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Carta a Fernando Pessoa

 
Carta a Fernando Pessoa
 
É estranho como as coisas acontecem na vida não achas? Vamos aos mesmos sítios mil e uma vezes, a maior parte do tempo passamos pelas pessoas e nem sequer lhes damos um sorriso ou um bom dia. Deixamos de fazer algumas coisas que gostamos, e por vezes, seja devido à nossa idade ou mentalidade, passa-nos muita coisa ao lado que pensamos não ser importante, mas que na verdade, o é. Só damos valor e significado ás coisas, quando descobrimos a sua verdadeira essência.
Pode parecer estranho o motivo desta carta, mas para mim faz todo o sentido. Queria que soubesses como te conheci e com tens transformado os meus dias e o meu mundo.
Tudo começou numa altura bem diferente da tua. Acho que se vivesses no mundo presente, se calhar mudavas de ideias quanto ao teu desprezo pelas novas tecnologias. A tua poesia e os teus textos estão espalhados pelo mundo inteiro!!! Pensavas que isto alguma vez ia acontecer? Creio que não.
Por aquilo que já percebi, dás dores de cabeça a alguns, e a outros, transformas os dias em alegria o que acontece no meu caso. Engraçado não é? Acho que era mesmo isso que querias. Pois bem, conseguiste, e para mim, digo; ainda bem que assim foi.
Sabes, sou uma pessoa que gosta sempre de aprender mais, de conhecer pessoas que me transmitem conhecimentos, novas ideias, novas perspectivas de vida, com outras vivências, que me transmitem paz, que me fazem ver para lá do mundo que conheço, pessoas honestas e verdadeiras e que me dizem quando estou certa ou errada, que me ajudam a melhorar, que me motivam e com quem sinta que posso ser eu própria. Assim como também que eu possa trazer algo de bom para as suas vidas e quem sabe até, passar algum conhecimento que tenha, ou tornar o seu dia um pouco mais feliz. Pessoas que também elas sintam que podem ser elas próprias comigo e que se sintam bem como me sinto ao lado delas.
Nestes últimos meses, apareceram duas pessoas na minha vida que acho que nem sabem bem, o quanto têm transformado os meus dias, a minha vida, a minha mente e o meu pensamento para uma perspectiva bem melhor e bem mais sorridente do que anteriormente. E sabes a coisa mais curiosa e engraçada no meio de tudo isto? Foram estas duas pessoas que me trouxeram até ti. Mundo pequeno e curioso não é? Acho que a forma como as pessoas fazem ou dizem as coisas, é que marca a diferença na nossa vida. E a forma como te apresentaram, foi da forma mais subtil, mais simples, e verdadeira, e bem... com um.... “Ler Pessoa é para Ontem!!!!” Pronto, pronto, já cá estou, já percebi!!!!!
E quando dei por mim, estavas também tu na minha vida. Por alguma razão estranha que ainda não percebi bem qual foi, quase de inicio que senti que vinhas para ficar. E desta vez era eu que não te ia deixar fugir. Perguntas-me porquê? Porque quanto mais te leio, mais rio, sorrio, penso e repenso, vivo e revivo as tuas palavras. Quanto mais te leio, mais a minha mente se acalma e desassossega ao mesmo tempo. Mais me faz pensar que há tanta coisa que tenho para aprender, e que na verdade, apesar de ainda ter a vida inteira pela frente, já cresci e aprendi algumas coisas das quais falas. Já para não falar daquelas que dizes e que são tão eu que chega a assustar.
Fico feliz ao pensar e imaginar que talvez, se te tivesse conhecido, seriamos bons amigos. Apesar de que já percebi que não eras de grandes conversas, eras mais observador. Mas, não sei porquê, esta ideia parece deixar-me feliz. Ultimamente, de certa forma temos conversado enquanto te leio ou melhor enquanto leio o teu amigo Bernardo Soares.
Costumo pensar que tudo acontece por uma razão, que para tudo há um motivo, talvez por isso, só te tenha conhecido agora. Porque era agora que precisava de uma mudança na minha vida. Talvez por isso, quando olho para trás, penso que muito provavelmente terei lido quantas coisas escritas por ti, e nunca lhes tinha dado qualquer valor ou atenção. Quantas vezes passei por ti na Brasileira, sorri a ver toda a gente rodear-te e tirar fotografias contigo, e eu limitava-me a olhar e a achar engraçado, quando agora a minha vontade é correr para lá e tirar mil e uma fotografias ao pé de ti, e fingir que me sento ao teu lado a falar contigo enquanto comento o teu livro do Desassossego que tanto me acalma a mente e o coração. Ir aos sítios por onde passaste,percorrer as ruas das quais tanto falas. E sei que o farei.
Bem, acho que para ser mais honesta ainda, divertido seria realmente falar contigo enquanto passeávamos em Lisboa.
Pergunto-me se imaginarias que ias tocar a vida de tanta gente, se sabias que algum dia, por todo o mundo, alguém agarraria no que escreveste, e ao ler, se ia sentir em casa. Pergunto-me se sabias que através das tuas palavras consegues transformar o mundo de alguém? Pergunto-me se saberias que ias transformar o meu mundo e que ias trazer para a minha vida duas pessoas que me deixam tão feliz!
Obrigada.

