corpos; alagados,
Depois desta viagem, tão suados...



63


Poder que uma amizade sempre tem
De ser alentadora em nossa vida.
Quem passa pela vida sem ninguém

Encontra uma esperança adormecida.
Deixando, sem saber o grande bem,
Que exprime em qualquer dor uma saída...

Amigos; sei que são poucos e raros.
Porém, valendo a pena garimpar,
Neles encontraremos os amparos
Que permitem sorrir e até sonhar

Não deixe que a amizade esmoreça,
É como um triste aborto da esperança.
Sabendo que bem antes que aconteça,
Mantenha sempre firme esta aliança...



64

Poder inesgotável da amizade
Ajudando a transpor qualquer obstáculo
Trazendo para a treva a claridade,
Fazendo desta vida um espetáculo
Difícil de esquecer, pois de verdade,
Previsto em fantasia por oráculo

A liberdade assim já se prevê
Com todo forte apoio que me dás.
Um mundo mais bonito em que se vê
Uma esperança toda feita em paz.
Nos olhos de um amigo a sorte lê
O canto que se mostra e satisfaz

O sonho de quem sabe que será
Mais forte e que ninguém o calará...
Marcos Loures



65


Poder estar contigo sem demora,
Alçar a minha mão até a ti.
Distância num segundo se evapora
No laço onde mais forte me prendi.

Eu vejo nosso amor assim, sem hora,
Vibrando nos teus braços, estás aqui;
Tu presença sempre revigora
Uma evidência clara que vivi...

Estar sempre contigo, uma fortuna
Da qual não abro mão; amor, jamais.
Amada, nos teus mares, rara duna

Mostrando uma beleza que incendeia.
Da luz que nos clareia, quero mais,
O brilho de uma lua, sempre cheia...
Marcos Loures


67

Poder de um pleno amor, em amizade;
Não deixa nossa vida tão exposta.
Na força que se mostra em liberdade,
A sorte de perdida vai reposta.
No amor que Deus nos deu, tranqüilidade
Trazendo para a dor, firme resposta.

No altaneiro sonho que eu trago,
O rosto da alegria eu já concebo.
Tomando da amizade cada trago,
Felicidade imensa, eu sei que bebo.
Na mão que acaricia; manso afago
Promessa desta luz que enfim percebo.

Distante do calor da mão amiga,
Eu sei que a chuva forte desabriga...
Marcos Loures


68



Poder compartilhar sonhos e dores,
Arando com ternura as fantasias,
Vibrando na ilusão das poesias,
Jardim feito em recanto diz mil flores.

Vencendo os oceanos, onde fores
Terás das emoções que agora crias
As doces e sagradas companhias,
Formando um céu sublime em multicores.

Somando cada grão, imensa praia
Aonde o sol imenso já desmaia
Crivando com belezas, o horizonte.

Expressam-se os sentidos mais diversos,
Usando como arado prosa e versos,
De tantas maravilhas, berço e fonte...


69


Poder assim chamar: minha mulher
A quem se fez rainha e cortesã
Ao mesmo tempo Musa e até vilã
Do jeito que se sonha e que se quer.

Ouvindo cada sonho que disser
Do gozo dos sabores da maçã,
Não temo as tempestades do amanhã
Encaro, do teu lado, o que vier.

A cada brilho ou treva, vou em frente
Amor às vezes manso, outras ardente
Esfinge delicada, fera e nua.

Seguindo esta calçada vida afora,
Espreito de tocaia, desde agora
Do lado que me cabe desta rua
Marcos Loures


70


Poder alçar meus vôos tão livremente
Sem ter velhas amarras que me impeçam.
Meus passos, sempre tímidos tropeçam,
Porém cabeça ereta, sigo em frente.

Percalços que apareçam de repente,
Em dores conhecidas que regressam,
Meus pecados e enganos se confessam
A face enrubescida jamais mente...

Se às vezes eu me mostro quase um tolo,
Romântico paspalho alienado,
Escondo a minha face, pois a temo...

O peito em explosão, terror e dolo,
Contém a duras penas este brado
Que exponha sem as máscaras meu Demo...
Marcos Loures


71

Poder acarinhar os teus cabelos,
Deitado no teu colo, bocas, seios...
Envolto na beleza dos novelos
Que tecem nossas teias sem rodeios...

