PROCURA
Cheguei de mansinho te catando
Nos oito cantos da casa.
Na cozinha, no banheiro,
procurei o teu cheiro de mulher.
Um aroma adormecido de muitos anos
Na pela morna e desamada de macho.
Acho que morri por não encontrar
O teu rastro humano, materno.
Foi uma eternidade de busca
perdida no desespero do desejo.
No consigo romantizá-la,
pois os versos piegas
jamais seguiriam ao teu lado.
Subi as escadas vermelhas e duras
na esperança de encontrá-la no quarto
ainda molhada do banho, os seios fartos,
o cheiro de alfazema inundando tudo,
os cabelos da antiga amazona embranquecendo.
O quarto vazio. O sol entrando tão forte
que parecia tê-la roubado naquele instante.
Uma claridade celestial sobre a cama.
O teu rosto me vem à memória,
gordo e sorridente, forte e aceso.
Como antes da tempestade.
Corro para o céu da casa.
Estás a estender roupa, é claro!
Com o suor a pingar-lhe o colo,
cantando uma canção antiga
de um carnaval mais antigo ainda.
E um vento forte me recebe, as cordas vazias.
Um cheiro forte de talco Palmolive me diz
que alguém esteve ali, me esperando, me querendo;
mas que não pôde ficar. E foi-se para sempre.
FELIZ DIA DAS MÃES PARA TODOS NÓS