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Mar

 
Numa noite como tantas outras Mar decidiu sair pela noite, sentou-se junto ao paredão da praia a avistar as ondas na sua rebentação, na paisagem se perdeu por momentos observando a vista no aroma daquela maresia que lhe tocava numa noite de lua cheia, reflectida na água, os olhos de Mar fixaram as estrelas que a noite lhe trazia e de pernas trémulas, sentia o palpitar do seu coração. Parou. Voltou a parar por momentos, já se sentia mais acompanhada em cima daquelas chinelas de tacão alto que não era costume calçar, só mesmo para uma noite tão especial como aquela que a esperava. Resolveu seguir segura de si para a noite que a aguardava, naquele restaurante do costume, que há muito não ia, endireitou com a mão direita aquele saco de pano que há muito a acompanhava, de tecido indiano, onde guardava muitos dos seus segredos pessoais e tudo o demais necessário. Mar tinha a certeza que alguém a esperava naquele restaurante de sempre e naquela mesa do costume, assim se sentou na mesa com um sorriso que iluminava a sala. Tirou da sua mala o necessário, desligou o telemóvel para aquele momento se tornar muito mais íntimo enquanto o empregado lhe perguntava o que iria escolher da ementa, ela olhava nos olhos do seu amor, deixando o empregado incomodado com aquela situação, ao qual pediu desculpa de imediato por aquela pausa e fez o pedido. Assim que ele se retirou (o empregado) ela disse tudo, o que tinha guardado no seu âmago durante tanto tempo, perdeu toda a sua timidez, aquela que não deixava transparecer, talvez até já fosse tarde para mostrar tantos sentimentos, daqueles que guardava, e nem fosse o momento mais certo para dizer todas aquelas palavras, o comer arrefecia nas travessas e ela ali continuava sem conseguir parar. O empregado olhava disfarçadamente para Mar, já estava na hora de fechar e ele não queria incomodar tanto sentimento, ali estava ela a beijar o homem que tanto gostava com loucura e afecção. Até que o empregado se chegou perto da mesa para dizer que tinham mesmo que fechar as portas, já era muito tarde e não havia mais ninguém dentro daquele restaurante, Mar segurou a moldura que se encontrava ao lado da vela da mesa, e com os olhos cheios de lágrimas colocou-a dentro da mala e pagou a conta, seguiu em direcção ao paredão da praia onde as marcas das tragédias da sua vida, estavam marcadas nas manchas de sangue das fainas daqueles barcos.
Um pouco mais tarde, quando já seguia o caminho de casa, escuta o seu nome, o empregado seguia-a para lhe devolver o dinheiro do jantar: – Não posso aceitar o dinheiro, você não comeu nada, amanhã aqueço e fica para o meu almoço! Olhou-a nos olhos, beijou-a por entre as estrelas da noite, aquelas estrelas que guardou desde a primeira vez que a viu pisar aquele restaurante.
Havia sol na praia naquela manhã seguinte como há muito já não se via. Mar nunca se tinha sentido tão feliz, o verdadeiro amor tinha andado escondido por entre uma paixão perdida, que fez parte da sua vida e que tanto a martirizou. O passado ficava marcado, mas a felicidade estava estampada no seu rosto. Assim as borboletas voavam baixinho sobre a areia, enquanto os pássaros voavam sobre os sonhos da praia onde Mar acordava o olhar.


Cristina Pinheiro Moita /Mim/

 
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