Na lua que rebenta, lume e céu,
O brilho se reflete nas melenas,
Prateando de beleza, como um véu.
Meu coração registra tantas cenas...

Nas sombras desta lua e desse manto,
A cama onde dormimos tão cansados
Depois de tantas noites neste encanto
Depois de tontos sonhos bem amados...

Prá que dormir, pergunto... Nada dizes,
Verei outra aquarela em tais matizes


72


Podendo enfim dizer: eu sou feliz,
Depois deste infindável maremoto,
Carrego no meu peito a cicatriz
Do sofrimento, agora tão remoto.

Meu verso embevecido já te diz
Deste horizonte aberto, aonde eu boto
Meus olhos na procura de outro bis
Libertando-me em paz. Não mais vou roto.

Acordo entre teus braços, alegria,
E bebo em tua boca este porvir
De uma magnificência inenarrável.

Alegre sensação, incontrolável,
Sem nada que se mostre a impedir
Felicidade vem e aromatiza...
Marcos Loures


73


Podendo te tocar no pensamento
Beijando a tua boca, seios, face.
Meu verso na verdade, qual tocasse
Teu corpo com ternura em manso vento.

Fazendo com teus olhos, movimento
É como se contigo, amor falasse,
Roçando com desejo o sentimento,
Trazendo no prazer o desenlace.

Embora te pareça virtual
Estou a te tocar, inteira agora,
No cheiro, na palavra, sensual.

Na fome de te ter que cedo aflora,
Eu quero ser deveras natural,
Sorver de tua fonte sem ter hora...
Marcos Loures



74


Podendo declarar: enfim, feliz
Meu verso faz a festa e te conclama,
Deixando no passado este céu gris,
À dança em que se entrega a nova trama.

Eu sei que tantas vezes fomos tolos,
E nisso não deixo surpreender
Pelas sementes podres de outros solos
Cevadas sem desejo e sem prazer.

É claro que talvez ainda venha
A noite costumeira e nebulosa
Após nossa paixão queimar a lenha
Sendo a sorte assim, sempre caprichosa.

Mas saiba que decerto já valeu
O amor que quem encontra se perdeu...



75

“Podemos ser amigos, simplesmente?”
Depois de tudo aquilo que vivemos,
Ao beijar outra boca, de repente,
Será que o nosso amor já esquecemos?

Plantamos com vigor nossa semente
E sei que disto tudo inda tivemos
Momentos em que fui bem mais contente.
Muitas vezes, contudo, arrependemos

E tentamos mudar nossos destinos
Em outros pensamentos, outros mares.
Cometemos milhões de desatinos.

Disso tudo, querida; uma verdade;
Procuro o teu amor noutros lugares...
Eu te amo, mas aceito esta amizade!

Marcos Loures


76


Podendo assim dizer: tenho uma amiga
Eu me sinto, decerto mais feliz.
Vencendo a paranóia feita intriga
Do quanto se deseja já se diz.

A par desta vontade soberana
Que nada impedirá, tenha a certeza,
A mão que nos abriga não se engana
Percebe esta alegria com clareza.

Nem mesmo a correnteza assaz mais forte
Detêm o nosso barco e sua sanha.
Cicatrizando em paz temível corte
Amizade remove uma montanha

E sabe conquistar a cada dia,
Sabendo todo o bem que propicia...
Marcos Loures



77

Pode falar de mim o que quiser.
Qual fosse um marginal sem ter saída,
Meus olhos estarão onde estiver
Esta ilusão do amor, que é tão querida...

Vivendo da maneira que puder,
Sangrando sempre a dor da despedida,
Vibrando neste corpo de mulher
Assim irei levando a minha vida.

A corrente carrega e me transporta
Sem sequer perguntar se sou feliz...
Mas eu prefiro ser a folha morta

Abandonada neste velho rio
Do que ser tão somente um aprendiz
Que morre, devagar, triste e vazio...


78



Pocando de desejos, noite passa
E vejo a tua imagem refletida
No espelho que traduz a nossa vida,
Um fogaréu intenso que me embaça.