Beijinhos Rita.

Para Alma Mater e Jorges (Namastibet)

 
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MelissaOwenAlways
 
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Enviado por Tópico
MelissaOwenAlways
Publicado: 23/02/2015 19:22  Atualizado: 23/02/2015 19:22
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 Re: Carta a Fernando Pessoa

Enviado por Tópico
Jmattos
Publicado: 23/02/2015 21:20  Atualizado: 23/02/2015 21:20
Usuário desde: 03/09/2012
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 Re: Carta a Fernando Pessoa
Poetisa
Meigo! Carta sincera, olha tenho os mesmos sentimentos, não em relação ao Pessoa, mas ao Poeta Alvares de Azevedo, que morreu na flor da idade! Beijos!
Janna




Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/02/2015 21:24  Atualizado: 23/02/2015 21:26
 Re: Carta a Fernando Pessoa
Cumprimentos Poéticos…Lídia, meu amor, minha ninfa…

Dirijo esta carta a “uma poeta”, ou duas… ou três… (ou todas) e designo-as de poetas como ao feminino de professores e adivinhos chamo de professoras ou de adivinhas, adivinho algumas poetas que partilham do meu subconsciente, delas nascem as minhas mais belas invocações do parecer real,
Possivelmente lembras-te de Psyche ou Annabelle Lee.
Encontrávamo-nos num jardim perfumado por narcisos e perturbado por sombras sem nome, povoavam os nossos sonhos comuns, uma algaraviada multicolor de místicos míscaros e, não sabendo quais escolher, que não nos provocassem morte imediata, confiávamos cegamente nas negras máscaras, das virgens nuas que se perfilavam nas nossas consciências incomuns.
Foi com um intenso prazer que as li e reli, imediatamente surgiu em mim uma vontade grande de lhes prestar homenagem, pelos seus escritos cheios de sonhos e estética poética, ambos sabemos misturar os sonhos e a vida sem destrinçar qual duma é a realidade e o sonho das outras e então viajamos de uma forma indefinida, dividida entre a noite e o dia, o Sol e a Lua, os canteiros de flores que pisamos, só os trilhamos por não haver outro caminho, nem volta a dar ao jardim da originalidade irreal.
Partilhamos uma gaiola em éter, do Éden e da promiscuidades de férias e não deixamos de ser escravos de um espaço fechado, só varia o facto d’o pensamento comum cavalgar obstáculos, o que nos distingue doutros pretende ser a originalidades e não a oportuna pertinácia (tão pouco definíveis ambas),
Dizem de quem possui essa ingenuidade, (falando baixinho no barulho da cidade) ter da verdade todos os favores mas na verdade apenas mudam os discursos que debatemos connosco por falta de interlocutor, para alguns estranhamente sinuoso para outros engenhosos beijos aflorados de palavras e contextos exactos.
Sinto um estranho arrepio percorrer-me a pele e os membros a cada segmento de frase nua que leio, como se nem fosse minha e nem concorrente, a corrente de ar parece quasi-perfeita e feita da minha irrealidade virtual, concebo a previsão do impossível e isso faz-me pensar nos que possuem na paz a abstenção de pensar.
A chuva quando caía no cais era de uma obliquidade vertical e contava as viagens de um antigo viajante por mares de antigas terras, dizia chamarem-lhe Ozymandias “Rei dos Reis”, essa narração bastava para que as ondas se metamorfoseassem em dunas e os navios em caravanas, ondulando pelo limite visual do areal e da utopia.
Lembro-me dos teus olhos brilhantes e claros como lagos de água doce onde me banhava nu de preconceitos como antes de viver.
Aí os barcos eram de papel-maché, diferentes dos barcos que do cais via entrar e sair devagar, paquetes abalroados e ferryboats atarefados em não fazer nada, mas parecendo que trabalhavam.
Éramos de uma clarividência quase divina Annabelle, Psyche e eu corríamos, riamos e divagávamos, Ophélia sentada no banco de pedra esperava, …esperava e contemplava o mundo e o vento dizendo-me ao ouvido… viver é preciso, é preciso viver para provar que somos sublimes, a razão é um apêndice alimentado pela vista, há que manter as janelas limpas para apreciar os lírios e os campos, os delírios de cada recanto do jardim das Hespérides.
Nesse tempo trazia dentro do meu coração todas as ilusões do mundo, estava farto de ser órfão de um só Deus e dediquei-me a Pã num mar de outrora dentro dum oceano do rei Salomão.
É um prazer revisitar o mesmo local da minha infância confusa, o natais e os novos tempos também para mim se transformaram uma fonte de frustrações, confusões e outras palavras adicionais terminadas nas tradicionais "traições aos Deuses"
.
Uma das boas coisas que recebi em toda a minha vida foi o teu apreço, com os teus sempre admiráveis elogios, Lídia (penduro-me neles durante algumas semanas de forma a me sentir fortemente recompensado ou antes, a não me sentir ignorado)

