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EXISTÊNCIA

 
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EXISTÊNCIA
 
EXISTÊNCIA
(Jairo Nunes Bezerra)


Voltando a falar sobre a vida, resta-me apenas incluir pensamentos momentâneos, destaque em nossos momentos de labutas e de prazeres: cotidianos perfeitos e imperfeitos, mas que refletem a ociosidade de momentos vividos. A esperança e as fantasias fazem parte desse contexto complexo, com suas ramificações perdulárias por tempos indeterminados.

Concentrado nessa filosofia, vã conjunto de idéias atuais, em que me revelo um filósofo na minha vivência serena, indiferente aos preconceitos e convenções sociais, embora fugindo da excentricidade, procuro analisar pessoas de minha proximidade, considerando o evolutivo até de suas produções literárias.

Embora conhecedor de vários autores clássicos, foi na Usina de Letras que tive a vitrine principal num artigo da consagrada poetisa IVONE DA CONCEIÇÃO RODRIGUES CARVALHO, transporto:






SÃO PAULO - SAMPA QUERIDA -- 25/01/2002 - 04:06 (Ivone da Conceição Rodrigues Carvalho


Há meio século eu vivo em São Paulo, na maior cidade da América Latina. Aqui nasci e sempre vivi. Foi nesta terra abençoada, onde a energia parece emergir do solo, que aprendi tudo que sei. Foi na Vila Maria, bairro da zona norte, que nos tempos de Jânio Quadros, tornou-se o mais conhecido da cidade, que morei até os vinte e um anos. Há vinte e nove anos estou na zona oeste, mas é na zona norte que estão as minhas raízes.

Vi esta cidade crescer. E como cresceu! Mas fecho os olhos, neste momento, e com saudades vejo a São Paulo que me ensinou a amar e respeitar o meu berço.

Mergulho num passado não muito distante e vejo bondes trilhando sobre as principais avenidas. Iluminação pobre nas ruas e alamedas. Amplos terrenos vazios, iniciando loteamentos que se transformaram em grandes e populosos bairros. Capelas da periferia que hoje são quase catedrais. O caos que revolucionou o trânsito da cidade, quando foram iniciadas as obras da primeira linha de Metrô – a Norte-Sul, com poucas estações no início, mas já servindo uma grande população que, fascinada, utilizava o coletivo de primeiro mundo, tão diferente dos poucos ônibus que serviam esta terra.

Vejo o Martinelli, atualmente escondido no centro da cidade, ante os elevados edifícios que tiraram dele a marca de mais alto prédio da Capital. Vejo Sampa sem viadutos cruzando o Parque Dom Pedro, em todas as direções. Eu admirava aquela região central que, na minha opinião infantil e de adolescente, só perdia sua beleza quando a eterna garoa se transformava em temporais, obrigando o transbordamento do Rio Tamanduateí, que mesmo após canalizado, utilizava-se dela para a vazão necessária, inundando o Parque e proibindo o acesso de qualquer veículo.
Lembro-me dos blocos de Carnaval desfilando pelas ruas do bairro. Quem quisesse brincar, não precisava ir tão longe! Bastava juntar-se aos foliões e sair cantando e pulando. Mais tarde, era nos salões paroquiais que nós, adolescentes, vivíamos a alegria da festa carnavalesca. Não se pagava ingressos a preços altíssimos para ver passistas e baterias e, assim, quase toda população participava. As escolas de samba principais desfilavam na Avenida São João. Eu ainda encontrava os retardatários, com suas fantasias mas já descalços e cansados, quando, na quarta-feira de cinzas, eu ia para o trabalho, no início da tarde. Nesse dia, eu me sentia uma privilegiada por trabalhar em plena São João! Aliás, não saberei nem reproduzir o orgulho que senti e as lágrimas que chorei quando ouvi, pela vez primeira, Caetano homenageando em “Sampa” o cruzamento da Ipiranga com a São João – era exatamente ali que eu trabalhava e, portanto, passava a maior parte do meu dia!

Ah! São Paulo, minha Sampa querida! Você cresceu para todos os lados! Hoje, atravessando a imensidão de bairros tão afastados e tão povoados que mais parecem cidades, eu volto ao passado e penso: “mas o mapa não era tão grande assim!” Ou será que era e nós, os paulistanos, não percebíamos?

Sampa cresceu e, com ela, a criminalidade, a falta de escolas, o número de filhos desaparecidos e de crianças marginais e marginalizadas, o desemprego, os congestionamentos, as inundações, a precariedade do atendimento à saúde, a insegurança, o medo de sair à noite, de parar em cruzamentos de trânsito e até de descer do carro, na porta de nossas próprias casas, para abrir o portão e estacionar.

Sampa cresceu e, com ela, as possibilidades de trabalho, os lugares dedicados ao lazer, o mercado hoteleiro, o turismo, o número de restaurantes, de negócios, de centros de compras, de parques, de escolas, de hospitais, de gente sempre apressada, de gente que ri e que chora, de pessoas que ainda encontram algum tempo para tomar uma cerveja com amigos, nos finais de expediente de trabalho.

São Paulo é isso! Uma cidade repleta de contradições, onde o pobre e o rico caminham na mesma calçada, em busca de uma vida melhor.

Nem poderia ser diferente! É esta a terra que mais agasalha brasileiros migrantes de todos os Estados do país. Que abre os braços a todas as raças, que faz seus filhos chorarem indistintamente pela morte trágica de qualquer irmão. Enfim, que tem sempre um cantinho em algum lugar, para abrigar a todos, independente de cor, religião ou nacionalidade.








 
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Jairo Nunes Bezerra
 
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