Na sala, corredor, calçada, praça
Estrela em tanta luz transforma a lida,
E a constelar beleza distraída,
Recantos variados, tudo abraça.

Não quero outro refúgio senão este,
Exposto à maravilha que tu és,
E mesmo quando olhando de viés

Qual fosse um belo enxame que me infeste
Profusa onipresença sensual,
Englobas nos teus olhos, todo o astral...


79


Pobre pescoço andava tão sozinho,
Em busca de quem desse uma atenção,
Depois de tanto tempo sem carinho,
A cervical estúpida região,

Aos poucos se mostrando em desalinho,
A todos resolveu vir dar lição.
Ladrando e se mostrando podre linho
Só quis aparecer, o pescoção.

Cansados de tamanha pescocice
Alguns pediram mais educação,
Que a cervical dizia em asneirice...

Assim passaram meses, anos dias,
Pescoço continua em profusão
Só Pedindo um colar de melancias...


81

Pobre de quem jamais teve esperança.
Parece com castelo abandonado,
Na vida se esqueceu dessa criança
Embora permaneça sempre ao lado...

Não merece sequer virar lembrança,
A morte sem notícias é seu fado...
Essa alma tão vazia já se cansa,
O tempo se passou desesperado...

O corpo que sepulto não tem peso,
Nem pode ser cremado nem é lixo.
Na vida sempre foi um contrapeso.

O que pensou ser alma, carrapicho,
Não teve dor, amores, quis ileso,
No fundo não foi homem, simples bicho..
Marcos Loures


82



Plantei uma enxurrada no meu peito
Desfeito foi teu pleito meu penar...
Estampo minhas dores, satisfeito.
Apenas sem ter penas, solto ao ar.

Nos bancos tantas ancas mais morenas,
Acenas com retalhos, alhos, dentes.
Serpentes e correntes tantas cenas.
Em pântanos caminhos previdentes.

Plantel de tontos sonhos sou decerto
O certo que querias duvidoso
Nodoso coração vira deserto
Desperto meu amor em pleno gozo.

Plante uma enxurrada, tanto amor...
Brotou a madrugada em mansa flor...


83


Plantei o meu desejo em teu canteiro,
Aguando noite e dia com cuidado.
Depois de certo tempo, um verdadeiro
Caminho do prazer foi encontrado.
O sonho que é dos deuses mensageiro
Me trouxe bem aqui, para o teu lado...

Na festa deste amor que se completa
A cada novo canto em poesia,
A sorte e o privilegio me repleta
De ter em nosso amor, tanta harmonia.
Que faz de minha vida mais dileta
E mostra o quanto quero todo dia

Morena, doce sina que encontrei,
De tanto que sofri, e te esperei...
Marcos Loures



84

Plantei minha esperança no jardim
Das flores mais cheirosas deste mundo.
Batendo uma saudade dentro em mim,
Viajo nos teus braços, num segundo.

Na rosa que colhi, cor carmesim,
Perfume delicado e mais profundo.
Canteiro de ilusões morrendo assim,
Sangrando um coração tão vagabundo...

Somente o teu sorriso brotará
Em meio a tantas plantas sem semente.
Perfume de mulher, de resedá,

Beleza que me fez ser mais contente.
Espalhas teu sorriso o tempo inteiro,
Certeza que valeu fazer canteiro...
Marcos Loures



85

Plantei meu coração regando uma horta.
Esterquei com adubos de mentiras,
Aguados com a vida dura e torta
Lagartas espalhadas, flor em tiras

Reguei com minhas lágrimas. Remota
Uma certeza louca em que me miras.
As ericas colhidas; tudo exorta
A não pensar nas pragas que me atiras.

Nos abrolhos eu fiz estas colheitas,
Tuas culpas, decerto já as rejeitas
Trazendo pro jardim só penitência.

Perdendo totalmente a paciência
Meus dedos não estancam tal sangria,
Dos medos e tristezas numa orgia...

86


Plantando no teu peito belas rosas
Eu sei que colherei felicidade
Sorvendo cada gota da saudade
Estrelas que virão são radiosas.