Dizem que não entendem muito bem o meu discurso, eu também não, muitas vezes mudo de sentido porque enquanto redijo, vou interrompendo o curso de pensamento, umas vezes voo roçando pelos atalhos do pensamento outras vezes perco-me porque começo de dia e acabo dois ou três dias ou noites mais tarde,mas noutro universo, não muito paralelo.

O meu muito obrigado Lídia, ainda bem que consigo cativar o teu interesse pela minha escrita à qual me refiro como "poética" mas falta-me inventar um "estilo" menos pessoal, não tanto “Pessoano”, mais meu, escrevo muito ao sabor da conversa mental que debato comigo mesmo e com o Outro, pouco impactante mas somenos importante. Foi a tua capacidade de apreço sem retorno que me influenciou e definiu o fio invisível que segui desde a teia, tu foste a primeira invenção dos meus simples escritos.
Leio pouco mas considero os poetas bons vizinhos, deram-me a conhecer Keats, Shelley, Poe etc, Mas não ponho de parte a ideia de mudar de casa para subúrbios menos nobres; idolatro-os sim… mas tenho de “pôr os pés à estrada” e encontrar a rua do meu bairro, o meu pessoal destino.

Tenho um medo horrível do fracasso, posso falhar já amanhã, poderia ter falhado ontem, não importa quando, sempre tive medo da derrota, talvez por isso esteja aqui sentado no fundo de uma loja ceifando filamentos do nada, entrar nesta casa e fazer todos os dias os mesmos gestos é fácil para mim, fazer diariamente o mesmo trajecto num engenho entre a casa e o simplístico trabalho é a base quase plana para quase tudo o que sou, quem sabe se a minha quase sensibilidade depende da estúpida monotonia e do que leia e do que quase faça no dia-a-dia.

Ontem estive dialogando literalmente com o meu cabelo, este respondeu com desdém, dizendo:
- Como é possível que não tenhas medo de montanhas, do frio, de isolares-te durante semanas a fio, longe de tudo e, no meio da multidão te sintas um atado cidadão, um citadino homem-anão, um homem “mais-que –fugaz” ?
Fiquei sem palavras e lembrei-me d’outro extenso diálogo que mantive enquanto encostava a boca a uma “canilha” de chá-mate e folhas de coca, nos Andes Peruanos sob o suor do sol e as lágrimas circulares da lua.

