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O equilíbrio da ordem dominante

 
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Os governadores de Estados, o presidente da República, os deputados, senadores, jornalistas, sociólogos, promotores, juízes, advogados, todos enfim tem as suas propostas, projetos e sugestões para serem adotadas na reforma da estrutura policial. E emitem seus planos contendo às vezes erros grosseiros de organização revelando deslizes elementares quando não uma total ignorância da matéria. Mas mesmo assim, todos parecem desejar de algum modo que o movimento policial deixe de ser um indicativo do impasse criado pela estrutura vigente e passe a ser visto como manifestação isolada de alguns poucos que insuflam os demais movidos por interesses escusos. Não é nem ao menos razoável supor que no seio da instituição que tem a histórica tradição de sempre acompanhar e reprimir movimentos grevistas exista indivíduos infiltrados e nem mesmo que policiais deixem-se seduzir pela retórica de agitadores.

O responsável pela situação é o próprio governo que por motivos vários, não tem mais condições econômicas de sustentar eficazmente todas as estruturas necessárias para garantir a toda a população pelo menos o emprego, a educação, a saúde, a moradia, entre outros tantos direitos; elegeu as despesas do custeio como o único fator desequilibrante do fiel da balança e causador dos rombos no orçamento voltando as costas para a realidade da miséria em que se encontram muitos dos seus servidores, alguns até mesmo sem condições de prover o sustento dos seus familiares

A forma como vem sendo tratado o movimento das polícias reflete apenas o desejo das elites de estigmatizar a possibilidade da greve no aparato repressivo, chamando a atenção para o fato de policiais armados participarem de movimento grevista como exemplo para a sociedade quando poderia ser tratado como reivindicação que é, ordeira e pacificamente, sem as levianas e inconsistentes acusações de infiltrações de externas trazendo orientações estranhas aos movimentos.

Quando uma juíza de Brasília houve por bem entender que o crime perpetrado contra o índio Galdino tratava-se de lesão corporal seguida de morte e não homicídio qualificado por meio cruel, revoltou-se a opinião pública e dividiram-se as manifestações havendo tanto apoio como desaprovação ao ato. Nos principais jornais emitiram-se as mais variadas e controvertidas manifestações de repudio ou de apoio e de todo esse episódio deixa-se transparecer que o mais importante não foi o crime e sim a vítima, pois somente teve o episódio as proporções que assumiu pois foi queimado o corpo não de um homem mas de uma minoria que, discriminada e isolada faz com que seus desvelos venham à tona a cada infortúnio de um dos seus.

Da farta consideração jornalística deduz-se que o caso poderia estar apenas sendo tomado como exemplo para os demais setores a sociedade quando o essencial seria o punir o crime e não a apologia do delito e a procrastinação da apuração. Do mesmo modo, as manifestações ocorridas nos últimos tempos e patrocinadas pelas polícias em todo o país continuam, de maneira insistente e quase irresponsável, consideradas por governantes, parlamentares, formadores de opinião pública, por alguns articulistas e editores de diversos órgãos de comunicação como manifestações isoladas de uma minoria de indivíduos estranhos e infiltrados nas polícias apenas com o intuito de sublevarem a ordem pública e promoverem a baderna armada.

Repousam suas reflexões nos sólidos argumentos da inexistência de legislação que permita a greve das polícias caracterizando assim a ilegalidade do movimento e a reivindicação um puro motim. A realidade porém, é o arrocho dos salários, a má vontade dos governos frente às manifestações dos seus servidores, comodamente assentados numa legislação arcaica e retrógrada, escudados na omissão que não garante o direito da reivindicação e a paralisação das atividades e agora, buscam estigmatizar a greve na polícia como insurreição e baderna armada para atender aos reclamos das elites que jamais veem com bons olhos qualquer manifestação de organizada que ameace o equilíbrio da ordem dominante.



 
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LM.remora
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