Palavras muitas vezes melindrosas
Não deixam vislumbrar a liberdade,
Porém se amor se faz sinceridade
Estradas surgirão maravilhosas.

Meus olhos te buscando pelas ruas,
Pegadas não encontro, pois flutuas,
Teus rastros divinais, doces perfumes

Os astros eu recolho em meu bornal
E vago livremente pelo astral
Seguindo em noite imensa, belos lumes.
Marcos Loures



87


Plantaste, com espinhos, meu caminho.
As farpas e penetrantes me maltratam.
As dores que me causas já retratam
Tristeza de tentar viver sozinho...

A vida que prometes, puro espinho,
Destas urzes terríveis sempre matam
Aqueles que t’as ordens não acatam.
Eu busco nesta vida por um ninho

Onde tenha descanso na batalha
Da vida que por si já corta e talha.
Não vou perseverar com quem é falsa.

Um amor misturado com ciúme
Tantas vezes destrói todo o perfume.
Não plante tanto espinho: andas descalça!
Marcos Loures



88

Plantando margaridas no meu peito
Colhi a rosa rara da emoção
Amor falsificado deste jeito
Provoca, depois disso, a sensação

Do nada transtornando o nosso leito
Mata no nascedouro, esta ilusão.
Percebo desde sempre este defeito
Afeito ao que sobrou: a negação.

Jogando desde já esta toalha
Enquanto a lua triste me avacalha
A rosa se desmancha totalmente

O beijo gargalhando em ironia
Amor não quer saber de hipocrisia
Precisa que se dê, completamente...


89


Plantado em meu quintal, maracujá
Dando ramas, subindo uma mangueira
Promete que depois me acalmará
No suco que dará, Deus assim queira...

Aguardo esta florada, com certeza,
E espero não demore não senhor.
Cansado de enfrentar a correnteza,
Tentando deste baque; recompor,

Somente com mil litros desta fruta,
A vida voltará quase ao normal,
A voz de um trovador ninguém escuta,
O amor não durou mais que um carnaval

Apenas solidão, tudo devora,
Minha esperança está na passiflora...


90


Planície tão vazia
Ao nada a nos levar,
Sem dor ou alegria,
Não vale nem tentar,
Na adversidade fria
O novo a se buscar.

Amiga; estou contigo,
Não deixo de seguir,
Pra sempre assim prossigo,
Sem medo de partir,
Na certa assim consigo
Um mundo a repartir.

No apoio dos teus braços,
A força dos meus passos...


91




Pior que a solidão do sempre tive
É a negra calmaria que se faz
Da tempestade morta em dura paz,
Do amor que tanto quis e não retive.

A sensação dorida de onde estive
Deixada qual saudade, e que desfaz
O quanto que perdi, não satisfaz,
Lateja o já morreu que em vago vive.

Penumbra me acompanha, passo a passo,
Fantasmas que percebo: eternidade,
Feridas redivivas, morte a prazo.

Um grito de agonia corre o espaço
E a dura sensação que sempre invade
Da noite que se foi em puro ocaso...




92


Pior do que imundícies que produzes
Jamais eu conheci; querido otário.
Te escondes, imbecil, das claras luzes,
Tinhoso capetão corre pro armário.

O fato é que não pude perceber
Sequer algum talento no babaca,
Perdoe, mas me fez tão mal te ler,
Ainda sinto em mim, a tua inhaca.

Vá procurar; malandro, a tua turma,
E deixe quem conhece, agora em paz,
Se não tens que fazer, então vá, durma,
Não suporto o futum que sempre traz

Aquele que perturba todo mundo
Com verso sem valor e vagabundo..



93

Pior analfabeto com certeza
Aquele que não sabe traduzir,
Fingindo ter decerto uma destreza
Só vive baboseira a repetir.

Meu saco já se encheu desta pobreza
Deste analfa que entrando sem pedir
Se esconde como um cão por sob a mesa,
E ladra simplesmente por latir.

Aquele que jamais entrou na escola
É vítima, decerto do sistema,
Vivendo a estupidez da torpe algema

Que em lamas o país, afunda atola,
Mas, por favor jamais me entenda mal
Eu falo do ignorante cultural.
Marcos Loures


94


Pintando o meu desejo além de um simples cais
Enquanto sigo só escuto a antiga voz
Falando sem segredo o que eu pensara; nós,
Palavra e sentimento, apenas tão banais...