Disse-me nesse dia o fecho-eclair do casaco de penas que usava sobre o peito contra o frio agreste, disse que eu exagerava nas mensagens para esconder o nada já que ninguém entendia nada e assim não seria necessário esconder o nada e esperava mesmo que jamais entendessem, já que não teria mais nada, nada de meu para proteger por dentro, detrás do fecho.
Para seu bem, por estar frio e por ter abusado do direito de me criticar, tive de fechar imediatamente o fecho do peito e outros.
Continuei depois, conversando com os búzios e fechei os olhos.
Se dirijo esta carta a uma poeta é porque houve um tempo em que a minha janela estava exclusivamente reservada a elas, volteavam como se uma fossem, eram mais de dez mariposas e via-as a afastarem-se, devagar…devagar, agora sei que jamais existiu ontem e amanhã serei eu que voarei através da lucidez delas.
Em breve deverá chover dizia ele...

Joel Matos (01/2011)
http://namastibet.blogspot.com


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/02/2015 23:21  Atualizado: 23/02/2015 23:21
 Re: Carta a Fernando Pessoa
com que então UMA COISINHA... sim, sim, já percebi!


Ana, você realmente não existe

essa alegria com que nos arrasta é única, faz-nos bem e doces, Obrigada

você, sim, foi uma bênção de harmonia... apenas estávamos à sua espera.

bjs e Sorriso para si

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 23/02/2015 23:21  Atualizado: 23/02/2015 23:21
 Re: Carta a Fernando Pessoa
com que então UMA COISINHA... sim, sim, já percebi!


Ana, você realmente não existe

essa alegria com que nos arrasta é única, faz-nos bem e doces, Obrigada

você, sim, foi uma bênção de harmonia... apenas estávamos à sua espera.

bjs e Sorriso para si



Enviado por Tópico
Semente
Publicado: 24/02/2015 02:45  Atualizado: 24/02/2015 02:45
Membro de honra
Usuário desde: 29/08/2009
Localidade: Ribeirão Preto SP Brasil
Mensagens: 8560
 Re: Carta a Fernando Pessoa
Como eu sei da Imortalidade da Alma, tenho absoluta certeza que hoje, em outra dimensão da vida, o grande poeta Fernando Pessoa, se inteira de sua bela obra , enquanto esteve encarnado na Terra, e sabe do quanto foi importante e necessário a poesia de sua época, e posterior a ela.

Tua carta, linda Melissa, é das mais lindas que tenho tido a oportunidade de ler. Grande admiradora e fã de Pessoa, mergulhei minha concentração em tuas palavras, pra sentir esse poeta que foi o maior, na minha humilde opinião. Completíssimo poeta, a quem a tua sensibilidade homenageia nessa dissertação poética da melhor qualidade.
Aplausos, menina, de pé!

Beijinhos da brasileira que ama os portugueses e seus poetas!


Enviado por Tópico
MelissaOwenAlways
Publicado: 24/02/2015 02:46  Atualizado: 24/02/2015 02:46
Usuário desde: 28/11/2014
Localidade:
Mensagens: 309
 Re: Carta a Fernando Pessoa
Vocês os dois dão cabo de mim, a sério que dão. agora não consigo dormir porque só faço é sorrir. Obrigada, vocês é que são um máximo!
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Enviado por Tópico
MarySSantos
Publicado: 24/02/2015 03:37  Atualizado: 24/02/2015 03:37
Usuário desde: 06/06/2012
Localidade: Macapá/Amapá - Brasil
Mensagens: 5735
 Re: Carta a Fernando Pessoa
Olá Melissa. Linda sua carta e a poesia de Fernando Pessoa encanta mesmo e causa impacto quando nos deparamos com a mesma. Antes de começar a fazer meus rabiscos, não sentia gosto pela poesia, mesmo gostando muito de ler, sempre preferi os romances de Steven Spielberg, Aghata Christie e muitos outros. A poesia me conquistou a bem pouco tempo e fui atrás dos poetas mais citados, para conhecer o mundo no qual estava adentrando e quando li Pessoa, senti a mesma emoção que você tão belamente relatou. Então rabisque o Poema do link abaixo, dedicando-o a esse mestre da boa poesia.

Gostei muito de sua carta. Parabéns.

Um abraço!




http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=239609


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 24/02/2015 11:09  Atualizado: 24/02/2015 11:09
 Re: Carta a Fernando Pessoa
Ana

Obrigada e ontem esqueci-me de lhe agradecer este total Tabacaria...

bjs e Sorriso