Meu doce amargo, Os meus olhos despes ao não te ver neste largo onde à muito me deste um anel de noivado.
Lembro-me, como eras doce, como me veneravas. Como lá pelas doze aqui comigo te encontravas.
Recordo-me, do teu olhar cintilante, onde me via reflectida. Do teu espírito jovem e inquietante, que me deixava sem saída. Daqueles teus afagos, logo pela manhã. Daqueles doces e amargos, que fizeram de mim, tua romã.
Sentada, aguardando-te neste largo, onde boas lembranças já não habitam… Acabada, num calor pardo, as tristezas me ressuscitam.
Como és amargo, em ir sem nada me dizer… deixando-me a meu próprio cargo, depois de ao céu me teres feito erguer.
Como és cruel, em te demolires a meu peito… Vou tirar este anel, não mereces o meu respeito.
A correr e a chorar lá vai aquele rosto de menina… Entre o morrer ou um bom aconchegar, está a minha pequenina. (disse o seu pai vendo o repetido episódio e lamentando)
Acabou assim a primavera, de enlaces. O inverno apresava uma nova era sem esperar que para ele te preparasses.
Passaram-se meses, anos… E como as suas lembranças naquela casa ainda eram tão assistas. Ainda habito nas esperanças, daqueles imensos planos, aos quais deste as tuas desistas.
O livro de receitas, aparecia sempre que cozinhava. Para evitar os meus enganos, naquelas feitas como meu homem sempre me lembrava. Aquele meu pente, que nunca o deixava no lugar, tinha agora um ar reluzente, quando nos meus cabelos o fazia tocar.
...Como se tu fosses ele. Adoravas os meus cabelos…
E assim comecei a acreditar, que com fé talvez ele se revele, e voltemos aos tempos belos, da primavera a espreitar.
Numa noite, na qual as trovoadas rompiam os céus. Sai de casa sem desajeite, fui para aquele largo proteger os meus, antes que aquele tempo os desrespeite.
Pesada, daquela chuva, por entre tremeliques de frio. Senti tocar-me uma luva e o iluminar do meu fio onde tinha a aliança.
Conforto-me e aqueço-me, naquela esperança, incandescente. Quando sou atingida por um raio… Fico inconsciente... e ergo-me.
Afasto-me do meu corpo, vejo-o irreconhecível no chão… Quando ia para soltar um grito louco, sinto um aperto de mão.
Era ele, a minha doce amargura. Sorriu e disse-me: ‘tontinha, achas mesmo que te ia deixar?’ E uma tamanha injustiça me perfura, como pude eu me conformar?
Como se ele lê-se os meus pensamentos, disse: ‘Minha princesa, peço que me perdoes por ter ido sem avisar mas, quero que saibas que estive em todos os momentos, só esperava que nisso acreditasses, para te poder vir buscar, à muito que te espero.’
As palavras afagavam-se no iluminar daquelas almas que falavam por si. Os seus medos ausentaram-se, mas, esta história não acaba aqui.
'Dum vita est pO3tica'
Um pouco extenso mas, espero que seja extenso de coisinhas boas. Muitos obrigados.
Boa noite Rute, seus versos narram uma personagem que vivenciou uma serie de sensações em seus envolvimentos afetivos ao longo deste seu complexo existir, parabens pelo seu instigante poema, MJ.
Como é verdade mas, neste caso é um doce amar que se revela amargo aos olhos daquela mulher, que mais tarde vem a comprovar que foi injusta e que uma tragédia havia acontecido.
Bittersweet... hmmm... Aqui me pareceu um conto em verso, gostei dele... mas a fonte está mesmo apertadinha ainda, Rute... Mais uma vez, carregado de tristeza, mas com um final feliz, mesmo que à morte. A música, boa escolha!
Um poema de amor, como uma história. O 'conto' da princesa que ama, chora e sofre com a ausência voltando à felicidade. Medos que vão e que vêm, num ir e voltar e tristezas que choram num rosto a desilusão com a réstia de esperança de voltar a amar. Gostei de ler, mas confesso que o Meu Imortal tocou-me mais. hehe Abraços e Felicidades.