Azulejado céu, matizes magistrais,
O risco de viver é sempre um duro algoz,
Às vezes sei do sonho e vejo o nada após...
Atento a cada engodo eu penso ser demais.

Errático cometa, a busca nunca cessa.
O amor que tanto quis. Estúpida promessa...
E a gente não se cansa e teima na procura

De um dia em que talvez perceba esta aquarela
Que a face da ilusão falseia, mas revela
Deixando em minha boca o gosto da ternura...



95

Piegas na verdade é não souber
Que a vida sempre é feita para quem
Se dá sem ter vergonha do prazer
E sabe que amar só nos faz bem.

O risco tão gostoso de viver
Transporta uma alegria quando alguém
Sem medo de sonhar e de querer
Percebe quando a sorte chega e vem

Deixando para trás ressentimentos,
Mostrando a fantasia que, em momentos
Ajuda na difícil caminhada.

Vem logo, vem comigo, minha amada
Que a noite prometida é feita em festa
E amar e ser feliz? O que nos resta...
Marcos Loures


96


Piegas na verdade é não souber
Que a vida sempre é feita para quem
Se dá sem ter vergonha do prazer
E sabe que amar só nos faz bem.

O risco tão gostoso de viver
Transporta uma alegria quando alguém
Sem medo de sonhar e de querer
Percebe quando a sorte chega e vem

Deixando para trás ressentimentos,
Mostrando a fantasia que, em momentos
Ajuda na difícil caminhada.

Vem logo, vem comigo, minha amada
Que a noite prometida é feita em festa
E amar e ser feliz? O que nos resta..
Marcos Loures



97


Pião entrou na roda da lembrança
Aonde deveria sempre estar;
Vontade muitas vezes de voltar,
Fugindo do presente e sua lança.

Quermesses e benesses da esperança,
Ainda havia , à noite algum luar,
O coração mineiro busca o mar,
Rodopiando, sonha, quer e alcança.

Do meu primeiro amor, sequer notícias,
Os beijos em delícias sem malícias,
O tempo derrotando o cavaleiro

Que um dia quis ser Robson Crusoé,
Voava libertário mesmo a pé,
Tocado pelo amor, velho lanceiro...
Marcos Loures


98

Por isso não se deixe mais levar
Sem isto nem aquilo o que nos resta?
Vencer cada delírio devagar
Vangloriada luta vira festa.

A boca desdentada da floresta
Há tempos se deixando desmatar,
Fornalha que o tormento agora gesta
Gerando a solidão no meu pomar.

Ao homem nada cabe senão isto,
Então noutro momento eu mal avisto
O que restou: surdez sonega alerta.

Enquanto este vazio como herança
Biodiversidade ao fim já dança
Deixando a poesia, assim, deserta...



99






Por isso não me deixe que magoe
Amor que enfim, recebo, sem cobranças,
Faremos deste mal, as alianças
E as asas, com as quais, nosso amor voe...

E ainda que a saudade vã ressoe
Prazeres que nos tomam, boa herança
De um tempo mais feliz, rara pujança,
Do qual nossa alegria não destoe.

Acima dos rancores e dos traumas,
Amor ao entranhar em nossas almas
Permite que se veja um novo tempo,

Aonde ao não temermos contratempo
Sabemos desfrutar de cada estrela
Que o sonho interminável nos revela...


12700


Por isso minha amiga, a nossa luta
Pra que um dia sejamos mais felizes,
Vencendo com certeza a força bruta
Ao evitar pecados e deslizes.

A voz da consciência que se escuta
Permite que tenhamos bons matizes.
Embora a solidão se mostre astuta
Amizade não cede mesmo em crises.

Fazer de um lindo sonho; a realidade
Com passos bem mais firmes, alço o céu.
A lua deslumbrando em alvo véu

Demonstra que o caminho da verdade
É feito mesmo em mundo tão cruel
À base do carinho e da amizade...
 
Autor
MARCOSLOURES
 
Texto
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