Poemas : 

Verdades fáticas em voo livre entupindo artérias

 

Sutilmente ouviu o unicórnio branco relinchar,
os anjos todos estavam segurando o violino.
No lampejo de luz assomou assopro negro,
um fluxo do hálito benfazejo do profeta.
Em meio à desintegração dos elementos,
em todos paredes de pedra cobertas pela cal.

Rio torrencial corria invisível acomodado
naquelas muralhas brancas como geada na relva.

Como espuma de barbear suave no rosto brilhante,
do topo das escadarias rumo ao beco,
conduzia ao longo dos quadros a galeria
inscrita num tetraedro, alojados em gaiolas
estridentemente eles gritavam frente à porta,
diante de todos nós ali boquiabertos.

Ignoravam que somos os novos argonautas,
somos os eternos buscadores de milagres.

De todas as verdades fáticas deste mundo,
procuradas com afinco por visionários
passados quarenta e dois invernos sem verões,
eram quarenta e duas molas helicoidais infinitas
distribuídas ao longo das teias de aranha,
tocando suavemente melodias pela cidade.

Ao som do marulho das braçadas os nadadores
atravessavam piscinas de cloro azul e fresco.

Ainda no início do verão, já pareciam fatigados,
comparecendo ao funeral para a grande festa,
percorrendo o mundo até o final sem parar de tocar,
indo ao fim do dia encontrar a solução do blecaute
na respiração ofegante do poema desconstruído,
na estrada que atravessa o vale do sem lembranças.

Nas veredas serpenteantes através dos penhascos de luto.
apenas se encolheu com o palma da mão escancarada.

O dedo mínimo já cobrindo o rosto como renda,
só restou ali desespero retumbante tomado a fio
por sombras que deslizavam desde remoto passado
em voo livre entupindo as artérias da perna direita.

 
Autor
FilamposKanoziro
 
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