Prosas Poéticas : 

Derradeira jornada

 
 
De uma vez por todas

eu sei

que não pude desenhar-te

como o projecto final

A consciência perdeu-se

em cada acto meu

findo o esboço onde

apuramos os beijos

que ficaram inconscientemente

despidos nos lençóis onde

nos embrenhamos tentadoramente


Tenho hoje só pra mim

esse sabor a pleno vazio

no vazio da vida

Por mais que tateie

encontro somente

um naipe de palavras jogadas

neste poema onde entretenho

os meus silêncios

prestes a fugir numa

integral bebedeira

até à última derradeira jornada

gratinando penosa nossos

suplícios encaixados nesta poesia

que se esvai no tempo com veemência

e tão indisciplinada


Demolimos mais que um sonho

executámos dons de vida

pra com vida

nos intoxicarmos até

à saturação do tempo

fingindo-me eu a tua noite

e tu

meu sonho impossível

guardando

a plena medida das minhas

ânsias e desejos

sem mais indisfarçáveis contrapartidas


Nada mais me falta

porque encontrei todo

o vazio de nós

preenchi-o com torrentes

de poesia franca

redigida, fiel

com pedaços intemporais

coagidos pelo som de

muitos silêncios tão fraternais


Fui mero viajante

em todos os descaminhos

deste mundo

Lambi todas a feridas

mal cicatrizadas

Afoguei-me em lágrimas

depois daquela enxurrada

de gargalhadas correndo

pelas tuas encostas serenas

em delírios guardados

no invólucro das nossas paixões


Deixa pois o negrume de mais uma

noite se despir na manhã

e nós erguendo-nos arrojados

à vida

jamais sucumbamos engolindo

silêncios…cicatrizando e convivendo

entre nossas fantasias que se

apressam em orações

a este amor se oferecendo

que arde em fogo

e inquietações tecendo


Que aquele dia exista

completo

neste meu corpo que

em dores doendo

ainda assim te empresto

Cicatriza-me a vida nem que seja

com palavras invulneráveis

flageladas pela brevidade do tempo

onde expões nossos pactos

resolutos condecorando toda

a fiel hora fugidia com lealdade


Ruma ao traçado deste destino

e te darei meus aromas atapetados

na manhã que perfuma cada

eco matutino

Possibilita-me querer-te

mesmo que anónimo

peregrinando por ti…legítimo

Autentica-me as páginas

onde tatuei célere

o mesmo poema afável

materializado num ser indubitável

onde seduzidos nos embebedamos

em gracejos fecundos descomunais

FC

 
Autor
Frederico
 
Texto
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Enviado por Tópico
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Publicado: 25/09/2015 23:15  Atualizado: 25/09/2015 23:15
 Re: Derradeira jornada
Inegávelmente existe por entre esses versos seus,sentimentos oriundos de algo que ainda não foi delegado ao passado.