Estou cansada
de escrever poemas na privada.
Como eu queria não pensar em nada,
deambular pela vida, nem querer
possuir mais que a frugal condição de estar viva.
Estou cansada apenas,
sem pena nenhuma de estar.
Não deixarei morrer em vão o nome dos meus avós,
nem a paisagem invernosa na serenidade.
Estremecerei árvore a árvore até que os pássaros acordem
e voem, voem até à última pena
Não deixarei o dia morrer silencioso dentro de mim.
Farei da saliva chama e da palavra o punho
até que os algozes engulam a luz intensa do meio-dia
e as cinzas porosas neoliberais
Estou cansada apenas
sem pena nenhuma de estar
Conceição Bernardino